PEDAGOGIA  NAS  RELAÇÕES  ÉTNICO-RACIAIS   E SOCIAIS

      

 Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza...

Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo foi concebido...

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah Eu! Usei todos os  sentido 

(Ivan Lins  e Victor Martins)

 

O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados terá as cores das produções e dos trabalhos.

Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças. Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil, todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.

Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil. Serão as cores das profissões e das regiões (...).

       (Gilberto Freyre.)

 

 

Zabumba de bombos,
Estouro de bombas,
Batuques de ingonos,
Cantigas de banzo,
Rangir de ganzás...- Loanda, Loanda, aonde estás?
                                          ( Alceu Valença)

 

                   Buscando na música de Ivan Lins, na frase de Gilberto Freyre e na música de Alceu Valença, vemos uma diferença para estudarmos a Pedagogia com relação a étnico-racial na educação. Isso quer dizer que,  a cultura que precisamos e queremos na educação está inserida no contexto da implantação histórica já conhecida e estudada na escola sobre a valorização e participação da população negra.

                   Fazendo uma breve leitura dos textos citados: daquilo que eu sei como diz Ivan Lins, nos remete a aprendizagem que buscamos para o ensino; no texto de Gilberto Freyre trata da igualdade do homem e mulheres de nosso país, e Alceu Valença na sua música fala da cultura e batuques cantado e tocado pelo povo. Neste sentido, podemos relacionar a diversidade entre o que diz o sociólogo e os  cantores com suas músicas diferentes estilos mas com significados,  sobre os quais tratarei na minha dissertação de mestrado sob o titulo:  formação social do negro nos programas de ensino fundamental.

                   A Pedagogia já teve e tem suas tendências ao longo dos anos no sentido de avanço democrático, aberto com a função de preparar os indivíduos, subordinada a educação à sociedade na preparação de mão de obra para a indústria, compromisso com a cultura em direção ao saber, adequação as necessidades individuais aos meios sociais e a vida, formação de atitudes, modeladora de comportamento e finalmente crítico-social valorizando a ação pedagógica .inserida na prática social concreta.          

                                 A Pedagogia étnico-racial tem o caráter pedagógico da prática educativa em sala de aula como ação consciente, intencional e planejada no processo de formação humana, o tipo de individuo a formar, para qual sociedade, com que propósitos vincula-se, as opções sociais e política referentes ao papel da educação num determinado sistema de relações sociais.

                     Para CAVALLEIRO (1998, p. 198) o silêncio que atravessa os conflitos étnicos na sociedade é o mesmo silêncio que sustenta o preconceito e a discriminação no interior da escola.

De modo silencioso ocorrem situações, no espaço escolar, que podem influenciar a socialização das crianças, mostrando-lhes, infelizmente, diferentes lugares para pessoas brancas e negras. A escola oferece aos alunos, brancos e negros, oportunidades diferentes para se sentirem aceitos, respeitados e positivamente participantes da sociedade brasileira. A origem étnica condiciona um tratamento diferenciado na escola.     É flagrante a ausência de questionamento sobre a presença de crianças negras no cotidiano escolar. Esse fato, além de confirmar o despreparo do professor para se relacionar com elas, confirma, também, seu desinteresse em incluí-las, positivamente, na vida escolar (CAVALLEIRO 1998, p. 198). 

                       Nessas situações as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004, p.16), elaborou Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações elaboradas com o objetivo de educação das relações étnico/raciais positivas para  fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra. Entre os negros, poderão oferecer conhecimentos e segurança para orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos, poderão permitir que identifiquem as influências, a contribuição, a participação  e a importância da história e da cultura dos negros.

                  Tais pedagogias precisam estar atentas para que todos, negros e não negros: ter acesso a conhecimentos básicos tidos como fundamentais para a vida integrada à sociedade, exercício profissional competente, recebam formação que os capacite para forjar novas relações étnico-raciais; investir nos professores qualificando-os em diversas áreas de conhecimentos para direcionar as relações entre pessoas diferentes, no respeito, atitude postura, e principalmente palavras preconceituosas; sólida formação na área específica de atuação, recebam formação que os capacite não só a compreender a importância das questões relacionadas à diversidade étnico-raciais, mas a lidar positivamente com elas; criar estratégias pedagógicas que possam auxiliar a reeducá-las.

                    Na verdade, FREIRE (1975, p.67) na concepção “bancária”, a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não  verificar-se esta superação. Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora,

sendo dimensão da “cultura do silêncio”, a “educação  bancária” mantém e estimula a contradição. Em verdade, não seria possível à educação problematizadora, que rompe com os esquemas verticais característicos da educação “bancária”, realizar-se como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os  educandos. Como também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo (FREIRE, p.78).

                       É preciso ter clareza que o Art. 26ª, acrescido à Lei 9.394/1996 provoca bem mais do que inclusão de novos conteúdos, exige que se repensem relações étnico-raciais, sociais, pedagógicas, procedimentos de ensino, condições oferecidas  para aprendizagem, objetivos tácitos e explícitos da educação oferecida pelas escolas. Segundo o artigo 1º das “Diretrizes”, as metas ali delineadas baseiam-se no “direito de toda pessoa ao seu pleno desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania, a educação é direito de todos.

                 Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2001, p.22), cita que historicamente, registra-se dificuldades para se lidar com a temática do preconceito e da discriminação racial/étnica. Na escola, muitas vezes, há manifestações de racismo, discriminação social e étnica, por parte der professores e alunos, da equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente (PCN, 2001, p.22).

