PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 11.04.2004:

“Férias legais - É certo que boa parte dos cerca de 500 funcionários públicos estaduais, dos quais a metade policiais civis e militares, que pediram desincompatibilização de suas funções para concorrer às eleições municipais deste ano, receberão menos de dez votos nas urnas. A muitos a única intenção de pedir afastamento foi ficar seis meses de férias. E com salários em dia. Nada mais”  (A Notícia, Raul Sartori, 11.04.2004).

Data: 13.04.2004, horário: 12:00 horas:

Estava na “Churrascaria Viapiana” localizada às margens da BR 280, na  cidade de Araquari, em cujo local encontrei o policial Adelson Westrupp. Perguntei sobre as novidades e ele disse que não sabia de nada. Durante o almoço argumentei que preferia que Dirceu Silveira permanecesse no cargo porque pelo menos ele não era perseguidor, ao contrário de outros. Adelson concordou. 

Horário: 16:15 horas:

Constatei que havia duas chamadas no meu celular com o número do telefone da Chefia da Polícia Civil. Logo imaginei que deveria ser alguém do Gabinete ou da “Assistência Jurídica” querendo conversar comigo. Liguei a cobrar para o meu número (9014482515260) e do outro lado Zusana Halffe atendeu:

- “Oi doutor Felipe!”

Aliás, Suzana me surpreendeu positivamente como pessoa, apesar do que os outros comentavam ou pensavam. Perguntei sobre as novidades e ela foi direta a outro assunto bem diferente: 

- “Então o senhor não sabe, até ontem estavam falando que o doutor Thomé é que iria assumir no lugar do doutor Dirceu. Até ontem era o doutor Thomé. Dizem que já estava tudo certo. Mas hoje ninguém falou mais nada. O doutor Dirceu desde ontem que não vem mais trabalhar. Ele não está mais despachando. Mas hoje ninguém fala nada. O doutor Peixoto é que está despachando lá em cima...”.

Data: 15.04.2004, horário: 12:30 horas:

Estava almoçando próximo da Delegacia de Polícia de Araquari quando chegou o policial Adelson Westrupp, responsável pelo expediente daquela repartição. Logo que meu viu Adelson veio até minha mesa e sentou-se com seu prato bastante farto e foi relatando:

- “Acabei de chegar de Lages. Fui levar um preso. O doutor Ivan (Brandt) não pôde ir, estava ocupado em São Francisco. Ontem eu tinha ido dormir na minha residência, não aqui em Araquari, em Joinville. Tinha acabado de dormir e estava me preparando para deitar quando o telefone tocou. Acabei de chegar...”.

Resolvi perguntar como é que estavam as coisas e Adelson foi de pronto respondendo:

- “Tem dois nomes. O senhor já havia me dito, lembra? Um é o doutor Thomé e o outro...”.

Adelson ficou em silêncio alguns instantes tentando lembrar o nome e eu dei uma ajuda:

- “Sei, sei, é o Feijó”.

Adelson confirmou:

- “Isso! O outro é o Feijó. Sabe como é, o Marcucci se licenciou para sair candidato a vereador e o pessoal aqui está fazendo a cabeça do Deputado Nilson Gonçalvez. Conhece aquele termo ‘carne de pescoço’? Pois é, eles estão fazendo a cabeça do Nilson de que o Marcucci é ‘carne de pescoço’  e que ele não vai fechar mais com o Nilson depois que se eleger Vereador”. 

Interrompi para perguntar:

- “Sim, mas quem é esse pessoal que está fazendo a cabeça do Nilson Gonçalves?” 

Adelson explicou:

- “Um deles é o Leonel França. O Leonel França é um dos assessores do Deputado Nilson Gonçalves, ele é quem fazia todas as reportagens com o Marcucci e passava para o Nilson no programa de rádio dele. Eu sei que um dia o Leonel se desentendeu com o Marcucci por causa de uma reportagem e disse para o Deputado para colocar outro porque ele não queria mais saber do Marcucci. Então pelo o que estão dizendo parece que o negócio agora é o PMDB se fortalecer, ocupar os espaços possíveis por causa das eleições municipais. Então está havendo um acerto para se colocar o Dirceu na Regional de Joinville no lugar do Marcucci. Isso até para ele receber uma compensação já que foi tirado da Chefia de Polícia, é o que dizem por aí. Mas o Marcucci não volta mais para a Regional. A Lucimar já veio para Joinville com mala e cuia. Ela já está aqui doutor...”.

Interrompi novamente para perguntar:

- “A Lucimar é a mulher do Dirceu?”

Adelson respondeu:

- “Isso, ela é a esposa do Dirceu. É filha daquele vereador que o Marcucci fez aquele rolo, o senhor sabe?”

Confirmei:

- Ah, sim. Sei, agora lembro! A Lucimar é filha do  Vereador Bizzoni amigo do Governador Luiz Henrique!” 

Adelson continuou:

- “A Lucimar já veio com mala e cuia, mais a filhinha deles”.

Interrompi para perguntar:

- “Eles têm uma filha, qual é o nome dela, sabes?”

De pronto Adelson respondeu:

“Não sei, mas eles têm uma filhinha. A Lucimar trabalhava lá num gabinete de um deputado na Assembleia Legislativa. Eu sei que é rolo dos Deputados, ela era funcionário do Deputado Adelor Vieira que se elegeu Federal e acertou para ela ficar com um deputado lá na Assembleia Legislativa. Eu sei que ela estava por lá fazendo não sei o quê!” 

