PESSOAS MÉDIAS

 Não sei até quando me lembro, vou forçar a memória, mas sem pressa, sem ordem, preciso escrever, não sei bom porque, talvez para que a memória não se perca, talvez para me sentir feliz com as boas lembranças. Não, não é por isso, porque com certeza também virão as coisas tristes que aconteceram, as dificuldades, a pobreza, alguma maldade, alguns fatos não muito legais, mas quem não os tem? Mas, então porque essa necessidade? Será que é porque a idade está passando? Até ontem eu me sentia jovem, hoje estou em dúvidas, pois tanto fato ultimamente tem acontecido que me tem colocadoem dúvida. Soujovem mesmo, apesar dos meus cinqüenta e tantos, quase sessenta? Ou sou velho que não reconhece a idade, que não reconhece seus limites.

 Provavelmente nem uma coisa, nem outra, um misto disso, a média, a normalidade, que na verdade para mim é a pior das coisas. A Média, o que a média? alguns já disseram que é a mediocridade, exagero talvez, porque abaixo da média está 25% de tudo, com outros 25% acima da média e a grande Média com 50%. Ora, se a média é a mediocridade, temos 25% de bom e 75% de medíocres e menos do que medíocres (como se chamam mesmo?).

 Bom, até agora não adiantou muito esse papo de louco, não é? Sabe que gosto de loucos?  gosto de conversar com loucos, claro que um pouco apenas, logo me afasto, logo enjôo, pois não sou louco, ou sou? Acho que sou sim, só não sei o grau de loucura. Sou tão louco que no meu enterro (incineração na verdade, isso também é louco, não?) quero que toquem todo o tempo (será que alguém vai agüentar?) a Balada dos Loucos dos Mutantes.

 Agora sim, voltando à realidade e procurando entender a minha necessidade recente de escrever. Acho que é em virtude do meu temperamento, pois sempre fui tímido (os tímidos estão dentro da média), apesar da minha mulher não concordar. Na verdade é que eu por outro lado consegui melhorar o meu lado de representação e representando, lá no fundo não sou eu, sou um personagem.

 Sempre tive medo de me expor e agora não tenho tantos motivos para o medo. Tinha medo de iniciar uma conversa com uma menina, com um chefe, com um desconhecido, de falar na frente dos demais alunos na escola, tinha medo de errar, medo, medo, medo e isso continuou por muito tempo, até agora, pois continuo ainda não puxando conversas com desconhecidos com medo deles não retribuírem minhas conversas. Mulheres, então, nem pensar, só com a certeza absoluta de que elas estavam a fim, de que elas iam concordar. A minha sorte é que há muitas mulheres a fim, rsrsrsr, porque senão eu não sei bem o que teria acontecido.

 Lembro-me bem que um dos motivos que casei com a minha primeira namorada séria, é que ela conversava muito, falava, falava, e eu só com os: claro, com certeza, é isso aí, legal, que bom, gostoso, monossílabos. Mas, me desculpe Beth, o papo não tinha nada de profundo e aí quando tudo era uma repetição, não dava mais.

 Além de tímido, também sentia e talvez sinta ainda que as boas idéias não me viessem, elas já haviam sido contadas, inventadas, discutidas. Sempre que vejo um bom livro, uma boa música, um bom tema, me pergunto: Pôxa, você até pensa assim, mas porque não colocou isso no papel, porque não se expressou, veja, o cara fez o que você poderia ter feito. Isso é o que sinto, mas não concordo no todo. Eu tenho as boas idéias, eu tenho bons temas, mas não tenho tempo, ou não tinha, aí vem as desculpas, somos mestres (a turma da média) em desculpas, é sempre possível arrumar uma. Não, não é desculpa, eu tinha quatro filhos para criar, tinha emprego, tinha viajar ininterruptamente, não ganhava muito, tinha que colocar toda minha energia na criação e desenvolvimento dos meus filhos. Hoje eles estão aí, belos, formados, etc. etc. Mentira, eu tinha tempo para pescar, para jogar futebol, para jogar baralho, para beber com os amigos nos bares. Para isso eu tinha tempo, mas não tinha tempo para isso que eu chamo agora de frescura dos MÉDIOS, de querer escrever alguma coisa, não ter assunto e ficar remoendo as coisas do passado.

 Acho que vou escrever um livro com o título de “AS PESSOAS MÉDIAS”. Deve ser um sucesso, já que 50% da população está entre os MÉDIOS, todos vão comprar. Acho que não, os médios (menos os loucos como eu) não devem se achar MÉDIOS, devem se achar ACIMA DA MÉDIA. Não vai dar, o livro não vai vender nada. Oh meu Deus, qual outra idéia então?

 Tem aquele romance (o tema era muito bom, da Freira de Uraí com o radialista) que comecei a escrever e consegui fazer três folhas, muito bom mesmo, até comecei a fazer uma pesquisa informal para continuá-lo. Porque parei? Difícil responder, mentira, é fácil responder, faltou tempo, rsrsrsr!!!!

 E aquele outro romance, quase autobiográfico, biográfico mesmo, mas o começo estava bem contado. Essa opinião não é minha, é de outras pessoas (amigos, claro).

 Sabe que estou me sentido bem em escrever essas baboseiras, já estou aqui há meia hora, não vi televisão nesse tempo, nem e-mails, só escrevi, nada que se aproveita amanhã, mas neste momento SOU ESCRITOR, porcaria é verdade, não, não, MÉDIO!! Ainda acho que isso – O MÉDIO – A MÉDIA – pode dar um livro. Será que ninguém escreveu sobre isso ainda? Deve ter sim, se eu estou pensando nisso, alguém já pensou, com certeza. Amanhã pesquiso na internet, não vou pesquisar hoje para não me chatear, pois com certeza alguém acima da MÉDIA já escrever sobre a MÉDIA. Peraí, porque alguém acima da média escreveria sobre a MÉDIA? Nunca, se tem um livro desse foi um MÉDIO que escreveu!!. Pior ainda, um MÉDIO passou na minha frente, sou abaixo da MÉDIA. O que era abaixo da MÉDIA mesmo? Medíocre!!

 Não, não sou nada disso, posso não ser um Escritor, nem ninguém conhecido, nem famoso, nem rico, alías, tem cada rico que não deveria ser rico, pois ele é um MÉDIO ou abaixo e aí o que ele faz com a riqueza? Nada que se aproveita, guarda o dinheiro ou faz bobagens, não vai a um bom restaurante, não viaja, e se viaja, viaja mal, mas vamos lá, essa é a minha visão, talvez esse rico esteja bem, esteja feliz, o que tenho eu a ver com eles. Deixe o rico para lá, não era isso que você estava escrevendo. O que eu estava dizendo é que não sou muitas das coisas pelas quais as pessoas são invejadas, mas sou bom em muitas coisas, há sou mesmo, quer ver?