Um planejamento pedagógico significativo para todos que fazem parte do ambiente escolar, exige a necessidade de superação de uma educação simplória, centrada no professor e totalmente bancária, pois como afirma paulo freire (2000, p.67) “a libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo”. Dessa maneira, e numa perspectiva de educação dialógica, dentro das contradições sociais, vividas e portanto necessárias de serem trabalhadas no seio educativo, o educador já não é o sujeito que apenas educa outros sujeitos, mas que, em processo de reciprocidade, enquanto educa, ensina o saber formal, cobrado pela sociedade, também, é educado. E que prevalecendo um espaço propicio a produção de idéias, a criticidade, se favoreça a construção do bom senso, o senso critico e transformador em todos os sujeitos sociais.

Nesse sentido, planejar com consciência faz a diferença, pois percebemos que está sendo uma ação pensada analiticamente, traçando objetivos claros para serem alcançados, contribui para definir uma nova intencionalidade no trabalho do professor comprometido com a transformação social, idéias impulsionadoras de suas práticas no ato de planejar. E quando pensamos em uma educação essencialmente voltada para o crescimento integral, problematizadora e libertadora, temos que pensar em um planejamento percebido por todos (alunos, professores, pais, diretores, etc) como necessário e fundamental para organizar e colocar em prática tudo que foi definido como importante para se trabalhar durante o ano.

Como já afirmamos, planejar é uma atividade inerente a evolução da humanidade, pois o ser humano em suas ações (das mais simples às mais sistematizadas), sempre pensou, criou, imaginou como poderia agir para vencer os obstáculos que se interpunham na sua vida diária. Assim, o ato de planejar é uma preocupação que envolve toda possível ação ou qualquer empreendimento das pessoas.

Atualmente, a ação de planejar é bastante empregada no ambiente escolar. O planejamento, seja da escola, como um todo, seja do professor, com suas particularidades, contribui fortemente (quando percebido como importante e assim é praticado) para desenvolver a construção de uma cultura de trabalho em cooperação dentro desse ambiente. Isto porque quando se acredita que a partir do que foi traçado nesse planejamento e se busca alcançar os objetivos definidos coletivamente, o compromisso e responsabilidade pelos produtos e avanços conseguidos são compartilhados por todos.

Enfim, a atividade de planejar, organizar algo a ser realizado, sendo parte integrada das atitudes humanas, contribui para a sistematização daquilo que foi definido como importante para se concretizar e, esta ação de planejar, estando pautada conscientemente na construção do aprender para a vida, no “educar-se”, certamente contribuirá para a formação dos educandos, pessoas que devem ser cientes do seu papel social e, para os educadores, um dos atores do processo educacional, aqui encarados como conscientes participativos e transformadores da sua existência, e portanto do seu fazer diário. Pois, pensamos que a ação de qualquer educador deve esta imbuída e sistematizada no seu ato contínuo de planejar suas ações, como também, replanejá-las sempre que o percurso da vida, assim, o exigir.

* 2.1.2 - conceituando o planejamento

Segundo vasconcellos (1995), discutir conceitos pode parecer “perda de tempo”, sendo que o mais importante seria discutir o como fazer. Ocorre que, com freqüência, as idéias mais interessantes sobre a prática, acabam advindo justamente da clareza conceitual.

Quanto mais se aprofunda o conceito, maior o grau de liberdade, de autonomia do sujeito/professor, pois quanto menor a sua fundamentação maior necessidade de receita de modelo.

Neste sentido, planejar é antecipar mentalmente aprofundando uma ação (ou um conjunto de ações) a ser realizada e agir de acordo com o previsto. Planejar não é, pois, apenas algo que se faz antes de agir, mas é também agir em função daquilo que se pensou. Esta antecipação e realização pode ser obra de um indivíduo, de um grupo ou mesmo de uma coletividade social bem mais ampla, (como por exemplo o planejamento participativo do sindicato, numa rede de ensino). Trata-se ao fim e ao cabo, de antever, projetar uma ação, mas não qualquer ação, é uma ação a ser realizada (torná-la real), é uma ação que visa um fim e por sua vez tanto o fim quanto a ação referem-se a uma realidade a ser transformada.

