Leia esta! E vamos filosofar!

Depois de ler, discuta com os amigos, com os vizinhos. Se você é professor, leve o tema para a sala de aula: provoque um debate com os estudantes... precisamos, além de ser diferentes, fazer a diferença! A mesmice é maçante, é mãe da mesquinharia: mata.

O caso é o seguinte. Vamos refletir sobre algumas características que são marcantes, em algumas pessoas. Para alguns, são problemas, são uma espécie de marca que os faz parecer uma espécie exótica. Os faz diferentes: o que é muito bom. Lembrando que outras pessoas não possuem características especiais. São pessoas comuns. Tipo sem sal sem açúcar. São pessoas insossas, sem sabor – talvez, também, sem saber; sabendo que saber e sabor são palavras com a mesma origem latina. As diferenças é que nos caracterizam e nos distinguem. Quem não as tem não se caracteriza, é indistinto nem característico

Assim sendo, para início de conversa, é bom dizer que a exoticidade de alguns está para a mesmice de outros. E, justificando o ser diferente: é necessário ser diferente para não ser igual, não produzir unanimidade, pois "toda unanimidade é burra", dizia o cronista. E a razão é simples: se todos pensam a mesma coisa é porque ninguém pensa! E se ninguém pensa, não se sai do lugar. Se ninguém pensa, vai acabar aparecendo um esperto e pensará por todos...

Vamos colocar a questão da seguinte forma: Eu, por exemplo, sou careca! Assumido! Com orgulho! Esse é o meu charme! Além do mais, cabelo não é fundamental! Se cabelo fosse importante não nascia naquele lugar onde não bate sol..., as axilas, que alguns chamam de sovaco. Claro que o fato de ser careca tem um inconveniente: a rapaziada fica com ciúmes... pois os cabeludos não tem o que têm os carecas: uma cabeça brilhante! E eu sou brilhante! Além disso, o fato de ser careca dá-me um charme especial, faz-me bonito; fez-me atraente para as garotas... lembram do que elas gostam? É dos carecas...!

Só o careca é percebido, na multidão. Estão procurando alguém no meio de um grupo de pessoas... É difícil identificar quem é quem no meio dos cabeludos. Mas se o cara é careca...

Alguns dizem que sou baixinho. Mas a coisa não é bem assim. Chama-me de baixinho aquele que tem complexo de altura. Eu sou do tamanho certo: nem alto nem baixo. Os outros é que são muito altos... Alguns, exageradamente altos! Já pensou a dificuldade que é vestir um vara-pau de um metro e noventa?

Tem, também, um problema de linguagem. Alguns acham que sou meio escrachado. Só por que de vez em quando falo alguma palavra considerada "palavrão". Mas são palavras pequenas, com poucas letras!

Uma palavra de cinco letras não dá um palavrão.... ou dá?

Desde quando falar aquela palavra, de cinco letras, que todo mundo tem, que dá consistência à retaguarda; que a gente usa prá sentar, é um palavrão? Falar essa palavra é ser escrachado? Ou então aquela outra palavra, mais própria dos homens - na verdade filhote da galinha... – alguns teimam em chamá-la de palavrão... mas é uma palavra pequena...(aqui só estamos discutindo o tamanho da palavra..., portanto não venha com essa de medir. Isso de "o meu é maior do que o teu, é por que está em dúvida sobre a eficiência e quer se impor pelo tamanho).

Você acha que alguém é escrachado só por que emprega essas e outras palavras, pequenas, que chamam de palavrão? Tem aquela outra palavra, de seis letras que, para ser exato origina-se de vagem, parte da planta em que se alojam as sementes... e sêmen também é semente, portanto... Isso não é palavrão, faz parte, sim, do vocabulário popular. Ou aquela outra que se origina de uma antiga arma, de onde vem a popular porrada. Dessa palavra, retirando o "da", alguns dizem que fica um palavrão! Mas só tem cinco letras... é uma palavra pequena. O líquido a que se refere essa palavra é, na verdade um tempero feito com algumas ervas... e um determinado tipo de alho. Duvida, pesquise e comprove!

Quando, eventualmente, utilizo um termo menos comum, como gnosiologia, epistemologia, realidade ontológica, ninguém diz que são palavrões... embora muita gente nem sonhe com o significado delas. Mas como são palavras comuns na academia, me olham como se eu soubesse alguma coisa. Enganam-se. Se eu soubesse de algo não estaria perguntando. Aliás essa é uma das poucas verdades que sei: sei perguntar!

Alguns até confundem o conhecimento empírico com senso comum, mas ficam com o nariz empinado e a consciência tranqüila, pois estão utilizando palavras que se aproximam da filosofia. Ficam no equívoco por que estão guiados por algum resquício de conhecimento mítico. Justamente no espaço em que se coloca o mito da ciência e da filosofia; ou da ciência chegando para destituir a filosofia. Não sabem, os incautos, que a própria proposta de destituir a filosofia de seu posto já é uma proposta filosófica!

Mas voltemos à questão: O que vem a ser, na realidade ôntica da coisa, um palavrão?

Na verdade o que desejo é fazer um discurso que prime pela busca do saber – saber relaciona-se com sabor e, todos sabem que sabor é aquele gostinho gostoso que dá aquele gosto gostoso a uma coisa gostosa... Daí que o conhecimento deve ser saboroso. Desejo uma conversa bem humorada, pois o bom humor é salutar. Isso sem contar que humor rima muito bem com amor, e ambas se ligam a "mores" (do latim) que se refere a uma forma de comportamento socialmente aceito, de onde vem a ética e a moral... e a todas as maluquices que se fez e se disse em nome do que é correto, esquecendo que muita coisa que é correta já foi erro, equivoco, pecado, tabu. Lembra do porquê de terem matado Joana D'Arc? Alguém se lembra do nome do carrasco de Tiradentes?

O que estou querendo dizer é que nossa sociedade está marcada por "pré-conceitos".E a maioria dos preconceitos aparece em relação ao diferente. O diferente é vítima, não da novidade que traz, mas daqueles que não conseguem enquadrá-lo no pré-estabelecido. Muitos matam a novidade – e a muitas possibilidades de progresso – por não serem capazes de enquadra-la no pré-estabelecido. Os preconceituosos se esquecem que é o diferente que, além de trazer a novidade, trás a inovação, as raízes do progresso. Se todos permanecêssemos na mesmice ainda viveríamos nas cavernas e pendurados nas árvores catando frutinhos...

O que caracteriza o humano não é a acomodação, mas a irreverência. O progresso nasce não de quem repete fórmulas, mas dos que quebram tabus. O avanço acontece não através de quem acata as ordens, mas pelos que criam desordem. Até mesmo a filosofia só deu passos significativos quando os discípulos fugiram ou quebraram as amarras, contradisseram ou foram além dos mestres. Leia Nietzsche: "Recompensa mal um mestre aquele que se contenta em ser sempre discípulo"

Agora eu te pergunto: qual é a tua característica mais marcante? O que te diferencia dos outros mortais? Qual é a tua marca? Ou você é como todo mundo... um a mais na multidão dos anônimos?

Bem, amigo leitor. Espero não ter tomado seu tempo; pelo contrário, espero tê-lo ajudado a aproveitar estes instantes de leitura.

E agora recoloco a proposta: que tal discutir os preconceitos? Que tal refletir sobre as diferenças e filosofar sobre o cotidiano?

Neri de Paula Carneiro

Filósofo, Teólogo, Historiador

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