RESUMO

Os pesticidas, também conhecidos por agrotóxicos, são substâncias que devido as suas propriedades químicas, possuem efeitos letais para determinados seres vivos, inclusive o homem. São utilizadas desde o início da civilização humana. Inicialmente lançou-se mão de compostos a base de elementos químicos como enxofre e arsênio. Posteriormente, extratos vegetais, como o sulfato de nicotina. A utilização dos pesticidas cresceu durante a 2º guerra mundial e não parou mais. A demanda crescente por alimentos torna a utilização dos pesticidas uma atividade indissociável à agricultura, apesar dos efeitos extremamente nocivos de alguns compostos. São classificados devido a sua finalidade ou praga atacada, quanto a sua origem, orgânica ou inorgânica e quanto e sua estrutura química. São categorizados por órgãos governamentais de fiscalização e controle de acordo com seu nível de toxicidade. Uma vez no ambiente, os pesticidas contaminam solo, ambiente aquático, atingem e depositam resíduos em alimentos, além de afetar a saúde humana, causando doenças como câncer, alterações genéticas, uma vez que são bioacumulados e graves alergias. O Brasil dispõe de legislação acerca dos agrotóxicos, entretanto, não há um efetivo monitoramento, a exemplo do que ocorre em países como os EUA e a Europa.. Algumas técnicas de manejo da agricultura já permitem reduzir a utilização dos agrotóxicos, a agricultura orgânica, o controle biológico e os biopesticidas.

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INTRODUÇÃO

Com o crescimento da civilização humana e o desenvolvimento da agricultura, tornou-se necessária a criação de medidas protetoras para as culturas e lavouras para que se tornassem livres de infestações e pragas, extremamente prejudiciais a produção do alimento (BRAIBANTE e ZAPPE, 2012).

Atualmente, de acordo com a literatura existem mais de 600 tipos de pesticidas que são utilizados mundialmente na agricultura, sendo os herbicidas, os mais empregados em larga escala (PATUSSI & BÜNDCHEN, 2012).

O uso dos pesticidas no Brasil tem uma importância bastante relevante devido às inúmeras atividades agrícolas exercidas em várias regiões do país, colocando-o numa posição de grande produtor e com isso, proporcionando o crescimento da economia a cada ano, sendo então, responsável por aproximadamente 21% do PIB (Produto Interno Bruto) através do agronegócio. (KUSSUMI, 2007; BRAGA, 2012). Entretanto, a utilização dessas substâncias químicas tem efeitos graves no meio ambiente e na saúde humana, uma vez que uma grande parte atravessa a cadeia alimentar, através dos diversos níveis tróficos e chega até o homem.

O uso destes produtos teve um grande aumento na década de 80, e atingindo proporções alarmantes na década de 90 e nos anos posteriores, fazendo-se necessário estudos referentes às quantidades utilizadas, quais subprodutos e sua interação com o homem e meio ambiente (RIVEROS, et al, 2012).

Este trabalho teve como objetivo, apresentar uma revisão literária acerca do tema, abrangendo de uma forma geral a dinâmica dos pesticidas na vida do homem, mas, principalmente, seus efeitos nocivos ao meio ambiente e disseminar algumas técnicas alternativas à diminuição do uso dessas substâncias químicas.

 1. Definição e breve histórico dos pesticidas

 Os pesticidas podem ser definidos como  substâncias com propriedades letais que podem ser utilizados para eliminar ou controlar um organismo, interferindo em seu processo reprodutivo. Em relação a sua função, todos têm a mesma ação comum, que é bloquear os processos metabólicos vitais dos organismos para os quais são tóxicos. Outro termo ainda pode ser utilizado com esta finalidade, os agrotóxicos, que no sentido geral, inclui todos os compostos químicos utilizados na agricultura, com a finalidade de eliminar, controlar, destruir e impedir a proliferação dos mais variados tipos de pragas  (BAIRD, 2002; PEIXOTO, 2007; RIVEROS, 2012).

A utilização destes produtos, segundo a literatura é bastante antiga, tendo seu emprego disseminados pelos povos da China, Grécia, Roma e Suméria, antes da era de cristo. Para isso, eles utilizavam plantas e outros produtos, como pó de enxofre para controlar insetos e do sal (NaCl) para matar ervas daninhas e mais tarde uma grande variedade de materiais usados sem muita certeza da sua eficácia, como extrato de pimenta, água com sabão, cal, vinagre, etc. (Maraschin, 2003; Instituto Camões, 2006).

De acordo com os relatos de Peixoto (2007), por volta do séc. XV, tais elementos químicos muito tóxicos (enxofre, o arsênio e o mercúrio) começaram a ser utilizados em larga escala como medida mitigatória para a proteção das plantações. E no séc. XVII, era utilizado o sulfato de nicotina, extraído das folhas do tabaco, que era utilizada no controle de insetos, embora sua ação fosse menos eficaz e duradoura.

Oficialmente a utilização dos pesticidas se deu no início do século XIX, tendo os cianetos, arsenicais, enxofre e compostos de cobre, como principais substâncias utilizadas, com o propósito de controlar ou exterminar o grande aumento de diferentes pragas. Aqui no Brasil, seu uso também se solidificou neste século, tendo como os produtos mais usados os sais de cobre e arsênio, enxofre e cal.  (BRAIBANTE e ZAPPE, 2012).

Guilherme, et al (2000) relatam que na década de 30 e 40, ocorreu a introdução de um composto orgânico conhecido como 2,4 – D, um herbicida e o mais conhecido mundialmente, o DDT ou para-diclorodifeniltricloroetano, um inseticida, e consequêntemente, a utilização destes e de outros produtos passou a ser utilizada em larga escala nas atividades agrícolas em todo o mundo.

