- E então Fernando, vamos ou não vamos à praia hoje? - Poxa William, não sei, o tempo tá meio estranho, acho que não vai rolar, a galera tá dando pra trás e esse tempo não tá ajudando”. – E se agente for à noite, sei lá nós podemos da um role, levar as meninas. – Até parece que os pais delas vão deixá-las ir à praia de noite e com agente, Willian. – É mesmo, não temos o que fazer hoje. Quer saber Nando, vamos só nós dois mesmo, de lá agente toma um vinho e depois vamos pra aquela boate da Praça Mauá, aquela perto do Distrito naval, hoje eu tô a fim de enfiar o pé na jaca. As coisas não vão muito bem com a Nathália, acho que vamos terminar. - Que isso William, é tão sério assim? – É sim brother, acho que não durar muito, depois que ela me viu bebendo na festa da escola ela ficou diferente comigo, disse que estava muito desapontada.

Chamo-me Willian, sou um cara que gosta de aventura e curtição, mas sou completamente apaixonado pela minha namorada Nathália e às vezes por causa dessa paixão acabo me prendendo um pouco e deixo de fazer as coisas que realmente gosto e desejo fazer. Na última festa do colégio ela me flagrou bebendo um pouco, na verdade eu nem estava bebendo demais apenas tomando uma cervejinha com uns amigos, mas ela não entende isso. Mas tudo bem, eu já nem estava muito preocupado com essas coisas só queria sair e me divertir com meus amigos e esquecer o toco que havia levado da minha gata. Mas era agosto, inverno, frio intenso, mas estava insistindo em ir à praia. A galera não topou, exceto meu grande amigo Fernando. Nesse sábado estava chovendo aquela chuva bem fininha, e infelizmente não rolou aquela praia durante o dia. Então decidimos sair à noite, para beber, mas eu mão tirava a ideia de praia da cabeça, então ficou decidido que íamos à praia durante a noite pra dar uma volta beber um pouco e bater um papo.

A noite caiu e a chuva parou então partimos para Copa, de lá agente ia tomar um Chope no Garota de Copacabana e depois partiríamos pro calçadão. A vida noturna em Copacabana era muito agitada e muitas vezes violenta. Lembro ver muitas coisas sensacionais nesse dia. Pessoas se drogando em plena orla, prostitutas travestis, casais transando perto de quiosques, coisas da noite carioca. Mas isso não era nem de longe assustador, perto do que eu ainda iria ver e vivenciar naquela noite.

Tudo na verdade começou quando decidimos andar pela areia. Estávamos tomando Vodka, eu havia comprado uma garrafa para afogar as mágoas e meu amigo Nando resolveu me acompanhar no processo depressivo em que me encontrava. Era noite de lua cheia e curiosamente a lua parecia bem maior que de costume, não sei se era porque estava na praia, ou se já era o efeito da Vodka no meu sangue. Caminhávamos cada Vaz mais lentamente, o som das ondas parecia uma canção de ritmo intrigante, o vento cortava nossos rostos como laminas extremamente finas e afiadas, os nossos agasalhos já não estava fazendo tanto efeito. Então o Nando me disse: _ Ei cara, que tal corrermos para afastar essa friaca? – Não é má ideia, disse eu. Logo começamos acorrer como loucos cheios de álcool na consciência. Sempre fui um bom corredor e péssimo nadador, essa segunda qualidade ficou com meu amigo Nando. Por conta disso rapidamente passei a frente dele e logo estava bem longe de mim. Já havia tomado grande vantagem quando estava mais ou menos a uns 200 metros de distancia eu parei atônito diante do que havia visto. Olhei para trás e vi que Nando parou por um instante, Mais logo em seguida começou a correr em minha direção. O que vi era realmente algo fora do comum em lugar como aquele. Havia parado de correr pois estava diante de um grande monte de areia da praia, parecia uma duna, era uma duna. Devia ter cerca de uns 10 ou 11 metros de altura, por uns 8 ou 9 de largura. Percebi um clarão vindo do outro lado e ouvia um homem falando com uma voz imponente, não, na verdade a voz era assustadora, ele parecia estar conjurando algo, sei lá, parecia latim. Concentrei-me em ouvir melhor e pelo conhecimento que tinha, de fato era latim a língua que eu estava ouvindo. Dei a volta pelo lado direito da pequena colina de areia e meio que escondido nela vi a cena, uma picape preta com os faróis altos acesos, ela estava estacionada na areia e ali bem próximo ao carro havia uma enorme fogueira.

