POLÍTICAS DE VALORIZAÇÃO PARA O MAGISTÉRIO
Publicado em 08 de julho de 2022 por ANA DE SOUSA CELESTINO SILVA SANTOS
ANA DE SOUSA CELESTINO SILVA SANTOS
IVANILDA ALVES DE SOUZA GOMES
Admitimos que existem muitas fragilidades em nosso sistema educativo, apesar de alguns, ainda que precários e desconexos, investimentos na qualidade do sistema educacional por meio de políticas públicas. Na realidade, no Brasil existem p programas da Política Nacional de Formação de Professores do MEC, como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e o Residência Pedgógica que contribuem para a formação docente em seus desafios e perspectivas. O Pibid visa proporcionar aos alunos de licenciatura, desde os primeiros semestres do curso, a inserção no cotidiano das escolas públicas de educação básica. Enquanto o Programa de Residência Pedagógica oobjetiva o aperfeiçoamento da formação prática nos cursos de licenciatura, a partir da segunda metade do curso, e, da mesma forma que o Pibid, a inserção do futuro docente, nas escolas.
Propostas para toda a educação básica passaram a fazer parte dos programas do Ministério da Educação a partir do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação[1] - FUNDEB e, para seu êxito efetivo, são necessárias políticas de formação continuada que cuidem de capacitar os/as professores/as para um exercício qualificado da profissão.
Reconhecendo essa necessidade, foram propostas ações de formação e valorização para o magistério assentada em três pilares principais: boa formação inicial, boa formação continuada e boas condições de trabalho, salário e carreira. No entanto, os investimentos se mostraram pouco significativos. Dentre as ações, conforme determina a Lei 9394/96, incumbe às universidades oferecer o potencial físico, humano e pedagógico para as formações. No entanto, conforme assevera Nóvoa (1999), a formação se efetivará quando os/as professores/as se assumirem como produtores/as da sua profissão e reconhecerem a grandeza da sua atividade impactando em efetivo compromisso social, cognitivo-intelectual com seus/suas alunos/as.
No decorrer deste texto dissertativo desenvolvemos um processo de investigação no qual procuramos estabelecer diálogos com pensadores/as que são referências para o assunto, indicados na introdução. O arcabouço teórico permitiu-nos discutir as identidades docentes bem como os sabres docentes requeridos na contemporaneidade e o compromisso social docente que se configura como intrínseco às identidades dos professores e das professoras.
Sobre as identidades docentes compreendemos que elas são parte de um processo histórico, construídas ainda antes das formações - ensino médio normal e licenciatura - que conferem, legalmente, o direito de atuar como docente. O desejo de ser docente é parte dessas identidades que, dia a dia, se transformam, se constroem, nos mais diferentes espaços de produção do conhecimento – universidade, sala de aula, convivência social, relação com estudantes e colegas e reflexões -, seguindo um caminho que vez e outra se depara com crises identitárias, de formação, de prática docente, de valor, de sentido. Crises que, ainda, se agravam com carências de conhecimento e dificuldades de habilidades no trato e na lida com as sobrecargas de informações, de tarefas burocráticas e com os adventos constantes das tecnologias digitais.
Os conhecimentos e saberes docentes apreendidos nas universidades não conseguem acompanhar o ritmo dos/as estudantes no que se refere, por exemplo, ao pleno uso das tecnologias digitais em favor da construção do conhecimento, das personalidades e das culturas. Os pensadores e as pensadoras chamados/as para os diálogos nesta dissertação, nos auxiliam a compreender que as licenciaturas carecem de reestruturação, especialmente, no sentido de abrirem-se para formar docentes capazes de atuar segundo as realidades dos/das estudantes e a partir de seus contextos e modos de aprender. Tudo muda e os/as estudantes já não são mais os mesmos; tampouco os/as docentes, as realidades, as ferramentas, os processos, as metodologias, nem os interesses e as necessidades. Se os/as estudantes mudaram, as formações também precisam de mudança para que os/as professores/as possam exercer a docência de maneira interdisciplinar e transdisciplinar, contextualizada e em atendimento às demandas. Os conhecimentos apreendidos nas formações devem ultrapassar as questões de uma só disciplina e, inclusive, de uma única perspectiva: seja a do/a professor/a, a do sistema ou a do/a próprio/a estudante.
