PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NA PERSPECTIVA DE INCLUSÃO DOS ALUNOS DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MUNICÍPIO DE MAZAGÃO

 

Problematização: 

 

A vida no campo também ensina. Esse é o preceito básico da Pedagogia de Alternância, segundo Paulo Freire (2003). Este trabalho será desenvolvido em duas escolas no município de Mazagão no estado do Amapá no período de 12 meses. As Instituições são: Escola Família Agroextrativista do Carvão que atende alunos de 04 assentamentos, 05 ilhas do Pará, além de outras localidades, com o total de 163 estudantes e a Escola Família Agroextrativista do Maracá, que atendeu em 2019 o total de 121 estudantes de 02 assentamentos e das terras Quilombolas do Conceição do Maracá, além de alunos de outras localidades, o que evita a exclusão dos mesmos, garantindo o acesso e permanência destes na escola. Contudo o atendimento a estes estudantes está ameaçado, pois a abertura dessas escolas é cada vez mais incerto, uma vez que dependem de repasses exclusivos do Estado e Município para seu funcionamento. Com o fechamento dessas escolas como esses alunos irão estudar? Quais políticas públicas são necessárias para a continuidade dessas escolas? Qual a visão dos alunos e ex-alunos das Terras Quilombolas do Conceição do Maracá sobre a importância das Escola Família para suas vidas? Quais as realidades e desafios encontrados pelos alunos e familiares, residentes em assentamentos e nas Ilhas do Pará, em seus trajetos até a Escola Família Agroextrativista do Carvão? 

Objetivo geral: Identificar e expressar a realidade vivida pelos alunos das Escolas Famílias Agroextrativistas oriundos dos assentamentos, quilombos e outras comunidades tradicionais no Município de Mazagão.

 

Objetivos específicos:   

  • enfatizar a importância das Escolas Famílias Agroextrativistas para comunidades tradicionais Assentadas e Quilombolas;
  • evidenciar como a pedagogia da alternância contribui significativamente para os desenvolvimentos das competências exigidas pelo mundo moderno e globalizado;
  • identificar as realidades vivenciadas pelos alunos a e visão dos mesmos sobre o processo de ensino aprendizagem;
  • elaborar estratégias para a continuidade no atendimento a estes alunos;

 

Justificativa: Cordeiro (2011) afirma que a pedagogia da alternância vem sendo usada na formação de jovens e adultos do campo, sendo uma proposta pedagógica e metodológica capaz de atender as necessidades da articulação entre a escolarização e o trabalho. Neste sentido Begnami (2004), pedagogia da alternância é definida, entre muitos autores, como um processo contínuo de aprendizagem e formação na descontinuidade de atividades e na sucessão integrada de espaços e tempos. Partindo destes pressupostos, ofertar uma educação de qualidade para os alunos que vivem no campo e dependem do campo para sua subsistência, é o objetivo principal das Escolas Famílias Agroextrativistas (EFAs), são milhares de alunos que tem apenas essa oportunidade de seguir com seus estudos, já que muitos moram em Assentamentos e Quilombos em comunidades isoladas, ou em ilhas do Pará de difícil acesso, onde não há escolas regulares.

As EFAs, assumem não apenas um papel de escolha para esses estudantes, mas a única opção para galgarem um futuro melhor. Porém cada escola família agrícola que fecha as portas, são centenas de crianças, adolescentes, jovens e adultos que perdem a única oportunidade de seguirem em frente, e são obrigados a desistirem de uma formação integral e formal. Este trabalho torna-se de grande relevância, pois tem a finalidade de mostrar a realidade vivenciada pelos alunos e a importância das EFAs para esses estudantes, para seus familiares residentes em assentamentos e terras quilombolas e em outras comunidades tradicionais e consecutivamente para a sociedade.

Fundamentação teórica: as EFAs, apresentam uma proposta pedagógica diferenciada, buscando respeitar a realidade social, ambiental e local do seu alunado, considerando as necessidades e vivências dos estudantes do meio rural. Segundo Oliveira (2009), as escolas famílias surgiram na década de 1930 no interior da França, pensadas pelos padres francês, e ficou conhecidas como “Casas familiares rurais” e aos poucos se espalhou por todo o mundo, para atender as comunidades rurais que eram excluídas ou precariamente atendidas.

