A situação desagradável, inesperada e patética que aconteceu comigo no ultimo dia da minha viagem à Colômbia, exatamente no dia de voltar ao Brasil, na realidade começou no ato do “check-in” no Aeroporto de Miami, quando eu entreguei a minha passagem ao representante da Continental Airlines. Ele pegou a passagem, que naquela época ainda não era bilhete eletrônico, eram tickets impressos e carbonados, e destacou o ticket de ida para Cali na Colômbia. Mas antes de devolver a passagem ele me perguntou se a Colômbia seria o meu destino final, eu disse que não, que eu iria depois para São Paulo no Brasil. Então ele me perguntou se eu tinha passagem para o Brasil, logicamente eu disse que sim, pois estava com ela nas mãos, ele insistiu na pergunta, eu novamente confirmei e mostrei a ele a passagem indicando o voo para São Paulo, dois dias depois.  Ele então balançou os ombros, como que concordando e não se importando, me entregou o bloco de tickets, o meu “boarding pass”, despachou a minha bagagem e me desejou boa viagem.  Mal sabia eu que o problema que eu teria estava só começando.

Depois do “check-in” feito e bagagem despachada fui andar pelo aeroporto para passar o tempo e procurar algo para comer, pois já era perto da hora do almoço e eu estava começando a ficar com fome.  Fui até ao McDonald’s e pedi um “Big Mac”, só pra variar, pois normalmente quando viajo, dificilmente como sanduíches.

Daí pra frente foi relaxar e curtir o traslado dos EUA para a Colômbia, observando o vai e vem dos latinos voltando pra casa ou dos homens de negócio indo para a América do Sul.

Cheguei a Cali bem tarde, praticamente as 20:00 horas.  Levei quase uma hora entre chegar e sair do aeroporto, pois tinha muitos militares armados, cachorros farejadores, procurando por tóxicos nas malas ou com as pessoas, seguranças revistando malas e pessoas, ou seja, um saco aguentar tudo isso logo na chegada, para não perder tempo eu fui logo abrindo as minhas duas malas e para felicidade minha, o soldado falou que eu podia fecha-las e seguir em frente. Acho que ele foi com a minha cara ou não achou que eu tinha cara de malandro.  Afinal eu não estava vestido de executivo, pelo contrário estava vestido de turista mesmo, bem casual, para não chamar a atenção de sequestradores e guerrilheiros, que andavam naquela época pegando executivos de empresa para pedir resgate depois. E exatamente por isso havia um motorista contratado da empresa me esperando para levar diretamente ao Hotel Pacifico, era o Sr José.  Depois de uma hora andando pelas ruas de Cali, chegamos ao hotel lá pelas 10:00 horas. Registrei-me e me dirigi ao elevador para subir e tomar um banho. Ao entrar no elevador apertei o número do andar e nada aconteceu, fiquei ali parado tentando adivinhar o que deveria fazer para subir, mas depois de alguns minutos, desisti e voltei ao “Front Desk” do Hotel e com certa vergonha tive que perguntar o que deveria fazer para subir.  Eles então me explicaram que por questão de segurança, para que pessoas não autorizadas não subissem para os quartos, eu deveria inserir no local indicado a cartão chave do meu quarto e depois apertar o numero do me andar, só assim o elevador fecharia a porta e entraria em movimento.  Finalmente subi para o quarto, tomei um banho e desci para comer algo no restaurante do hotel.  Estava calor e eu escolhi uma mesa do lado de fora à beira da piscina.  Mas como já era relativamente tarde, não quis comer nada pesado, apenas a entrada e uma “Caesar Salad”, para não pesar muito no estomago, afinal no dia seguinte eu teria que levantar muito cedo, pois já tinha uma visita a um fornecedor em Medellín que ficava à uma hora de voo de Cali.

No dia seguinte acordei muito cedo, pois uma colega da empresa me apanhou no hotel, pois ela iria junto comigo visitar o tal fornecedor. Esse pedaço da viagem foi mais uma aventura, pois como o voo saia às 8:00 horas, chegamos uma hora antes, mas como estávamos voando por uma aviação colombiana que segundo o folclore da região, os voos sempre atrasavam, adivinhem só, esse também atrasou, saindo de Cali somente as 10:00 horas, ou seja, ficamos ali 2 horas sem fazer nada.

