Poliomielite - um grave problema plenamente evitável.

Parte 01/03

Até o início do Século XIX, as paralisias físicas que afetavam diversas pessoas eram tidas como consequência de se tomar algum alimento quente e se expor ao frio ou ao vento. Também o imaginário popular atribuía o fato a se sair de uma cama quente pela manhã; ou pisar, descalço, o chão frio ao acordar; ou, ainda pior, seria um “castigo” divino para qualquer coisa que alguns julgavam ser “pecado”; entre outras tantas crendices que buscavam justificar, de forma simplória, um problema de saúde cujas causas eram ainda pouco conhecidas.

O ano bissexto de 1.840, no entanto, foi alvissareiro quanto ao conhecimento dessas causas que produziam paralisias e óbitos, que sucediam a febres elevadas aliadas a vômitos; dores de cabeça, garganta, costas e pescoço, evoluindo para fraqueza, fadiga, perda de reflexos nos membros, mormente os inferiores.

Este foi também o ano em que Samuel Morse criou o alfabeto telegráfico gerando um salto espetacular nas comunicações.  Foi ainda o ano de nascimento de dois gênios das artes: o compositor clássico do período romântico russo Piotr Tchaikovski e o grande escultor francês François-Auguste-René Rodin. Por outro lado, um dos piores momentos desse ano foi a morte, aos 58 anos de idade, de Niccolò Paganini, genovês considerado o maior violinista de todos os tempos.

No Brasil, neste final da primeira metade do século, o jovem D. Pedro II foi emancipado, aos 15 anos de idade, para assumir o trono do novíssimo império sul-americano, num processo que ficou conhecido como o Golpe da Maioridade. A importância desse fato histórico, para as PcD, foi que D. Pedro II, esse monarca, chamado de “o magnânimo” por sua refinada e ampla cultura, tinha uma grande visão e inovadora capacidade administrativa. D. Pedro, abraçando a causa idealizada pelo primeiro professor cego do Brasil, José Álvares de Azevedo, egresso de importantes escolas europeias, inaugurou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, com a finalidade de ensinar e gerar valor, valendo-se do sistema Braille e, assim, promover alguma liberdade e independência aos deficientes visuais. O instituto sobrevive até os dias atuais com o nome de Instituto Benjamin Constant e o professor Álvares de Azevedo, por sua importante atuação em favor desse recorte social, é homenageado como o “Patrono da Educação de Cegos no Brasil”.

A criação desse instituto foi tão importante e bem recebida pela população que inspirou o monarca brasileiro a convidar, um ano depois da inauguração do IBC, o professor poliglota francês Ernest Huet para vir ao Rio de Janeiro com o propósito de, aos moldes do recém instalado Instituto para cegos, criar o Collégio Nacional para Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos – o INES. A vinda desse mestre francês ao Brasil foi de suma importância para o recorte de deficientes auditivos que, até poucos anos antes, não se acreditava que poderiam ser sequer alfabetizados. Ernest Huet desenvolveu, entre tantas ações positivas, a linguagem LIBRAS, até hoje utilizada para comunicação com esse segmento social.

No que se refere especificamente à Poliomielite, nesse ano de 1840, essa patologia foi reconhecida pela primeira vez como “entidade clínica”, pelo ortopedista alemão Jakob Heine em trabalho conjunto com o pediatra sueco Karl Oskar Medin.  Em homenagem à descoberta pelos eminentes cientistas, a doença, poliomielite, ficou também conhecida como Síndrome Heine-Medin.

Assim se deu a identificação da patologia e, em consequência, estava aberto o caminho para a busca de um tratamento ou prevenção eficazes.