Pelo Banimento de Bandera

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 09/10/2025 | Política

Estratégias fazem parte da guerra. Estratégias, sobretudo, que frustram o moral da população em relação a fantasmas do passado, e que insistem na fissura nacional, propagando a versão do inimigo. Falo sobre o estado de beligerância entre a Ucrânia e a Rússia.

Todos sabem que o motivo central, em razão do qual Vladimir Putin determinou a invasão em larga escala da Ucrânia, foi a não aceitação de sua iminente adesão à OTAN. Só que tal nunca foi a única justificativa dos russos, que também alegaram o propósito de “desnazificar” a Ucrânia. É muito triste, mas as infames ordens de quaisquer ditadores, mundo afora, muitas vezes servem como um pano de fundo. No caso em questão, pode-se dizer que nacionalistas ucranianos veneram figuras de caráter muito duvidoso. Um deles foi Stepan Bandera.

Nascido em 1909 em terras então pertencentes ao Império Austro-Húngaro (hoje parte da Ucrânia), Stepan Bandera foi, supostamente, um nacionalista convicto. Digo “supostamente” porque, por mais que ele corretamente odiasse o regime de Stálin, ocupador de seu país e promotor do Holodomor (o “Holocausto ucraniano”), ao menos não havia uma legislação soviética promovendo o antissemitismo. Seria certo que contra ele se posicionasse se o seu doentio ódio aos judeus não o levasse a ser um colaboracionista da Alemanha hitlerista. Por isso, ele em nada diferia de Stálin, salvo quanto ao número de vítimas.  E, apesar disso, Bandera é ovacionado por grupos ditos "patrióticos" na Ucrânia. Putin, maliciosamente, usa essa fraqueza moral para angariar o apoio de parte da população russa na região do Donbass, a fim de anexá-la: afinal, os nazistas não odiavam apenas judeus, mas também os soviéticos.

Assim, não falta quem, dentre os russos naqueles rincões, prefere ter como ditador Putin, e não um governante que legitimamente defende seu território, como Zelensky (apesar de este argumentar não ser aceitável o nazismo na Ucrânia, sob a argumentação de ser, ele próprio, um judeu). Se Zelensky realmente pensa assim, pergunto-me por que, com poderes plenipotenciários em razão do próprio estado de guerra, não proíbe o culto a seres tão execráveis como Bandera. Até mesmo os chechenos não apoiadores de eventual secessão da Rússia, como o sanguinário ditador local, Ramzam Kadirov, já avisaram que enviariam mercenários à Ucrânia para ajudar na sua “desnazificação”.

Se Zelensky pensasse em qualquer apoio significativo da maior parte da população russa residente no Donbass, baniria gente como Stepan Bandera de qualquer culto dentro de seu país. Seria o mínimo racional a se fazer.