Espiritualmente falando, apartar-se de Deus significa: desunir-se dEle; desertar-se dEle, rebelar-se contra Ele; renunciar ou abandonar a fé que Ele nos deu. É a chamada apostasia.

Assim sendo, consoante a pergunta proposta neste artigo, o verdadeiro crente pode apostatar-se?

Bem, sabemos que existem dois grupos de crentes: Os verdadeiros e os falsos. O trigo e o joio. E, assim como ocorre com essas poáceas, o verdadeiro crente se difere do falso na essência, conquanto na aparência sejam deveras parecidos. Sabedor, pois, da infiltração do joio nos trigais, escrevo este artigo estribado tão somente no Livro do Profeta Jeremias, visando mostrar, de forma irrefutável, que o verdadeiro crente nunca se apartará de Deus, não obstante o anelo de separação por parte dos falsos crentes.

De antemão, mister se faz dizer que a ambiguidade é fruto de um coração ilusório: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?” (17:9). À pessoa que exercita uma confiança equivocada e aparta o seu coração do Senhor, o Profeta é incisivo: “Assim diz o Senhor: MALDITO o varão que confia no homem, e faz da carne o seu braço, E APARTA O SEU CORAÇÃO DO SENHOR!” (id.v.5). Ora, quem aparta o seu coração do Senhor é o homem que confia no homem, ou seja, o homem natural, daí a especificidade de maldito. E, plenamente antagônico à estéril confiança do homem natural, o homem espiritual não confia em homem algum, mas unicamente no Senhor, por isso ele é bendito: “BENDITO o varão que confia no Senhor, E CUJA ESPERANÇA É O SENHOR.” (id.v.7). O Senhor é a nossa esperança (14:8; 17:13)!

Superabundantes são os textos das Escrituras Sagradas que provam, à saciedade, que a Salvação do crente em Jesus Cristo é Eterna, isto é, não abarca sequer uma remotíssima possibilidade de perda. É que o Senhor Jesus Cristo dá ao crente nEle Vida Eterna eternamente inamissível. À minha pergunta, encimada como título deste artigo, o Senhor Deus responde: “E farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, PARA QUE NUNCA SE APARTEM DE MIM.” (32:40). Então, relativamente a esta declaração peremptória do Senhor Deus, desdobro-me em perguntas e respostas, objetivando deletar todas as dúvidas porventura existentes na mente do leitor sequioso por palavras da Vida Eterna:

"E FAREI…” Pergunta: Quem fará? Resposta: Deus. E somente Ele fará, segundo os seus insondáveis desígnios, tudo o que lhe aprouver.

"E farei COM ELES…” Pergunta: Eles quem? Resposta: Os lídimos crentes em Jesus Cristo.

"E farei com eles um PACTO…” Pergunta: O que é pacto? Resposta: Pacto é ajuste, acordo, entre Estados ou particulares. Aqui, Deus faz um pacto com os crentes nEle.

"E farei com eles um pacto ETERNO…” Pergunta: Qual a duração desse Pacto? Resposta: Ele é ETERNO como ETERNO é o próprio Deus!

"E farei com eles um pacto eterno DE NÃO ME DESVIAR…” Pergunta: Por ser imperfeito eu me desvio de incontáveis situações, muitas das quais não deveria me desviar; e Deus, por acaso se desvia como eu me desvio? Resposta: Esta pergunta é retórica…

"E farei com eles um pacto eterno de não me desviar DE FAZER-LHES O BEM…” Pergunta: Quem é que faz o bem, Deus ou eu? Resposta: É claro que é Deus! A minha imperfeição me impede de fazer o bem, em toda a sua plenitude.

"E farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-lhes o bem; E POREI…” Pergunta: Quem porá? Resposta: O mesmo que disse: “E farei…”

"E farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei O MEU TEMOR…” Pergunta: De quem é o temor (sentimento respeitoso; escrúpulo; zelo)?Resposta: De Deus. Ele diz: “o MEU temor”. Sem Deus, o único temor que consigo desenvolver é o medo (fobia, pavor, terror).

"E farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor NO SEU CORAÇÃO…” Pergunta: Em que receptáculo Deus põe o seu temor? Resposta: No coração, porque esse órgão é o depositário do temor de Deus.