Segundo Nosella (2007, p.18), “o objetivo da pedagogia da alternância não foi a de melhorar a escola tradicional, mas sim criar uma nova escola”, o autor deixa claro que sua preocupação não era apenas em intervir, mas propor novas diretrizes e perspectivas para a educação no campo, que de fato comtemplasse os alunos. Juzwiak e Natali (2016) afirmam que o Amapá possui, cinco escolas famílias agrícolas/agroextrativistas, encontram-se: 01 município de Macapá; 01 no município de Pedra Branca do Amaparí; 01 no município de Tartarugalzinho e 02 no município de Mazagão, que serão alvo deste estudo. São elas:

A Escola Família Agroextrativista do Carvão está localizada no Município de Mazagão, erguida em 1997 através de mutirões dos moradores do Distrito e pessoas de outras localidades. Oferta o Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Profissionalizante. A Escola Família Agroextrativista do Maracá está localizada no município de Mazagão e iniciou suas atividades em 2000, em prédios cedidos pela cooperativa da comunidade. Segundo Juzwiak e Natali (2016), a escola está localizada em uma área de assentamento e, durante sua construção se imaginou que não precisaria do título da terra. Contudo, atualmente sua área está comprometida por conta da criação de um ramal no meio da propriedade da escola, que está operando apenas no prédio e seu entorno. Seu futuro ainda está indefinido e com ela o futuro de vários jovens que necessitam desse atendimento, há várias especulações sobre o assunto, sendo o fechamento da escola o mais corriqueiro.

Para ingressar nas escolas, o aluno precisa ter propriedade rural, deve passar por um período de adaptação e seus pais devem fazer parte da associação. Os pais devem participar dos mutirões, reuniões e assembleias da associação quando solicitado. Em comum as escolas possuem uma matriz curricular diferenciada, além da base Comum Curricular, os alunos tem aulas sobre agricultura, extrativismo e zootecnia. As escolas buscam parcerias com a EMBRAPA, cultivando banana, feijão, mandioca e milho, além da criação de pequenos animais como porcos e frangos, usados para próprio consumo, além da criação de suínos, galinhas e outros animais de pequeno porte, que servem de alimentos para os alunos, havendo excedentes, são vendidos, e o dinheiro arrecadado, ajuda nas despesas principalmente com a alimentação. O período de alternância é de quinze dias na escola e quinze dias em suas localidades, levando os saberes que aprendem na escola para serem adotados por seus familiares. O trajeto de casa para a escola não é fácil, uma vez que necessitam de transporte fluvial ou terrestre, um trajeto de horas e em muitos casos dias. Por terem autonomia administrativa as Escolas Famílias do Amapá enfrentam uma batalha para definir judicialmente uma quantia fixa de repasses pelo convênio com o Governo do Estado, ou com a prefeitura de Mazagão, ou com ONGs que buscam alternativas práticas para manter as escolas funcionando.

 

Metodologia: Para o desenvolvimento do presente estudo, serão implementados instrumentos de investigação como: levantamento de material bibliográfico, aplicação de questionário e entrevistas a 30 alunos de assentamentos e 10  alunos das terras quilombolas,  15 alunos das Ilhas do Pará, 40 pais de alunos e 10 professores, a fim de realizar uma sondagem quanto a importância da escola para suas vidas e as dificuldades que eles encontram para chegarem a escola. O público alvo dessa pesquisa serão professores, gestores escolares e estudantes e pais de alunos residentes em: Assentamento Extrativista do Ajuruxi; Assentamento Extrativista da Fox do Rio Mazagão Velho; Assentamento Extrativista do Maracá; Assentamento Extrativista do Piquiazal; Terras Quilombolas do Conceição do Maracá; Alunos residentes nas Ilhas do Pará; Moradores da comunidade do Carvão e outras comunidades tradicionais do município. Ao final desse estudo, serão analisados os dados, e entregue um relatório a coordenação das escolas e aos órgãos competentes, com o objetivo de explicar, compreender, intervir, e prever ações, com propostas reais para melhoria e funcionamento das escolas, e alternativas de políticas públicas, projetos que facilitem o acesso e permanência do aluno a escola.

 

Referencial bibliográfico 

BEGNAMI, João Batista. Uma geografia da pedagogia da alternância no Brasil: Brasília: Cidade, 2004. (Unefab Documento Pedagógico).

CORDEIRO, N. K. Georgina; REIS, Neila da Silva; HAGE, Salomão Mufarrej. Pedagogia da Alternância e seus desafios para assegurar a formação humana dos sujeitos e a sustentabilidade do campo. Em Aberto, Brasília, v. 24, n. 85, p. 115-125, abr. 2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 35. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

JUZWIAK, Alekander Ridel; NATALI Leonardo Mello. Escolas Famílias Agrícolas e Agroextrativistas do Amapá. Disponível em:  https://pesquisa-eaesp.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/conexaolocal/escolas_familia_agricolas_e_agroextrativistas_do_amapa_2010.pdf, acesso em: 12/10/2020.

Nery, Vitor Souza Cunha. Pedagogia da alternância no Amapá: Um estudo na Escola Família do Pacuí. Disponível em: http://www.gepec.ufscar.br/publicacoes/publicacoes-seminarios-do-gepec/seminario-de-2015/6-historia-das-instituicoes-escolares-no-campo/e6t02-pedagogia-da-alternancia-no-amapa-um-estudo.pdf/view. 2016.  Acesso em: 12/10/2020.

NOSELLA, Paolo. As origens da Pedagogia da Alternância. Brasília: UNEFAB, 2007.

OLIVEIRA, Marcos Marques de (Org). Vozes e visões do campo. São Paulo: Petrópolis, 2009.