O que mais testemunhamos hoje é um burburinho sobre atitudes que tenham relação com o “politicamente correto”. Há muitas críticas sobre esse conjunto de regras que pertencem a uma leniência extraoficial entre as pessoas, embora não isento totalmente de questões legais, que têm em sua consciência um soar quase como uma espécie de castigo das obrigações com os outros e/ou consigo mesmo. Mas o que se critica hoje é que essas atitudes alteram muito a natureza humana, artificializando ações, falas e textos, levando as pessoas a perderem do humor sobre alguns aspectos, até mesmo a observarem ilegalidade ou antiética em decisões alheias. Isso acontece porque o cumpridor do politicamente correto é geralmente pessoa que se responsabiliza muito e na maioria das vezes exercita a sua empatia, exagerando no sentimento do outro ou o que a situação que presencia exige.

Por outro lado, o politicamente correto não é combatido pelo equilíbrio ou, melhor dizendo, por pessoas comprometidas com a lei e o respeito ao próximo, que poderiam elevar os debates e promover maior realidade sobre as responsabilidades e sentimentos. Os combatentes hoje são verdadeiros niilistas, que se apossam de razões por identificarem um total extremo com relação ao que sentem. A título de exemplo, seria como se uma fala humorada sobre aparência física fosse combatida pela pessoa politicamente correta, mas atingisse justamente aquele que pratica bullying. As falas do praticante dessa violência são frívolas, mas carregam uma força enorme pela afirmação repetida de que tudo isso faz parte da fase humana, porém, por mais absurdo que possa soar, essas falas e defesas ganham força quando o outro lado é um extremo que busca por exemplo que o aluno praticante de bullying seja expulso da escola sem antes ser tentado um tratamento e diálogo com familiares que possa se aproximar da correção dessa patologia. Hoje – portanto – vivemos cada opinião polarizada, resistindo e alimentada no receio de uma ser invadida ou deformada pelo polo inverso, desfazendo de um lado o contrato social que se julga evoluído, e que se considera libertador e ético, e de outro o conservadorismo do pensamento individual, que se julga importante que cada um lute pela sua própria causa.

É muito claro que a sociedade ganha com a evolução do sentimento coletivo, sabendo dividir espaços e entendendo as dificuldades daquele que é idoso, grávida ou que tenha menor porte físico, por exemplo. Mas é muito claro também que essa composição de atitudes pode esvaziar a natureza humana de forma instantânea e não por lucidez ou aprendizado, que pode resultar num “estouro” da paciência e rebaixar a pessoa ao outro polo mais individualizado e também mais superficial. Assim, a maneira que se percebe qualquer exagero é desligando-se dos complexos que torturam o seu interior, procurar agir dentro da lei, mas sobretudo fazer a leitura correta que requer cada situação. Isso, claro, só se conquista com a prática diária e daí o aprendizado, que é de fato o que sustenta o respeito necessário à vida em sociedade.