"E farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, PARA QUE NUNCA SE APARTEM DE MIM.” Pergunta: Quando é que vamos nos apartar do Senhor? Resposta: NUNCA, mas NUNCA MESMO nos apartaremos de Deus; portanto, a apostasia somente é possível ao falso crente, ao maldito homem que confia no homem (17:5), visto que ele já é naturalmente apóstata e vive constantemente arraigado no medo.

Consoante o Pacto eternamente estabelecido, está explícito que o Senhor Deus não nos abandonará, e vice-versa (51:5). Deus é grande (10:6; 32:18) e nada lhe é demasiado difícil (32:17,27). Ele não nos rejeita (31:37).

Eu sou inocultavelmente frágil, mas o Senhor é força minha, fortaleza minha e refúgio meu no dia da angústia (16:19), refúgio meu no dia da calamidade (17:17). Ele me cura (id.v.14)!

Ora, não é o homem que dirige os seus passos (10:23), mas o Senhor, por ser o Manancial de Águas Vivas (2:13), nos diz: “… guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho direito em que NÃO TROPEÇARÃO…” (31:9). O Senhor é o nosso Pastor, e nós somos suas ovelhas (23:3), e em seu aprisco nenhuma ovelha faltará (id.v.4). O Senhor nos atrai com a sua benignidade (31:3), visto que Ele é bom e a sua benignidade dura para sempre (33:11), e Ele a usa para conosco (32:18). Ele é misericordioso (3:12), nos concede misericórdia (42:12) e se compadece de nós (31:2). Ele é Santo (50:29; 51:5), é o nosso Redentor (14:8), nosso Redentor Forte (50:34), e nEle está a nossa Salvação (3:23). Por sermos a tribo da sua herança (51:19), Ele está conosco (46:28), está no meio de nós (14:9).

Nós somos falíveis, mas o Senhor Deus, que é o nosso Pai (id.v.9), e nos conhece (12:3), e nos ama com AMOR ETERNO (31:3), nos castiga com medida justa (30:11), nos castiga com justiça (46:28), nos corrige com medida justa (10:24), traz à luz a nossa justiça (51:10) e defende a nossa causa em juízo (50:34; 51:36), porque Ele é Justo (12:1), é o Justo Juiz (11:20) e a morada da Justiça (50:7).

O Profeta diz que o Messias prometido é um Renovo Justo (23:5,6; 33:15), e que será chamado O SENHOR JUSTIÇA NOSSA (23:5,6; 33:16), e que nos seus dias seremos salvos e habitaremos seguros (23:6). Ora, se em e por Jesus Cristo seremos salvos (e já somos!) e se habitaremos seguros (e já habitamos!), não há portanto motivo para temermos nem nos assombrarmos (id.v.4).

Quando invocamos e oramos ao Senhor, Ele nos ouve (29:12); e, se o buscarmos de todo o nosso coração, achá-lo-emos (id.v.13); então, diante dEle apresentamos a nossa súplica (42:9) na certeza de que Ele nos purificará e nos perdoará (33:8); com efeito, para o nosso mais completo gozo, Ele nos diz: “… pois lhes perdoarei a sua iniquidade, E NÃO ME LEMBRAREI MAIS DOS SEUS PECADOS.” (31:34)

E todas estas bênçãos nos são garantidas, visto que o Senhor Deus nos deu a sua Palavra, e sobre ela diz Ele: “Não é a minha Palavra como fogo, diz o Senhor, e como martelo que esmiúça a pedra?” (id.v.29). Assim, dar-nos-á coração para que o conheçamos, que ELE É O SENHOR (24:7), e põe a Lei no nosso interior e a escreve em nosso coração (31:33). Qual, pois, é o coração que resiste a esse fogo e a esse martelo? Ora, somente o coração cauterizado na mais procrastinada heresia, para o qual tem sido reservado para sempre o negrume das trevas!