A fogueira não foi o ápice da cena, ela era apenas um pequeno detalhe. Na verdade o que mais me assustou foi à figura que fitei em seguida. Um cara de sobretudo roxo e um enorme chapéu, tipo o chapéu do super – herói  o sombra, cobrindo todo seu rosto. Nesse entretempo Nando me alcança perguntando: - E aí cara, o que aconteceu? Então ele olhou pasmado com que vira disse: - Que isso cara? Não sei respondi gesticulando para que ficasse quieto. O cara estava em frente a grande fogueira e estava jogando alguns fetiches dentro dela enquanto falava as palavras em latim muito rapidamente, algumas até muito perceptíveis. Em um descuido nosso ele nos percebeu e então se virou em nossa direção se aproximando e dizendo agora, palavras em outro idioma que não era o latim. As palavras soaram com um tom de ameaça. O cara se aproximava cada vez mais. O medo tomou conta de nós naquele momento e começamos acorrer novamente, dessa vez em sentido contrário, ou seja, corríamos na direção de onde viemos. O tal sujeito veio em nossa direção muito rapidamente também eu gritava apresando o Nando, mas ele era muito lento. Já estava me adiantando em relação ao Nando então olhei pra trás e não o vi mais o Nando e o homem da capa Roxa também sumira. Então eu parei de correr e dei um giro 360° tentando encontrar o meu amigo. Gritava o nome dele e nada. Só o barulho das ondas e bem de longe o som dos bares da cidade. Estranhamente a noite ficou silenciosa o calçadão estava cheio quando fomos para areia, agora parecia que eu estava em búzios na baixa temporada. Assustado corri para procurar ajuda, mas agora corria com menos vigor pois já estava um  pouco cansado e o álcool no sangue, o pânico e tudo mais.

Depois de rodar pelo calçadão durante aproximadamente uns 15 minutos, decidi que o melhor a fazer era ir a delegacia dar queixa. Mas se falasse isso era bem capaz de os caras acharem que eu estava vendo coisas, pois havia bebido uma garrafa inteirinha de Vodka praticamente sozinho. Então me sentei um pouco em banco perto de quiosque que àquela hora já estava fechado e me deu um estalo em meio aqueles 15 minutos de pânico, o celular, vou ligar para Nathalia e falar o que aconteceu, talvez ela me atenda. Tentei falar com ela, mas não adiantou, disse que devia estar bêbado e isso tudo era fruto do efeito do álcool.    

Super assustado ainda olhei para hora em telefone e ainda era 00h32min, tudo havia sido muito rápido, mas para mim pareceu uma eternidade no inferno. E não sabia que não havia acabado ainda. Levantei-me do banco, agora decidido em ir a delegacia informar o desaparecimento de meu amigo, mas é claro contando outra versão da história, pois não acreditariam no que eu vivenciara naquela noite. Quando estava saindo do local senti um braço me agarrando pelo pescoço com muita força , era ele de novo. Subitamente me deu um estalo e eu estava em meu quarto, deitado em minha cama e os braços ainda sufocando meu pescoço, como se estivesse tomando uma gravata, o que era estranho, pois estava deitado e o braço parecia sair de dentro de minha cama. Ainda em meio ao pânico de tudo que estava acontecendo consegui escapar de um de seus braços e o mordi, foi então que ele me soltou e os braços sumiram entrando por dentro de minha cama. Sentei-me ainda com a respiração ofegante e suando frio e acendi o abajur em cima do meu criado mudo, olhei para o lado direito e só vi meu irmão mais novo roçando e babando muito, peguei meu celular embaixo do meu travesseiro e olhei a ora, marcava 00h32min. Olhei minhas últimas chamadas e vi qual fora minha ultima ligação: Nathalia 31/08/2003 as 00h32min.

No dia seguinte cheguei na escola e encontrei o Nando no colégio e contei tudo, ele riu da história e disse que eu tinha que parar de beber e de fumar noz moscada com orégano. Encontrei-me com a Nathalia na hora do recreio e perguntei se eu havia ligado para ela por volta da meia – noite, para ser preciso as 00h32min e ela disse que não, falou que a essa hora já estava dormindo a muito tempo e que não havia nenhuma chamada perdida minha em seu celular. – Você está ficando louco heim! Olha Will. Já conversamos sobre isso, vou te falar mais uma vez, gosto de você, mas se continuar bebendo desse jeito, vai se prejudicar e me prejudicar também, Deus sabe como tenho sofrido por me afastar de você, mas enquanto você ficar nessa eu não vou ficar com você, me desculpe mais tenho que ir, até logo! Ela me deu beijo no rosto e saiu com suas amigas. Novamente olhei para minhas chamadas e vi, chamada as 00h32min, Nathália, duração 3 min e 33 segundos .