SOCIEDADE E DEMOCRACIA ENTRE AS POLARIZAÇÕES IDEOLÓGICAS ATUAIS: O RESSURGIMENTO DO PENSAMENTO POLÍTICO CONSERVADOR E SEU CONTRAPONTO À PERCEPÇÃO E PERSPECTIVA DA IGUALDADE E DA JUSTIÇA SOCIAL DO PENSAMENTO PROGRESSISTA

      Werner Schrör Leber 

“Vivemos em grandes sociedades e dependemos, de milhares de maneiras, das ações e dos desejos de desconhecidos [...] O equívoco de reduzir a ordem política às operações do mercado equipara-se ao erro do socialismo revolucionário de reduzir a política a um plano” (SCRUTON, 2017, p. 37-38).

A crítica mais comum ao conservadorismo é a sua ideia de que toda a sociedade deve acatar o código moral e a estrutura social tradicionais, o que é uma visão conflituosa com as ideias progressistas. Para os seus críticos, é uma contradição o conservadorismo defender indivíduos autônomos na esfera econômica enquanto defende a aceitação de padrões na esfera social e moral. (MATTOS, 2022).

 

1- QUESTÕES INTRODUTÓRIAS 

É notório o quanto estamos vivendo dias difíceis no Brasil e no mundo no que tange à estabilidade e confiança nas instituições. Tem-se a impressão de que uma parte da humanidade é formada por pessoas certas, honestas e humanas enquanto uma outra parte representa as trevas, o atraso e a injustiça. Mas quem acusa quem? Embora esse problema embora seja perceptível por todos nós, os seus contornos são imensos e complexos. Descontentamentos se manifestam em todos os lugares e, quase sem exceção, esses descontamentos se mostram discursos balizados por ideologias antagônicas. Em outro texto, chamamos esse fenômeno de “maniqueísmo conceitual” (LEBER, 2017, p. 03).

Vivemos, por assim dizer, uma dicotomia conceitual com a qual cada parte envolvida, dependendo da perspectiva ideológica a qual se aferra, considera a outra abjeta, retrógrada, indigna, usurpadora, fascista e ainda outros termos desabonadores. E em sentido oposto, a ala que se apega a valores e princípios considerados conservadores, acunha os progressistas de comunistas, invasores de terras, defensores de bandidos e ladrões. Vive-se “o cancelamento mútuo do outro” sempre que o “outro” não participar das fileiras que o cancelador considera adequadas, ou então, não confessar o “credo” político que o cancelador julga justo. Cada qual agarra-se a seu pequeno pedaço de verdade, fazendo dele como que um dogma salvífico. Cada parte vê a outra, aquela que dela discorda, como um perigo a ser eliminado. A judicialização da política é um fenômeno verificado em várias democracias ocidentais (XAVIER, coord., 2019a). Mas, mais do que um fenômeno, é um sintoma de que algo não anda bem com a nossa democracia na ala ocidental do Planeta. Afinal, o que está a acontecer? Seria arrogância de nossa parte se disséssemos que temos a resposta. Todavia, o nosso texto propõe-se a procurar os contornos filosóficos, epistêmicos e políticos que norteiam essa problemática.

Procuraremos, à medida do possível, apontar que nem sempre esse senso comum é o que de fato orienta as teorias de ambos os lados.

Há problemas dessa ordem nos Estados Unidos entre os eleitores de Biden e Trump. Na Europa, entre o governo de Macron e os conservadores da Hungria, Ucrânia e Polônia. No Brasil, entre os adeptos do bolsonarismo e os governos da Venezuela e Argentina.