PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 17.02.2004, horário: 15:00 horas:

Resolvi ir até a sala do Delegado Tim Omar para saber das novidades. Ao chegar percebi que ele estava sentado conversando com Wilmar Domingues que me entregou um documento “histórico” que datava de 1972, onde ele e o Agente Evaldo Moreto cumpriram uma diligência policial quando trabalhavam na Delegacia de Furtos e Roubos da Capital. Li o documento e acabei dando risadas na passagem onde o advogado (falecido) Mário Laurindo (ex-Consultor Jurídico da SSP) teria advertido: “senta aí rapaz que eu vou te dar uma lição”. 

Em seguida chegou o Delegado Valdir Batista. Perguntei para Tim sobre a proposta que havia entregue ontem sobre o resgate e reestruturação da Corregedoria-Geral. Tim olhou para Valdir e foi avisando:

- “O Valdir disse que tem muita coisa misturada ali, que não entendeu bem”. 

Procurei imediatamente mudar o curso da conversa e perguntei:

- “Eu queria saber é como ficou a nossa pesquisa, a nossa proposta de consulta? Alguma novidade?”

Tim argumentou que atendendo proposta de Valdir acharam melhor por bem não forçar Dirceu Silveira e esperar até que as coisas viessem a acontecer naturalmente, depois da tempestade...  Tim atendeu um telefonema e me passou a ligação dizendo:

- “Até aqui eles te acham, toma!”

Era do Gabinete e o Delegado Subchefe da Polícia Civil havia solicitado a minha presença.  Tim, após a chegada do Delegado Arilton Zanelatto confessou que estiveram com Dirceu Silveira no dia anterior e foi um desabafo geral. Interrompi:

- “Não, não vai me dizer que ele foi reclamar novamente do ‘grupo’, ah, fala sério Tim?”

Tim foi incisivo:

- “Nada disso, rapaz, o homem desabafou, olha, como o homem desabafou, não foi Arilton? Nós começamos a conversar sobre essa lei de desarmamento...”.

Em seguida fui até o gabinete do Subchefe de Policia e encontrei Dirceu Silveira que estava prestes a descer pelo elevador, só que quando me viu deu meia volta e foi dizendo:

- “Precisava conversar contigo”.

Dirceu estampava um certo riso que poderia ser entendido como ironia, acinte, diversão, presunção..., relativo a alguma coisa Acabamos indo até a sala do Peixoto que estava no telefone. Enquanto isso, Dirceu foi me perguntando sobre a proposta de Decreto regulamentando o pagamento de gratificação (art. 18 da LC 253/2004) aos chefes de setores e serviços que a Secretaria da Administração estaria cobrando.  Peixoto no telefone parecia visivelmente mais estufado, cheio, seu paletó estava abotoado até encima, era de cor preta, chegava a apartar o tronco, sinal de mesa farta e muito estresse? Ficou um clima engraçado, pois Dirceu apenas deu início à conversa e depois deixaram com que eu falasse. Percebi que estava sendo observado, como se quisessem ver a minha reação diante da realidade, dos fatos... parecia que estavam me julgando..., na verdade o pessoal estava tão fragilizado com os últimos acontecimentos que a condição era vigiar os mais próximos... Com tranquilidade externei minhas opiniões e ficou nisso, pois eles estavam com pressa, pois segundo soube teriam um compromisso a seguir.

Data: 18.02.2004, horário: 15:30 horas:

Tinha acabado de chegar na “Assistência Jurídica” e comecei a conversar com o Delegado Garcez que primeiramente relatou que no dia anterior, no período da tarde, o Delegado Henrique da Diretoria de Polícia do Interior esteve no setor trazendo um “mandado de segurança” e havia desabafado que não queria mais saber de cargo em comissão, que não aguentava mais o Dirceu Silveira. Disse que todo instante Dirceu telefonava pedindo alguma coisa, ou seja, ora era para ir representá-lo numa cerimônia fúnebre, outra hora era por causa de um crime... Em razão disso eu argumentei:

- “Ontem à tarde eu fui lá conversar com o Dirceu. Ele fez uma cara que mais parecia um misto de deboche, gozação, ironia..., não entendi.  Eu fui com ele até a sala do Peixoto e eles usaram daquela tática ‘laconiana cartilhosa’ , me provocaram e, depois, me deixaram falando sozinho. Como eu entendi a tática, fiz meu papel e fui dizendo o que pensava, sem me importar com eles que só ficavam de ouvintes. Brincadeira”.

Garcez interrompeu:

- “Esse Peixito é ‘p.’, olha...! Eu não sei nem definir muito bem ele, mas ele é...”.

Completei:

- “Sim, Garcez, ele é uma pessoa de bastidores, forma opinião, é julgador... nisso ele é ‘p.’, é isso? O Dirceu já é outro estilo..”.

Garcez continuou:

- “A gente nunca sabe o que ele está pensando. Ele conversa contigo e tu não sabes o que se passa na mente dele...”.

Interrompi:

- “É, eles são bem diferentes da dupla ‘Lipinsk’i e ‘Rachadel’, mas eu ainda prefiro o ‘Dirceu’ e o ‘Peixoto’, pois pelo menos nunca soube de terem perseguido alguém, é uma questão de estilo, não achas?”

Garcez continou:

- “Se bem Felipe que é muito pouco tempo, depois tem esse escândalo do bordel e aí eles estão de molho, não?” 

(...)”.

Data: 18.02.2004, horário: 12:00 horas:

Estava deixando a Chefia de Polícia e resolvi dar uma passada rápida na sala do Delegado Braga para dar um alô e saber das novidades. Logo que entrei Braga perguntou:

- “Vem cá, tu tens o resultado das últimas eleições do Conselho? Eu quero dar para o Ademir...”. 

Curioso, perguntei:

- “Que Ademir?”

Braga continuou:

- “O Ademir Braz de Souza. Nós estamos fazendo um esquema aí para colocar o Mauro Dutra no lugar do Dirceu...”.

Intrigado, perguntei:

- “Mas por quê? O Dirceu por acaso quer sair?”

Braga continuou:

- “Ta todo mundo comentando. Eu conversei com o Ademir, tem a Lúcia e outros aí, o nosso candidato tem que ser o Mauro!” 

Interrompi:

- “Mas o Ademir não apoia a Lúcia?”

Braga respondeu:

- “Não, ele não quer mais saber da Lúcia. Felipe, vê se tu me arranja a listagem com o resultado das últimas eleições do Conselho. Eu falei para o Ademir que o Mauro está sendo sempre votado. Ele disse que precisava de um argumento para articular o nome do Mauro e me pediu o resultado...”.

Fiquei de providenciar com a pulga atrás da orelha e pensando: “Esse Braga critica o Mauro dizendo que é louco por cargo e agora fica conspirando contra o Dirceu... Isso me lembrava aquele velho filme do Jorge Xavier...”.