PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 09.01.2004, horário: 11:00 horas:

Estava no Restaurante do Ney (“Conjunto Comercial Ceisa Center” – centro de Florianópolis). Ney não deixou que eu ficasse sozinho um minuto sequer, sempre puxando assunto de forma animada:

- “O teu amigo ficou uma hora sozinho aqui lendo jornal no canto. Eu disse para ele sentar ali porque se não o pessoal não iria deixar ele em paz. Na hora eu lembrei de ti...”.

Ney estava se referindo ao Deputado Gilmar Knaesel, brigado com Esperidião Amin, filiado ao PSDB, que havia sido nomeado Secretário de Estado do Turismo no governo Luiz Henrique da Silveira (PMDB). Em seguida Ney afirmou:

- “Quem esteve aqui na sexta-feira foi aquele Delegado lá que trabalha com o Blasi. Como é mesmo o nome dele?”

Completei:

- “Ah, sei. O Laurinho André”.

Ney continou:

- “Isso. Precisa ver. Ele chegou aqui falando: ‘Essas meninas andam por aí com um vestidinho bem curto provocando os homens. É uma vergonha! Depois ficam mentindo e as pessoas de bem é que pagam. O Secretário não tem nada haver com essas mentiras aí nos jornais, ficam querendo envolver o nome dele nessa festa do bordel lá em Joinville só pra prejudicar as eleições dele...’. Tu vê cara, ele veio com esse papo, o que tu achas, ele é sério...?” 

Argumentei:

- “Ele falou isso para ti? Mas não tem nada haver com o que realmente aconteceu. Eu acho que eles pensam que as pessoas não tolas, que elas não leem jornais, não pensam. Mas tudo bem, o ‘Laurinho’ é Chefe de Gabinete do Blasi e se o homem cair ele tem tudo a perder. Ele é aposentado e está em cargo de confiança. A filha dele também é policial e está em cargo comissionado, então tu imaginas que saia justa desse pessoal...”.

Ney me interrompeu:

- “É, e ainda tem o genro dele que é Delegado e está lá em Urubici. Ele falou...”.

(...)”.

A “festa no bordel” continua rendendo na mídia: Secretário Blasi parte para a ofensiva e diz que tudo foi uma “armação política”?

Escândalo: Blasi na ofensiva - Ainda abalado com a intensa repercussão popular e política do escândalo da boate ‘Marlene rica’, em Joinville, o secretário João Henrique Blasi decidiu partir para a ofensiva, ao contestar o relatório do comissário Miltom Francisco da Silva, reiterando que não estava presente na festa da cúpula da segurança.  Aguarda para hoje um documento do Norte do Estado informando que a força-tarefa nunca estivera antes na famosa casa noturna e que não retornou após o flagrante nas principais autoridades policiais do governo. A segunda providência será a interpelação judicial contra o comissário que o acusou. Vai indagar não apenas que provas têm da presença do secretário na festa policial, como outras dúvidas não esclarecidas, que o convencem de armação política. O episódio continua repercutindo em todos os segmentos da opinião pública. Suas consequências são imprevisíveis. O procurador geral de Justiça, Pedro Steil, deve indicar esta semana o promotor de Justiça que vai coordenar todas as investigações. Tramitam hoje dois processos no Ministério Público Estadual sobre a ocorrência. O secretário Blasi fixou-se numa prioridade: resgatar seu nome. Isso seria possível com a comprovação de que não estava presente na boate e com ações de responsabilização contra os que o estariam acusando. Passada esta etapa, faria uma avaliação sobre os prejuízos políticos e eleitorais, aí incluído o projeto da candidatura à Prefeitura de Florianópolis. Como as oposições não darão tréguas às autoridades, pela gravidade das denúncias, o explosivo escândalo tem tudo para atravessar o ano. O deputado Blasi está neste momento fragilizado dentro e fora do governo” (A Notícia, Moacir Pereira, 9.2.2004).

Festa no bordel: prostituição infantil? Exageros? Exploração política? Presença do Secretário Blasi na “Casa da Marlene Rica”? Ministério Público (leia-se: Promotor César Augusto Grubba) arquiva a investigação!

