NOSSA VISÁO DE INVESTIGAÇÃO, PESQUISA E ATENDIMENTO:

Quando você estuda relações humanas, está inevitavelmente implicado nela. Mesmo quando se coloca como um observador oculto em uma sala de espelhos ou monitorada por câmeras, você percebe seu semelhante de acordo com seus próprios sistemas internos de crenças, valores, expectativas, pessoais e do modelo cientifico que utiliza.  Isso é praticamente impossível. Acreditamos que o melhor modo de aprender como é a relação humana com alguém é estar presente nela, interagindo. É uma postura metodológica bem diferente da investigação experimental das ciências físicas, quando você não está fisicamente presente na investigação que realiza. Ao estar presente na interação que realiza o outro não é um objeto e sim outro sujeito. O seu comportamento, bem como os modos de perceber e pensar afetam e são afetados de tal forma que ambas as partes se movem para uma realidade em comum, compatível para todos. Essa é a essência do método de investigação e atendimento fundamentado na comunicação dialógica. O conhecimento que daí surge é invariavelmente compartilhado, um modo de você e o outro pensarem e agirem em conjunto. É dependente de contexto e não pode ser imediatamente generalizado para outras interações.  Enquanto referência ele vai inspirar outras práticas relacionais que serão igualmente produtoras de conhecimento compartilhado e dependente de contexto. Quando muitos grupos de pessoas produzirem uma diversidade de conhecimentos compartilhados interativamente será a hora de alguns representantes dos diferentes grupos se perguntarem o que existe em comum entre as suas diferentes formas de compartilhar. Como você pode perceber não se trata de uma generalização estatística de uma amostragem de dados inertes e sim o produto das interações entre diferentes grupos. Um compartilhamento em segundo terceiro ou quarto nível de implicação, cada vez mais ampliada e inclusiva. Uma realidade criada coletivamente, utilizável de forma contextualizada, caso a caso.

Outra característica da nossa metodologia de investigação e atendimento é prestar atenção ao processo relacional e não ao conteúdo dele. Isto significa não se prender ao modelo explicativo de uma interação humana efetiva e sim ao modo como ela se produziu enquanto experiência vivida. Por exemplo, se alguém ou um determinado grupo de pessoas alega ter alcançado um sucesso em realizar algo, o estudioso centrará sua atenção em saber como a pessoa ou grupo interagiram entre si, com os outros e com o ambiente ao invés de ficar apenas ouvindo o conteúdo de seus relatos e adotar a interpretação que eles têm do que lhes sucedeu. Com foco no modo como as pessoas interagem e não no conteúdo, podemos estudar processos relacionais vividos por pessoas geniais, sejam eles quais forem, seja qual for o que eles acreditem. Por exemplo, saber como pensam relacionalmente cientistas famosos quando trabalham assim como o fazem terapeutas, físicos nucleares, líderes religiosos ou políticos carismáticos, etc.

O foco no processo relacional e não nos indivíduos isolados põem em suspensão a suposta genialidade como evento isolável e isolado de alguém em alcançar determinado resultado. A investigação centra-se em como aconteceu o relacionamento dele com si mesmo e com os outros ao longo daquilo que deu certo. Interessa saber o que facilitou ou dificultou essas interações e como isso foi tratado. Para saber a mente de uma pessoa precisamos saber dela em interação. A mente isolada é uma ficção. Ela é relacional assim como a nossa neurologia propriamente humana, ou seja, nossos pensamentos, nossos sentimentos, emoções, percepções, imaginações, movimentos e a própria consciência de si. Ela não aparece a não ser pela relação com o outro e outros. Note como o cérebro pode ser estudado isoladamente pois é um fenômeno físico. Como tal podemos estuda-lo em separado. Mas não o seu funcionamento. Na fisica subatômica tem sido muito questionada a possibilidade de alguém estudar a matéria e energia de uma forma isenta. Nesse nível de realidade física há fortes indicações de que a observação e o observado se afetam mutuamente. Imagine então no campo das relações humanas. 

“Mente” é um termo vago, amplo e mal definido. Preferimos o termo “Neurologia”. Ele refere-se ao funcionamento do sistema nervoso e não ao estudo do cérebro como puro elemento físico. Neurologia é descrita aqui como modo de funcionamento de um sistema, o sistema nervoso. O conhecimento do cérebro serve ao conhecimento do modo como nossa neurologia funciona, mas não é a nossa neurologia. O sistema nervoso está imerso em outros sistemas que ainda pouco conhecemos. Tomá-lo isoladamente como se fosse o cérebro deu muita confusão na história das neurociências. Atualmente o mais que sabemos é fruto de como ele funcionaria isoladamente. Só recentemente tem surgido estudos relacionando o funcionamento fisiológico entre os cérebros com relação a algo em comum. O estado natural do cérebro é em interação.

Somos seres neurologicamente relacionais, predispostos a interagir e entrar em redes relacionais cada vez mais inclusivas.  A diferença entre redes humanas e a de um formigueiro, ou colmeia de abelhas, é somos capazes de percebermos o nosso processo relacional mesmo estando mergulhados nele. Temos uma percepção de parte e do todo. Percebemos processos relacionais e interpretamos de forma compartilhada nossas experiências relacionais criando e renovando realidades em comum, a nosso próprio respeito e com respeito a nossas relações com outros.

Estudos recentes sobre neurônios espelho e outros das relações de apego mostram o que pelo menos 200 anos de psicologia já descreviam clinicamente: nosso cérebro se desenvolve relacionalmente não só nos primeiros anos, que são fundamentais, como também na vida adulta, depois da adolescência. Sem saber na pratica como nos relacionamos passaremos outras centenas de anos sabendo, mas não fazendo. Como adverte um dos maiores psicológicos da inteligência do final do século 20 Jean Piaget, é preciso primeiro fazer (vivencialmente) para depois compreender. O compreender aí não é mais só conteúdo intelectual e sim prático, gerador de novas aprendizagens, novos fazeres.

Nossa metodologia tem como objetivo em estudar como as pessoas interagem construindo suas experiências especialmente aquelas que lhes ajuda a mudar para melhor através de diversas práticas, individuais e de grupos, em diferentes culturas e crenças, por mais diferentes que sejam em termos de conteúdo e doutrina tais como os estudos antropológicos do modo de trabalho dos xamãs, feiticeiros, médiuns energéticas, espirituais, etc. desde que sejam vivenciais e mostrem resultados sensorialmente evidentes e sustentados. 

Nosso interesse é saber como acontece a estrutura e os processos da construção das experiências humanas, com a formação de modelos mentais de percepção, pensamento, linguagem, sensação, ação física, nos quais a realidade interna e externa não são dissociadas. Ao contrário, facilitam o acesso uma da outra.

PARA COMEÇAR, UM MODELO SIMPLES:  

O modo voluntário de funcionamento do sistema nervoso se diferencia do modo automático e emocional. Esses três modos vêm sido pensados desde a neuropsicologia, sendo um exemplo conhecido o modelo de MacLean do Cérebro “triúnico”.

Nossa neurologia mais antiga e por isso mesmo mais estabelecida e mais influente, opera de modo automático mantendo as funções equilibradas e estáveis. É o modo “reptiliano” “reflexo” de funcionamento, baseado em estímulos e respostas prontas e instantâneas. Também é o modo de regulação chamado “homeostase” (Cannon), das atividades viscerais. Esse nível é diretamente dependente das estruturas do tronco do cérebro e da medula. Se você tem uma lesão nessas estruturas suas funções de regulação da respiração, batimentos cardíacos e outras atividades “ autônomas” dos órgãos internos podem levar a morte. Se a lesão for um pouco mais baixa, na medula, perderá sensações e/ou movimentos do corpo.

O modo automático permite agir rapidamente sem precisar sentir, nem pensar (isso traria lentidão à resposta). Pode ser vantagem ou desvantagem: Em tarefas repetitivas e de alta complexidade você precisa saber fazer sem pensar muito. Se está dirigindo um avião, a maior parte das suas ações precisa ser automática, ainda mais em situações de emergência. Os pilotos treinam para isso.

Na relação humana do dia a dia vivemos também no “piloto automático”. Existem filtros neurológicos que impedem que todas as informações que chegam à consciência sejam analisadas: isso deixaria a pessoa estática. Ela não teria tempo para saber cada detalhe do que pensa ou faz em cada segundo e no segundo seguinte. Por isso já vem com reações prontas.

É característico do funcionamento automático repetir mais do mesmo, indefinidamente sem se perceber, sentir, expressar ou compreender o que se passa. A meta é manter o funcionamento rigorosamente como está, independente da vontade ou dos sentimentos. Um exemplo de funcionamento automático é o atendimento burocrático, formal, frio e indiferente quando você é atendido em uma organização humana ou em sistemas automatizados, sendo apenas mais um.

O modo automático não afeta apenas o comportamento: pode atingir as regulações emocionais e de pensamento. Por exemplo, na forma de crises, explosões, de comportamentos automáticos com intensa carga e descarga emocional disparados por um “ gatilho” de percepção ou/ pensamento como uma lembrança traumática não consciente, emergindo por uma palavra ou imagem e descarregando em forma de uma ação de defesa acompanhada de medo ou ataque com ódio. Da mesma forma uma crença (forma de pensamento) distorcida pode desencadear atitudes e posturas de repetição como as chamadas “ profecias que se autocumprem”: O sujeito ou grupo tende a agir com pressupostos falsos provocando respostas que parecem confirmar suas expectativas. Ele não percebe que seu modo de pensar e agir é causa do modo de pensar e reagir do outro.

Caracteristicamente as interações automáticas estão em circuito fechado e não apresentam tendência a abrir-se para serem melhor percebidas, analisadas e gerarem novas aprendizagens. Ao contrário, quanto mais do mesmo mais se consolidam os comportamentos, hábitos, emoções e pensamentos pré-existentes. É um funcionamento caracteristicamente linear e unidirecional.

O funcionamento emocional aparece evolutivamente para organizar e coordenar a diversidade e complexidade das ações reflexas. É desencadeado em condições de urgência ou crise e visam a preservação da integridade do indivíduo ou grupo contra perigos externos, ou como reação à dor e sofrimento interno. A pessoa, pessoas ou grupos respondem com reações de defesa e ataque às situações reforçando as relações internas em antagonismo com as relações externas (interpessoais e intergrupais).  As partes em interação entram em conflito e se dividem em quem ataca e quem se defende. O outro é aliado ou inimigo. Um ganha e o outro perde. Um está certo e o outro errado. Um é culpado e o outro inocente. É um funcionamento caracteristicamente binário e movido por antagonismos e exclusão ou eliminação de uma das partes em detrimento das outras.

Evolutivamente surge nos mamíferos um outro sistema de percepção e respostas do tipo emocional baseado em mecanismos de defesa e sobrevivência. Atacar e defender, luta e fuga, são estratégias para sobreviver e não para aprender e mudar. Entretanto podem ativar modos de funcionamento voluntários, criativos, gerando aprendizagens cada vez mais sofisticadas para lidar com situações de antagonismo. Essa é a base da aprendizagem de tecnologias militares e da aprendizagem em jogos físicos e sociais movidos por antagonismos entre as partes e por colaboração dentro delas, para uma delas poder vencer a outra. Unir-se para combater um grupo com mais força ou poder é um princípio de sobrevivência de muitos predadores durante a caça, desde as formigas e abelhas, que o fazem por uma inteligência coletiva inata, até mamíferos predadores como os pumas, leopardos e leões atacando outros herbívoros como gazelas, elefantes e girafas.

Essa atividade depende de uma rede de regiões sub-corticais chamadas de sistema límbico. Se tiver lesões aí, você perde a capacidade de regular suas emoções e tende a funcionar sem os sensores de medo, vergonha, receio, ou indignação, revolta, agressividade, por exemplo, necessários para regular nossos comportamentos interativos.

No modo emocional você pode não saber quando algo está certo ou errado e muito menos o porquê, mas sente através de uma espécie de bussola neurológica se o que se passa está fluindo, trancado, bem ou mal. Sente se o outro está bem ou mal ou se está triste, alegre, desconfiado, crédulo, convencido, etc. “Lendo” a expressão da pessoa ou grupo de pessoas. Enquanto agimos verificamos como estamos indo ao encontro ou nos afastando do que pretendemos, o que influi positiva e negativamente levando a geração de mais e mais possiblidades de ação.

Só nos mamíferos superiores da escala evolutiva é que aparece a capacidade para ir além da “zona de conforto” dos automatismos e da auto regulação e explorar ativamente a realidade, realizar modelos de como ela é, testar esses modelos, perceber resultados e interpretá-los de acordo com suas intenções, realizar tomadas de decisão, agindo com base “na realidade” (interna e externa) com a criação, testagem de mapas de possibilidades e verificação de resultados e efeitos possíveis com a pretensão de aprender e mudar. E mudando ser melhor.

É uma atividade dependente da existência de regiões do cérebro chamadas de neocorticais, especialmente as regiões pré-frontais. Ela implica em alta interatividade com o meio ambiente e especialmente no caso das relações humanas, com o ambiente humano. O que estamos chamando de neurologia relacional se refere em especial ao funcionamento voltado para as relações com o mundo externo, especialmente o mundo humano.     

O modo voluntário de funcionamento neurológico é especialmente dependente da interação com nossos semelhantes através da comunicação e linguagem. É muito mais complexo que só levantar a mão ou andar voluntariamente (por vontade própria), pois não está diretamente associado as necessidades de estabilidade e de sobrevivência. Esse modo busca aprender o novo e inovar aprendendo o que já vem fazendo. “Eu nunca tinha pensado/ percebido isso por esse ângulo/ dessa forma...” é uma forma de expressão característica do modo voluntário. É caracteristicamente movido a linguagem, como instrumento para organizar as experiências de forma a poder lidar com mais desembaraço com elas. A linguagem permite operar ativamente com a percepção, memória, emoções, pensamentos, oferecendo a oportunidade de sair de modos automáticos ou reativos, mesmo para um ser humano isolado sem estar vivendo em sociedade. É questionável que nos tornemos realmente humanos sem a utilização relacional da linguagem entre si, com nossos semelhantes. As brincadeiras infantis mediadas por linguagem oferece a oportunidade de criação de realidades em comum e é a base da construção de realidades comuns e da filtragem ativa da herança cultural.

Através desse modo é que aprendemos quem somos, quem são os outros e quem somos com os outros (quem sou eu, quem é tu e quem somos nós). É o único que leva a aprendizagem e mudança, pois permite a você analisar, perceber padrões e “ler” processo relacionais e então usá-lo de forma intuitiva e até automática.

O sistema voluntário é baseado na observação análise e experimentação ativa e co-ativa (compartilhada) entre as partes, sendo produzido por decisão livremente definida por uma pessoa, entre pessoas ou de um grupo em relação a outros.

Embora o cérebro tenha zonas que trabalhem de uma forma preferencial com a informação, o profissional e o leitor mais perspicaz compreende que a relação entre as partes é muito mais poderosa que a ação isolada de cada uma delas. A rede relacional composta pelo que os neuropsicólogos chamaram de sistemas de zonas corticais (sub-corticais) compõe um funcionamento integrado como uma orquestra toca a mesma música mesmo tendo dezenas de diferentes instrumentos. Nossa neurologia é uma combinação de “ sistema funcionais de zonas cerebrais” como referia o neuropsicólogo russo A.R. Luria, alertando para evitar a tendência a atribuir a cada parte do cérebro uma função mental restrita.

