Pegando furacão em Miami em 2000

Por Paulo E. Pereira

No ano em que George W. Bush estava sendo eleito Presidente dos Estados Unidos da América, eu visitava Miami pela segunda vez, de passagem, antes de ir para a Colômbia para uma reunião de projetos da empresa para a qual eu trabalhava, a Johnson & Johnson.  Sabendo que eu estaria nos EUA, o Michael, um amigo meu que trabalhava em uma empresa fornecedora de embalagens, foi me buscar no aeroporto, mas como tinha um compromisso à tarde e só poderia jantar comigo, ele me instalou no Hotel Windham na Av. Collins, em um quarto de frente para o mar e foi embora. Ele voltaria por volta das 19:00 horas para me buscar para jantar.  Eu perguntei a ele o que poderia fazer no período da tarde após o almoço, ele sugeriu que eu fosse ao shopping Aventura Mall que ficava há alguns minutos dali.  Mas sugeriu que eu fosse de ônibus e não de táxi. Afinal, como eu só andava de carro alugado ou de táxi, seria uma experiência diferente andar de ônibus em Miami, observando a paisagem e fazendo um caminho pitoresco pelo centro da cidade. Eu só não imaginava o que me esperava durante o percurso; afinal de táxi eu levaria uns 20 minutos e de ônibus levei 60 minutos.

A diferença entre o táxi e o ônibus começou logo, pois tive que esperar uns 15 minutos no ponto, com um sol meio quente sobre minha cabeça, e eu só sabia que tinha que pegar o ônibus “S”, que segundo meu amigo, era o que ia para o Aventura Mall.  Finalmente, depois de longos minutos, o ônibus chegou; era o “S” e nele eu subi.  Foi aí que a complicação começou, pois no volante estava uma motorista do tipo americana racista, que nem me olhou quando eu entrei no ônibus, simplesmente fechou a porta e acelerou. E eu fiquei ali parado sem saber o que fazer, pois estava com US$ 5 na mão e queria pagar a minha passagem e como era a primeira vez eu não sabia como proceder, pois não havia cobrador como no Brasil. De qualquer forma estava dentro do ônibus e ele em movimento, eu só sabia que eu tinha que descer no último ponto, que era dentro do shopping.  Pude observar que logo na entrada do ônibus havia uma máquina que parecia de cobrança do ticket, mas como eu não sabia como proceder, fiquei ali parado esperando o ônibus parar no próximo ponto, quando então eu aproveitaria a oportunidade para perguntar a motorista como eu deveria efetuar o pagamento da passagem.

Ela parou no ponto e eu ingenuamente me dirigi a ela e falei educadamente que queria pagar, mas ela ignorou totalmente a minha presença, continuou olhando pra frente e novamente acelerou o ônibus e seguiu viagem. Frustrado, continuei ali, logo atrás do assento do motorista, parado e observando os outros passageiros que entravam para ver como eu deveria proceder.  Mesmo depois de alguns minutos vendo o movimento de entrada dos passageiros, eu não havia chegado a nenhuma conclusão, pois cada pessoa que entrega procedia de uma forma: alguns passageiros entravam e colocavam algumas moedas na entrada da máquina e iam lá para o meio do ônibus, outros colocavam as moedas e pegavam um ticket, outras colocavam as moedas e entregavam um ticket, outros colocavam uma nota mais algumas moedas, mas não vi nenhum deles receber qualquer espécie de troco. Continuei ali parado pensando qual seria a minha situação.  Se esta não fosse uma das primeiras viagens aos EUA, talvez eu pudesse imaginar qual era o meu caso. Mas ainda sem conclusão, continuei observando e comecei a conversar com um passageiro do meu lado e perguntei a ele se ele sabia como funcionava o pagamento, mas ele também não sabia. Conversando com ele, chegamos a conclusão, agora óbvia, que o ticket servia para controlar o tamanho do percurso que cada passageiro iria fazer, pois somente pagaria pela distancia a ser percorrida, por isso alguns pegavam o ticket e outros entregavam.  Da mesma forma funcionam alguns pedágios nas autoestradas dos Estados Unidos, só pagamos pela distancia percorrida.

