PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 15.10.2003, horário: 14:00 horas:

Havia acabado de chegar na “Assistência Jurídica” e encontrei Valquir sentado no computador com a policial Suzana Halffe ao lado. Logo que entrei já me deparei com ele fazendo sua saudação característica:

- “Doutor Felipe!” 

Procurei me acomodar com um copo de água gelada na mão e controlando o meu suor depois de uma “pernada”.  A seguir, passados alguns minutos Valquir terminou o serviço que estava fazendo no computador e iniciamos uma conversa. Perguntei:

- “Como é que está a nossa aposentadoria?”

Valquir respondeu:

- “Estamos aguardando. Vamos ver se o governador assina”.

Perguntei:

- “Sim, vai ser por meio de decreto?”

Valquir respondeu:

- “Não. Não precisa. Basta apenas assinar um documento dizendo que concorda”. 

Fiquei pensando nos problemas na área da Justiça, pois se o governador não concordasse poderia dar um jeito de segurar tudo e lancei uma indagação:

- “Sim, vamos ver se sai antes da ‘reforma da previdência do Lula?”

Valquir argumentou:

- “Não precisa. Eles não vão mexer no artigo que trata sobre as aposentadorias especiais, como é o nosso caso. A Polícia Federal já se garantiu também, é o artigo trinta. A Polícia Federal conseguiu manter a lei complementar cinquenta e um, aquela...”.

Concordei com o raciocínio e argumentei:

- “É, quem começou com tudo isso foi o Esperidião Amin e aquela curriola que estava por aqui... Também, o Mário estava lá na Adpesc e se omitiu nessa questão...”.

Valquir:

- “É, eles foram omissos, ainda bem que... Nessa brincadeira eu que faltava apenas nove meses para completar os trinta anos, cheguei a ficar doente. Fiquei trinta dias sem vir trabalhar. Conversei na época com o Moreto. Ele era mais novo que eu, mas conseguiu provar que trabalhou cinco anos na enxada... Ele conseguiu aquela lei rural e se aposentou. Eu, por causa de nove meses, acabei ficando. Cheguei a me perguntar: ‘por que o meu pai não deu uma ‘t.’ com a minha mãe nove meses antes, aí eu teria o tempo”.

 

Procurei amenizar a situação e argumentei que com o meu pai aconteceu a mesma coisa. Quando começou a trabalhar a aposentadoria era aos vinte e cinco anos e depois mudaram para trinta e cinco na época da “ditadura militar”. Valquir completou:

- “Depois baixaram para trinta anos e agora mudaram novamente”.

Questionei se ainda eles estavam aceitando averbação de tempo de serviço militar, academia... Valquir respondeu que sim e perguntou quanto tempo estaria faltando para mim completar o interstício aposentatório. Respondi que pouco tempo. Então ele insistiu querendo saber quantos anos eu tinha de idade. Respondi que quarenta e dois, a mesma idade da Suzana. Valquir não acreditou e disse:

- “É, eu estou ficando velho mesmo. Estou com cinquenta e um. Estou ficando velho. Não sou mais o mesmo. Depois que eu torci o pé, e ainda tive um encolhimento. Mas não diga que tu só tens quarenta e dois?”

Suzana do outro lado intercedeu:

- “É, e no dia vinte e dois ele faz quarenta e três anos”.

Valquir ainda lembrou o caso do Delegado Lourival Mattos, com quase setenta anos, câncer de próstata, ainda trabalhando e vaticinou:

- “Pra que, heim? Pra que isso? É para o ego dele?”

Respondi que era para atazanar a vida de um monte de gente e assim ocupar o tempo dele, ao invés de ficar em casa. Valquir pediu que depois eu subisse para conversar com o Delegado Tim Omar a respeito de uma proposta de criação da Delegacia Especializada de combate aos assaltos à relojoarias, joalherias, óticas...  

Horário: 17:00 horas:

Por volta de dezessete horas resolvi ir até o Gabinete do Delegado Tim que estava ao telefone. Aguardei alguns instantes. Logo que encerrou a ligação começamos a conversar sobre a situação da aposentadoria dos policias civis.  Lembrei que tudo começou no governo passado. Tim argumentou que Lipinski era um homem preparado. Tratei de interromper o raciocínio de Tim para dizer: “Preparado no que, Tim? Eu não gosto de pessoas que ‘t.’. O governo Amin empurrou goela abaixo a mudança da nossa aposentadoria e eles o que fizeram? Ficaram quietos. Aceitaram tudo pacificamente. Tá  aí o Valquir, imagina todo o sofrimento dele, enquanto na maioria dos Estados os policiais continuam a se aposentar aos trinta anos...”.

Tim interrompeu com sua ‘tosse’ característica que mais parecia pigarro ou alguma outra doença alérgica:

- “É mesmo? Eu achava que ele era um preparado. Um estudado e me perguntava como é que ele permitiu que fizessem tudo o que fizeram?” 

Continuei:

- “Ainda bem que eu escrevi um livro sobre a administração essa gestão”.

Tim ficou motivado e perguntou:

- “Escrevestes mesmo?”

Continuei:

- “Sim. São algumas dezenas de páginas. O Lipinski praticamente ‘ignorou’ o Conselho Superior da Polícia Civil. Fez quase que uma reunião por ano. Imagina, e o Conselho ficou desprestigiado... As promoções foram não foram realizadas, não houve concursos, só no finalzinho.  Dizem que ele procurava fazer tudo prestando contas para o Ministério Público, eles não podiam ver um Promotor... Eu lembro uma reunião do Conselho quando o Lipinski disse para todos que o Secretário Chinato vestia a camisa da Polícia Civil..., imagina (acabei esquecendo de citar o caso da Lei Orgânica do Ministério Público)?  Depois teve aquele concurso, ficaram criticando os concursos passados e deu no que deu. O Ademar Rezende na época falava que eles achavam ainda que estavam abafando, pode? E os reajustes que o governo deu para os Delegados? Não fizeram nada nesse sentido. O Mário na Adpesc virou as costas e foi empurrando com a barriga, depois quis bater de frente com o Lipinski para fazer média...”

Tim interrompeu:

- “Pô, falando no Ademar tu soubestes o que o Lipinski fazia com ele? O Ademar contou que algumas vezes que procurou conversar com ele recebeu um chá de cadeira. Depois o Lipinski recebia o Ademar e conversava com ele quinze minutos sem encará-lo, que falta de consideração. O Ademar não te contou?”

Respondi que não sabia de nada.. Acabei lembrando que Dirceu Silveira poderia ir no mesmo caminho que Lipinski, afinal, acabam se acostumando com o poder, perdem a humildade, se enchem de egos e acabam dando vazão aos instintos mais primitivos. Tim concordou meus argumentos e apanhou na sua mesa uma proposta de criação da Delegacia Especializada de combate aos crimes em joalheria e foi argumentando:

- “Isso parece brincadeira. Sou muito amigo do Peixoto. Gosto muito dele, mas será que ele não leu isso? Que vergonha!”

Li a proposta, a começar pelo parecer do Delegado Padilha (Diretor da Deic) e argumentei:

- “É, o Padilha já disse tudo: falta pessoal, faltam recursos, é inviável. Eu não sei como é que o Peixoto mandou isso?”

Horário: 17:00 horas:

Resolvi ir até o Gabinete do Delegado Tim que estava ao telefone. Aguardei alguns instantes. Logo que ele ficou liberado começamos a conversar sobre a situação da aposentadoria dos policias civis.  Lembrei que tudo começou no governo passado. Tim argumentou que Lipinski era um homem preparado. Interrompi para afirmar:

- “Preparado o por que, Tim? Eu não gosto de pessoas que ‘t.’. O governo Amin empurrou goela abaixo a mudança na nossa aposentadoria e eles o que fizeram? Ficaram quietos. Aceitaram tudo pacificamente. Tá  aí o Valquir, imagina todo o sofrimento dele, enquanto na maioria dos Estados os policiais continuam a se aposentar aos trinta anos...”.

Tim interrompeu:

- “É mesmo? Eu achava que ele era um homem preparado. Um estudado e me perguntava como é que ele permitiu que fizessem tudo o que fizeram?” 

Continuei, percebendo o que ele talvez quisesse me dizer:

- “Ainda bem que eu escrevi um livro sobre esses tempos”.

Tim pareceu motivado, seus olhos brilharam e ele perguntou:

- “Escrevestes mesmo?”

Continuei:

- “Sim. São dezenas de páginas sobre aquela época. O Lipinski ignorou o Conselho Superior da Polícia Civil. Fez basicamente uma reunião por ano. Imagina, desprestigiou o órgão. As promoções foram um desastre.  Dizem que ele procurava fazer tudo que o Ministério Público queria, eles não podiam ver um Promotor... Eu lembro uma reunião do Conselho quando o Lipinski disse para todos que o Secretário Chinato vestia a camisa da Polícia Civil..., imagina (acabei esquecendo de citar o caso da Lei Orgânica do Ministério Público)?  Depois teve aquele concurso só no final do governo..., ficaram criticando os concursos passados e deu no que deu. O Ademar Rezende na época falava que eles achavam ainda que estavam abafando, pode? E os reajustes que o governo deu para os policiais? Não fizeram nada. O Mário na Adpesc virou as costas...”

Tim interrompeu para dizer:

- “Pô, falando no Ademar tu soubestes o que o Lipinski fazia com ele? O Ademar contou que algumas vezes que procurou conversar com ele e só recebia chá de cadeira. Depois o Lipinski recebia o Ademar e conversava com ele quinze minutos sem encará-lo, que falta de consideração. O Ademar não te contou?”

Respondi que não tinha conhecimento desses fatos. Acabei lembrando que Dirceu Silveira poderia ir no mesmo caminho de Lipinski, bastava se acostumar com o poder, dar vazão ao ‘ego’, perder a humildade... Tim concordou e pegou na sua mesa uma proposta de criação da Delegacia Especializada de combate aos crimes em joalheria e passou a argumentar:

- “Isso parece brincadeira. Sou muito amigo do Peixoto. Gosto muito dele, mas será que ele não leu isso? Que vergonha...!”

Li a proposta, a começar pelo parecer do Delegado Padilha (Diretor da Deic) e argumentei:

- “É,  o Padilha já disse tudo: falta pessoal, faltam recursos... é inviável. Eu não sei como é que o Peixoto mandou isso?” 

(...)”.

Data: 17.10.2003 – “Discursos políticos e jogo de vaidades?”:

O assunto segurança rende até discursos políticos:

“Prorrogou - Vereador Zulmar Valverde (PT) requereu a prorrogação por mais 30 dias dos trabalhos da comissão especial que procura diagnosticar os problemas relacionados às drogas em Joinville. Detalhe é que o município virou pólo de distribuição de drogas para as cidades vizinhas. Assunto e campo para investigar nessa área é que não falta, imagina, certamente, o delegado que é do ramo” (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 17.10.2003).

Data: 22.10.2003:

“Drogas - Vereador Zulmar Valverde (PT) reúne hoje, às 10 horas, no Legislativo Municipal, a imprensa para relatar as atividades da comissão que preside, que levantou aspectos do tráfico de drogas no município”  (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 22.10.2003).