 

Expressamos e compreendemos em diferentes planos e em diferentes turnos alternados:

A informação de forma e de dentro se conjugam desde quando ocorre a percepção de estímulos internos até a sua interpretação inicia, a reflexão e a construção de uma compreensão do que o outro quis expressar até a geração de novas possibilidades. Ora nossa atenção se volta para dentro, ora para fora e ora para o que acontece entre ambos.

Uma pessoa ou grupo podem estar voltados para suas interações internas e não receberem informações vinda de fora. A mesma informação poderá ser recebida quando estiverem disponíveis. Se ambas as partes estão sincronizadas no intercambio interpessoal de informações, temos as melhores condições para perceber um processo colaborativo nesse nível. 

Além disso, uma pessoa ou mesmo um grupo podem estar muito mais predispostos a receber uma informação visualmente enquanto a outra está captando verbalmente. Uma pode estar mergulhada dentro de si, analisando seus sentimentos enquanto a outra pode estar querendo expressá-los. Uma pode estar voltada num momento para si examinando suas experiências passadas e outra sem notar isso apresenta projeções futuras de alguma coisa, sem ter a devida atenção. Entretanto, ao invés de usar o modo inteligente (analítico, experimental e reflexivo) muitas pessoas e organizações entram em modo emocional com comportamentos de ação e reação, “ataque e defesa” instintivo-emocionais. Nesse modo de funcionamento a pessoa tem sua capacidade de perceber e refletir assim como de conversar e compreender ativamente muito diminuídos.

O desafio de estudar e compartilhar o que quer de forma relacional, não é uma tarefa fácil nem linear quando percebemos o modo como os três processamentos se combinam com os três planos de relação: intrapessoal, interpessoal e coletivo, quando buscamos experiências passadas, presentes e futuras, quando elas são comportamentais ou em nível de pensamentos. Por exemplo, uma pessoa se expressando de forma analítica e racional, mas voltado para si mesmo (foco intrapessoal) enquanto a outra está respondendo de forma automática e voltada para fora (interpessoal): qual a chance de ambos se compreenderem? Naquele momento nenhuma chance. É necessário que ajustem suas posições relacionais e se coordenem.  Aí você percebe como é essencial saber o seu modo relacional, o do outro e então flexibilizar-se para criar uma afinidade relacional.

A neurologia humana sendo essencialmente relacional implica a representação intrapessoal, interpessoal e coletiva da experiência a um só tempo, mesmo quando um dos três modos tendem a em certos estados mentais. Nossa mente (neurologia) varia, ora voltada mais para dentro, para fora, focando no plano interpessoal ou coletivo e mobilizando ora mais processos automáticos, emocionais ou voluntários.

O processamento sensorial da mente

Como na figura abaixo cada um representa um gato ou outra coisa a sua maneira. Não existe uma forma em comum a não ser estabelecida como reação automática ou instintiva a algo existente fora de si. Mesmo assim cada um vê um gato à sua maneira. Numa interação humana cada um vê a si e ao outro de uma maneira.

 

Na ilustração acima um sujeito representa um gato. Ele não é apenas um objeto. O sujeito sabe que ele tem modos de representar a realidade agir e reagir de forma automática e instintivamente. Se fosse uma pessoa precisaria representar que o outro além de agir e reagir instintivamente também constrói mapas de si e de outros semelhantes, comunica-se e padrões mais ou menos flexíveis de pensamento. As pessoas se perguntam a respeito do que elas pensam e do que os outros pensam em comum.

 

Nossa mente oscila em modos de captação mais auditivos, cinestésicos e visuais, seja captando informações desde fora como absorvendo e assimilando no seu interior e finalmente construindo uma compreensão e eventualmente uma expressão de retorno.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O acesso às experiências auditivas, visuais e sinestésicas é oscilante. Em certos momentos uma delas tende a ser mais centrada externamente (‘mais consciente’) e outras mais orientadas para «dentro» (mais ‘inconscientes’). Formam padrões ao longo do tempo que podemos identificar.

 

Existem três modos como um sistema representacional (Sistema sensorial da mente) pode se apresentar numa uma ação efetiva:

  • Mais Consciente: É a forma mais externa que dá acesso à entrada ou saída informação.

  • Mais Desenvolvido: Organiza o transito e a assimilação da informação na estrutura interna. É semiconsciente.

  • Mais Valorizado: Utiliza a informação assimilada para gerar novas ideias e possibilidades. É o mais “profundo” (mais interno) e menos Consciente.

 

 

Exemplos:

“Eu sei o que eu preciso fazer quando eu vejo. É dessa forma que eu compreendo e não recebendo explicações”. A forma que o sujeito percebe a realidade externa é pelo sistema visual. Quando ele vê, evoca outras informações e compreende o que vai fazer (Cinestésico Externo). A compreensão verbal fica por último: primeiro ver, depois fazer e por fim compreender. Esquematicamente poderia ser diagramado como: VeàCeàAi.

“Quero contatar com ele e explicar como eu penso. Então vou ver o que acontece. ” O primeiro movimento da neurologia do sujeito é a da busca do contato físico. Segue a expressão verbal, auditiva exteriorizada. Ao fim, para checar a compreensão do outro o sujeito olha (visual externo) a reação corporal ou/e faz imagens de como ele compreende. Esquematicamente poderia ser diagramado como: CeàAeàVe.

“Quando eu puder ver como isso irá acontecer vou me sentir muito bem. (S.R. mais valorizado: Cinestésico Interno: Ci).” Poderia ser diagramado como: VeàCeàCi.

Na pratica relacional essa forma de sucessão acontecendo em um indivíduo influencia e é influenciada pelo modo como o outro interage.

O maior desafio da neurociência atual é dar conta de como sabemos como sabemos, como nos sentimos e como percebemos e sabemos juntos. São tantas informações transitando entre neurônios e sinapses que o modelo de estudo do cérebro isolado não consegue dar conta de como nos relacionamos consigo e com outros com a velocidade com que isso acontece. Há alguma forma ainda mal conhecida de comunicação entre neurônios que acontece em forma simultânea e não sucessiva que não sabemos como é.

O CÉREBRO FUNCIONA ATRAVÉS DE CAMPOS MAGNÉTICOS?

Karl Pribram propôs um modelo ousado: o processamento sincrônico de tantas informações a um só tempo não pode ser explicado pelo transito passo a passo entre ligações sinápticas. Se nossa neurologia funciona como uma rede de interações simultâneas, ela precisa de outra base conceitual para funcional além da transmissão elétrica. Ele propôs que as interações elétricas produzissem campos magnéticos e que esses campos de energia integrassem quantidades informação capazes de serem intercambiadas no espaço/tempo quase instantaneamente constituindo padrões complexos e inclusivos, altamente moveis e mutáveis. Nesse caso nossas atividades mais complexas seriam intercâmbios de campos de energia “pensante” entre partes e todo, estaríamos vivendo experiências implicadas como em um holograma. Cada parte de um holograma contem a estrutura de todo ele, na física. Na biologia ocorre o mesmo: a carga genética de cada celular carrega a ordem implícita de todo o organismo. Graças a isso as células tronco recriam tecidos de todo tipo em qualquer parte do corpo. A nossa neurologia consegue ser relacional por esse tipo de propriedade: com uma pequena amostra de uma informação implicada e integrada conseguimos o milagre de pensar, imaginar, expressar, agir e compreender. Se dependêssemos de uma análise pormenorizada e explicita de toda informação implicada seria impossível.