“Caso que culminou com o afastamento de comandante da PM será levado à CPI da Prostituição Infantil - Florianópolis ­ A denúncia de abuso de autoridade envolvendo a cúpula da segurança pública de Santa Catarina começa a repercutir essa semana em Brasília. O deputado federal Leodegar Tiscoski (PP) se reúne amanhã com a senadora Patrícia Gomes (PPS-CE), presidente da CPI da Prostituição Infantil no Congresso Nacional. Ele quer que a comissão parlamentar de inquérito peça esclarecimento ao governo catarinense sobre a possível obstrução de uma força-tarefa que cumpria determinação judicial para averiguar a denúncia de exploração sexual infanto-juvenil na boate ‘Marlene rica’, uma conhecida casa de prostituição de Joinville, no Norte do Estado. ‘É preciso esclarecer esse caso que desmoraliza a Polícia Militar de Santa Catarina. Vamos brigar até o fim’, argumentou ontem o parlamentar, que prometeu trabalhar em conjunto com a bancada estadual. Oposição ao governo de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), o Partido Progressista catarinense já anunciou que assim que a Assembleia Legislativa voltar do recesso vai defender a abertura de uma CPI para apurar o assunto. O deputado estadual Antônio Carlos Vieira (PP) foi o primeiro progressista a levantar a hipótese de apelar à comissão parlamentar de inquérito nacional para ajudar na elucidação do episódio. Os deputados da situação acham tudo isso um exagero. ‘Não houve nada de errado. Não cabe a nós julgarmos o procedimento dele (coronel Paulo Conceição Caminha, acusado de impedir a operação da força-tarefa)’, declarou semana passada o líder do PMDB na Assembleia, Rogério ‘Peninha’ Mendonça. ROTINA - Apesar de tudo, o governo quer manter um ar de normalidade na administração. O governador em exercício, Eduardo Pinho Moreira (PMDB), recebeu instruções do titular Luiz Henrique da Silveira (PMDB) para manter inalterada a rotina de trabalho. Os dois conversaram no sábado. Luiz Henrique está em Nova York (EUA) em férias, aperfeiçoando o seu inglês. ‘Esse acontecimento não vai prejudicar o nosso trabalho. Vamos preservar as atividades programadas para essa semana’, afirmou ontem Pinho Moreira, que voltou a classificar de falta grave a presença do coronel Caminha na boate na madrugada de 29 de novembro, como admitiu o próprio oficial em entrevista gravada pela reportagem de A Notícia duas semanas atrás. Caminha é acusado pelo comissário da Infância e Juventude de Joinville Milton Francisco da Silva, em documento enviado ao juiz Alexandre da Rosa em 30 de novembro de 2003, de impedir a operação na porta da boate. O oficial ainda teria dito, segundo a denúncia, que o secretário estadual de Segurança Pública e Defesa do Cidadão estaria dentro da casa. Os dois negam a acusação. O processo que investigou a possível presença de João Henrique Blasi na boate foi arquivado pelo Ministério Público Estadual” (A Notícia, 9.2.2004).

Os políticos e as alcovas, lembrando “Pedrinho” (restaurante na Praia da Ubatuba – São Francisco do Sul): “aquela mulher já derrubou muita gente!”

“Perigosas ligações - Ao longo do tempo policiais e políticos sempre tiveram intimidade com a alcova de elegantes prostíbulos onde, muitas vezes, importantes decisões erram tomadas, para o bem ou para o mal. Conta a lenda que conhecido personagem da segurança e também político de uma cidade da região Norte do Estado foi convidado para a inauguração de uma nova casa em determinado endereço de um bairro da periferia com saída para a BR-101, conhecida por abrigar vários estabelecimentos do ramo. A casa toda moderna, com belas jovens, muitas contratadas de outras regiões do País, teve em sua inauguração direito a cerimonial, discursos e descerramento de placas. Para surpresa do doublé de político e policial, na placa, o principal homenageado era ele, com nome completo e o cargo que ocupava. Discretamente chamou a dona da casa e cochichou: ‘queres acabar com a minha reeleição? Amanhã não quero mais ver essa placa aqui’"(A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 9.2.2004).

Repercussão nacional:

“Repercussão - O escândalo da segurança pública em Santa Catarina teve repercussão nacional no fim de semana. - O ‘Jornal da Globo’ veiculou uma reportagem especial sobre o afastamento do comandante geral da Polícia Militar. E os jornais do Rio e de São Paulo trouxeram várias matérias sobre o explosivo tema” (A Notícia, Moacir Pereira, 9.2.2004).