Os saberes docentes requeridos pela educação contemporânea são aqueles que contemplam a diversidades das realidades, as quais se encontram em sala de aula nas manifestações e presenças de cada indivíduo. O/A docente está implicado nesse aprender e dever lidar no desenvolvimento das competências e das habilidades próprias e de seus/suas estudantes, parecem ser as considerações da BNCC (2017) e, também, de Arroyo (2013, 2021) e Perrenoud (1999). A identidade docente a partir do compromisso social ampara-se no preparo, na formação continuada, no interesse do/da docente em promover a construção do conhecimento respeitando-se e fazendo respeitar o tempo de aprendizagem dos/das estudantes. A escola não é detentora do saber absoluto, tampouco os/as docentes o são; mas, reconhecer que existam crises na educação, na construção das identidades docentes é, talvez, um primeiro passo para a transformação das realidades e práticas educativas e de constituição de nova práxis.
Diante dessa reflexão, podemos concluir que a construção das identidades docentes se constitui como uma tarefa que acompanhará os/as docentes por toda a sua vida profissional. Considerando que, sendo formados dentro de um processo histórico-social, seus desejos e formações concorrem, em conjunto, para esse fim: construção das identidades docentes. Os desafios sempre existirão e serão benéficos no sentido de fazerem com que os/as docentes sejam os/as questionadores/as de si mesmos – crítico-reflexivos –, de suas práticas e de suas identidades e, assim, se mantêm em reflexão sobre que estudantes, que indivíduos, querem formar.
Sugerimos que outros estudos sejam realizados a partir desse, tomando dimensões empíricas, talvez, e se envolvendo com análises a partir de estudos de campo, nos quais os/as docentes possam discutir suas identidades, reconhecerem-se como profissionais que têm suas identidades em constante formação. A constituição de grupos focais, de grupos de estudos, de formações pedagógicas nas escolas por iniciativa dos/as próprios/as docentes parece ser um passo na autonomia constituinte da identidade de professores/as que se fazem necessários/as, indispensáveis nesses tempos de isolamento, de perda dos sentidos de comunidade/coletividade, de restrições fundamentalistas à ciência, de obscurantismos e negacionismo.
Refletir acerca da docência e manter a bandeira da identidade docente comprometida com a dimensão social, se afirmam potências que validam a práxis, a formação e as atitudes como baluartes da educação. De algum modo o/a professor/a se assegura como símbolo mesmo na sociedade líquida, volátil, em transformação, da contemporaneidade e a escola se estabelece como espaço pedagógico das relações plurais, da ciência e do conhecimento. A identidade docente como processualidade não se finda e não se absolutiza; mas se plenifica na concretude cotidiana do exercício, da práxis que, ao se reconhecer insuficiente, incompleta, não descansa, não se acomoda: busca, caminha, realiza o esforço do compromisso ético social, do conhecimento, da formação permanente.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel González. Pedagogia: Identidade Docente em Tempos de Crise - Reinvenção de Novas Possibilidades. Universidade Católica do Brasil, 2021.
ARROYO, Miguel González. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. 15. ed. Petrópolis - RJ: Vozes, 2013.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017.
NÓVOA, António. Profissão Professor. Capítulo I: O passado e o presente dos professores. 2. Ed.Porto: Porto Editora, 1999. p.13-34.
PERRENOUD, Philippe. Formar professores em contextos sociais em mudança: prática reflexiva e participação crítica. Revista Brasileira de Educação, Campinas, n. 12, p. 5-21, set./dez. 1999.