Pentateuco: algumas notas (6) E o Pentateuco?

As pessoas de fé também podem ser curiosas! Deve-se registrar que é justamente essa curiosidade o grande propulsor da história da humanidade. Os avanços, e tropeços... da humanidade derivam dessa característica: a busca pelo saber. Por isso é que ao olharmos para a bíblia podemos – e devemos – manter abertos os dois olhos: a fé e a razão, dons de Deus e que se complementam e nos completam.

Com esses dois olhos voltemos nossa atenção para um aspecto da história da bíblia. Não exatamente a história da formação da bíblia, mas dos textos já definidos e definitivos, como os encontramos em nossas bíblias atuais.

Então, enfim vamos estudar o Pentateuco?

Ainda não. Ou sim! Já estamos estudando Pentateuco. Mas antes de entrarmos nos textos bíblicos, vamos entender mais alguns pressupostos para sua melhor compreensão.

Primeiro nos indagando: o que é o Pentateuco? Afinal de contas essa não é uma palavra que ouvimos, lemos ou usamos todos os dias. Para muita gente, ela é uma palavra nova ou estranha. Um humorista poderia até dizer que esse é um “palavrão”! Mas não é só uma palavra grande!

Na realidade essa é uma palavra colhida da língua grega. Em sua primeira parte PENTA, indica a quantidade CINCO. Para entender isso, podemos nos lembrar de que o Brasil é PENTAcampeão do mundo, em futebol (cinco vezes campeão); os que gostam de matemática podem se lembrar de uma figura geométrica com cinco lado, chamado de pentágono.

A outra parte da palavra, TEUCO (que vem de teukos), significa estojo e referia-se ao recipiente onde eram guardados os rolos de escritos. Mais tarde passou a significar simplesmente LIVRO. Daí que Pentateuco diz respeito aos “cinco livros” ou às “cinco partes” iniciais da bíblia. Ou seja, o pentateuco é uma pequena coleção formada por cinco livros.

O Pentateuco refere-se, portanto, aos livros do Gênesis, Êxodo, Números, Levíticos e Deuteronômio. Do ponto de vista da forma escrita final, podemos dizer que é no Pentateuco que começa a bíblia. Entretanto ela começou muito antes, na vida. E os primeiros escritos que entraram para a bíblia nem são, exatamente os do Gênesis. São partes dos chamados livros históricos. Mas essa é uma história para outro momento. Agora nos interessa entender o Pentateuco.

Esses primeiros escritos correspondem ao que os judeus chamam de Torá ou seja, a lei. Na tradição judaica, esses escritos foram produzidos por Moisés. No universo cristão, antes dos estudos mais apurados e antes do estudo bíblico ter sido iluminado pela história e pela crítica literária, também se acreditava que Moisés havia sido o autor desses escritos. Essa suposição se fundamenta em textos como Dt 4, 44: “Esta é a lei [Torah] que Moisés promulgou para os filhos de Israel”.

Entretanto, quando se olha com menos paixão e mais razão, percebe-se que o texto atual apresenta-se com inúmeros pontos obscuros. Daí ser necessário mais estudo para se perceber maiores detalhes e para que esses detalhes nos ajudem a fundamentar nossa fé. É necessário que saibamos dar “as razões de nossa fé” como nos aconselha a primeira carta de Pedro (3,15).

Com esse olhar foi que inúmeros pesquisadores de diferentes cantos do mundo analisaram os textos bíblicos. Esses pesquisadores (exegetas, arqueólogos e historiadores) afirmam que alguns textos do Pentateuco são bastante recentes, foram produzidos há aproximadamente quatro séculos antes de Cristo. Outros textos são mais antigos, teriam sido produzidos entre os séculos X e IX, antes de Cristo. E, mais ainda, descobriram que os textos não nasceram na mesma região, mas representam tradições de localidades e povos diversos.

Assim sendo, a Pentateuco, a primeira parte da bíblia, representa uma situação complexa. É palavra de Deus, mas resultado de diversas situações humanas, ou seja, a origem da bíblia nos coloca inúmeras indagações e problemas. A resposta depende de nosso olhar crítico. Daí que a questão, agora é saber, como as condições históricas daqueles povos repercutiram no texto bíblico para poderem iluminar nossa vida?

A fé, aliada com a curiosidade e engenhosidade humanas, movem as pessoas. E isso mobiliza os estudos. Olhar só com a fé pode nos conduzir não a Deus, mas atitudes fundamentalistas; olhar só com a razão pode nos conduzir à apostasia ou à descrença. Por isso nos deve guar a atitude de Paulo, sugerindo a necessidade do processo de amadurecimento da fé, de cordo com o ensinamento de Paulo (1 Cor 13,15), dizendo: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança”, evidentemente para se comportar com maturidade.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO