Platão na História

Por: Prof.Ms. Marcelo Vagner Bruggemann

 

Platão é, junto com Aristóteles, Agostinho de Hipôna e Tomás de Aquino meu filósofo favorito e sem sombra de dúvidas, um dos mais importantes pensadores da humanidade. O encanto de Platão está em sua própria originalidade, é ele o fundador de um pensamento metafísico próprio, fundamentado na teoria metafísica dualista, a qual divide o mundo em duas categorias: o Mundo das Ideias e o Mundo Sensível.

Para entender Platão, nada melhor que conhecer primeiramente sua história, a qual começa logo quando ele nasce no seio de uma rica e importante família ateniense. Semelhante a todos os pais que buscam educar o filho para “ser alguém na vida”, os pais de Platão investiram pesado em sua formação fazendo-o se debruçar nos estudos de literatura, escrita, pintura, música, poesia e ginástica, onde inclusive, chegou a participar de Jogos Olímpicos! Pensa na loucura?

A família de Platão era algo que podemos dizer como a “top” na política ateniense. Logo, era de se esperar que Platão seguiria a carreira política também, como uma forma talvez, de agradar sua família.

No entanto, tudo mudou quando o jovem Platão conheceu Sócrates, o qual passou a ser seu professor e grande amigo. Sócrates e Platão não se largavam! Sócrates era desses caras que vivem pensando na razão das coisas que acontecem ao seu redor. Muito “brisado”, mas também muito provocador. Sócrates desmontava - num engenhoso jogo de perguntas e questionamentos - todos aqueles que se achavam “inteligentinhos”, “sabedorzinhos”, “intelectuaisinhos” ou ainda aqueles que se sentiam como “a última Coca Cola do deserto”. Portanto, Sócrates pela sua essência de ser, era amado e odiado em sua própria cidade. Era com esse mestre que Platão discutia, debatia e aprendia tudo sobre o mundo real e das ideias, principalmente sobre os problemas do conhecimento e as qualidades dos seres humanos.

A amizade entre Sócrates e Platão era algo único em Atenas. Quando Sócrates foi literalmente condenado à morte por uma cidade democrática, livre, a qual ele amava, a qual ele mesmo dedicou 70 anos de sua vida e a qual ele acreditava ser justa, Platão ficou profundamente arrasado com a injustiça da cidade de Sócrates e a partir dessa tragédia, nasce Platão para o mundo. Um ser humano, que busca a justiça na cidade por meio da educação do próprio ser humano. Sua grande obra, a República, está aí para ser degustada, saboreada e nela, Platão pensou na possibilidade de o leitor conversar com Sócrates.  Logo, a República é toda escrita em forma de diálogo, tendo Sócrates como principal protagonista. 

Vale lembrar que a República foi endeusada por Jean Jaques Rousseau, grande pedagogo e filósofo iluminista do século XVIII, como a maior obra de educação do mundo ocidental, e curiosamente, raro é o professor do séc. XXI nas terras dos Tupiniquins, que leu a República.

Platão, não parou só na sua República, para alcançar seus objetivos, fundou sua própria escola: a famosa Academia, onde reuniu outros que, como ele, estavam interessados em estudar Astronomia, Filosofia, Geometria, Matemática e compartilhar a ideia de um  mundo dividido em duas formas: o mundo das ideias e o mundo sensível.

O mundo sensível seria a realidade que vivemos, e o mundo das ideias seria a nossa razão, os pensamentos que nós temos, os quais, segundo Platão, criariam nossa realidade. Assim, temos o poder de criar aquilo que pensamos! Isso não é muito louco?

Ainda entre as nossas ideias, também está o nosso conhecimento. Para Platão, somente o uso das ideias faz com que o ser humano alcance um objetivo, produza alguma coisa. Esse discurso nos faz ver quanto valor ele dava à razão, algo em comum com seu professor Sócrates e com seu aluno Aristóteles.

É importante dizer que Platão defendeu como verdadeiro somente o conhecimento obtido por meio do uso da razão, sendo para ele, falso o conhecimento obtido pelos sentidos humanos, defesa que se conhece por “idealismo platônico”, um dos pontos centrais das teorias platônicas. Este grande filósofo escreveu mais de trinta obras, sendo as mais famosas: a Apologia de Sócrates, o Banquete, Fedro, Protágoras e a República.

O legado de Platão para a civilização ocidental é imenso, basta dizer que os pensadores políticos e religiosos ocidentais até a época do iluminismo terão sólidas estruturas de apoio nas reflexões platônicas.  E ainda hoje, o conceito de laicidade, os fundamentos do pensamento político, a influência da religião metafisica sobre a política, ou a influência da política sobre a religião, torna-se quase impossível seu pleno entendimento caso Platão seja desprezado.  Até porque, como entender a religião como um lugar social, com sua moral, ética, valores e sua força no cenário político no âmbito nacional ou internacional, sem falar de Platão?