Perguntas De Crianças
Por Sérgio Lisboa | 17/05/2008 | CrônicasUma das formas de nós sabermos o quanto não sabemos é convivendo com uma criança.
As suas perguntas são, em grande parte as perguntas que nós queríamos fazer para uma entidade superior e que nunca tivemos e talvez nunca teremos a chance de fazê-las.
Perguntas como: Deus mora no céu?
Antes mesmo de nós limparmos a garganta já vem outra: Como ele faz para não afundar nas nuvens?
O máximo que conseguimos dizer é um "bem, vejamos..." e já vem uma terceira fulminante: Por que Deus não salvou aquela menininha jogada pela janela?
Nesta altura você acaba pegando um cigarro e já leva outra: Se fumar faz mal, por que você fuma?
O mais engraçado é quando ela faz uma pergunta daquelas embaraçosas, quase gritando, num lugar público e todos ficam olhando e esperando a tua resposta, como que a dizer: E aí bonitão? Responde essa que eu quero ver!
A resposta é quase sempre a mesma: "Termina logo esse lanche que já é tarde!"
Então a criança começa a achar que é melhor guardar todas as outras perguntas que martelam a sua cabecinha, tais como:
Por que só uns poucos têm tanto e uns muitos têm tão pouco?
Por que quem a gente ama não nos quer?
Por que papai foi embora?
Por que fomos dormir sem janta?
Por que preciso estudar se o titio é engenheiro e está desempregado?
Por que o vovô que adorava seu trabalho foi mandado para casa para sempre?
Por que se os políticos ganham tanto, ainda levam o dinheiro das crianças?
Por que a mamãe chora sozinha no quarto?
Por que aqueles amiguinhos brincam nas sinaleiras de pedir dinheiro?
O corredor não é feito para correr?
De tanto ficar sem respostas dos adultos, as crianças perdem aquela curiosidade natural do ser humano e acabam tornando-se adultos que aceitam as idéias e as respostas fáceis dos políticos e dos líderes religiosos.
Seria muito bom imitarmos as crianças no que diz respeito a fazer perguntas e partirmos para encontrar as respostas.
Talvez nunca as consigamos encontrar, mas pelo menos, deixaremos claro que não são essas respostas que nos forçam a aceitar, que irão nos convencer.
Sérgio Lisboa.