FINOM – FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS




CRISTIANE RODRIGUES ANTUNES DA SILVA

PREDICADO EM ORAÇÕES SEM SUJEITO





SALINAS

2008





FINOM – FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS





CRISTIANE RODRIGUES ANTUNES DA SILVA

PREDICADO EM ORAÇÕES SEM SUJEITO





Artigo científico apresentado a Faculdade de Educação da FINOM, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Língua Português





SALINAS

2008






PREDICADO EM ORAÇÕES SEM SUJEITO

Cristiane Rodrigues Antunes da Silva¹

RESUMO

Tomando por base as definições de predicado encontradas em várias gramáticas, este trabalho tem como objetivo principal analisar se orações sem sujeito realmente apresentam predicado, visto que, predicado é toda informação que se dá sobre o sujeito; mas se não existe sujeito, como pode haver uma informação sobre ele? Objetiva, ainda, observar se sujeito e predicado são mesmo termos essenciais de uma oração, pois, como é de nosso conhecimento, existem orações sem sujeito e é provável que haja, também, sem predicado. Para tanto, primeiramente, será necessário rever as definições sobre sujeito, predicado e orações sem sujeito de acordo com alguns gramáticos, tais como: Ernani Terra (1996), Rocha Lima (1992), Mauro Ferreira (1992), Celso Cunha (1970), Maia (2003), Sacconi (2001). Como conclusão, o estudo aponta a idéia de que oração sem sujeito não possui predicado, pressupondo, assim, que sujeito e predicado não são termos essenciais de uma oração.

Palavras-chave: Predicado, oração sem sujeito, termos essenciais de uma oração.


Introdução

Certo dia durante uma aula de revisão sobre os termos essenciais de uma oração: sujeito e predicado, a uma turma de 8ª série, percebi que estava dizendo que embora não haja sujeito na frase: "choveu muito ontem", há predicado. Naquele momento, eu pensei: "Mas como? Se predicado é a informação que se dá sobre o sujeito, como pode haver informação sobre algo que não existe?"

Em razão desses questionamentos, o presente artigo tem como objetivo pesquisar o posicionamento de diversos autores em relação a idéia de oração sem sujeito apresentar predicado, analisando assim, a possibilidade da não existência de predicado em orações sem sujeito, o que resultaria uma incoerência em definí-los como termos essenciais de uma oração. Para tanto teremos como objeto de estudo gramáticas e livros didáticos de diversos autores, tais como: Sacconi (2001), Rocha Lima (1992), Maia (2003), entre outros.

Desenvolvimento

Para responder as questões aqui levantadas vamos, primeiramente, verificar a definição de sujeito e predicado encontrada no livro didático "A palavra é sua" de Maria Helena e Celso Pedro Luft, que apresenta uma oração sem sujeito como exemplo, observe:

Predicado: é tudo o que se informa sobre o sujeito. Pode ser:

-verbal: tem como núcleo um verbo que descreve uma ação, um fato, um, fenômeno, etc.

Ontem choveu muito.

(...)

(HELENA, Maria & LUFT,2005, p.17)

Conforme o exemplo, infere-se a idéia de que os autores acreditam na existência de um predicado para oração sem sujeito (ou sujeito inexistente).

Recorremos a algumas gramáticas para observar outras definiçõesde sujeito e predicado, observe:

-Ernani Terra (1996, p. 203):

Num enunciado completo, sempre nos é dada uma informação a respeito de alguém ou de alguma coisa. O elemento a respeito do qual se informa algo denomina-se sujeito. A informação propriamente dita recebe o nome de predicado.

- Rocha Lima (1992, p. 234-5):

Sujeito: o ser de quem se diz algo; Predicado: aquilo que se diz do sujeito. O sujeito é expresso por substantivo ou o equivalente de substantivo. Às vezes um substantivo sozinho exprime o sujeito da oração (...).

-SILVA, Antônio de Siqueira & BERTOLIN, Rafael (p. 301):

Predicado é tudo aquilo que se diz ou se afirma do sujeito.

Os operários lutaram por melhores salários.

Observação:é fácil identificar o predicado de uma oração: tirando-se o sujeito, as demais palavras constituem o predicado.

- Mauro Ferreira (1992, p. 200-9):

"Sujeito é o termo da oração a respeito do qual se declara alguma coisa." Em português, em geral, uma oração é constituída por duas partes. Uma delas é o SUJEITO e a outra étudo aquilo que se diz do sujeito: o PREDICADO.