Mas mesmo imaginando que sabia como funcionava o pagamento, o fato é que eu tinha uma nota de US$ 5 a passagem até o shopping era de US$ 1,5, e o troco ?  Mas que troco nada. Quando chegamos finalmente, ao Aventura Mall, depois de uma hora de viagem pelas ruas de Miami, pensei, agora não tem jeito, ela vai ter que falar comigo, pois provavelmente não me deixaria descer do ônibus sem pagar, certo, é, mais ou menos, pois quando o ônibus parou, esperei calmamente todos descerem e novamente, educadamente, me dirigi à distinta motorista e falei para ela: - Eu quero te pagar !  Ela disse: – Poe o dinheiro na máquina !  Eu disse então: -  OK, mas preciso de troco.  Ela respondeu: – Eu não dou troco.  Eu então mostrei a nota de US$ 5 para ela e disse novamente: – E o meu troco ?  Ai então pela primeira vez ela me olhou nos olhos e disse firmemente: – Eu não dou troco .... Poe o dinheiro na máquina.

Ai percebi que não tinha mais dialogo, o jeito era realmente por o dinheiro na máquina e pagar US$ 5 pela viagem e ficar sem o troco. E foi o que fiz, meio pesaroso por perder alguns dólares, mesmo sendo apenas US$ 3,5, mas paguei a minha passagem e desci.

Já passava das 14:00 horas quando entrei no Aventura Mall, como eu ainda não tinha almoçado, fui andando pelos corredores iluminados e coloridos, e logo procurando a praça de alimentação, pois a essa altura eu já estava verde de fome, pois a última vez que eu vi cara  de comida foi no avião, no café da manhã.

Tomei um lanche e passei a tarde andando pelo shopping, vendo lojas e procurando lembranças e presentes para minha esposa e minhas filhas.

Dentre os produtos que temos aqui, achei muitos outros que ainda não haviam chegado ao Brasil, principalmente os eletrônicos.  Muitas coisas deslumbrantes. Fiquei com uma vontade louca de comprar muita coisa, mas como muitas delas eram novidades, também eram muito caras e algumas delas, mesmo que eu quisesse comprar, não poderia, pois ultrapassariam a cota na alfândega e eu teria que pagar os impostos.

Depois de muito andar, entrando e saindo nas lojas, procurando por novidades e coisas diferentes, mesmo que fosse só pra contar o que vi, cansei, pois andei praticamente sem parar, da hora que cheguei até a hora de voltar para o hotel e novamente de ônibus, pois eu precisava me certificar que desta vez eu saberia pagar pela minha passagem.

Sendo assim, a primeira providência foi trocar o dinheiro e reservar US$ 1,5 para pagar a passagem.  Confiante, fui para fora do shopping em direção a parada do ônibus e esperei por um ônibus que fosse para Miami Downtown. Em poucos minutos encostou o primeiro ônibus escrito Downtown, fui em direção a ele e na dúvida coloquei somente um pé no degrau e perguntei ao motorista se ele passava no Hotel Windham na Av. Collins, ele olhou para mim e respondeu algo como “Yes”. Bem, já que segundo o que eu entendi a resposta foi “sim” eu ia colocar o outro pé dentro do ônibus e entrar de vez, quando me lembrei do que o meu amigo disse, que eu deveria pegar o ônibus “S”, então me lembrei que na frente do ônibus estava escrito Downtown “G” e conclui que o motorista havia respondido “S” e não “yes”, ainda em tempo,  tirei o pé da escada do ônibus e voltei ao ponto para esperar o ônibus “S” que era o que eu deveria pegar, para voltar ao hotel. Desta vez tudo certo, ônibus certo, caminho certo e olhar cuidadoso para ver onde descer.  Tudo certo, desci em frente ao Hotel.

Ao chegar ao hotel fui para o quarto, ligar para Brasil para falar com a minha família e contar o que vi e o que comprei.

Depois de um papinho com as meninas, fui tomar banho e descansar um pouco enquanto esperava meu amigo para o jantar. Espera essa que seria mais longa que o previsto, pois olhando pela janela, a coisa começou a ficar preta, é isso mesmo, preta mesma, pois o tempo estava fechando, o céu ficando muito escuro e o vento cada vez mais forte, e começou a chover.  Eu olhava pela janela e via as palmeiras se inclinando radicalmente em função dos fortes ventos. Eu nunca tinha visto nada igual e logicamente fiquei um pouco assustado, mas como estava dentro do hotel, imaginei que estaria seguro ali dentro. Naquele momento eu ainda não sabia, mas aquilo era um rabo de Furacão, que estava passando por Miami. Perto das 19:00 h meu amigo me ligou e falou apenas que em função da chuva forte para eu não sair do hotel e assim que o tempo se acalmasse ele viria me pegar para jantar.

