POESIA ANTI-POÉTICA
Nazaré-Bahia

Um irmão corre para o outro
Com um entusiasmo à vista
E a traição na alma.
Ambos a isso percebe,
Mas nada dizem.
O jogo é esse:
Um jogo frio,
Um jogo astuto,
Um jogo miserável,
Um jogo assassino.

Há entre os dois
A mútua confusão abstrata,
A mútua confissão presente.
Há um aperto de mão
E um abraço de Caim.

Apertaram-se as mãos.
Cada mão visa uma ambição
Que é o mesmo objetivo.
Sem ninguém saber de nada
Ambos pensam em ir juntos,
Mas logo vem a desconfiança.
A esperança morre de tédio
Sob um céu banhado em fogo,
Sob uma noite nublada(sem testemunhas.)
Uma impiedosa degenerescência
Desaba sobre o mundo,
Como Deus fez cair
Sobre Sodoma e Gomorra.
Será que o povo merecia
Pagar o pecado dos governantes?
E o nefasto fogo sobre a terra?

E hoje que Deus não mais existe
Será que o povo merece?
Eu acho que não.
Se bem que ninguém sabe
Quem é o Deus, atualmente.

Porque será que nossas vidas
Andam em mãos irresponsáveis?
Será que merecemos?
Que fizemos nós, a eles?
Na minha modesta opinião,
É só porque o povo
Cometeu o pecado de existir.
Mas, se o povo parar
Nada mais funciona.