A Reforma Protestante do século XVI dentro das várias verdades bíblicas redescobertas, restaurou uma que é considerada a jóia do elenco bíblico: o sacerdócio universal de todos os cristãos. Embora a visão de Lutero, no que tange a esse assunto, estivesse profundamente marcada pelo contexto eclesiástico do seu tempo, abriu portas para uma reforma muito mais profunda que redirecionou todo o caminho e estrutura da igreja. Esse ensinamento proporcionou um campo importantíssimo para a pesquisa teológica e aperfeiçoamento da igreja. O sacerdócio universal de todos os cristãos, ensinamento claro e básico no contexto da igreja apostólica, pressupõe pelo menos: 1. que os fieis não dependem de um clero ou qualquer outra formação humana para chegarse a Deus, senão de Jesus Cristo2 ; 2. que não existe a grande separação entre clero e leigo na igreja; 3. que todos os fieis são ministros3 divinamente chamados para o ministério sagrado na igreja ou segmento social, tão sagrado quanto o da pregação e do ensino; 4. que todos os fieis são equipados por Deus para operarem no contexto do corpo de Cristo, a igreja, e do mundo social; 5. que Deus dota a todos os fieis com dons espirituais para exercerem o seu sacerdócio seja no contexto da igreja ou do mundo; 6. que o culto a Deus ultrapassa os momentos rituais e celebrativos das reuniões adorativas e envolve a pessoa em sua totalidade individual e sistêmica. Lutero e outros reformadores, ao abordar esse ensinamento bíblico produzindo todas essas implicações, contribuiram para a construção de pressupostos e embasamento para o ensinamento do sacerdócio universal de todos os fieis que lançou base para uma grande reflexão eclesiológica que muito enriqueceu e enriquecerá a igreja e o reino aqui na terra. O sacerdócio romano surgiu bem no alvorecer da história da igreja. A sua constituição teve muito mais influência do sacerdócio pagão e do Antigo Testamento do que da igreja neo-testamentária4 . Os cultos gregos e romanos, como muitos cultos de antigos povos possuíam os seus sacerdotes que faziam intermediação entre os seus deuses e o povo através de liturgias que envolviam desde oferecimento de comidas, sacrifícios de animais, orgias, até sacrifícios humanos. Eram as pessoas separadas para se chegarem aos deuses dos povos. Geralmente eram tidas com apreço pela sociedade a qual pertenciam e viviam entre os primeiros. Vários estudos apontam as similitudes entre o sacerdócio romano gerado dentro da igreja e os sacerdócios dos povos antigos, especialmente gregos e romanos. Esse quadro, cada vez mais aceito dentro da igreja, criou e aumentou progressivamente o abismo entre as classes clero-leigo principalmente depois do dogma da Missa em 394 dC. O clero se tornou tão especializado em sua função sacerdotal, que não mais era, com o passar do tempo, permitido ao “leigo” mais nada fazer senão assistir aos cultos e missas como somente expectadores. Essa crescente separação, vez ou outra, era denunciada por várias vozes dentro da igreja que clamavam por reforma da mesma, principalmente diante do ultramontanismo cada vez mais crescente.5 Diante de tantas tentativas sufocadas6 o “caldo entornou” principalmente no século XVI. Diante de um quadro de simonia, de imoralidade, corrupção e supertição do clero romano, de um povo cansado e humilhado, o grito da reforma se fez ecoar espalhando o ensejo por toda a Europa e criando o maior cisma dentro da igreja cristã do ocidente.

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