Finalmente ouvimos a chamada para o nosso voo, ingenuamente eu pensei que seriamos chamados para entrar naqueles corredores dos grandes aeroportos dos EUA, que levam para dentro da aeronave, engano meu, pois descemos uma escada e saímos do aeroporto por uma porta, direto para a pista. Dali pude ver então o nosso avião, pensei que seria um jatinho, mas para surpresa minha iríamos voar em algo quase pré-histórico, algo que eu nunca tinha visto, simplesmente um Focker 50 movido à hélice e com aparência de velho.  Hesitei em entrar, mas eu não tinha opção, tinha que enfrentar esse voo, mesmo duvidando que esse avião levantaria do chão e nos levaria até Medellín.  Tudo pronto para subir, instruções dadas, porta fechada, cintos apertados, o comandante deu os últimos avisos e se dirigiu para a pista.  A cada minuto a minha expectativa aumentava, por não acreditar que depois de voar em um tremendo Boing com quatro turbinas, estaria voando em um avião a hélice.  Por fim já na cabeceira da pista, pronto para subir, o comandante alinhou a aeronave e começou a acelerar para subir, nesse momento começamos a ouvir um barulho ensurdecedor e o avião começou a tremer todo.  Isso durou alguns minutos, até ganharmos altura e entrarmos em velocidade de cruzeiro.  O barulho do motor diminuiu, mas continuou alto e incomodando durante todo o voo, que seria de uma hora até Medellín.  Altura e velocidade de cruzeiro alcançadas, finalmente começaram a servir o café da manha, que para nós que havíamos acordado muito cedo, já passava da hora de comer algo.  Eu e minha colega estávamos sentados logo nos primeiros assentos, foi a nossa sorte, pois nem bem serviram o lanche entramos em uma turbulência e rapidamente, sem hesitar a comissária de bordo recolheu o carrinho e sentou em seu lugar.  Vocês devem estar imaginando que assim que passou a turbulência ela voltou a servir o lanche, engano de vocês, pois nem fizeram menção disso, simplesmente, como se nada tivesse acontecido, nem apareceram mais, ficou por isso mesmo.  Ou seja, quem deu a sorte, como nós de estar nas primeiras cadeiras, comeu, quem ficou da terceira ou quarta fileira para trás, ficou com fome,

Finalmente chegamos ao aeroporto de Medellín, mas a viagem não terminaria ali, pois o centro da cidade onde ficava o fornecedor que iríamos visitar, ficava a uma hora de carro dali.  Pior que isso, uma hora de serra, parecida com o trecho de serra da Rodovia Tamoios que vai de São José dos Campos a Caraguatatuba.  Esse não seria o problema se o motorista de táxi que nos levou até lá não fosse meio louco no volante e cheio de vontade de ser piloto de corrida. O problema é que ele pilotava um carro velho parecido com um Lada Russo.  Que sufoco de viagem !  Nem me lembro da paisagem, pois fiquei o tempo todo preocupado com a forma que ele dirigia e com as finas que tirava dos outros carros ou dos barrancos. Que aventura !  Uma hora de pura emoção.  Mas para não dizer que não me lembro de nada dessa viagem, logo na chegada ao centro da cidade pude ver uma “boceta” toda colorida passando na nossa frente. Mas não é o que vocês estão pensando não, “boceta” na Colômbia é o nome dos ônibus circulares que mais parecem aquelas jardineiras antigas, só que bem coloridas. São bem pitorescas.

Finalmente chegamos a Medellín, bastante atrasados, mas chegamos, vivos e inteiros. O táxi nos deixou no fornecedor e voltaria para nos buscar mais tarde.

Tivemos nossa reunião com o fornecedor, visitamos a fábrica e a seguir fomos almoçar com eles em uma churrascaria, nada parecida com as nossas, mas comemos uma boa carne.  Tudo conversado, eles nos deixaram em um Shopping local para que pudéssemos passar o tempo e comprar alguns produtos enquanto esperávamos pelo táxi.  Passeamos, compramos, comemos, gastamos um pouco de tempo e dinheiro.  O tempo passou e o táxi não chegou na hora combinada, ai ligamos para ele e ele ainda estava no inicio da serra, mas enfim ainda chegou a tempo de nos pegar e deixar no aeroporto ainda com tempo para nosso voo.