A metodologia neuro-relacional parte desse pressuposto: não temos acesso completo a toda a realidade interna e / ou externa por pelo menos duas razões obvias.

A primeira é a de que estamos implicados em tudo que examinamos. Não podemos examinar relações humanas como se não fossem vividas, experiências no aqui e agora.

A segunda é que existindo uma relação entre parte e todo, o que interessa é ir direto ao ponto de implicação. No caso da neurologia relacional é a relação que interessa como origem, meio e fim.

E a consequência é que, mergulhando nela vivencialmente, tendemos a descobri-la e também tratá-la, pois estamos implicitamente alterando como ela acontece.

O MILAGRE DA COMUNICAÇÃO:

Repare bem como acontece a comunicação humana real:

  1. Quando um sujeito tem uma ideia ela precisa ser transformada em pensamento para ter uma forma analisável. Existem lesões cerebrais que demostram como uma pessoa pode ter ideias e não ser capaz de transformá-los em pensamentos capazes de serem interpretados e então expressos.

  2. Tendo uma forma de pensamento consciente, mobiliza os recursos linguísticos e é analisada.

  3. O pensamento é traduzido em imagens mentais; um “filmezinho no qual o sujeito pode estar associado ou de fora: coisas para ver, ouvir e sentir, física e emocionalmente de si e do outro. Aí ele sabe o que está pensando, mas não é ainda capaz de traduzir linguisticamente. Quando a pessoa tem lesões cerebrais de uma certa forma a incapacidade de representar a experiência se chama de agnosia: incapacidade de representar e por consequência traduzir com coerência imagens visuais, sons, sensações, em expressões claras e compreensíveis nos códigos da língua.

  4. Quando aparece como incapacidade especifica de traduzir representações perceptivas em linguagem, chama-se de afasia expressiva. E evidencia o outro passo de comunicação.

  5. Saber o que está falando ainda não garante que seja capaz de expressar-se e saber se está sendo entendido (linguisticamente) e compreendido (cognitivamente). Pode ter facilidade para saber o que tem a dizer, mas ter dificuldades em executar a fala, ouvir o que fala e compreender como fala, executar e/ou compreender a sua expressão mimica, o seu gesto, a sua escrita, o seu desenho e outras formas de instrumentação física da linguagem.Isso aparece como uma certeza daquilo que expressa (disfasias) quanto de uma incerteza de que não é desse jeito (dispraxias, dislexias, disgnosias).

  6. O que “sai” do sujeito é uma inda de energia auditiva, visual, cinestésica, com códigos embutidos para serem decifrados pelos órgãos dos sentidos do outro sujeito. As tecnologias tentam simplificar isso como bits de informação que seriam transcodificados em impressões sensitivas e sensoriais, representações mentais, traduzidas linguisticamente e interpretadas como pensamentos para a outra pessoa poder fazer uma ideia do que recebeu.

  7. O outro sujeito precisaria estar atendo e focado no que o primeiro está procurando comunicar para receber coma mente aberta o que ele tem a dizer, sem fazer prejulgamentos. Isso é um grande desafio já que cada um de nós não costuma esvaziar a mente e se colocar plenamente a disposição da expressão do outro.

  8. O outro tem as suas próprias condições de receber e perceber a mensagem, traduzir à sua experiência linguística, traduzir de novo ao seu modo de pensar, fruto da personalidade e experiência de mundo e depois disso tudo poderá oferecer uma ideia do que tem a dizer a respeito do que você inicialmente expressou seguindo o caminho inverso: transformando o que ele pensa no que pode expressar e o que pode expressar no que realmente o faz.

  9. E aí volta a tão famosa mensagem de retorno ou “feedback”: ele dá a interpretação dele a respeito do que você expressou. Isso pode ser ou não convergente. A única certeza que ambos podem ter é que a expressão de um não é a compreensão do outro. A esperança é a negociação e a conciliação pela conversação e o diálogo. Nele, ambos percebem uma outra forma de interagirem sem ser convencer o outro de quem está com a razão. No diálogo, a percepção, a razão e a ação são construídas desde a experiência individual para ir além delas, em direção ao interesse comum.

  10. São duas pessoas com duas histórias pessoais, intenções, interesses, expectativas próprias necessitando primeiro apresentar e definir suas diferenças para então, compreende-las até onde for possível e se for o caso conciliar ou construir novas possibilidades de seguir adiante.

É preciso muita imaginação, criatividade e vontade para haver comunicação.

A maioria dos conflitos de comunicação entre pessoas e povos é por ignorar a complexidade do jogo relacional. Ele não é e nunca será direto e linear. Nunca foi unilateral, um monologo. Sempre foi um diálogo. Uma criação nova, um pensamento em comum não redutível a ideia ou pensamento de nenhuma das partes.

Bate papo, conversas, discussões hábeis, diálogos e conflitos.

É praticamente um milagre que as pessoas mantenham um mínimo de compressão uma em relação as outras havendo tantas diferenças entre elas. A construção de uma forma comum de pensar e agir implica muito esforço, paciência, perseverança, humildade e respeito. Um bate papo comum, como em roda de amigos, a “happy hour” para descontrair no fim do expediente, a hora do cafezinho serve para relaxar e descontrair, mas não serve por si mesma para analisar realidades em conjunto e construir novas possibilidades de interesse comum. Conversar visando o diálogo implica em estudar muito bem as suas expressões e a dos outros e imaginar como elas poderiam combinar em direção a um plano e a uma realização diferente daquela imaginada inicialmente por cada um. É um jogo cooperativo de indas e vindas, versões e contra-versões, até haver literalmente a possibilidade de com-verter as diferenças em algo maior.

Na comunicação contemporânea estamos automatizando excessivamente os nossos modos de relacionamento e nossa competência em conversar e dialogar têm ficado para trás. Usamos exageradamente a teclagem, literalmente usando a polpa digital mais que a interação verbal ou pela escrita manual direta e fluida com o papel. A “era digital” tem deixado em segundo plano a experiência realmente humana de relação, através da conversa, do olho no olho, do toque e do cheiro e do gosto compartilhado ativamente. Confundimos transmissão de informação, influenciar, induzir, com o compartilhar e integrar co-ativamente nossas experiências.

A comunicação humana serve de referência para nossas relações com objetos inanimados. Por exemplo, uma cadeira “sustenta “seu peso quando você senta como analogia a uma interação entre uma pessoa sustentando o peso de outra. Coitadinha da cadeira: se ela for “fraca” ou você for excessivamente pesado(a)! ela vai sofrer... De novo animamos a cadeira de uma subjetividade para considera-la. Nem mesmo a física mais neutra se livra disso.

A informação no mundo cresce geometricamente e a comunicação entre as pessoas?  A realidade ainda continua sendo “presencial”, com as ferramentas que temos desenvolvido a milhões de anos desde os primatas: ver, ouvir sentir e a mais recente invenção neurobiológica: usar códigos de linguagem para compreender, imaginar, refletir, ter impressões, tomar decisões, acompanhar a execução e verificar o que acontece, qual o sentido atual e futuro. 

Sem isso corremos o risco de nos tornarmos uma sociedade controlada automaticamente como são os sistemas cibernéticos, desaparecendo o sentido de construção de novidades e aprendizagem por interesse e livre determinação das partes. 

Neurodialogismo: uma proposta alternativa à automatização das mentes.

No mundo contemporâneo há um excesso de pensamentos e comportamentos automatizados. Eles são desumanos no sentido de serem de máquinas, de serem mecânicos. Desautomatizar o que é humano e reumanizar nossas relações.

Ao contrário de sistemas cibernéticos destinados ao processamento e gestão da informação, sistemas humanos não tem como propósito maior a transmissão e gestão do conteúdo e a análise das formas de relação adotada pelas pessoas, seus significados e sentidos. Não tem razão humana para um fazer pelo fazer. E sim o fazer pelo prazer, pela satisfação e realização. 

Quando estudante de medicina no primeiro ano fiz uma aquarela de uma sala de necropsia e mostrei a alguns colegas; alguns me perguntaram: vale nota? Para entregar quando? Eu não fiz aquilo como tarefa a cumprir. Era uma técnica a serviço da expressão de meus sentimentos a ser compartilhada. Essa é a radical diferença entre uma interação para cumprir tarefas e chegara resultado predefinidos a semelhança de sistemas cibernéticos e a interações entre humanos que é, por definição, criadora e criativa.

Assim sendo, não se trata de automatizar uma habilidade instrumental como “falar bem em público”, “planejar”, “avaliar resultados”. Negociar, planejar colaborativamente pensando juntos são impossíveis de acontecerem de forma unilateral. Por mais competente que uma ou ambas as partes sejam, trata-se aqui de uma competência relacional. Não tem mais sentido você projetar um plano seu (exclusivo) sem se conectar com o dos outros. Não tem sentido uma pessoa ser “o” líder se o grupo não tem sentido de auto liderança coletiva.

As redes humanas são ambientes em constante reequilíbrio em torno de pensamentos, sentimentos, atitudes, posturas, tomadas de decisão e comportamentos construídos e aceitos em comum. Não por votação e pela inteligência socialmente compartilhada.

Sem estudar a realidade, nossos pensamentos reagem automaticamente.

Uma história zen conta como um lenhador perdeu seu machado e pensou que ele havia sido roubado pelo filho de um vizinho. Passou a ver o rapaz com cara de ladrão, voz de ladrão e jeito de ladrão. Mas não podia provar. Isso continuou até que um dia encontrou o machado num canto da sua própria casa. A partir desse momento passou a ver o rapaz com voz de honesto, cara de honesto e comportamento de honesto.

Essa estória nos ensina como julgamos sem verificar a realidade do que pensamos. Conversando fracamente com o rapaz era uma impossibilidade na cultura do lenhador: o rapaz se ofenderia. O ditado popular: “Perguntar não ofende” é sábio quando estamos com a mente desarmada. Na pratica, perguntar já vem com pré-juízos, pré-julgamentos e pode, sim, ofender, se eles não forem devidamente suspensos no encontro entre as partes.  

Muito se escreve e se pesquisa a respeito da comunicação humana. Muitas tabelas e categorias são feitas para compreendê-la. Entretanto a comunicação real resiste a qualquer classificação feita antes que ela aconteça. E mesmo quando você a toma com gráficos e tabelas ela se escapa como agua entre os dedos. É o desafio de examinar um fenômeno estando implicado nele enquanto examina. O que é o fato e quando é a interpretação do fato? Quando é representação que fazemos da realidade e quando ela é “mesmo” “a” realidade? 

A comunicação humana não é, como se pensava e ainda se ensina, a transmissão de uma informação de um emissor a um receptor. Essa é uma definição inspirada em sistemas cibernéticos de processamento da informação. São uteis para compreendermos como fabricar máquinas de alta complexidade e controlar seu funcionamento. A partir de um certo nível de complexidade, não servem mais.

Esse modelo não consegue explicar a velocidade quase instantânea e a simultaneidade de processos. Nenhum modelo de compreensão linear e sequencial poderia explicar como pensamos e agimos de forma tão rápida e complexa, em rede com tantas outras pessoas e com a consideração implicada de tantos fatores, em cada fração de segundos. Se dependesse da transmissão elétrica entre sinapses, seria muitíssimo mais lenta. Se fosse tão lenta e trabalhosa, eu não conseguiria falar e outra pessoa ouvir algo mais complexo que a realização de uma tarefa simples, automática. Não haveriam intenções e expectativas. Nem avaliação de resultados e efeitos.

Alguns cientistas têm sugerido um modelo “holográfico” (Pribram,K.) de ondas eletromagnéticas. É uma hipótese.  Sabemos que uma ferida cura e cicatriza. Mas só sabemos indicadores fisiológicos de como acontece. Isso ainda não é a inteligência maior do processo orgânico. Células tronco colocadas em um órgão especifico regeneram o órgão sem nenhuma instrução conhecida. Como elas sabem qual o tecido a ser feito? Como pensa e aprende o organismo? O que é a mente e como ela pensa, aprende e interage?

Ainda conhecemos pouco a nossa própria neurologia se comunica com a dos outros e vice-versa. Sabemos muito menos que precisamos a respeito de uma neurologia estudada como processo de comunicação intrapessoal e interpessoal.

O indivíduo é um caso particular; uma partícula ou grão de areia numa duna, a qual é um caso particular entre tantas outras dunas em uma praia e ente outras parias num litoral. Perceber nossas particularidades é o primeiro passo para interagir com a dos outros. Somos essencialmente relacionais.

Ao menos duas dimensões relacionais são evidentes: a comunicação corporal e verbal. Elas não são em si mesmas como é costume pensar. Só mais recentemente a pratica relacional e a comunicação real tem sido compreendida e aprendida como um processo implicado na relação entre pessoas.

A comunicação acontece entre pessoas pelo interesse delas. Não se “ensina” pessoas a relacionarem-se e sim se facilita com que isso lhes aconteça. Aí quem leu Freud lembra como uma das tarefas “impossíveis” era “ensinar”. Não se passa conhecimento como se fosse um objeto ou coisa: Ele se constrói (ou se reconstrói) entre pessoas e faz sentido entre elas no contexto no qual aparece. O que se aprende é o resultado da pratica relacional.

Já vai tarde o tempo de que se definia a comunicação como transmissão da informação entre pessoas ou à habilidade de influenciar pessoas unilateralmente. O tempo do “sim eu posso” está oferecendo lugar ao “sim, nós podemos”. Do super-herói solitário, ao coletivo ao qual queremos pertencer. O poder vem do próprio relacionamento, vivido como fruição, como prazer de conversar, de dialogar e ser em relação a alguém mais.

Os meios tradicionais de comunicação estão perdendo progressivamente seu poder de influenciar uma massa passiva de “consumidores”. No mundo contemporâneo a informação é descoberta e se transforma ao passar através de redes de relacionamentos.

O que está fazendo falta é a interação ativa e intencionada entre pessoas. Elas criam e recriam a informação ao interagirem de acordo que o que desejam. Caso não for de interesse comum, a relação não adquire consistência e não se sustenta. A informação simplesmente perde o sentido de ser informação.

Caso for mantida uma habilidade criada contra um “inimigo”, se desfaz quando passa o “perigo”. Ou o grupo arranja um novo inimigo para manter-se. Muitas vezes o tal inimigo aparece como sendo um de seus elementos, o “culpado”, levando o grupo a fragmentação, conflitos internos e a dissolução.

Quem ensina uma “verdade” sem construí-la com você ativamente, dialogicamente, tende a perder a credibilidade entre os mais esclarecidos. Infelizmente entre as pessoas mais desesperadas até a loteria esportiva é percebida como possibilidade real de ser rico. Desconfie de quem quer lhe vender o que quer saber. O que você quer saber está dentro de si. O que podem lhe podem lhe oferecer são possibilidades.

A comunicação é o efeito de uma relação harmoniosa movida pelo interesse percebido entre as pessoas. Não é melhor nem pior que o interesse individual: é diferente.

O que você precisa saber para construir um mapa útil:

Somos sistemas de comunicação imersos em sistemas. (Gregory Bateson). Vivemos assim. Aprendemos a viver sendo assim. E somos sistemas em transformação simplesmente porque somos vivos: autodeterminados e autogeráveis, criadores e recriadores de si mesmos por princípio. (“autopoiéticos”, diria Maturana, o biólogo e filosofo da ciência).