As propriedades inseticidas do DDT foram sintetizadas pelo químico alemão Zeidler, em 1874 e descobertas por Paul Miller, a partir do ano de 1939, quando teve início de fato, o uso dos pesticidas sintéticos para o controle de pragas. Por conta do advento da 2º Guerra Mundial e, consequentemente nas décadas seguintes, a variedade de substâncias cresceu, tendo como principal fator, as indústrias químicas que passaram a produzir vários outros princípios ativos sendo utilizados principalmente como inseticidas, a maioria destes, sendo organoclorados, e surgindo também os carbamatos e organofosforados (GUILHERME, et al 2000; MARASCHIN, 2003).

Ainda segundo Maraschin (2003), existem atualmente mais de 1.500 princípios ativos disponíveis, que fazem parte de aproximadamente 35.000 formulações, apresentando-se na forma de aerossóis, gasosos, granulados, pós-secos ou molháveis, emulsões, dispersões aquosas e concentrado emulsionáveis.

O uso dos pesticidas passou então, a ser uma necessidade dos seres humanos desde os tempos imemoriais, visto que sua principal importância e motivação de uso era o controle das enfermidades de suas culturas e de si próprio, que neste caso era transmitida por insetos e roedores contaminados. (BAIRD, 2002).

 1.1.  Classificação dos pesticidas

 Os pesticidas são classificados quanto a sua finalidade, ou seja, em qual praga será utilizado, quanto a origem e de acordo com sua estrutura química. 

1.1.1.   Quanto à finalidade

 Existem 3 tipos principais de pesticida, de acordo com Peixoto (2007): Os Fungicidas, que são utilizados para destruir ou inibir a ação de fungos que atacam geralmente as plantas, sendo muito comum na agricultura convencional a utilização de fungicidas sintéticos e por ser um produto muito tóxico e perigoso, apresenta sérios riscos ao homem e ao meio ambiente. 

Os herbicidas, que são produtos utilizados para o controle de ervas daninhas, que se inserem nas plantações, competindo por água, luz e nutrientes, reduzindo a safra e a qualidade, servindo também como habitat para pragas e doenças. O uso de herbicidas é eficaz com rápida ação e custos mínimos, mas são todos tóxicos para os seres humanos, mesmo que em alguma escala.

E por fim, os inseticidas, utilizados para eliminar insetos em geral, com ação expandida para larvas e ovos principalmente. Este é o tipo mais comum e encontrado desde em residências e indústrias.

Essas três categorias descritas acima, apresentam segundos Baird, (2002) o maior volume de uso, estimado em torno de bilhões de quilogramas de pesticidas usados anualmente apenas na America do Norte.  

Os pesticidas podem ser ainda classificados como: acaricidas (para o controle ácaros), bactericidas (para o controle de bactérias), nematicidas (para o controle de nematóides), raticidas (para o controle de ratos), formicidas (para controlar formigas), moluscicidas (papa o controle de moluscos), algicida (para o controle de algas) (FERNANDO e DUARTE, 2011). 

1.1.2.   Quanto à origem 

Nesse quesito, podem ser originados a partir de compostos orgânicos e inorgânicos. 

1.1.2.1.       Orgânicos 

Após as descobertas que os sais inorgânicos utilizados antigamente eram extremamete tóxicos para o ser humano, então aos poucos foram sendo introduzidos compostos orgânicos, que dentre os tipos existentes, tem-se (VILARINHO, 2011):

  • ● Sintéticos: São produtos à base de carbamatos (nitrogenados), clorados, fosforados, e clorofosforados e constituem a maior classe de pesticidas utilizados, com a maior atividade fisiológica.

● Origem vegetal: À base de nicotina, piretrina, sabadina e rotenona. 

1.1.2.2.Inorgânicos 

Os pesticidas inorgânicos e organometálicos são em sua maioria extremamente tóxicos para os seres humanos e mamíferos, no que diz respeito à dosagens necessárias para torná-los pesticidas eficientes e são constituídos à base de arsênio, tálio, bário, nitrogênio, fósforo, cádmio, ferro, selênio, chumbo, cobre, mercúrio e zinco (BAIRD, 2002; PEIXOTO, 2007). 

1.1.3.   Quanto à Estrutura Química 

A estrutura química desses compostos são classificadas e organizadas nos seguintes grupos:

1.1.3.1. Organoclorados 

Os organoclorados  tiveram  ampla utilização na agricultura até há cerca de 30 anos. Possuem baixa solubilidade em água e elevada solubilidade em solventes orgânicos e em geral possuem baixa pressão de vapor e alta estabilidade química, sendo o motivo para a lenta biodegradação. A maioria são poluentes orgânicos persistentes que se caracterizam por longos ciclos de vida no ambiente e por serem transportados a longas distâncias (MARASCHIN, 2003; SÁ et al, 2012).

Possuem efeitos bastante significativos no funcionamento do organismo animal, em particular sobre os sistemas neurológico, interferindo nas transmissões dos impulsos nervosos, no sistema imunológico e endócrino. Tais compostos são bioacumulativos, facilmente encontrados nos tecidos graxos dos seres vivos e persistentes no ambiente (BAIRD, 2002; BRAGA; 2012).

Braga (2012), relata ainda que os organoclorados podem ser classicados estruturalmente em cinco tipos: hexaclorooctahidronaftalenos (aldrin, dieldrin e endrin), canfenos clorados (endossulfan, clordano, heptaclor, toxafeno), difeniletanoclorados (DDT, DDD, docofol e metoxiclor), cicldienos e hexaclorociclohexano. 

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