Foi mais uma hora de aventura na serra, mas como estávamos agora subindo, não foi tão ruim quanto descer.

Depois de mais uma hora de voo, de novo no tal Focker 50 a hélice, voltamos a Cali, já passava das 21:00 h.

Como de costume em viagens, mais surpresas.  Assim que saímos do aeroporto, era para haver um motorista de táxi contratado da empresa, o Sr José, mas como atrasamos muito, ele cansou de esperar e foi embora. Em função disto a colega de trabalho que estava comigo, ligou para o pai dela vir nos buscar, mas como ele já estava de pijama e levaria quase uma hora para chegar, ela resolveu pegar um táxi do aeroporto, mesmo sendo algum motorista desconhecido, podendo até fazer parte da guerrilha e ser um daqueles que pegam você e levam para algum lugar ermo para ser roubado ou sequestrado, mas fazer o que, eu era visita e não tinha muito o que fazer naquele momento, na realidade a minha preocupação e apreensão seria mais tarde um pouco, no meio do caminho, pois como a minha colega morava no meio do caminho entre o hotel que eu estava e a casa dela, ela me perguntou se haveria algum problema se o motorista a deixasse primeiro.  Porque a ideia inicial era ela ir junto comigo no táxi até o hotel e depois o motorista a deixaria em sua casa.  Logicamente mesmo com receio de ficar sozinho com o motorista do táxi, eu concordei, até por questão de cavalheirismo, pois não era certo deixar uma mulher ser deixada por último àquela hora da noite, pois já era perto das 22 horas.  Bom, como concordei em ser deixado depois, o motorista a deixou em sua casa e em seguida me deixou no hotel. Vocês nem imaginam o que aconteceu no meio do caminho.  Nada. É nada mesmo. Apenas trocamos poucas palavras e desci do táxi.  Antes disso a minha colega havia me convidado para jantar, mas novamente fui cavalheiro, pois embora eu até estivesse com fome, já era tarde para sacrificar uma colega de trabalho aceitando o convite.  Sendo assim chegando ao hotel, jantei novamente no restaurante do próprio hotel, só que desta vez pedi algo mais substancioso que somente salada, um filet a moda da casa, muito bom por sinal.

No dia seguinte, uma terça feira, era dia de trabalho, reuniões e mais reuniões nos escritórios de “Marketing” da empresa. Fui muito bem tratado e me senti como alguém muito importante, pois como naquela época eu era coordenador regional de desenvolvimento de embalagem e as reuniões eram para alinhar os projetos de embalagem de Higiene Oral e Primeiros Socorros que estavam em andamento. O que eu não esperava era encontrar os gerentes de produto e de marketing a minha disposição, muito bem preparados e com apresentações muito bem feitas para que pudessem me mostrar à logística e complexidade dos negócios da empresa naquele país.  Foram duas reuniões muito produtivas, pois a partir disto iniciamos uma grande parceria, afinal é melhor e muito mais fácil tratar com as pessoas pelo telefone ou por e-mail, quando você já teve com elas pelo menos um contato “face-to-face”, olho no olho, tendo a oportunidade de conversar pessoalmente de outros assuntos além dos profissionais. Eu que naquela época já arranhava bem o Espanhol participei das reuniões usando o meu rico “Portunhol”, que por sinal enganou muito bem, pois após as reuniões me perguntaram onde eu havia aprendido a falar tão bem.  Que piada, mas que bom, afinal deixei uma boa impressão ao deixar a empresa na Colômbia.  Antes das reuniões, logo na chegada á fabrica, eles me receberam e me levaram para conhecer as áreas produtivas, de desenvolvimento, de controle de qualidade etc. Após o almoço no “bandejão”, restaurante similar ao nosso aqui do Brasil, iniciamos a última etapa da minha viagem, que seria uma reunião específica de projetos, na realidade para discutir alguns itens pendentes e outros meio polêmicos, e finalmente naquela mesma noite eu voaria de volta ao Brasil.  Pelo menos era o que eu achava, eu nem podia imaginar o que ainda iria me acontecer à noite.  O meu voo para São Paulo sairia de Bogotá as 21:10 h e para chegar até lá eu deveria pegar antes um voo que sairia de Cali as 18:00 h. Tudo certo se a Cia aérea não fosse a que eu havia escolhido.  Quando falei, na realidade, no diante anterior para a minha colega, durante a viagem a Medellín que eu sairia de Cali no voo das 18:00 h, ela, categoricamente disse; - Você vai perder o seu voo para o Brasil. Por quê ?  Perguntei eu.  Ela respondeu: - Porque essa Companhia Aérea sempre atrasa e além do mais você tem que mudar de terminal. E para isso tem que retirar a sua bagagem, pegar um ônibus e fazer o “check-in”. Bom, sendo assim, ligamos imediatamente para a secretária dela e solicitamos a troca da passagem para as 16:00 h. Perfeito. Operação efetuada com um pequeno prejuízo de US$ 200, mas enfim eu achava que estava tudo resolvido e voltei a trabalhar. Do meio para o fim da minha última reunião, a Gerente da Área de Embalagem de lá, entrou na sala esbaforida e perguntou o que eu ainda estava fazendo ali, pois já eram 15:30 h, o táxi já estava lá na porta me esperando e eu iria perder o meu voo para Bogotá.  Eu realmente havia me envolvido com os assuntos da reunião e me esqueci do tempo e que havia adiantado a passagem para as 16:00 h. Acho que ainda estava pensando que o meu voo era as 18:00 h, por isso estava sossegado.  Em função disso, tive que encerrar rapidamente o que na realidade já era o último assunto e sair correndo para o táxi que teria que voar baixo até o aeroporto, que para sorte minha ficara longe do hotel, mas muito perto da empresa, algo em torno de uns 15 ou 20 minutos.  Por fim cheguei ao aeroporto de Cali ainda em tempo para fazer o “check-in” e pegar o meu voo que era para sair as 16:00 h. Como já era de se esperar e confirmando o que a minha colega havia me dito no dia anterior, o voo estava atrasado e ainda não tinha hora prevista para sair. Neste momento eu já comecei a ficar preocupado, mas só um pouco, pois justamente prevendo isso, eu havia adiantado o voo. Foi a minha sorte, pois o voo atrasou praticamente uma hora, mas como eu tinha duas horas de folga, fiquei tranquilo. Tranquilidade essa que não duraria muito tempo, pois nas próximas horas eu iria passar por uma das mais estressantes experiências da minha vida em viagens e aeroportos.

Enquanto eu esperava a hora do voo, fiquei andando pelo aeroporto e vendo os artigos locais a venda nas lojinhas e ilhas dos corredores, e os soldados colombianos armados parado nos cantos ou andando pra lá e pra cá, alguns com cachorros farejadores e outros em duplas.  Aproveitei para comprar algumas “bocetinhas”, miniaturas dos ônibus, para dar de presente.  Eu também iria aproveitar o tempo para ligar para o Brasil e falar um pouco com a minha família, isso logicamente se lá existissem telefones públicos que permitissem ligações para o Brasil com facilidade, o que não foi possível.  Finalmente chamaram meu voo, a espera foi pouca, mas como eu não gosto dessa parte da viagem, para mim pareceu uma eternidade. “Check-in” feito, malas despachadas, “boarding pass” na mão, vamos então para aquele que seria o penúltimo voo da minha viagem, depois de 12 dias fora do Brasil.

Embora saindo com atraso, o voo foi tranquilo e depois de mais um hora de voo chegamos para a última etapa da viagem.

Mesmo com uma hora de atraso ainda cheguei antes das 19:00 h, horário que o “check-in” abriria. E por sinal já havia uma fila enorme, com várias pessoas na minha frente, mas como isso faz parte de uma viagem, filas, filas e mais filas, ali fiquei, parado em pé e com as malas à minha frente no carrinho. Finalmente 19:00 h e a fila começou a andar lentamente. Após alguns minutos, cheguei ao primeiro balcão de atendimento, no meio da fila, por volta das 19:15 h, primeira surpresa, a atendente me perguntou, em Espanhol é claro, onde estava o recibo do imposto. Quando então eu imediatamente respondi repetindo: - Imposto ?  Que imposto ? Nem me lembro que imposto era, só sei que tinha que pagar o equivalente a US$ 25, para não ter que pagar a multa que era bem maior. Depois que me explicaram o que era e que eu tinha que pagar, logicamente eu concordei e peguei o dinheiro e quando eu fiz menção de entrega-lo, imediatamente a seguir a pessoa me disse: - Não é para mim, é lá no guichê.  Que maravilha, pensei.  E perguntei: - Que guichê ?  Onde fica ?  Então ela me mostrou um guichê que, para piorar ficava lá no fundo do saguão, praticamente o último. Sem opção, sai da fila e fui até lá, mas perdi o lugar na fila. Paguei e voltei para o fim da fila. Tudo de novo. Mais uns 15 minutos de fila eu estava no mesmo balcão novamente e com o imposto pago. Agora vai. Que nada, entreguei o passaporte e o recibo do imposto para a atendente e vem outra pergunta: Cadê a taxa de embarque ?  Taxa de embarque, eu repeti.  E respondi: - Não, nem sabia que tinha que pagar.  Onde é que tenho que pagá-la ?

Ela me respondeu: - No guichê no fundo do corredor.  Puxa vida pensei eu, de novo sair da fila e voltar para perto de onde eu havia ido minutos atrás. De novo, não, pois desta vez negociei com a atendente que eu voltaria para o mesmo lugar, pois seria injusto por falta de informação deles mesmo, eu ficar entrando e saindo da fila.

Bom, tudo negociado e concordado, fui pagar a tal taxa.  Lá ia eu de novo para o fundo do corredor e o guichê ficava realmente perto do que eu já havia estado e ainda bem que eu ainda tinha dólares, pois o pagamento era só em dinheiro. Paguei a taxa, peguei o recibo e voltei para a fila do check-in, só que agora para o meio da fila, com tudo na mão; é pelo menos eu achava que tinha toda a documentação para fazer o “check-in” e pegar o meu voo.  Engano meu, pois o problema que eu teria ainda nem tinha começado, eu não imaginava o stress que eu passaria em poucos minutos.  Na realidade já comecei a ficar estressado quando uma perua que estava na fila ficou olhando feio pra mim e reclamando porque entrei na frente dela, pois ela não se lembrava ou não presto atenção quando sai da fila, mas com autorização para voltar para o mesmo lugar e nem quis saber quando tentei explicar, continuou reclamando em Espanhol, acho que ela era dali mesmo.

Passado por essa pequena barreira e agora com toda a documentação aparentemente certa, passaporte, imposto, taxa de embarque e passagem na mão, agora era só aguardar a minha vez de fazer o "check-in" e despachar as malas.

Já passava das 20:00 h quando finalmente eu cheguei ao "check-in", ufa que alivio e que felicidade, afinal depois de tantos dias viajando, eu estava louco pra voltar para o meu país, para a minha casa e para a minha família. Feliz e confiante eu entreguei todos os documentos solicitados pela atendente, uma mocinha novinha, loirinha e muito simpática, e fiquei ali aguardando o meu “boarding pass” quando de repente ela me devolveu tudo e me disse em Espanhol logicamente: - O senhor não tem passagem. No que eu imediatamente respondi perguntando: - Eu não tenho o que ?  Passagem ?  Como não, veja ela aqui dentro do bloquinho de tickets.  Peguei o bloquinho e mostrei a ela, fazendo ela ler o número do meu voo de Bogotá para São Paulo. Ai então ela falou que aquilo era o “bói-bói” ou “vói-vói”, que até hoje eu não sei o que ela estava dizendo. Como eu não entendi nada continuei insistindo com ela que eu tinha sim uma passagem e ela continuou repetindo que aquilo era o tal do “bói-bói”, depois de alguns minutos de diálogo e já percebendo a impaciência dela vendo a fila crescer, finalmente ela explicou e eu entendi que o que eu tinha na realidade era a segunda via do meu bilhete, ou seja, a via carbonada. Mas eu continuava sem entender.  Pensei comigo “i u quico”, é, e o que eu tenho a ver com isso, sabia lá eu onde estava o bilhete que deveria estar ali.  Só neste momento então eu finalmente entendi, embora tarde, o que o atendente do “check-in” de Miami tentou me dizer. Pois na realidade ele já tinha visto que eu não tinha a primeira via do bilhete e tentou me avisar, mas infelizmente o meu Inglês não foi suficientemente bom para entender o que ele estava querendo dizer. O fato é que a atendente do aeroporto de Bogotá não prosseguiu com o meu embarque e me devolveu tudo. Já nervoso e apavorado, pois a hora estava passando e faltava menos de uma hora para o voo sair, perguntei a ela em Espanhol, ou melhor, em Portunhol o que significava não ter a primeira via do bilhete.  No que ela, com a maior tranquilidade, me respondeu: - Muito simples, sem esse bilhete você não entra no avião, ou seja, não voa para o Brasil. Ai então eu irei, fiquei mais nervoso e apavorado e repliquei: - Como não posso voar ?  Eu preciso voar, preciso voltar pra casa.  Estou cansado, viajando há 12 dias, morrendo de saudade da minha esposa e das minhas filhas e preciso voltar pra casa. Você tem que fazer alguma coisa.  Ela disse: - Não posso fazer nada. Insisti com ela: - Como não pode fazer nada ?  Alguém tem que fazer alguma coisa. Então ela me disse que o havia acontecido não era responsabilidade dela ou da companhia aérea para qual ela trabalhava e que eu fosse até ao balcão da companhia aérea pela qual eu cheguei até ali e reclamasse lá.  Mas pelo menos uma coisa de bom, ela me permitiu deixar as minhas 3 malas ao lado dela dentro do balcão para que não ter que ficar puxando elas de um lado para outro.  E os minutos passando, o meu batimento cardíaco aumentando e eu ficando mais nervoso ainda.  Larguei as malas e sai correndo pelo corredor procurando pelo balcão da outra companhia aérea.

Chegando ao balcão dessa outra companhia, tive que ficar ali parado em frente à atendente, pois ela estava ao telefone conversando calmamente, sem nenhuma pressa de me atender. Como não tinha muito que fazer, esperei meio que bufando, até que a senhora do outro lado do balcão resolveu levantar a cabeça e perguntar o que eu queria.  Expliquei a ela o que estava acontecendo, ela pegou toda a minha documentação e espalhou tudo na mesa que estava tão bagunçada e com tantos outros papéis que eu achei que acabaria ficando sem algum deles. Depois de analisar os meus documentos e conferir tudo, ela pegou o telefone e ligou para o “check-in” do aeroporto de Cali de onde eu tinha vindo e perguntou se por acaso a primeira via da minha passagem havia ficado por lá por engano. Com a maior tranquilidade ela simplesmente me respondeu que não estava lá e que ela não poderia fazer mais nada. Novamente a minha casa caiu e o nervoso aumentou.

Eu então perguntei o que eu deveria fazer. De novo com a maior tranquilidade ela me respondeu: - Vai reclamar lá na outra companhia aérea. Eu já não sabia mais o que fazer, pois nem os meus documentos ela tinha devolvido, pegou o telefone e começou a discar.   Enquanto isso ficou olhando pra mim e repetiu que eu fosse reclamar na outra companhia. Já que não tinha jeito, concordei e pedi a ela que, por favor, me devolvesse os meus documentos.  Como já era de se esperar, como estava tudo espalhado no meio da bagunça, ela só devolveu a metade. E a hora passando, já era quase 20:30 h, e o voo era as 21:10 h. Falei pra ela que estavam faltando documentos, ela disse que já tinha devolvido tudo, eu insisti, ela resolveu procurar na mesa, da qual eu não tirava o olho, pois dali eu podia ver o que estava faltando e não podia perdê-los de vista. Finalmente ela me devolveu o que estava faltando e eu voltei correndo para o “check-in”, não exatamente correndo, mas andando depressa, pois com tantos guardas do exercito colombiano circulando por lá, poderiam pensar que eu estava fugindo de alguma coisa. Chegando de volta ao “check-in” do meu voo, me dirigi novamente a mesma atendente e contei a ela o que havia acontecido no balcão da outra companhia. Ela novamente repetiu que não podia fazer nada e que eu não voaria, pois não tinha passagem. Eram 8:40 h e o meu sangue subiu e eu, sem ser grosseiro, comecei a me alterar e falei pra ela que eu não tinha nada a ver com essa história, que eu não tinha culpa se alguém havia retirado por engano a primeira via da minha passagem de volta para o Brasil e que se alguém era responsável era alguma colega dela de algum outro “check-in” e que ela tinha que fazer alguma coisa. Ela repetiu que realmente não podia fazer nada. E tudo isso em Espanhol, imaginem só, as vezes já é difícil argumentar em Português, quando mais em outra língua.  Os minutos continuavam a passar e eu ficando mais nervoso e apavorado, pois eu estava começando a achar que realmente perderia aquele voo e teria que dormir ali mesmo até o dia seguinte ou sei lá onde. Foi então que eu dei a tacada final e falei a ela: - Se você não pode fazer nada, alguém tem que fazer alguma coisa. Por favor, me ajude. Ai finalmente ela me disse então indicando uma porta atrás dela:  - OK entra ali e tente falar com a minha supervisora e veja se ela pode fazer alguma coisa pra te ajudar.  Eram 21:50 h. Faltavam 20 minutos para o voo sair. Entrei na sala e me dirigi a ela tentando começar a falar, mas ela, assim que me olhou, me pediu para esperar um minuto, pois estava atendendo uma pessoa e tinha outra esperando. A cada minuto eu olhava para o relógio e o desespero aumentava, pois fiquei imaginando que a essa altura as pessoas do meu voo já deviam estar entrando na aeronave. Mas até que não demorou muito, rapidamente ela liberou a pessoa que estava atendendo, passou para a segunda pessoa, que graças a Deus foi mais rápido ainda e finalmente se dirigiu a mim e perguntou o que eu desejava. Agora pensei, finalmente alguém vai resolver o meu problema. É, mais ou menos, mas antes disso eu ainda sofreria muito em pouquíssimos minutos, pois assim que relatei a ela o que estava acontecendo, já mostrando a ela a folha do meu plano de viagem enviado pela agência que cuidou da minha viagem, onde mostra em detalhes todos os horários, itinerários, números de voo, hotéis, etc, ela teve a cara de pau de me falar: - Porque você não liga para essa empresa aqui ? ( apontando para o nome da agência )  Quem sabe eles não resolvem o seu problema.  No que imediatamente eu respondi: - Porque essa agência fica no Brasil e há essa hora já está fechada. E continuei argumentando com ela. Eu disse a ela: Veja bem esse papel, a senhora há de convir comigo que eu realmente tinha uma passagem e que se alguém de alguma companhia aérea retirou por engano a primeira via da minha passagem, eu não poderia ser responsabilizado, nem muito menos penalizado por isso. Bom, pelo menos nessa hora ela parou pensou e teve que concordar comigo: - É realmente o senhor tinha uma passagem, aqui mostra que está tudo certinho. E continuou: Bom, já que é assim e vamos fazer uma coisa, eu vou emitir um novo bilhete, mas com a seguinte condição, o senhor terá que pagar uma taxa de US$ 50 e assinar um documento se responsabilizando em pagar outra passagem caso alguém tenha roubado o seu bilhete e venha a usá-lo.” No que eu concordei imediatamente e disse: “- Tudo bem, mas pelo amor de Deus, faz isso logo, pois o meu voo sai daqui a poucos minutos, precisamente as 21:10 h.” Tudo acordado e concordado, finalmente