Português padrão e não-padrão
Publicado em 23 de julho de 2016 por Adriana Bueno dos Santos Menegelli
Adriana Bueno dos Santos Menegelli
RESUMO
O presente artigo tem como escopo fazer uma análise comparativa entre o português não-padrão e o português padrão. Pretende fazer uma reflexão sobre como a nossa língua vem sendo modificada ao longo dos anos, e como a mesma é ensinada na escola.
Palavras chave: variações lingüísticas, português padrão, não- padrão
OBJETIVO
Mostrar que a unidade de linguística do Brasil é um mito, pois além das línguas indígenas e das línguas trazidas pelos imigrantes, fala-se diferentes variedades de Língua Portuguesa, cada uma delas com características próprias, no entanto, todas com uma lógica linguística.
O processo de aprendizado de uma língua é realmente difícil, porém , ao mesmo tempo natural. As variantes linguísticas devem ser consideradas no momento do ensino da Língua Portuguesa para um melhor firmamento da mesma. A escola não deve só ensinar o Português padrão, mas , oferecer meios para que a aprendizagem aconteça.
INTRODUÇÃO
Logo no inicio de nosso artigo faremos uma breve definição sobre variedade lingüística, variedade padrão e não padrão.
A língua pode diferenciar-se quando falada por homem, criança ou jovem, por iletrados e letrados, pessoas de diferentes classes sociais, moradores rurais ou urbanos e também as diferenças regionais. Temos , então variedades de gênero, sócio-econômica, de nível de instrução, etárias, urbanas, rurais, entre outras.
Em Roma a língua predominante era o Latim, com as guerras e as conquistas romanas esse idioma se expandiu por toda a Europa. Entretanto , não foi o Latim Clássico, usado pelos grandes escritores romanos (Cícero, Horácio, César, Virgílio,etc) o que foi imposto às populações dominadas; foi o Latim Vulgar, falado pelos soldados romanos.Foi deste Latim Vulgar que surgiram todas as línguas chamadas Românicas, das quais se originou o Português.
O Latim Romano era falado pelos escritores que com certeza achavam o Latim Vulgar errado, assim como português não-padrão hoje.
Segundo BAGNO muitas vezes quando a escola recebe um aluno que fala o português não-padrão o trata como se fosse uma pessoa que tem uma inferioridade mental, ou seja, como se o aluno não tivesse capacidade de aprender nada.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização do presente trabalho utilizaremos pesquisa bibliográfica realizada com o objetivo de colher informações relevantes sobre o tema aqui abordado.
Em especial utilizaremos o livro “A língua de Eulália :novela sociolinguística” de Marcos Bagno que discute a questão da sociolingüística e as variedades da língua.
ALGUMAS DEFINIÇÕES
Para que não hajam dúvidas resolvemos comentar sobre o conceito de :
Variedades linguísticas são as variantes que uma língua apresenta de acordo com as condições de uso ( sociais, culturais, regionais e históricas) .
Variedade padrão, língua padrão ou norma culta: está relacionada ao uso que se faz da língua por grupos de maior prestígio cultural, político e econômico (uso de vocabulário mais complexo e pela e de regras da gramática normativa).
Variedade não padrão, língua não padrão: usada em situações cotidianas (com nossos familiares, vizinhos, colegas e amigos). Destaca-se pelo uso vocabulário comum , de frases feitas e gírias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando ouvimos alguém dizer palavras como: “fosfro”, “môio” , “home”, “probrema”, certamente percebemos algumas características que nos chamam a atenção. Tais palavras podem ser consideradas erradas dentro das regras consideradas padrão, porém, na variedade não padrão (falada) essas regras não funcionam.
Sabe-se que a questão do ensino da gramática na escola tem sido longamente discutido. Mas , em que consiste o domínio do português padrão? Em relação à escola existe um certo preconceito linguístico baseado numa ideologia social que diz que “um bom aluno” é o que tem a aquisição de determinado grau de domínio da escrita e língua.
Do ponto de vista do aluno muitas vezes podem parecer “inúteis” esses ensinamentos porque na prática do dia-a-dia todos as normas regras, exceções não são usadas. O que se usa são as regras do português não-padrão. Perante estas situações existe uma discussão que deve ser relevada: ensinar a partir do uso observado ou ensinar a partir de regras? Onde fica o discurso do sujeito?
