POR QUE AS CRIANÇAS MORDEM? O QUE FAZER?

 

Você abre a agenda escolar e encontra um bilhete dizendo que seu filho mordeu um coleguinha na escola. Para alguns “isso não é nada de mais, toda criança morde”. Para outros, “é falta de educação, os pais não dão limite”. Será que morder outras crianças é sinal de que tem algo errado? O que fazer?

Segundo Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, o primeiro contato da criança com o mundo real é pela boca (fase oral – 0 a 1 ano). Nessa fase, o centro de prazer da criança está relacionado à boca. “Além de usar o conjunto formado por lábios, língua e dentes para se alimentar, é por esse meio que o pequeno descobre o mundo, lambendo, chupando e mordendo tudo que está ao seu alcance. ” (BELMIRO, 2020)

Segundo BELMIRO (2020), na primeiríssima infância a criança ainda não tem domínio total da linguagem. Por essa razão, morder outra pessoa pode ter vários significados como por exemplo expressar raiva, medo, afeto, demonstrar algum desconforto como sono ou fome, dizer não a algo que a desagrada, relacionar-se com o ambiente externo ou até mesmo para aliviar a coceira provocada pelo nascimento dos dentinhos.

Para GERMANO (2022), o “morder” pode ser também uma ação de delimitação de espaço. A criança que morde, muitas vezes, quer deixar claro que não admite que seu território seja ocupado por outro coleguinha, até mesmo por ciúme ou insegurança. Sem compreender o que está acontecendo, a criança descarrega sua angústia emocional e ansiedade da forma que ela conhece: mordendo!

Descobrir que o coleguinha é diferente dos brinquedos (mordedores, chupeta, etc.) que a criança mordia e mordia e não havia reação desses objetos, é algo surpreendente para ela. “Morder é fascinante, mas tão fascinante que a criança, com certeza, vai querer fazer de novo”! (GERMANO (2022). O problema é que a criança não tem controle sobre a força de sua dentada e nem sobre as consequências desse comportamento. Ela não é agressiva ou má por estar mordendo, está apenas “descobrindo o mundo”.

A verdade é que ninguém gosta de ver seu filho machucado. Os pais das crianças mordidas muitas vezes se sentem culpados por deixarem seus filhos à mercê dos “mordedores”, correndo o risco de um perigo maior e se sentem culpados. E os pais dos “mordedores” ficam sem saber “onde enfiar a cara”. Se sentem envergonhados e sem argumentos. Ambos os pais se sentem agredidos à sua maneira.

E agora? O que fazer?

BELMIRO (2020); BASSETTI (2020), advertem que algumas reações bastante comuns por parte dos pais são bastante ineficazes:

- Deixar passar: A criança não sabe o que faz bem ou mal a ela e aos outros. Ela precisa da orientação dos responsáveis. Demonstre claramente a desaprovação com um “não pode” de forma firme. Demonstre desapontamento e nunca ria da situação. Se a mordida ocorrer no ambiente escolar, quando estiver em casa, converse com a criança e explique que isso não é legal porque “machuca o coleguinha”, “dói”, “o amigo fica triste e chora”, “a mamãe fica triste”.

- Rotular a criança: Dizer à criança “você é um menino mal” ou “tomem cuidado com ele, ele morde” provavelmente só irá provocar mais agressividade.

- Brigar ou ameaçar: A ideia não é ameaçar a criança ou fazê-la se sentir pior, mas, despertar a empatia para com o outro dizendo frases como: “olha como o coleguinha ficou triste”, “doeu”, “machucou”, “ele está chorando” e ajudá-lo a reparar o que fez fazendo carinho, buscando gelo para colocar no machucado, pedindo desculpas.

- Não sair de casa: Restringir a socialização da criança para não passar constrangimentos não resolve, só camufla o problema.

É importante ressaltar que a diferença individual de cada criança deve ser levada em conta. Não espere que a criança vá mudar seu comportamento na primeira vez. Provavelmente será necessário fazer isso várias vezes, “até porque ela não tem prontidão neurológica para fazer esse discernimento”, explica Márcia Belmiro. Também é importante compreender que esta fase oral é normal e importante para o desenvolvimento da criança e que esse recurso de morder vai desaparecendo quando a linguagem estiver desenvolvida e aprimorada.

 

BASSETTI, Isabella. Meu filho morde os coleguinhas na escola. O que isso significa? Internet, 2020. Disponível em: https://www.lamvie.com.br/post/meu-filho-morde-os-coleguinhas-na-escola-o-que-isso-significa

GERMANO, Fernanda. Crianças que mordem: será realmente um ato agressivo? Internet, 2022. Disponível em: https://www.psicanaliseclinica.com/criancas-que-mordem/

BELMIRO, Márcia. Como agir quando a criança morde? Instituto Infantojuvenil, 2020. Disponível em: https://institutoinfantojuvenil.com.br/como-agir-quando-a-crianca-morde/