Não são as respostas, mas as perguntas que movem o mundo, diz uma vinheta da TV Futura, incorporando uma reflexão da teoria do conhecimento e de uma perspectiva dialética. Com isso, o mote publicitário tenta dizer que o motor (o dínamo aristotélico) da resposta são as perguntas; ou seja, as perguntas, evidentemente, vem antes das respostas, pois são as perguntas que produzem as respostas.

Essa afirmação tem uma importância fundamental para quem trabalha lecionando filosofia, pois nos ajuda a mostrar não só os pressupostos do processo filosófico, mas ajuda a mostrar a filosofia como pressuposto para a ciência. E isso a partir de uma constatação simples: a pesquisa científica não trabalha com respostas, mas a partir de perguntas que mobilizam o pesquisador na busca das respostas... esse perguntar manifesta a indagação filosófica, que está na base de toda produção científica.

É claro que se quisermos ser um pouco mais dialéticos podemos perguntar se são as perguntas que movem o mundo ou o mundo que move as perguntas? E essa indagação não é só um jogo de palavras ou uma brincadeira para confundir mentes pouco atentas. Trata-se de constatar que o perguntar humano não se manifesta aleatoriamente, ou que as indagações brotam não espontaneamente.

Não!

Não se trata disso!

Qualquer pesquisador sabe disso!

A pesquisa, que é uma forma de buscar respostas para as perguntas formuladas; a pesquisa desenvolve-se a partir das perguntas. Entretanto, de onde brotam as perguntas? Do contato da mente humana com o mundo; da observação desenvolvida pela olhar inquiridor; é a observação que enseja a pergunta. Assim sendo a realidade, em suas diferentes manifestações, se coloca como problema ao olhar humano e a partir da realidade do mundo, o homem, sedento de saber, estabelece as indagações, formula as perguntas que movem o mundo; as perguntas que nasceram do mundo que se opôs como problema ao olhar indagador.

Portanto não se trata de jogo de palavras, mas de um fato: não são as respostas, mas as perguntas que movem o mundo; mas, dialeticamente, não são as perguntas que movem o mundo, mas é o mundo que move as perguntas. Em todos os casos a resposta é apenas um detalhe, que vem depois... e pode ser modificada... na medida em que o mundo, novamente, se colocar como novo problema, produzindo novas perguntas...

Mas voltemos nossos olhos para a pergunta mobilizadora. E aqui mais um esclarecimento: não são todas as perguntas que podem ser classificadas como mobilizadoras; como aquelas que movem o mundo – sem esquecer que o mundo move as perguntas! Nem toda pergunta é capaz de mover o mundo. Isso por um motivo simples: a maioria daquilo que chamamos de perguntas, na realidade não passam de curiosidade de iniciante.

Com isso estamos afirmando que existem diferentes níveis de indagações. A pergunta de Sócrates, pelas ruas de Atenas, querendo saber, por exemplo, "o que é a justiça?" está em um nível diferente da indagação do aluno, em sala de aula, que pergunta ao professor para não se lançar no estudo e construir a própria resposta. Sócrates permanecia com sua pergunta enquanto não chegasse ao conhecimento; o estudante se satisfaz com a resposta, por vezes evasiva, do professor. Diante da resposta do professor o aluno, em geral, se satisfaz e permanece sem saber porque recebeu uma resposta pronta para uma dúvida que já havia sido, muitas outras vezes, formulada por outros alunos que não haviam compreendido a matéria. Trata-se, nesse caso, de uma dúvida momentânea que se satisfaz com poucas palavras e não com uma resposta desenvolvida pela pesquisa; por esse motivo é que, em geral os alunos não entendem quando alguns professores lhes respondem com outra pergunta. Diferentemente da pergunta de Sócrates que não se cala com poucas palavras, a pergunta do aluno tende a ser, não só um meios de sanar uma dúvida momentânea, como para transferir a responsabilidade. Não querendo se responsabilizar pela busca da resposta, arcando com o ônus da pesquisa, o estudante se esconde na resposta do professor... e, nesse caso nem é mundo que move esse tipo de questão, nem esse tipo de indagação move o mundo.

Em razão disso podemos dizer que a pergunta cotidiana, que versa sobre duvidas cotidianas, é uma forma que o perguntador encontrou para fugir da responsabilidade da busca. Assim, o aluno transfere ao professor a responsabilidade da resposta e não se envolve com sua busca e, dessa forma, tão logo sua curiosidade é sanada, ele se desinteressará do assunto e se esquecerá tendo da resposta como de sua pergunta. Nesse caso, esse tipo de pergunta, antes de ser mobilizadora é um caminho para a acomodação: é mais cômodo perguntar ao professor do que se lançar na busca... e é cômodo permanecer esperando...

Que é, então, a pergunta que move o mundo?

É aquela que apresenta um problema essencial, não em uma dúvida momentânea, mas como caminho para novas investigações. A pergunta mobilizadora pode até partir de temas, questões ou situações já respondidas, mas neste nível de indagação sabe-se que as respostas são transitórias. A resposta que hoje satisfaz, amanhã pode ensejar nova pergunta. E, novamente se desenvolve o processo da busca.

E assim a filosofia se faz!

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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