A realidade é uma representação que fazemos (eu e você) daquilo que se passa entre nós. O que se passa entre nós agora não se passará de novo da mesma forma. Se fosse assim a vida não seria aprendizagem e sim uma repetição monótona sem sentido.

A realidade do relacionamento entre pessoas é o efeito da interação vista, sentida e ouvida. É a compreensão do que se passa entre elas. Não pode ser apreendida diretamente pelo olhar, ouvido ou sensação ou sentimento físico. É como o sentido da leitura: não está nas palavras, nas frases ou nos parágrafos. Está “entre as linhas” (a origem latina da palavra “inteligência” é saber o que existe “entre as linhas”).

Daí a dificuldade da ciência experimental (e não experiencial) (construída com base na física mecânica) em estudá-la. A inteligência relacional foge ao modo como estudamos conteúdos e explicamos os fatos físicos. Eles são fixos. Nós não.

A realidade é filtrada, ao menos pelos nossos cinco sentidos, passando ainda pelas nossas experiências previa, hábitos mentais e físicos, nossas crenças e valores. Não há comunicação direta entre as partes. Os efeitos da comunicação são o fruto das intenções, comportamentos e resultados.

Preste atenção ao que você quer em relação ao que os outros querem. Ao que faz em relação ao que os outros fazem. E aos seus resultados em relação ao dos outros. É daí que nasce a possibilidade de conversação e dialogo.

Da pratica relacional aprendemos à:

  • Re-significar o sentido do que se fala, de si ao outro e vice-versa.

  • Re- enquadrar o foco do que se vê, de si ao outro e vice-versa.

  • Re-modelar o modo como agimos fisicamente, ao interagir.

 

  1. Em que nível de complexidade acontece a sua a minha e a nossa comunicação? Elas estão satisfatórias?

  2. Se não o que falta em cada plano? E o que está disposto a fazer?

  3. Qual o Contexto relacional, o Padrão Comportamental entre duas ou mais pares em interação?

  4. Qual a relação entre as habilidades e capacidades, entre as crenças e valores de cada um com cada outro e coletivamente?

Aprenderemos a diferenciar os tempos de interação e os estilos de cada um, como o de valorizar em especial:

A orientação no tempo: no passado, presente ou futuro? De que forma?

A orientação no espaço: em primeira posição, segunda, terceira ou além do tempo e espaço?

Na posição associada, o sujeito concentra-se em si mesmo; desde o lugar do outro se coloca vivencialmente na posição e contexto dele. De uma terceira posição, coloca-se entre ambos e percebe a interação.  Na quarta posição ao longo do tempo e numa quinta posição além do tempo e espaço, da relação como um todo existencial.

Aprendendo a usar a ampliar a experiência através da linguagem

Explicitando pelo questionamento sistemático da experiência até a sua essência, da verbalização à estrutura da experiência. (Inspirada na maiêutica socrática adaptada à linguagem como no modelo da linguística transformacional de Noam Chomsky).

Usando uma comunicação verbal e corporal não especifica, quer dizer, sem termos apontando para representações sensorialmente evidentes, estimula a “livre associação” por via introspectiva (“hipnótica”, “secreta”, “inconsciente”) sem necessidade de verbalização aberta. 

Sistemas cibernéticos: o que eles sabem? E os sistemas humanos?

Em cibernética diferenciamos processos de passagem de informação ativos e passivos. Os passivos simplesmente transmitem informação entre as partes dentro de uma rede de interações ao longo do tempo presente, passado e futuro. Retroações são os modos como são chamados os laços de relacionamento da informação atual com a passada, modificando-a. Próação é como a cibernética denomina a oferta de informações para adiante, para ficar disponível no futuro. Laços de retroação e próação oferecem a possibilidade de o sistema “saber” de onde vem e para onde vai com base em informações já testadas. No modelo relacional implica na formação de expectativas com base em evidencias sensoriais internas e externas bem definidas.

O modelo cibernético ajuda a estudar processos. Precisamos diferenciar os processos automáticos daqueles que implicam nossos sonhos, nossas intenções desejos e necessidades. É uma redução perigosa pressupor que o propósito de nos relacionarmos é gerir informações. Há um sentido maior do que isso. Implica o sentido de identidade, de missão e visão de vida.

A NEUROLOGIA DOS ENSAIOS E O PROCESSO INTERATIVO

As chamadas “funções superiores” do cérebro como atenção, memória, imaginação, consciência, linguagem, sensações e emoções, se coordenam para que cada ato tão simples como andar de bicicleta. Você se imagina indo até ela, toma o assento e sai pedalando desde que já tenha aprendido a andar nela. Se a sua neurologia já aprendeu a se equilibrar numa bicicleta poderá se concentrar em outras coisas, ver a paisagem, sentir o vento, cantar.  Caso contrário suas funções neurológicas/mentais serão chamadas para equilibra-se. Enquanto não aprender a equilibrar-se sem o apoio de rodinhas auxiliares ou sem elas não terá como liberar as formas mais criativas da atividade mental, voltadas para ações futuras. Só depois de saber andar bem de bicicleta é que poderá ensaiar um longo trajeto e fazer uma excursão bem planejada para muito longe, verificando mentalmente o que precisará levar, como se deslocará, o que encontrará pela frente de desafios e facilidades e o que fará quando chegar ao seu destino.

Quanto mais complexas são as ações mais e mais sua neurologia precisa ensaiar e coordenar-se com o ensaio dos outros para chegarem a um resultado que interesse a ambos. Por exemplo, ao decidir e realizar um plano de viagem duas ou mais pessoas imaginam o que lhes agrada e como isso pode ser alcançado. Testam juntos se vão realmente sentir-se bem juntos quando estiverem nesse lugar e como retornarão. Durante um bom tempo detalharão o que querem, porque querem, como onde e quando de uma forma sensorialmente evidente para todos. Não há muito o que pensar antes disso.

As relações humanas implicam na possibilidade das pessoas não só compreenderem a comunicação entre elas como de imaginar como cada um representa a realidade em relação ao outro. Sabendo como cada um pensa e se expressa, podemos perceber se somos coerentes, se o outro é coerente consigo e conosco.

Jogos de relacionamento podem ser montados com evidencias sensoriais, com base em quem demanda algo e quem oferece ajuda, serviços, produtos. Pode ser uma relação terapêutica, de produção em uma organização ou comercial de compra e venda.

Tanto a oferta quanto a procura têm muitos atores implicados e não diretamente expostos no processo relacional, como por exemplo, uma negociação comercial, politica, amorosa, e muitas vezes são mantidos em segredo. Como montar jogos relacionais de tamanha complexidade, implicando as interações desde a produção até a venda do produto de um lado e do nascimento do desejo de compra até a construção do plano de compra passando pela avaliação de produto no mercado e de suas próprias condições financeiras, imaginando o custo/benefício na tomada de decisão?  No dia a dia interagimos de forma oscilante consigo mesmos e com os outros para definir posições e negociar o que estamos tratando desde quando e onde tomar um café até os conteúdos mais complexos como a programação de uma compra ou uma venda.

Dizer que a pratica relacional se sustenta num jogo de interesses individuais para só mais tarde ser de interesse em comum deveria ser óbvio. É um mito acreditar cegamente na preexistência de um interesse em comum imposto de fora da relação para dentro dela, como determinação de uma instancia superior.  Entretanto esse mito cultural ainda é muito forte e com frequência não questionamos como é que sabemos de fato se o que temos ou queremos em comum corresponde ao que nos propomos ou nos é imposto.