Para TARALLO, 1986 :
“ Por que não oferecer aos alunos textos de caráter prático combinados aos de alcance artístico?A gramática já está internalizada na mente dos alunos, então há ensino de gramática, há reflexões sobre ela. Qualquer manifestação de preconceito linguístico perturba o aprendizado, provoca fenômenos de atraso, ou mantém o aluno a um estado de subdesenvolvimento linguístico. “
Dentre essas diferenças linguísticas analisadas citaremos as mais frequentes:
A maioria das palavras proparoxítonas, ou seja , as que têm a antepenúltima sílaba tônica, como árvore, córrego,fósforo, transformam-se nas paroxítonas “arvre”, “córgo” e “fósfro”. O que acontece é que estas palavras sofreram uma contração, um tipo de “encolhimento” para facilitar o ritmo do português não-padrão.É por isso, que temos um grande número de paroxítonas. “Camões em sua obra “Os Lusíadas” usou 267 palavras proparoxítonas o que equivale a apenas 5% de todo o vocabulário usado no poema. Apenas 09 (nove) versos apresentam rima proparoxítona, mais de 8.325 tem rima paroxítona ou seja 94%.” (BAGNO,1999).
Outro caso que vale a pena citar é a desnalização das vogais postônicas. Vogais postônicas são as vogais que vêm depois das sílabas tônicas. È comum ouvirmos as pessoas dizerem “home”, “onte”, “garage”, em vez de homem, ontem e garagem, com o m final. Isso tem a ver com a tendência natural a desnalisação das vogais postônicas na Língua Portuguesa. Esse fenômeno vem acontecendo com algumas palavras desde quando passaram do Latim para o Português.
Observe os exemplos:
Latim |
Português |
Examen Legumen nomen |
Exame Legume nome |
Existe também uma tendência a reduzir as seis formas verbais a apenas duas.Veja o exemplo o verbo “dançar”conjugado no Presente do Indicativo.
Português Padrão |
Português não - padrão |
Eu danço Tu danças Ele dança Nós dançamos Vós dançais Eles dançam |
Eu danço Tu/você dança Ele dança Nós / a gente dançamo Vocês dança Eles dança |
Segundo BAGNO, 1999 se a pessoa já está indicada pelo pronome sujeito o verbo não precisa variar para que o ouvinte entenda de quem se está falando e qual o tempo verbal. Essa é uma prova da funcionalidade do português não – padrão.
Imaginemos se um aluno que diga (ou escreva) : “ As maçã tão boa”. Comparemos esta forma com a forma padrão. Os “erros” seriam de concordância de número, e a forma do verbo “estar” (tão).A concordância de gênero está correta; a sintaxe de colocação é a mesma do português padrão, isto é , esse falante não está dizendo, por exemplo: “maçãs as boa tão”. No entanto , em vários erros possíveis de serem cometidos o aluno cometeu só dois.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há muito tempo, pesquisadores estudam as línguas e ao encontrar uma pessoa, ou grupos que falem diferente, percebe-se uma linha divisória que separa a forma mais aceita na sociedade, preferida na escola e no âmbito profissional, da forma que foge às normas consideradas padrão.
O português padrão, o que se aprende nas escolas brasileiras é falado por uma minoria da sociedade . Isto nos faz refletir, pois se muitas pessoas, de todas as regiões do país falam o português não padrão, é certo considerar isto um erro comum? Obviamente que não, pois o português não padrão tem uma explicação científica, do ponto de vista linguístico, é lógico e pragmático.
Portanto ,o ensino de Língua Portuguesa deve deixar de ser a transmissão de conteúdos prontos, e passar a ser uma tarefa de construção de conhecimentos por parte dos alunos. O professor não deverá mais a única fonte de informação, pois haverá troca de informações.
Este trabalho, não esgota todo o assunto, mas nos leva a refletir sobre como a nossa língua vem sendo modificada ao longo dos anos, pelos mais variados motivos e como a mesma é ensinada na escola.
Finalizaremos com dizeres de Bakhtin “as palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios”.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO,Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo. Editora Contexto. 3 ed., 1999.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 1986.
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file:///C:/Users/Professor/Favorites/Downloads/254-951-1-PB.pdf acesso em 10/01/2016