Recentemente, uma emissora de televisão trouxe na telenovela das 21hs o tema POLÍCIA, de uma forma no mínimo equivocada. Tratou-se de uma busca residencial na casa de um banqueiro suspeito de vários crimes, onde a filha deste suspeito disse ao, suposto delegado, que a polícia era acostumada a cobrar ?PROPINA? de motoristas embriagados. Pior foi a resposta daquele ator representando o delegado, o qual respondeu dizendo que ela estaria lhe confundindo, pois não era guarda municipal de trânsito nem Policial Militar; deixando subentendido que quem fazia tais ações eram esses agentes públicos.
Não é de hoje que a mesma emissora e talvez outras com menor audiência, trazem o papel do policial de forma equivocada; Quem não se lembra do CABO BRASIL em uma novela das 18hs, o qual conquistou o país de sua forma subverniente e inculta de se manifestar. Ainda hoje, existe um policial fardado na novela das 19hs, o qual busca ser uma piada para a sociedade, além de demonstrar um papel totalmente errôneo quando é tratado diretamente por uma graduação militar (sargento) e superveniente a um Delegado de Polícia e seu preposto também civil.
Cabe a nós ressaltar que a polícia que chega a tela da sua televisão, não é a mesma que deverá chegar quando for acionado o número mais lembrado do país (190). Os Policiais Militares de hoje observam requisitos de ingresso criterioso e além da escolaridade mínima para o soldado ser ensino médio completo, o candidato aprovado passa por um curso rigoroso de dedicação exclusiva, o qual não existe curso nas carreiras de Estado com maior duração. Os oficiais são egressos das faculdades de Direito. Tanto oficiais como as praças para ascensão na carreira têm que se submeter a rigorosos critérios de habilitação, cursos com carga horária excessiva, além de concluírem trabalhos científicos de altos quilates, os quais são fonte de pesquisa para o mundo acadêmico civil.
Além da qualificação acadêmica básica de um policial militar, estes agentes são os únicos que se submetem a trabalhar com armas, vidas e intrigas sociais, sendo submetidos a um regime disciplinar diferenciado, onde ele é o único agente público que pode ter sua liberdade cerceada por ato da administração; também uma justiça penal diferenciada, onde não há a possibilidade de quando incorrer num crime menos grave ter uma transação penal, pagar algumas cestas básicas e se ver liberado, pois na justiça militar uma ameaça é punida com cadeia ou suspensão da pena que é de dois anos, quando o militar tem sua carreira estagnada. Esse controle jurisdicional e administrativo do policial, nada mais é do que a resposta a sua difícil missão, pois a um policial não é tolerável errar. Assim, se um policial cobrar propina irá incorrer em crime militar grave, será preso, além de excluído da força.
Também é importante ressaltar a função jurisdicional das polícias, ou seja, não existe Estado de Direito sem o Direito Penal e Processo Penal; para isso, as polícias são as propulsoras de matéria prima para que juízes, promotores e defensores instruam e façam justiça concreta. É o policial na rua que seleciona e transforma em inquérito o futuro processo e a sentença judicial. Diante disso, os policiais de hoje não só estão qualificados e controlados para fazer o direito, mas sim são operadores jurídicos dando vazão às demandas e conflitos sociais de forma técnica e procedimental.
Nesse sentido, busca-se agora vislumbrar a quem falta enxergar que nossas polícias mudaram, que ocorrem abusos, propinas ou apresentações desqualificadas dos profissionais de segurança pública, sabe-se pois, quando acontecem esses fatos são amplamente divulgados; no entanto, são fatos que são investigados e seus agentes severamente punidos, o que é uma pequena parcela da totalidade dos policiais que passaram pela criteriosa seleção e preparação, além de estarem todos prestando resultados positivos a sociedade. Magoas de um passado de exceção, não podem contaminar profissionais tão dedicados e aplicados em fazer o bem, culturas institucionais essas sim são marcadas pelo seu passado e demoram tempo a evoluir, no entanto, são as pessoas que renovam as rotinas institucionais e essas pessoas que estão nas polícias do Brasil estão lutando dia a dia para serem anistiadas por coisas que não fizeram.
Está na hora da população valorizar os homens e mulheres que têm a obrigação de policiar, de fiscalizar as condutas dos cidadãos. Uma sociedade que valoriza sua polícia demonstra evolução, pois sabe seus limites, aceita suas regras, legitima os poderes constituídos e aceita a sanção de forma coletiva e não pessoal. Somente quando a população; seja através de seus governantes, ou de suas manifestações populares como telenovelas; valorizarem os policiais, essa sociedade será espelho de erradicação de algum mal social.


Jederson Evandro Oliveira Dill
Capitão/RS