-Celso Cunha (1970, p. 87):

O SUJEITO é o ser sobre o qual se faz uma declaração; o PREDICADO é tudo aquilo que se diz do SUJEITO.

De acordo com as definições citadas acima foi possível notar que os autores concordam com a idéia de que o predicado é algo que se diz sobre o sujeito.

Não obstante, Sacconi (2001, p. 332) prefere dizer que sujeito é o ser ou aquilo a que se atribui a idéia contida no predicado. Sobre a definiçãoque muitos fazem sobre sujeito: " é o ser de que se declara algo", Sacconi afirma ser um tanto quanto falha, pois não leva em consideração as orações interrogativas, imperativas e optativas, além de existirem sujeitos que não são seres, mas estados, qualidades, fatos ou fenômenos.

Oração sem sujeito:

Verificamos,também, algumas definições de oração sem sujeito (ou sujeito inexistente), observe:

- Ana Borgatto, Terezinha Bertin & Vera Marchezi (2007, p.104):

Diz-se que a oração é sem sujeito quando não se pode atribuir o predicado a nenhum termo dentro da oração. Isso, geralmente ocorre com:

a) orações com verbos ou expressões que indicam fenômenos da natureza, como entardecer, nevar, gear, fazer calor, fazer frio, ventar, anoitecer, trovejar:

Choveu muito neste verão.

Faz um frio fora do normal para esta época do ano.

Ventava fortemente durante o show.

b) orações com verbo haver no sentido de "existir" ou indicando tempo decorrido:

Haverá dias em que você se sentirá muito desanimado.

Há muito tempo o povo espera leis mais justas.

Houve um tempo em que os mais idosos eram respeitados.

c) verbo ser indicando tempo e distância:

É cedo para você contar com a vitória.

São trezentos quilômetros até sua cidade.

Nas orações sem sujeito, os verbos geralmente estão na terceira pessoa do singular, com exceção do verbo ser nas indicações de distância, hora e data:

É uma hora. / São duas horas.

È um quilômetro de distância. / São cinco quilômetros de distância.

È primeiro de abril. / São vinte e cinco de dezembro.

- Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino Antônio (2003, p.439):

Diz-se que uma oração é sem sujeito quando ela não possui nenhum elemento ao qual o predicado possa ser atribuído. O que importa, nesse caso, é o fato verbal em si.

Orações sem sujeito só ocorrem com alguns verbos particulares, que por não admitir sujeito, apresentam-se sempre na 3ª pessoa do singular e classificam-se como verbos impessoais.

- Sacconi (2001, p. 336):

Observações:

1) Nas orações Era primavera e Estava frio, o predicado é nominal, já que nelas existem verbos de ligação, cujos predicativos são primavera e frio. Este é um tipo esdrúxulo de predicativo, já que se trata de orações sem sujeito.

Nas citações acima infere-se a idéia de que os autores acreditam na existência do predicado nas orações sem sujeito. Nas observações de Sacconi esses idéia é explicitamente clara em razão de classificar as orações sem sujeito como predicado nominal e da afirmação de um tipo esdrúxulo de predicativo. No entanto, acreditar que uma oração sem sujeito apresenta predicado é um tanto quanto incoerente, visto que, predicado é a informação que se dá sobre o sujeito, mas se não existe sujeito para que predicado? Como pode haver uma informação sobre algo que não existe?

Pressupomos, portanto, que oração sem sujeito não apresenta predicado.

Mas predicado e sujeito são termos essenciais de uma oração. Ou não são?

Sujeito e predicado: termos essenciais da oração?

Verificamos várias afirmações sobre sujeito e predicado, vejamos algumas:

- Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite & Severino Antônio (2003, p.437):

(...)

Uma oração é constituída, portanto, de duas partes básicas: sujeito e predicado.

-Maia (2003, p. 331):

Em toda oração existem dois componentes fundamentais: o sujeito e o predicado. A relação entre eles é de interdependência, já que um depende do outro; o sujeito é o que é porque há um predicado, e o predicado se justifica porque há um sujeito, ainda que este, em algumas ocasiões possa estar oculto, elíptico ou indeterminado.

Ao dizer que "o predicado se justifica porque há um sujeito", Maia afirma, talvez inconscientemente, que sem sujeito não há predicado. Em razão de a existência deste depender da existência daquele. Assim, a falta de um ocasiona, consequentemente, na falta do outro.