Essa espera durou aproximadamente uma hora e durante esse tempo fiquei olhando pela janela e assistindo passar aquele rabo de Furacão e vendo as árvores se inclinando para cá e para lá, quando então por volta das 20 horas, o interfone tocou. Era meu amigo que havia chegado e estava me aguardando da recepção do hotel.  Ele tinha trazido sua noiva que nos acompanharia no tour pela cidade e no jantar. Foi ai então que ele me disse que aquela “chuvinha” foi um rabo de Furacão.

Depois de darmos uma volta pela cidade para ver o que o vento tinha feito, começamos a procurar um bom restaurante para jantar.  Nossa primeira parada foi no restaurante da cantora Glória Stephan, que não me lembro do nome, mas estava lotado, com uma fila grande de espera e como já estávamos atrasados e com fome, saímos em busca de outro lugar.  A cidade estava bem movimentada e afinal estávamos no “point” de encontro da moçada e dos turistas, uma rua com vários restaurantes, bares, lanchonetes, motos, carrões e muito movimento nas calçadas, onde podíamos escutar as pessoas conversando em várias línguas, mas principalmente em Inglês e Espanhol, tudo muito misturado.  Aliás, para mim as vezes era meio confuso de se comunicar, pois a essa altura da viagem eu já estava pensando nas duas línguas ao mesmo tempo e por vezes eu começa uma conversa em Inglês e terminava em Espanhol e vice-versa, pois grande parte das pessoas em Miami falam as duas línguas.  As vezes escutávamos pessoas conversando em Português, Italiano, etc.

Após andarmos alguns minutos, finalmente escolhemos um restaurante e conseguimos uma mesa na varanda do lado de fora, quase à beira da calçada, e como essa varanda era um pouco mais alta que a calçada, podíamos ver todo o movimento da rua, pessoas indo e vindo, motos Harley Davidson passando entre os carros com seu barulho inconfundível, aliás, ali desfilavam carrões, tipo Ferrari, Corvette e lindas limusines, cada uma maior que a outra.  Por falar em motos, perto de onde havíamos estacionado o carro, havia uma fileira de motos, mas desta vez, esportivas, daquelas bem coloridas, enormes e com carenagem, algumas Honda, outras Suzuki, outras Kawasaki, parecia até que estavam em exposição.  Era de babar.

Depois de alguns minutos sentados ali, o garçom veio tirar nosso pedido. Não me lembro o que eles pediram, mas como eu gosto muito de massa, pedi um belo prato Italiano com molho vermelho, pois já estava nos EUA há uma semana comendo comida mexicana, tipo Fajita e Burritos no “On the border”, Baby Back Ribs no “TGI Fridays” ou no Bennigan’s ou no Hullihans, dependo do lugar que eu estivesse ou ainda belos e grandes Sandwiches em qualquer outro restaurante americano do tipo Hard Rock Café, ou logicamente no McDonald’s, Burger King ou Wendy’s.  Para beber, como de costume, Coca Cola com muito gelo. Muito gelo mesmo.

Durante o jantar, embora o meu amigo Michael fosse Vice Presidente de uma empresa, que fornecia embalagens para a empresa para a qual eu trabalhava, não falamos de trabalho, ele me contou um pouco da vida dele em Miami, pois ele morava lá e também falou um pouco de sua noiva Consuelo e de seus planos para o futuro.

Após o jantar deixamos a noiva dele no apartamento dela, pois no dia seguinte ela tinha que levantar cedo e ele me deixou no hotel, pois no outro dia eu também levantaria cedo e seguiria viagem para a Colômbia, onde eu teria uma das piores experiências de viagem até então. Mas essa é uma outra história que contarei a vocês oportunamente e que na realidade começaria no fim dessa viagem no aeroporto de Miami, exatamente no check-in da Continental Airlines, no momento do meu registro para embarque.

“Sim, grandes coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres.” Salmo 126:3

F I M