Personagens da história

Não importa se gostamos ou não de história. O fato é que tudo é história. E a história, além de ser contada a partir de datas e lugares, é feita pelos personagens.

Não existe história sem estes três elementos. Podemos acrescentar outros, mas não podemos excluir estes: o tempo, o espaço e os personagens. Não importa se estamos falando de um conceito tradicional ou da história do cotidiano ou de micro história: sempre haverá personagens que viveram ou executaram os fatos; esses fatos acontecem num determinado lugar e numa data determinada. Portanto: tempo, espaço e personagens!

Mas quem são os personagens da história?

Quando pegamos um livro, principalmente da história tradicional, logo nos saltam aos olhos os nomes de grandes vultos, dos chefes, dos políticos importantes. Esses são os personagens. Mas essa é uma visão parcial ou equivocada. Contra essa visão triunfalista e a história dos vencedores Bertold Brecht, no século passado escreveu as “Perguntas de um trabalhador que lê” onde, entre outras coisas, pergunta: “O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro?”

Então, novamente, quem são os personagens da história?

Todos nós! Todos aqueles que realizam algum ato no tempo e no espaço. Portanto, somos todos personagens da história.

Mas por que nem todos aparecem nos livros da história?

Daria para escrever um livro com a resposta. Mas tudo está centrado nos interesses de quem escreve o texto ou o livro de história.

As artes cênicas podem nos ajudar a entender a situação, sem quebrar a questão. Numa cena em que aparecem vários personagens, nem todos são protagonistas ou centrais. A maioria é figurante. Mas sem os figurantes a cena ficaria sem graça ou nem aconteceria. Quer dizer: os personagens centrais dão o dinamismo da cena, mas sem os figurantes não haveria a cena ou ela seria sem graça, sem brilho! Assim também na história. Determinado líder político pode ser uma figura importante, num determinado contexto, mas ele é líder só se houver liderados.

Sendo assim, podemos propor a questão: quem é o personagem mais importante na história? O personagem central ou os figurantes? Durante muito tempo se disse que os personagens centrais eram os mais importantes. Mas os novos historiadores afirmam que os personagens centrais só existem porque existem os figurantes. O grande personagem só é grande porque os pequenos o fizeram grande.

O brilho da história não está nos personagens centrais, mas nos figurantes. É para eles que o político cria grandes obras ou dele que rouba! É para o povo que a ciência inventa e as tecnologia se modernizam. A grande indústria não seria grande se não existissem os consumidores de sua produção. A história não seria história sem os personagens que não são nomeados pela história...

E assim se faz a história: com os personagens centrais que, em algum momento e em algum lugar fizeram algo que repercutiu na via de muitos personagens aos quais chamamos de povo.

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO