Pelas ruas...
Por Heloisa Pereira de Paula dos Reis | 18/08/2015 | CrônicasPelas ruas...
Nos encontramos em uma dessas caminhadas, que já a algum tempo faço pelas ruas do meu bairro.
Caminhamos juntas por algum tempo, conversando sobre amenidades, coisas leves que só nos fazem bem.
Depois resolvemos tomar um café na padaria da praça, e ai a conversa se tornou mais pessoal.
Na verdade pouco falei. Só ouvi e aprendi, que os dias se apresentam diferentes a cada manhã, e que nossa vida está sempre em constante transformação.
Com o tempo, disse-me ela, aprendi a diminuir a importância dos fatos a mim apresentados, a peneirar o que me dizem, principalmente se percebo um olhar de alegria em contar o que melhor seria não fosse contado. Eu me recuso ouvir ou pensar no que não está em minhas mãos resolver, quando a impossibilidade de dialogar se faz presente, pois são horas perdidas, que poderiam estar direcionadas a pensamentos positivos, rumo a um dia melhor. Cansei das pessoas que ocupam seu tempo vigiando a vida alheia, ávidos que caiam em suas redes, sem ao menos se ater que a sua também pode estar sendo vigiada e comentada, por quem se acha no direito de agir assim. Parei de desperdiçar minha energia mental.
Aprendi a responder com o silencio, que é a melhor resposta a ser dada. Faço “ouvidos de mercador.” E sou feliz assim. Muitos dizem que não tomo partido de ninguém, como se isso fosse essencial para o bem viver. Prefiro me afastar dos problemas que não são meus, antes que me afastem pela minha intromissão, pois só é possível conhecer o outro tendo a experiência dele. Ou não?
Mantenho distância do maledicente, que precisa sempre de alguém por perto para disseminar seu azedume, e sequer imagina que o mal maior faz a si mesmo, afastando quem dele se aproxima, sem se dar conta de tal. A frustração o torna observador de vidas alheias, um analisador do que pensa ser ruim no outro para sair comentando, certo de que seus assuntos interessam a todos, quando de fato interessam tão somente aos seus iguais, que o ouvem com pressa para passar à frente, aumentando a seu bel prazer o que ouviu, reforçando defeitos, deixando de lado as qualidade.
Julga-se melhor que o outro, quando diz “se fosse eu...”.
Hoje tenho menos pessoas à minha volta, disse-me ela. Mas tenho sempre por perto quem me permite ser quem sou.
Café tomado, conta paga, conversa encerrada, hora de voltar para casa. Cada uma faria o seu caminho de volta.
Talvez um dia nos encontremos novamente.
Ou não, que sabe.