ela pegou um talão, uma caneta e um óculos fundo de garrafa, que para desespero meu, mesmo com usando quase uma lupa, ela começou a escrever, à mão o novo bilhete de forma bem devagar e com o nariz quase encostado no papel. Ela devia ter uns 200 graus de miopia. Mas pelo menos, era a primeira vez naquelas últimas horas, que eu comecei a achar que teria uma chance, mesmo vendo que faltavam somente 10 minutos para o avião fechar as portas e decolar. Finalmente ela acabou de preencher o ticket e me acompanhou até o "check- in", só que agora pelo lado de dentro mesmo, interrompendo a atendente, me passando na frente de todos os outros e pedindo para ela fazer o meu “check-in” imediatamente, pois o avião fecharia a porta em poucos minutos e se isso acontecesse, já era a minha volta. Que sufoco! O meu coração já estava na garganta, eu já não conseguia raciocinar e nem muito menos enxergar o que estava a minha volta quando ela me devolveu toda a minha documentação, só que agora com o “boarding pass” dizendo, tudo certo, agora você pode ir. Legal, ir pra onde? Perguntei eu, pois eu nem sabia para que lado deveria ir. Ela então indicou uma escada ao lado dos balcões, dizendo que logo após subir eu encontraria uma porta de entrada para os portões de embarque. Nem precisou falar duas vezes, peguei a mala que restou e sai correndo em direção à escada. Só que chegando lá em cima, havia um salão, não com uma porta, mas com duas, uma logo a frente outra ao lado. Em cada uma delas um guarda armado na frente impedindo a passagem. Fui logo correndo em direção àquela que me pareceu lógica, ou seja, a que estava bem à frente, mas como não podia deixar de ser... Bingo!  Errei, pois não era aquela, era a outra. Ainda bem que só restava a opção certa e agora não tinha mais como errar. Pensei então nesses últimos segundos, agora é só passar por essa porta e embarcar. Novamente me enganei!  Assim que me aproximei da porta o guarda já levantou sua espingarda, carabina, rifle, fuzil AR15 ou coisa parecida, me impedindo de passar. Mas em segundos e mostrando a ele todos os meus documentos e disse a ele que o meu voo estava quase saindo que eu tinha que correr para não perdê-lo, pois faltavam apenas 5 minutos. Como estava tudo certo, ele me deixou passar sem mais questionamentos. Ah, que coisa boa, eu estava começando a acreditar que não perderia o voo, afinal era só entrar e me dirigir ao portão 9, que na minha cabeça era logo ai atrás da porta. Mas a Lei de Murphy, sempre presente nessas situações, não podia deixar de estar ali também, pois assim que passei pela porta e comecei a andar pelo corredor de embarque e procurar o portão 9, a única coisa que vi foi portão 1, ou seja, o meu portão de embarque ainda estava a muitos passos dali.  Então, sai andando muito depressa, pois com tantos soldados armados ali, nem correr eu deveria, pois poderia chamar a atenção e vai que eles decidem me pegar e me interrogar, e ai a vaca iria definitivamente para o brejo. Nesse momento comecei a contagem regressiva, portão 1, portão 2 e eu correndo e desviando das pessoas, portão 3, portão 4, a minha mala de rodinhas vira de lado e começa a arrastar, portão 5, portão 6, endireitei a mala e segui em frente, portão 7, portão 8, continuei correndo e comecei a sorrir, pois finalmente avistei o portão 9 e uma aeromoça segurando a porta do avião e olhando pra mim, continuei sorrindo, só que agora com mais intensidade, finalmente entrei, agradeci e ela imediatamente fechou a porta. Para tranquilidade minha o meu assento era logo no inicio da aeronave que já estava com todos devidamente sentados e acomodados.  Coloquei a minha mala no bagageiro, sentei, afivelei o cinto e comecei a dar risada com os olhos cheios de lágrimas, pois eu ainda não estava acreditando que eu estava voltando pra casa e que todo o sofrimento que passei, tinha ficado pra trás e graças a Deus, sem deixar nenhum trauma ou prejuízo maior, mas apenas a experiência de viagem, pois ao passar por essa situação, pelos menos três coisas eu aprendi: a primeira foi prestar mais atenção quando alguém, principalmente em outra língua, tentar me avisar de alguma coisa, como foi o caso do atendente do aeroporto de Miami, a segunda foi verificar sempre se o tempo de conexão será suficiente e a terceira e mais importante, se sua passagem for impressa e tiver tickets a serem destacados, sempre verificar se não tiraram tickets a mais que poderão me fazer passar por tudo isso novamente.

Depois de passar por tudo isso deixo aqui um versículo Bíblico:

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam”. Salmo 23:4

F I M