Pra você
Por Januário Elcio Lourenco | 04/09/2009 | Saúde(Dedicado à memória de Bertha Escher Litoldo)
Minha avó nasceu na Alemanha, no início do século passado.
A
origem germânica era facilmente revelada por seus olhos azuis... azuis
como os céus da cidade onde passou a infância, no interior de São
Paulo.
Sprichst du Deutsch?*
Ali, falar alemão era considerado uma ofensa, já que os vizinhos
olhavam feio, por desconfiarem do sentido oculto daquelas palavras
estranhas.
A experiência marcou sua mente, com a consciência de que as pessoas – via de regra – rejeitam
aquilo que não entendem ou dominam,
e isso a fez caminhar na vida com passos de prudência.
Uma
avó pode parecer uma figura um tanto deslocada na mente de uma criança
franzina, mais preocupada com a possibilidade, ou não, de ter o que
comer naquele dia. De fato, eu ficava alegre quando recebia a ordem de
“ir buscar dois cruzeiros de carne para a sopa”.
Entre
mim e minha avó quantos anos, pessoas, experiências, sonhos e opiniões.
Eternidade de segundos traduzida em desafios, lutas, lágrimas e
alegrias que separam e unem gerações.
No entanto, uma großmutter** carinhosa pode ser mais marcante que os próprios pais, já que está mais tendente a ser amiga, a suportar as falhas dos netos,
a achar a bagunça das crianças uma coisa “fofa”.
Talvez pela cumplicidade, minha avó Bertha Escher Litoldo – mulher de nome complexo, mas de palavras simples – me legou
muitas lições de determinação, coragem e luta.
Passamos
juntos muitas batalhas do dia-a-dia. Ouvimos juntos, lado a lado, as
notícias no rádio, numa época em que a televisão não era parte da vida.
Mas nada foi tão marcante quanto o que me disse em seu leito:
“ -Tive
uma boa vida, não importa a que preço, agora chega a hora da partida,
mas para você ainda há muita vida. Nunca deixe de ser uma pessoa que
respeita e ama Deus, porque isso será a razão de suas vitórias”.
E eu tive, de fato, muitas vitórias na vida. Do simples garoto que se alegrava pela “carne da sopa”,
consegui estudar, me formar como Matemático e Engenheiro Civil. Na
Inglaterra - em meio a cálculos, livros técnicos e professores
exigentes - conclui meu Mestrado em Engenharia. Construí prédios, trabalhei como engenheiro de transportes anos a fio na área federal e distrital. Conheci o mundo, convivi com milhares de pessoas.
Mas meu maior tesouro – digo de coração – é a realidade interior de ter Deus como meu amigo. E nesse caso,
acho que não decepcionei minha avó.
“Lâmpada para os meus pés é tua palavra e
luz para os meus caminhos”. (Salmos 119:105).
pastorelcio2007@yahoo.com.br
www.pastorelcio.com
* Você fala alemão? - tradução livre do autor.
** Avó, vovó – tradução livre do autor.