Não obstante o termo “alma” nos dias atuais esteja ligado somente ao ser humano, há milênios muitos filósofos como Platão, Aristóteles, São Thomas de Aquino e outros concebiam que o universo possuía uma força motora e geradora que era capaz não só de produzir os entes reais como também ordená-los de modo que o cosmos se mantivesse vivo e, por assim dizer, um todo orgânico como um ser vivo capaz de se reequilibrar e reordenar os fenômenos quando houvesse algo que interrompesse o pleno funcionamento do modelo concebido. Por óbvio, todos eles criam que a “alma do mundo” só poderia ser concretizada e criada por um Ser imutável, permanente, estável e racional, sem sombra de dúvidas estavam a mencionar – O Deus.

 Sem exceção, as características e os predicamentos apontados por todos eles sobre a essência deste Deus sempre eram de caráter – Bom e Belo. Ao mesmo tempo em que concebiam a alma universal, às vezes até matematicamente assim como Platão descreve em “O Timeu”,  já tinham em mente que todo este arquétipo perfeito seria o pressuposto para pudesse, de algum modo, se refletido na alma humana. Após alguns séculos, a Bíblia em Gênesis diz que o homem foi criado “a imagem e semelhança de Deus” corroborando com os pensadores anteriores e afirmando que nós temos uma alma imortal, porém análoga (semelhante e não idêntica) ao do Criador.

 Todavia, quando Platão “desce” a concepção da alma humana ele introduz um elemento deveniente que ele chama de “O outro”, ou seja, a parte imperfeita e material de nossa alma. É justamente essa parte que gera em nós tensões dialéticas que se expressam – nos termos atuais – de “atos morais ou imorais”. Ou seja, o composto da alma humana vive em constantes antagonismos que até os últimos dias de nossas vidas serão desta forma. É por isso que no Salmo 32:2 está prescrito “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano”. É nossa obrigação, JAMAIS – entre os vícios e virtudes humanas – ressaltar aquilo que há de imperfeito, incorreto e “imoral” no próximo, do mesmo modo e paralelamente é também nossa obrigação – embora pareça contraditório – denunciar e repreender aquilo que há de maldade em alguém que cometa um ato repreensível contra o justo.

No Brasil, nos tempos atuais, temos observado – não só dos políticos, mas também dos cidadãos – ações deletérias contra si mesmos. Curiosamente quando ouvimos dizer o termo “corrupção” já associamos de imediato com – desvios de recursos públicos. A palavra corrupção vem do latim “corruptio” que quer dizer deteorização ou depravação. No início, seu uso era somente atribuído à deteorização da alma, logo, a bandalheira que temos visto com o mal-uso do dinheiro público é somente o efeito de pessoas que têm almas fragmentadas, distorcidas e deterioradas. Sob a ótica da psicologia, poderíamos atribuir a estes a patologia chamada “psicopatia” que nada mais é a total falta de sensibilidade diante da miséria alheia.

Conclui-se que o fundo dos problemas que vivenciamos no Brasil não se pode ser analisado somente pelos efeitos e aparências dos atos corruptíveis. Há de se renovar as almas, trazer para o dia-a-dia das pessoas os ensinamentos (deixados de lado há anos) éticos e morais – não está aqui a falar a pessoa que seja um exemplo moral para a sociedade. É preciso que isso seja incutido na consciência de toda a sociedade. É um trabalho hercúleo e constante  que nem sabemos por onde começar, que fique de sugestão para os estudiosos e atores que labutam nesta área há anos e que sabem quais são os meios necessários para que exista o ajuste – conforme Platão menciona em “A República” – entre a “alma universal” e a “alma humana”, caso contrário, mesmo com troca de cadeiras no poder iremos continuar “enxugando gelo”, “trocando seis por meia-dúzia”, e outros dizeres populares congêneres.

 

Referências Bibliográficas:

Platão – “O Timeu”; “Filebo”; “Fédro”; “A República” e “As Leis”

Bíblia – Salmo 31 e Gênesis

Louis Lavelle – “A Presença do Ser”

Aristóteles – “As Nuvens”; “Ética”