As práticas de negociação em forma de jogos e simulações partem de conhecimentos técnicos de oferta de produtos e serviços e de condições da procura, previamente estabelecidos, perfil relacional do comprador e vendedor, das organizações ou culturas de onde vem cada um e contexto da negociação. Por contexto compreende-se desde o local até a urgência maior ou menor em tomar decisões.

Objeções ao jogo / simulações de interações humanas:

  1. Por mais que se ensaie uma pratica relacional, na pratica será outra coisa. O mapa não será tão complexo como o território. Mas ajuda a orientar-se nele. (Alfred Korzybski; Neuro-semântica). Afinal, a realidade é inventada (Paul Watzlawick) .

  2. As pessoas tendem a intelectualizar o que fazem e ficam inibidas ao simularem de forma pública como negociam. Outras exageram ou caricaturam a negociação, perdendo o foco e a sensação de realismo. O remédio para isso é aprender a alterar seu estado mental a ponto de enriquecer a simulação da forma mais verossímil guardando os principais marcadores da realidade, como num sonho dirigido de olhos abertos.

  3. Os que realmente tomam decisões não querem se expor ficando só os seus representantes, que não são os reais negociadores. Os negociadores não podem expor as dimensões ocultas das interações, como no caso da negociação, que servem de vantagem competitiva e nunca serão revelados abertamente. O exame sistemático do processo relacional seja ele negocial, afetivo ou outro, expõe cada vez mais os fatores ocultos a ponto de representarem os limites ou possibilidades de uma mudança. Não é raro uma redefinição do que realmente interessa e a retomada da negociação em outras bases.

Se não for uma ação ou pensamento automático ou impulsivo nós imaginamos ativamente antes e depois de realizar, testando a realidade: qual a relação entre o que eu esperava e o que estou percebendo? E entre o que nós esperávamos e nós percebemos juntos?

Por exemplo, voe sabe que tem um texto a sua frente escrito em português porque evocou experiências anteriores, representou o que está lendo e depois cotejou o que tem na cabeça com o que está aí frente aos seus olhos. Isso é um teste simples de realidade. Freud usava o mesmo termo para designar algo bem mais complexo: quando o sujeito poderia saber se o que ele pensava (e imaginava) era real ou era fantasia? Ele precisaria ir a campo e testar interagindo com outros e com o ambiente. O passo interno da percepção da realidade passa por uma espécie de simulação antes de ver, ouvir e sentir “lá fora”. Se o pensado e imaginado era semelhante ao percebido, a chance de ser real era a maior. Se era diferente, o sujeito haveria de rever o que estava pensando e imaginando e re-testar suas “hipóteses”.

 Desta forma a simulação deve ser encarada como um passo natural da definição e da resolução de problemas no dia a dia laboral indo contra a crença comum de que pensamos e agimos linearmente. Usando a imaginação de forma ativa e coativa teremos uma negociação bem mais coerente entre as partes mesmo quando existem segredos comerciais envolvidos. Uma boa simulação evita mal-entendidos e confusões de interpretação que nenhuma das partes deseja.

Os planos da interação neuro-dialógica©

A abordagem relacional ou dialógica pressupõe que você precisa considerar o Eu, os Outros e o contexto usando suas “funções superiores”; a sua “neurologia”. E precisa também considerar o passado, presente e futuro, bem como os diferentes pontos de vista das partes para constituir um todo. São também atividades da sua neurologia, bastante complexas. Há indicações de que as partes posteriores do cérebro como as zonas parietais e temporais, estejam mais implicadas em organizar e evocar o passado enquanto as zonas frontais aparecem mais ativadas quando se trata de organizar e projetar ações voltadas para o futuro.

Na abordagem dialógica existe a dimensão “neuro”, considerando as características neurológicas da comunicação como: o modo de perceber, falar, ouvir, posturas, sentimentos, feelings, emoções, atitudes, expressões corporais, mimicas e movimentação ocular das partes em interação.

O objetivo é, não só analisar os padrões individuais (intrapessoais) como também os padrões decorrentes deles, construídos na interação interpessoal e coletiva. Você pode se perguntar: é possível ver padrões relacionais?

Então faça primeiro a seguinte experiência:

UM MAPA PARA EXAMINAR A SUA EXPERIENCIA RELACIONAL.

Responda a seguinte pergunta: como você se sente nesse momento?

Para saber a resposta precisará pesquisar prontamente uma variedade de indicadores ou “marcadores” somáticos (do estado corporal), viscerais ( do funcionamento dos órgãos internos) e seu estado mental, ou seja como você se vê, se sente emocionalmente e se pensa, nesse momento. Então poderá dar uma nota, digamos um 50% numa escala de “ medir” o jeito que se sente. Não importa se bem ou mal. Simplesmente perceba como se sente. Não saberá conscientemente como fez para saber como sabe se está se sentindo bem ou mal. Mas com certeza sabe disso. Agora preste atenção como você sabe que sabe. Será que leva em conta alguns indicadores de tensão ou distensão física? De quais partes do corpo? Será que leva em conta a sua respiração? Como? A temperatura corporal, a sensação de leveza ou peso corporal subjetivos? O que acha que seja a percepção de sua atividade cardíaca, gástrica? Intestinal? Leva em conta o que se passa em sua imaginação? Pensamentos? Sons? Verifique à vontade. Aumentando ou diminuindo um desses indicadores fica melhor ou pior para sentir-se? Essa é uma forma pratica para saber se eles são realmente importantes. Ao fim de um determinado tempo terá uma ideia não muito racional, mas bem consciente (uma consciência intuitiva, prática) de como está se sentindo e possivelmente estará se sentindo melhor pelo simples fato de examinar como se sente. Quem percebe influi no que ele percebe. Ainda mais no plano intrapessoal.

E no plano interpessoal e coletivo?

Você utiliza igualmente os marcadores sensoriais e sensitivos a procura de padrões. Vai ver a interação como uma paisagem e também poderá ouvi-la como uma melodia, ela poderá “cheirar bem” ou mal, e você pode perceber como seus indicadores internos servem de referência para a percepção da paisagem relacional. Você se sente percebendo seja a si mesmo seja aos outros.

MONTANDO UM LABORATÓRIO VIVENCIAL PARA ESTUDAR E REALIZAR MUDANÇAS RELACIONAIS.

 

Criamos um espaço representando o passado, presente e o futuro seja através da linguagem, gestos e lugares de uma sala. Também criamos espaços para representar a experiência interna, intrapessoal, int3erpessoal, desde o lugar do outro e a experiência coletiva.

Escolhemos quem vai ser o protagonista, o guia, o observador externo. As três posições básicas do processo relacional. O orientador coloca-se como meta posição percebendo como acontecem essas interações e intervindo a qualquer momento para facilitá-las. Eventualmente ele convida os interagentes para ocupar a sua posição (posição 4) e ver o “ todo” que se passa.

Os observadores atuam somente de forma externa, observando as práticas realizadas e aplicando-as às suas realidades.

Os alunos atuam lado a lado com o guia e aprendem modelando o modo dos praticantes mais experientes. No jargão de comunicação efetiva isso quer dizer aprender colocando-se na primeira, segunda ou terceira posição, como ilustrado a seguir

 

Um determinado problema é narrado e colocado em bases sensorialmente evidentes como no diagrama acima.

Levamos em conta o nível logico no qual o problema aparece:

  1. É um conflito a respeito de como agir?

  2. É um conflito a respeito de competências das partes (ser capaz ou não de agir?)

  3. É um conflito de critérios ou prioridades entre elas? Ou seja, o que é mais importante no momento?

  4. É um conflito de crenças e valores entre as partes? Cada uma delas pensa essencialmente de forma diferente da outra a respeito dos mesmos fatos?