Interrompi para fazer um desabafo:

- “Como é que pode a política, né,  mas Adelson tu estais vinculado a algum deputado?”

Adelson deu uma risada e continuou:

- “Não. Nas últimas eleições eu trabalhei para o João Rosa, cruzes, mas agora não! O deputado da região é o Nilson Gonçalves do PSDB, mas não tenho ninguém exatamente. O pessoal está torcendo para o doutor Dirceu assumir aqui a Regional, acho que agora ele vai lembrar mais de mim, pelo menos acho”.

Fiz um comentário:

- “É, não é fácil. Queres conhecer um homem dê poderes a ele. Mas o Dirceu pelo menos tem uma virtude: não perseguiu ninguém, só que a história dele foi triste, o legado dele foi péssimo! Esse é o problema da politicagem no preenchimento de cargos. Agora é o Thomé e o Feijó que estão se digladiando pelo cargo de Chefe de Polícia. O Feijó de um lado procurando políticos e do outro o Thomé...”.

Adelson interrompeu:

- “Dizem que o nome do Feijó é muito forte. Ele uma vez disse que se o Eduardo Pinho Moreira viesse a ser Governador ele seria o Secretário da Segurança. Dizem que ele tem parentesco com o Eduardo Pinho”.

Interrompi:

- “Sim, isso é muito relativo. Eu também sou parente da mulher do Eduardo, mas isso não significa nada. Ás vezes Adelson um amigo consegue muito mais”.

Adelson concordou:

- “Eu sei. Eu entendo, mas ele é forte”.

Continuei:

- “Na Capital o ‘Blasi’ está fraco como candidato a Prefeito. Não lesses ‘A Notícia’ hoje? Pois é, o Secretário já está batendo de frente como o governador. Ele tinha acertado para que o Coronel Adilson, Subcomandante do Caminha ficasse no Comando-Geral da PM e deram uma rasteira nele, colocaram outro Coronel. A impressão é que o ‘Blasi’ com esse escândalo da ‘Marlene Rica’ ficou bastante vulnerável. A candidatura dele enfraqueceu. Ele tem alguns assessores que não deixam ninguém chegar perto dele. Eles é que formam opinião, são julgadores. Depois o ‘Blasi’ tem uma característica: o time dele de antigamente será sempre o time e os assessores dele conhecem as regras do jogo. Enquanto o ‘Blasi’ for o  ‘sol’ eles estarão por lá. Eu conheço um assessor dele, é meu amigo desde criança, sabe como é ‘amigo’, né, mas o Pamplona é um dos que estava como o ‘Blasi’ na noite do escândalo lá em Joinville, acredito que saiba tudo o que realmente aconteceu. Ele é um dos homens chegados, há anos que também é muito amigo do Secretário. Ele só deixa o deputado se ele quiser, aí sabe como é, é um ‘salve-se quem puder’, é a política...”.

Adelson concordou com o meu comentário e ficou impressinado quando eu disse que ‘Blasi’ havia enfraquecido eleitoralmente na Capital e perguntou:

- “Mas quem são os candidatos que nós temos na Capital? É o Berger, o ‘Blasi’... O Governador tem três candidatos na Capital. Quem é que tem chances de levar lá?”

Respondi:

- “Eu acho que é o Dário Berger. É do PSDB”.

Adelson continuou:

- “Então. O Berger também é candidato do Governador”.

Continuei:

- “Sim. Falando nisso é importante, dando uma de visionário, olhando para o futuro, saber quem serão os futuros candidatos ao governo ou quem serão os futuros possíveis postulantes. Quem é do PSDB que tem um nome forte e estadualizado para o governo, quem é?”

Adelson respondeu:

- “Bom, em primeiro lugar o Senador Leonal Pavan, depois os irmãos Berger. O PSDB não tem nenhum deputado federal”.

Fiz o seguinte comentário:

- “Bom, o Pavan é um grande nome do PSDB e se ele coligasse com o PDT, tem o ‘Coruja’ no Planalto Serrano, aí a chapa ficaria forte. O PMDB do jeito que está indo, aliás, o governo Lula e o governo Luiz Henrique têm tudo para naufragar, do jeito que estão indo...  Não sei se tu lesses hoje a nota na coluna do Moacir Pereira de que os praças da PM estão revoltados com o governo por causa do aumento salarial. Na Capital o governo que se cuide. Eu torço pelo Luiz Henrique, torço pelo PMDB, não gostaria que aquele pessoal do governo Amin voltasse. Na época do ‘Lipinski’, ‘Rachadel nós sofremos muito com perseguições, sem projetos... Não, prefiro que o Luiz Henrique seja candidato à reeleição e fique oito anos, mas do jeito que as coisas estão indo eles que se cuidem. O Luiz Henrique deu um por cento de aumento para os servidores, mas um abono, o pessoal está revoltado e com razão”.

Adelson lembrou que o Prefeito Raimundo Colombo de Lages era  um candidato forte e se o PFL se colicasse com o PP, tendo Ângela Amin como vice aí o bicho iria pegar porque eram fortíssimos candidatos e Luiz Henrique sairia sozinho como candidato à reeleição pelo PMDB, além  do PT... Argumentei que provavelmente o PT poderia apoiar o PMDB lançando o candidato a vice. Eram apenas meras cogitações e nesse clima encerramos nossa conversa. Nisso Adelson em campanha eleitoral avistou um empresário e cabo eleitoral no caixa e se apressou em ir cumprimentá-lo. Na despedida o empresário disse:

“Então tá, doutor Adelson!”.