Em outras palavras o ato de planejar deve ser entendido como uma atividade consciente que emerge do desejo e da necessidade impostas pela realidade social, exigindo o compromisso com a concretização daquilo que foi elaborado enquanto plano.

Este compromisso corresponde a energética da ação, que possibilitará (no sentido de impulsionar e dar suporte) a passagem de esfera reflexiva ao mundo objetivo. Planejar, como podemos perceber é tentar intervir no vir a ser, antever, amarrar ao nosso desejo os acontecimentos no tempo futuro. Para isto, é preciso conhecer o campo que se quer intervir, sua estrutura e funcionamento: “o projeto retém e revela a realidade superada, recusada pelo movimento mesmo que a supera: assim, o conhecimento é o momento da práxis, mesmo da mais rudimentares”. (sartre apud vasconcellos, 1999, p.83).

Portanto, o planejamento deveria ser para o professor o caminho de elaboração teórica, de produção de teoria. É evidente que no ritual alienado, quando muito o que acontece é tentar aplicar a teoria, e assim o professor se reduz a ser um simples ‘consumidor’ de ideias! Teorias elaboradas por terceiros. No entanto quando feito a partir de uma necessidade pessoal, o planejamento torna-se uma ferramenta de trabalho intelectual.

É importante salientar que o planejamento pedagógico não é uma ação fechada, única, pronta e acabada, mas ao contrário, está dentro de um processo flexível, dinâmico, participativo e de caráter democrático. Assim, pensado e praticado, envolve conscientemente todos os segmentos da instituição escolar e, no caso do plano de aula mais diretamente o professor e os alunos. E, sendo o planejamento flexível, tem-se a possibilidade de organizar o trabalho pedagógico, a ser desenvolvido em sala de aula, de forma significativa e não mais como algo fechado que o professor é obrigado a cumprir e “ensinar” porque exerce a função de professor/mestre.

Com o planejamento pensado e praticado de forma participativa, se ensina, e também se aprende, há uma troca, onde o professor não é o único detentor de saber, mas, todos possuem suas experiências e saberes. E se o planejamento for desenvolvido conscientemente, tendo essa preocupação, o professor buscará respeitar as particularidades de cada aluno, envolvendo-o no seu processo de ensino e aprendizagem, dando assim, verdadeiro sentido à educação formal. Portanto considera o que é importante e necessário para a formação dos alunos cidadãos, que devem saber seus deveres, mas também saibam seus direitos e lutem pela existência e respeito dos mesmos.

Assim, a ação de planejar é um ato sistematizado pelo qual decidimos o que iremos construir. Isto é, uma ação complexa e de reflexão sobre os desafios que enfrentamos na realidade, percebendo as necessidades dos atores que fazem parte do processo, buscando formas participativas de enfrentar com compromisso os obstáculos sociais, provocando então possíveis transformações em suas práticas como um todo.

Também pode ser definida como possibilidade de organizar um trabalho de forma mais significativa para todos, tornando as ações possíveis de se realizarem na sala de aula e, na sociedade de forma geral, sendo essas ações fruto de um processo de reflexão e de decisão que deve se desenvolver principalmente na coletividade.

Além disso, o trabalho desenvolvido na escola, a partir do que é definido no planejamento pedagógico, ou como define vasconcellos (1999) no “projeto de ensino e aprendizagem” (que é o plano de curso e o plano de aula) conterá uma seqüência sistematizada e organizada de tudo que vai ser desenvolvido em um dia letivo, semana, semestre, em suma,

Durante o ano letivo. Sistematizando assim as atividades que se desenvolvem num período em que o professor e os alunos numa dinâmica de ensino e aprendizagem estão envolvidos.

Portanto, o planejamento sempre foi um instrumento necessário e importante para o ser humano, em qualquer setor da vida em sociedade. E, a partir da sua elaboração e desenvolvimento torna possível definir e organizar o que queremos a curto, médio ou longo prazo.

Prevendo então situações, definindo objetivos reais e organizando as atividades de qualquer trabalho e principalmente da educação. Então, o mesmo favorece, também, a elaboração de avaliações pautadas no que realmente se traçou e foi alcançado, considerando a real aprendizagem dos alunos, pois quando se planeja, organizam-se as ações a serem concretizadas ficando mais claro o processo avaliativo significativo, elencados com base nos avanços e deficiências dos alunos.