Pensando no futuro

Quarentena, jamais imaginei um dia ter que vivenciar este pesadelo. É bastante assustador assistir o noticiário, saber da evolução do Covid-19 no mundo. O impacto desta pandemia tem sido devastador para todos: ninguém pode sair de casa, nada de beijos, abraços e apertos de mãos, manter uma distância segura das pessoas, as crianças estão proibidas de irem para a escola, as igrejas estão fechadas.
Eu não saio de casa, faço parte do grupo de risco, sou sobrevivente de uma infecção grave. Neste período de quarentena, divido o tempo realizando tarefas rotineiras, conversando com minha gatinha. Ela é só silêncio e medo. Até o farfalhar de uma folha no quintal assusta. Nasceu cega e talvez esta tenha sido a motivação que justifica esta adoção. Olhei aquele monte de pelo sem olhos, sem luz e fiquei tomada por compaixão. O nome dela é dodó , sugestão de um neto.
A solidão não me assusta, até agora, o contato que tenho com outras pessoas, é quando abro a porta para receber o leite e o pão. Tenho aproveitado o tempo organizando meus arquivos e livros. Ainda não cai na mesmice de reler Paulo Coelho, Manuel Bandeira, Drummond, Pessoa, Og Mandino, Agatha Christie, Barbara Cartland, Williiam P. Young, Augusto Cury, Humberto de Campos, além dos incontáveis clássicos que compõem o acervo da minha biblioteca. Também ainda não assisti nenhum filme. Sempre que procuro algum na programação da sky, tenho a sensação que já conheço todos. O que tem perturbado minha solidão são pensamentos diversos: Esta pandemia tornará as pessoas mais humanas? As pessoas reaprenderão o que significa família? Entenderão qual é na verdade o papel do estado? Dos governantes? O cenário que imagino de um mundo depois da pandemia seria assim: as pessoas voltariam para suas atividades normais mais revigoradas, após tanto tempo de confinamento obrigatório. Tempo que foi bem aproveitado brincando com os filhos, participando da rotina do lar, dialogando com a família. As necessidades alimentares foram supridas pelo governo, que se mostrou protetor. Aqueles defensores do capitalismo tiveram que engolirem suas palavras envenenadas. Um outro cenário seria de um humano mais embrutecido, disposto a pilhar, a matar. Também durante o tempo que passou confinado as brigas eram constantes, os filhos insuportáveis. A fome chegou antes da ajuda do governo. Teve que mendigar comida, mais ninguém tinha.De quem é a culpa? Ninguém tem culpa, chega de culpar alguém por nossos erros. Triste da pessoa que não sabe conviver com a solidão.
Enquanto penso, o mundo lá fora segue seu ritmo, as pessoas burlam a quarentena, criticam as medidas adotada para conter a contaminação.