 

Segue-se depois o estudo das interações acontecidas, seus padrões e por último a compreensão de como aconteceu a formação de algum padrão relacional e qual a sua efetividade. Sendo disfuncional, como poderia ser desde diferentes partes em interação. E exercitando essa mudança, como fica o resultado e os efeitos ao longo do tempo.

Etapas trabalhadas

(1) a definição (2) a resolução de um problema ou (3) a promoção de um efeito desejáveis, pessoal e coletivamente.

O aluno vai lidar com as diferentes dimensões da realidade seja como sujeito demandando mudanças, como guia ou como observador externo, observando e imaginando o trabalho a sua frente. Por isso poderá se inscrever como sujeito em busca de mudanças e desenvolvimento, como observador do modo de trabalho ou como aprendiz, de fato, dessa metodologia.

O resultado esperado é que desenvolva uma plena capacidade de mudar de posição perceptual e não só colocar-se no lugar do outro e oferecer novas possibilidades do outro colocar-se no seu lugar, como, juntos, acompanharem o que acontece ao longo do tempo. É um trabalho colaborado e tende a fluir justamente por isso.

Sendo co-construído, ele flui, os resultados são evidentes e breves, sustentam-se e a chance de mal-entendidos é muito baixa. Quando estes acontecem são resolvidos interativamente.

Posições Perceptuais

Quando usamos somente um ponto de vista, desenvolvemos "pontos cegos" em nossos mapas da realidade. Para enxergarmos mais em nosso mundo, precisamos mudar de posição.

Primeira Posição:

Você vê o mundo puramente do seu ponto de vista: a sua realidade, dentro de si mesmo, totalmente associado, se, levar em consideração o ponto de vista de qualquer outra pessoa. Você usa suas crenças, seu referencial pessoal e linguagem na primeira pessoa, isto é, "Eu acho", "Estou sentindo...", e quer descobrir "Como isto me afeta?" Use esta posição para descrever sua reação à outra pessoa: "Eu acho que ela está sendo muito..." (você adjetiva o comportamento da outra pessoa). Associado no seu próprio ponto de vista, crença e suposições, vendo o mundo externo través dos próprios olhos - posição "Eu".

Segunda Posição:

Aqui você se associa ao ponto de vista do outro, considerando como seria ver, ouvir e sentir na posição dele. Você pode usar a fisiologia e a linguagem da outra pessoa para ajudá-lo a "entrar no personagem". Assuma as crenças e os referenciais pessoais do outro. Lembre-se de falar sobre você mesmo, como se fosse o outro falando. Por exemplo: "Você parece...", "Você está...". Aqui você quer descobrir como o outro percebe a mesma situação ou o seu comportamento. Quando estamos em conflito com alguém, precisamos apreciar como ele se sente a respeito do que nós estamos fazendo. É a base da empatia, do rapport. Associado ao ponto de vista, crenças e suposições do outro, vendo o mundo externo através dos olhos dele - posição "Ele".

Terceira Posição:

Aqui você vê o mundo de um ponto de vista fora do relacionamento, como se fosse um observador independente do sistema; você procura saber "Como seria a situação, vista por alguém não envolvido?" Nesta posição você tem informações sobre as crenças e os referenciais dos dois, já tendo passado pelas duas posições e pode usar isso para entender melhor a interação entre os dois. Use aqui linguagem na terceira pessoa, isto é, falando sobre você e o outro como "ele" e "ela" ou "eles". Por exemplo: "Ele diz que está cansado de...", "Eles estão tendo uma dificuldade...". É a posição do Diretor de Teatro/Cinema. É uma metaposição ou posição em um ponto de vista fora do relacionamento entre você e o outro; o ponto de vista de um observador não envolvido, fora da situação - posição "Eles".

Quarta Posição:

Essa posição permite que a pessoa se veja assistindo à interação de uma forma mais distanciada ainda. Não é posição de vida e sim uma posição do sistema onde a interação acontece. Posição de dupla dissociação. Associado na perspectiva do sistema como um todo; como o sistema vê a situação e a interação da perspectiva de todos - posição "Nós".

As quatro posições são importantes; o objetivo em usá-las é poder mover-se livremente entre elas. Ficar somente em primeira posição seria egoísmo exagerado; ficar sempre se deslocando para a segunda posição é deixar-se levar indevidamente pelos pontos de vista dos outros; e ficar somente em terceira posição cria um observador desligado demais da vida. A capacidade de transitar pelas três posições é necessária para atuar com sabedoria e apreciar como os relacionamentos são maravilhosamente complexos. A diferença que você observará vendo o mundo de perspectivas diferentes enriquecerá a sua vida e lhe dará mais escolhas.

Veja como ficam essas posições num gráfico:

 

 

 

Você vai lidar com as diferentes dimensões da realidade seja como cliente demandando mudanças, como guia ou como observador externo, observando e imaginando as interações à sua frente. Não tem como escapar dessa trama.

Por isso poderá se colocar primeiro como cliente em busca de mudanças e desenvolvimento, como observador do modo de trabalho ou como aprendiz dessa metodologia.  Mais tarde vai trocar de posição com seus colegas até todos terem uma experiência desde as diferentes posições. Sua neurologia vai ajuda-los a integrar os diferentes pontos de vista enriquecendo o modo como cada um percebe a si mesmo e aos outros como partes e todo.

É um trabalho colaborativo visando a construção de uma realidade em comum e tende a fluir justamente por isso.

Uma situação problema que parece estar num primeiro momento colocada no presente pode associar outras situações de maior intensidade conflitiva do passado antes de serem resolvidas. Uma pessoa ou grupo pode projetar uma meta futura e perceber que lhe faltam recursos desde o presente ou desde o passado, necessitando refazer as suas experiências para depois então retomar os objetivos futuros. Ou simplesmente perceber que indo até o futuro, mesmo com todos os recursos, o resultado e os efeitos esperados não correspondem àqueles que foram realmente os desejados. E muda-se de metas e objetivos para outros mais coerentes.

Outras vezes não se trata de uma falta de coerência temporal e nem de expectativas bem definidas individualmente para alcançar seus objetivos e sim de falta de compreender a forma como o outro pensa em relação a você, seja com respeito às suas crenças e valores assim como com relação ao seu estilo de comunicação, por exemplo, de compreensão inicial mais auditiva, visual ou cinestésica em relação ao seu estilo de expressão. Quando alguém lhe diz que concorda ou compreende o que você comunica não garante que ambas as partes tenham uma boa representação do mapa de realidade da outra e estão de fato compartilhando experiências.

Todas as partes precisam testar o modo como se compreendem reciprocamente através de perguntas e respostas interativas: como você compreendeu o que lhe relatei? (Dê um exemplo...). Como imagina que será em suas palavras? (Conte uma história, mostre como seria em atos...). Qual a semelhança ou diferença entre a forma como cada uma das partes representa a realidade em comum? Não se vai adiante antes que a realidade em comum esteja bem evidente para ambos.

Partindo de uma realidade co-construída, o projeto de mudança flui, os resultados são evidentes e breves, sustentam-se e a chance de mal-entendidos é muito baixa.

Dilts, R. Tools of Dreamers Methamorphous Press

Karl H. Pribram   Brain and Perception: Holonomy and Structure in Figural Processing (Distinguished Lecture Series) Hardcover – June 1, 1991

Korzybski, Alfred (1994). Science and Sanity: An Introduction to Non-Aristotelian Systems and General Semantics (5th ed.). Brooklyn, NY: Institute of General Semantics.

WATZLAWICK, Paul et al. A pragmática da comunicação humana. São Paulo: Cultrix, 1967.

________________. A realidade inventada. São Paulo: Editorial Psy II, 1994.