Portas que se fecham, vidas ceifadas.

 

Na a história humana há registros que atitudes individuais que se propagam no tempo e no espaço. O agir faz parte do sentido da vida, como as consequências fazem parte do legado de todos e de cada um.

Século XXI, palco de constatação de grandes conquistas que vão do analógico ao digital, do que vale ao que não vale, do correto ao politicamente correto, do ao que forma ao que deforma... Para juntar as pontas de um processo em formação, todas as gerações que tiveram acesso ao conhecimento, o fizeram em espaços sistematicamente preparados para orientar, induzir, mostrar, instigar, negociar, criar alianças e compromissos que conduzem os fios que serão tecidos entre si para dar forma ao homem do hoje, preocupados com homem do porvir.

Se o ser humano, no seu processo de formação precisa abrir trilhas que serão caminhos de vida, no meio deste caminho está a ESCOLA. Considerando que a escola é porta para o mundo o que há de se esperar de quem não tem como seguir? Lá no lendário “Alice no país das maravilhas”, em uma conversa da personagem principal com o seu gato há um diálogo: -amigo, me leva daqui, o gato pergunta para onde ela pretende ir. Enfadada, desencantada responde: - para qualquer lugar!... O gato ri e retruca: Amiga, para quem não tem onde chegar, não precisa de caminhos. A ESCOLA É CAMINHO DE VIDA. É PATRIMÔNIO INALIENÁVEL.

Diante de tudo o que vivemos em 2020, encontramo-nos nessa encruzilhada: Escola fechada, futuro imprevisível, descaminho à vista. 

Quais as justificativas para a escola  está fechada? Nada pôde parar, bancos, comércio, indústria, trânsito, restaurantes, praias, avenidas, hotéis, clínicas, praças, cooper, academias... por que tornam-se espaços imprescindíveis à manutenção da vida. O hoje diz isso, mas como será o amanhã?

Crianças em casa têm acesso à internet, a jogos, a lazer, a diversões... àquelas que não têm acesso a essas ferramentas têm o isolamento, à rotina, ao tédio, ao stress, à rua, sem rumo.

Pais esclarecidos e abastados precisam trabalhar para o sustento da família ou manutenção patrimonial, mas não foram talhados para sistematizar conhecimentos; pais educam, professores ensinam.

Pais mais simples e com menos recursos, precisam trabalhar, não disponibilizam de ferramentas tecnológicas, não sabem “ensinar” porque não aprenderam a ensinar.

Ora, em resumo, os fundamentos para a manutenção da escola em pleno funcionamento precisam ser respeitados, precisam ser garantidos pelo Estado.

A insensatez de fechar a porta da escola sob alegação de preservar o isolamento social da criança traz um raciocínio simples: Para um pai médico, da linha de frente da pandemia ao voltar para casa após um árduo plantão quais as garantias de que suas crianças estarão “protegidas” para uma conversa, um abraço, uma noite de sono no mesmo ambiente?

Para uma mãe que precisa ir ao mercado, à farmácia, ao Banco, ao restaurante, ao voltar para casa não trouxe riscos para as acrianças?

Para uma babá que tem esposo e filhos, vem trabalhar de ônibus superlotados, como garantir que as crianças de quem ela cuida, estejam protegidas?

Ou reabrem as escolas ou estaremos cometendo um crime contra a vida. Não haverá tempo para repor o prejuízo, serão gerações castradas na sua essência de formação. Que sejam reavaliados os protocolos, que sejam avaliados os fatos, que sejam tomadas providências urgentes! Que acordemos Academias de letras, Direção de escolas, conselhos de educação, clubes de  serviço, maçonaria, igrejas,  sociedade organizada, pais de família... chega de protelar, chega de adiamentos. Se ficar em casa, pode pegar; se sair de casa, pode pegar; se não for estudar, pode pegar; se for estudar, pode pegar; se aprender e pegar, pode se defender porque prendeu a vencer. Vençamos juntos: família e escola, em nome da vida.

  • Sebastião Maciel Costa