 

                     Em termos de educação escolar, a formação social do negro tem um atraso historicamente acumulado muito mais amplo e profundo nas condições sociais, educacionais, econômicas e culturais, que produziram e reproduziram o preconceito, discriminação e racismo da população. O currículo significa pequeno atalho, desvio de caminho; O conjunto das matérias de um curso.    

                          Segundo Moreira e Candau (2007),

O currículo é um campo em que se tenta impor tanto a definição particular de cultura de um dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território em que se travam ferozes competições em torno dos significados. O currículo não é um veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, se produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, portanto, a criação, recriação, contestação e transgressão (Moreira e Silva, 1994). Como todos esses processos se “concretizam” no currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam esforços tanto por consolidar as situações de opressão e discriminação a que certos grupos sociais têm sido submetidos, quanto por questionar os arranjos sociais em que essas situações se sustentam. (MOREIRA E CANDAU 2007, P.28),

                    Para atender aos interesses dos alunos, o trabalho educativo que ocorre na escola é sempre cultural, onde os educando traz vivencias marcadas por valores concepções atitudes, mesmo que não explicitadas, e muitas vezes contraditórias. É fundamental abordá-los em diferentes contextos de aprendizagem como no convívio escolar. Todas  as classes tem sua cultura própria e não há uma classe que tenha mais ou menos cultura que outra.             

                   Segundo Torres Santomé (1995), afirma Moreira e Candau (2007),

as culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ ou marginalizados que não dispõem de estruturas de poder costumam ser excluídas das salas de aula, chegando mesmo a ser deformadas ou estereotipadas, para que se dificultem (ou de fato se anulem) suas possibilidades de reação, de luta e de afirmação de direitos(Moreira e Candau, 2007, p.33).

                 Foram intensas lutas contra as desigualdades sociais, étnico-raciais, contra as variadas formas de preconceito, exclusão e violência, foram vivenciados na sociedade brasileira nos anos de 1970 pelos movimentos sociais, culturais, educacionais e da cidadania de diversos atores como mulheres, operários, trabalhadores do campo, negros, indígenas, jovens e tantos outros.

                 As relações sociais segundo a sociologia, absorvem um conceito complexo que trata do conjunto de interações (contato, convívio) entre os indivíduos ou grupos sociais, seja em casa, na escola, no trabalho. Em outras palavras, a relação social representa as diferentes formas de interação que ocorrem em diversos espaços sociais, podendo ocorrer de maneira natural ou através de interesses individuais. Exemplos de relações sociais: Relação Familiar, Relação Cultural, Relação Pedagógica, Relações Econômica, Relação Comercial, Relação Política, Relações Religiosa

                 Para a Sociologia  as relações sociais se baseiam nos conceitos de:  Karl Marx, “as relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas, em que os homens modificam o seu modo de produção, o seu modo de ganhar a vida”, e Max Weber “As relações sociais compõem um conjunto de ações sociais entre seus atores, sendo essencial na estrutura da sociedade as quais mantém a interação dos grupos sociais.

                  Nessa interação a Pedagogia de combate ao racismo e a discriminação para os negros oferecem conhecimentos, contribuição, participação e sua importância histórica, cultural dos negros na construção de  socioculturais existentes no país, como possibilidades de pôr fim à discriminação social e étnico-racial. Uma vez que o racismo institucional ainda é muito presente no cotidiano das instituições de ensino.
 

                  Essa Pedagogia nas relações étnico-racial e social representa as diferentes formas de interação que ocorrem em diversos espaços sociais, podendo ocorrer de maneira natural ou através de interesses individuais. Essas relações estão pautadas no Projeto Político pedagógico da Escola, sendo vivenciada pela comunidade na educação escolar.        

                Portanto, a educação do individuo está construída segundo as relações étnica-raciais e relação social, definida e orientada  pelos conteúdos significativos que descansam nos Parâmetros e Leis governamentais defendida por sua identidade cultural nacional no sentido das ligações afetivas pessoais, as tradições, as religiões e a certos valores herdados da comunidade.

                 Para LIBÂNEO (1994) a educação, ou seja, a prática educativa, é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades.

Não há sociedade sem prática educativa nem prática  educativa sem sociedade. A prática educativa é o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade (LIBÂNEO 1994, p.14).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS

.BRASIL, Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília: junho, 2005.

___________Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9393/96, de 20 de novembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino  a obrigatoriedade da temática”História e Cultura Afro-Brasileira” e dá outras providências.
 

.CAVALLEIRO, E. S. do silêncio do lar ao silêncio escolar: Racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. Dissertação apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção do grau de mestra em Educação. Candidata: Eliane dos Santos Cavalleiro,  SP: 1998.  file:///C:/Users/HP/Downloads/TESE.pdf

CORSETTI,. Berenice.  A análise documental no contexto da metodologia qualitativa: uma abordagem a partir da experiência de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos. UNIrevista - Vol. 1, n° 1: 32-46 (janeiro 2006). Disponível em : http://gephisnop.weebly.com/uploads/2/3/9/6/23969914/a_anlise_documental_no_contexto_da_pesquis_qualitativa.pdf. Acesso em 06/07/2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

__________.Pedagogia do oprimido. 3ª edição. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975.

LIBÂNEO, J.C. Práticas educativa, pedagogia e didática. SP: Cortez, 1994.

VIEIRA, Evaldo. Sociologia da educação: Volume único: livro do professor. Editora Renovada. São Paulo; FTD, 2009.