E a Palavra do Senhor (fogo e martelo) é poderosa porque Ele é o Deus Vivo (10:10; 23:36), é o Verdadeiro Deus (10:10), é o Deus de Israel (7:3,21; 9:15; 11:3; 16:9; 19:3,15; 21:4; 23:2; 24:5; 25:15,27; 27:4,21; 28:2,14; 29:8,21,25; 30:2; 31:23: 32:14,15,36; 33:4; 34:2,13; 35:13,18,19; 37:7; 38:17; 39:16; 42:9,15,18; 43:10; 44:2,7,11,25; 45:2; 46:25; 48:1; 50:18; 51:33), o Senhor Deus de Israel (13:12), é o Deus dos Exércitos (5:14; 35:17; 38:17; 44:7; 46:10), o Senhor Deus dos Exércitos (15:16; 46:10; 49:5; 50:25,31); é o Deus de toda a carne (32:27), é o nosso Deus (23:36; 26:13; 31:6,18); é o Senhor (32:27), o Senhor dos Exércitos (6:6,9; 7:3,21; 8:3; 9:7,15,17; 11:20; 16:9; 19:3,15; 20:12; 23:15,16,36; 25:8,27-29,32; 27:4,18,19,21; 28:2,14; 29:8,17,21,25; 30:8; 31:23; 32:14,15; 33:11,12; 35:13,18,19; 39:16; 42:15,18; 43:10; 44:2,11,25; 46:18,25; 48:1; 49:7,35; 50:18,33; 51:5,14,33,57,58).

O seu Nome é o Senhor (33:2), o seu Nome é o Senhor dos Exércitos (10:16; 31:35; 32:18; 46:18; 48:15; 50:34; 51:19,57), o seu Nome é YAHWEH (16:21); grande é o seu Nome (10:6; 44:26), e Ele opera por amor do seu Nome (14:7).

Ele é o Rei (46:18; 48:15; 51:57), o Rei das nações (10:7), o Rei Eterno (10:10).

Eis o extremo do nosso gozo: No capítulo 32, versículo 40 (texto áureo deste nosso exame), o Senhor diz ao seu Povo que não irá se “desviar de FAZER-LHES O BEM; e porei o meu temor no seu coração, PARA QUE NUNCA SE APARTEM DE MIM.” E, no versículo seguinte, o 41, Ele conclui, dizendo: “E ALEGRAR-ME-EI por causa deles, FAZENDO-LHES O BEM…” Que gozo! Para fazer-nos o bem, além de não se desviar, Deus ainda se alegra! Ah, a alegria de Deus! Porventura faria sentido essa alegria, se uma ovelha sua pudesse tresmalhar-se definitivamente? Não seria uma alegria triste, por causa de sua efemeridade? Deus é Eterno, e pensar na alegria que emana de seu Santíssimo Coração como uma coisa inferior à Eternidade é, de todos os pensamentos, o mais ínfimo!

Diante de todo o exposto, eu proclamo com todo o meu coração, com toda a minha alma, com todas as minhas forças e com todo o meu entendimento, num júbilo imensurável: “… ó Senhor (…) tu és o meu louvor.” (17:14). Aleluia!

Concluo este prazeroso trabalho com este sublime hino de louvor, cuja entoação só pode ser feita, no âmago, pelos verdadeiros crentes: “SEGURO ESTOU, não tenho temor do mal, / Sim, guardado pela fé em meu Jesus, / Não posso duvidar desse Amor leal; / Ele em seu caminho sempre me conduz. / NÃO ME DEIXARÁ MAS ME ABRIGARÁ, / Do pecado vil vem me livrar. / A sua Graça não me recusará; / Sim, Jesus é quem me pode sustentar. / Abrigo Eterno tenho no Salvador. / Ele esconde a minha vida em seu poder; / Eu recear não posso do malfeitor. / Que procura pertinaz me enfraquecer. / Confiado, então, nessa proteção, / Sigo a Cristo e quero ser fiel. / Na minha vida, cheio de gratidão; / Sim, a meu Senhor e Rei Emanuel. / Perigo algum me pode causar temor, / POIS MEU SALVADOR NÃO ME ABANDONARÁ; / Com sua proteção e com seu Amor, / Dirigindo minha vida Ele estará. / NUNCA O DEIXAREI, MAS FIEL SEREI, / Sempre firme, cheio de fervor; / A Cristo, Redentor, meu Senhor e Rei, / Eu me entregarei, firmado em seu Amor. / Estribilho: No poder de Cristo, o Mestre, minha vida salva está! / Do perigo que cercá-la, Ele poderá livrá-la, / Seu Poder Eterno sempre a susterá.” (REFÚGIO VERDADEIRO, Hino nº 324 do Cantor Cristão, Hinário das Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira – JUERP 1990).

"Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes.” (33:3) 

Lázaro Justo Jacinto