Maia (2003, p. 332) diz, ainda, que outros gramáticos opinam que o termo essencial da oração é o verbo. Não podemos deixar de considerar tal afirmação, visto que, toda oração tem um verbo, se não o tivessenão seria uma oração, mas sim uma frase.

Em contrapartida, temos Perini (1995) que sugeriu que as gramáticas tradicionais deveriam excluir a divisão dos termos: essenciais, integrantes e acessórios.

Sacconi (2001), em suas observações, conclui que sujeito não é um termo essencial da oração, e prefere chamá-las de predicados isolados. Sacconi afirma, ainda, que o predicado, sim, é um termo essencial a qualquer oração; e que o sujeito só é termo essencial da oração bimembre; nas orações unimembre ou impessoais não pode sê-lo.

Como podemos considerar o sujeito um termo essencial se este permite oração sem sujeito? Essencial é aquilo que não pode faltar. E se não tem sujeito, não há sobre o que ou quem informar, logo, não há predicado, e se ambos são essenciais , então não existe oração.

Flávia de Barros Carone (1995, p. 73), nessa mesma perspectiva, afirma que como houve uma mutilação, trata-se de uma "oração-não-oração" (aspas da autora).

Considerações finais

Na análise de definições encontradas sobre sujeito, predicado e orações sem sujeito observamos o ponto de vista de conceituados autores que nos permitiram chegar a conclusão de que ainda há algumas incoerências em certas teorias gramaticais, fazendo-se, portanto, necessário repensar sobre a existência de predicado em oração sem sujeito e sobre a classificação dos termos essenciais de uma oração. O trabalho mostra que é possível a não existência do predicado quando a oração não apresenta sujeito, visto que, o predicado é aquilo que se atribui ao sujeito, não havendo sujeito não há porque atribuir algo a quem não existe; pressupondo, portanto, que estes não podem ser considerados termos essenciais.

Sites visitados:

PRUDÊNCIO, Perpétua Guimarães. Sujeito é ou está sujeito? In: http://membres.lycos.frveneto/arkivio/grafia/sujeito.pdf, em 21 de janeiro de 2008.

MARONZE, Bruno Oliveira. A realização do sujeito no português brasileiro. In: http://www.português.com.br/sintaxe/predicado.asp, em 16 de janeiro de 2008.

Bibliografia

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática – teoria e prática. 26ª ed. São Paulo: Editora Atual, 2001.

MAIA, João Domingues. Português. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2003.

CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1995.

FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

CUNHA, Celso. Gramática do português contemporâneo. Belo Horizonte: Bernardo Álvares, 1970.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática: teorias, sínteses da unidades, atividades práticas, exercícios de vestibulares: 2º grau. São Paulo: FTD, 1992.

LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1992.

AMARAL, Emília, FERREIRA, Mauro, LEITE, Ricardo & ANTÔNIO, Severino. Novas palavras, 2ª ed. São Paulo, FTD, 2003.

SILVA, Antônio de Siqueira e & BERTOLIN, Rafael. Curso completo de português, editora Nacional.

PIRINI, Mário. Sobre a classificação das palavras. D.E.L.T.A., 14. nº especial: 209 – 225.1995.

HELENA, Maria & LUFT. A palavra é sua - 8ª série.1ª ed. São Paulo, Scipione, 2005.

BORGATTO, Ana, BERTIN, Terezinha & MARCHEZI, Vera. Tudo é linguagem. 1ª ed. São Paulo, Ática, 2007.

CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 17ª ed., São Paulo: Cia. Editora Nacional.1977.

Agradecimentos:

Agradeço primeiramente a Deus que me deu a oportunidade de fazer um curso superior e uma pós-graduação, agradeço a meus pais que mesmo com grandes dificuldades financeiras fizeram o que parecia impossível, ajudaram-me aconcluir o curso de Letras. A todos os professores que passaram por minha vida contribuindo de alguma forma para minha formação em especial os do curso de Letras:  Antônia Cleusa e Sheila que ensinaram-me que somente os persistentes alcançam seus objetivos e me deram uma excelente base para me tornar a professora dedicada que sou. Aos professores do curso de pós-graduação, especialmente o professor Cláudio que me incentivou dizendo que este era realmente um excelente assunto a ser analisado. Enfim sou grata a todos que de alguma forma contribuíram para minha formação e para a conclusão deste trabalho.