PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 22.10.2003, horário: 14:00 horas:

Estava na “Assistência Jurídica” de mansinho esperando um “feliz aniversário”, porém, novamente mais uma frustração, pois fiquei impressionado com o seu desligamento, acabei lembrando que outro dia ela tinha chamado a atenção do Delegado Valquir para o dia do meu aniversário. Cheguei a pensar que ela e Khrystian tivessem preparado alguma surpresa. Que nada, absolutamente nada! Passei para Suzana a segunda, terceira e quarta lições, além de reiterar a primeira: a) nunca dar uma informação informal imediatamente (sempre pedir um tempo para estudar a matéria); b) nunca sair por aí elogiando nossos serviços para os outros; c) nunca alterar texto de documentos sem o meu conhecimento e autorização; d) sempre proceder revisões de texto com o máximo de cuidado e atenção antes de encaminhar para frente.  Acabei, ainda, passando à quinta lição: evitar sair pelo prédio se exibindo ou dando excesso de visibilidade... 

Em seguida a Psicóloga Juçara veio até a “Assistência Jurídica”. Fiquei impressionado pelo seu jeitão. Ela veio conversar diretamente comigo e para minha surpresa fez duas consultas: a) como proceder num laudo psicológico que poderia prejudicar a administração ou uma autoridade policial; b) como ficava a jornada de trabalho de policial com licença especial (para atender excepcional).

Mais tarde Khristian telefonou e eu achei que era para dar os “parabéns”. Que nada! Ele queria uma aula de Direito Processual Penal a respeito de “representação”, “queixa-crime”... 

Horário: 16:00 horas:

Recebi um telefonema do Delegado Sena e fiquei mais animado e pensei “Opa! Acho que o Sena deve ter visto minha data de aniversário na portaria da Chefia de Polícia, justamente por onde todo mundo passa...”. Mas que nada!

Mas pelo menos Sena telefonou para me dar outro “parabéns”:

- “Felipe eu estou te telefonando para te parabenizar pelo parecer que tu desses. O Acácio Sarda me repassou o teu parecer. Ele recebeu no Conselho. É sobre aquele termo a ser firmado com o Ministério Público. Olha, parabéns! Cheguei a anotar vários argumentos. Tem até uma parte ali que eu estava lendo e pensei: ‘ué, será que o Felipe não vai abordar o custos legis que o MP não cumpre?’ Mas virei a página e estava lá! Tu colocasses muito bem, de outra forma. Olha, Felipe, mais uma vez: ‘parabéns’!”

Agradeci, dizendo:

- “Mas que bom Sena. Fico contente pelo teu reconhecimento e por esse teu telefonema, que presente! Não sabia que a matéria tinha passado já pelo Conselho”.

Depois que voltei de um café havia um comunicado em cima da minha mesa com um recado do Delegado Tim para que entrasse em contato. Novamente pensei: “Ufa, até que enfim alguém aqui lembrou do meu aniversário”. 

Subi e ao chegar na sala do Delegado Tim Omar lá ele estava na frente da tela do computador tentando redigir alguma coisa sobre um despacho do Chefe de Polícia na minha Informação Jurídica n. 101/2003 e foi argumentando:

- “Eu não sabia que essa matéria já foi para o Conselho. E eu estou aqui redigindo uma ‘CI’ dizendo que nós concordamos com a tua informação jurídica e que a matéria deve ir para o Conselho. Já foi para lá! Puxa, o Braga e o Valdir estiveram aqui e leram a tua informação. O Braga achou muito boa. Ele disse: ‘tá ótima, tá excelente!’ O Valdir achou que tu pegasses muito pesado. Ele achou que tu fosses muito contundente, não precisava tanto”. 

Procurando não demonstrar meu desapontamento pelas observações do Delegado Valdir Batista,  argumentei primeiramente que talvez Dirceu Silveira devesse estar usando da estratégia de encaminhar o material para o Conselho em acatamento a meu parecer, mas, também, quis reforçar ainda mais uma decisão pedindo uma manifestação do ‘grupo’. Tim desabafou que já tinha se programado para no início do ano ir embora, mas que estava pensando seriamente em ir antes. Lembrou que um dia eu havia dito para ele deixar de ser tão radical porque todo mundo do ‘grupo’ era Delegado Especial e não dava para ficar exigindo tanta assiduidade. Sentei junto ao computador e tratei de revisar e completar o documento em forma de “deliberação”.

Enquanto eu estava na “máquina” chegou o Delegado Valério Brito que precisava conversar comigo. Valério trazia sempre aquele seu sorriso amistoso e amigável, era um sorriso velho conhecido, uma de suas marcas registradas,  e que parecia um misto de quem está bem, deveria parecer tranquilo, ou melhor, que estava de bem com a vida e com o pessoal que circulava no “quarto andar” (só que isso jamais poderia ser dito dessa forma...) e também de satisfação por me reencontrar. Valério trazia nas mãos uma proposta do Secretário Blasi de delegação de atribuições para Dirceu e argumentou:

- “Felipe o Dirceu pediu para encaminhar isto aqui para ti. É sobre a delegação de atribuições. Ele quer que tu examines cada item”.

Concordei, pedindo que Valério encaminhasse o material. Como já estava vacinado nem me preocupei com o fato de alguém lembrar da minha data de aniversário, apesar de ter lembrado que o irmão do Valério estava de manhã cumprindo expediente na Portaria, justamente por onde todo mundo tinha que passar, em cujo local ficava o mural com os avisos.

Depois que Valério nos deixou Tim Omar soltou uma que me surpreendeu:

- “Puxa, tu estais sentado aí no meu lugar e o Valério vai pensar que é tu que rediges tudo no ‘grupo’. É, ele vai pensar isso, podes ter certeza!”

Olhei para Tim e percebi o que ele estava querendo me dizer e afirmei:

- “Que nada Tim. Não dá bola para isso!”

Tim insistiu:

- “Eu vi pela cara dele. Eu vi como ele ficou quando te viu aí sentado redigindo...”.

Insisti para que ele não desse muita importância para o fato. Para minha surpresa Tim avisou:

- “Não vais lá embaixo? O pessoal todo desceu até o gabinete do Colatto. Não vais lá comer um bolo? Hoje é o aniversário dele, está todo mundo lá”.

Me contive e saí em silêncio com as “balinhas” que Tim sempre deixava num recipiente de vidro em cima de uma mesinha num canto da sala.  Antes de sair Tim ainda comentou:

- “É, mas podes ter certeza que o Valério vai pensar que tu é quem rediges tudo aqui no nosso grupo”.

Diante daquilo fiz minhas últimas palavras:

- “Que nada, Tim. Isso não mexe  com o meu ‘ego’, tá louco!”.  

Saí da sala de Tim e me perguntei por que Colatto estaria comemorando o aniversário dele no dia vinte e dois se era no dia vinte e três a sua data de nascimento?

Horário: 20:00 horas:

Acabei lembrando de “Jô Guedes” que no ano passado lembrou do meu aniversário e me deu de presente uma linda bromélia, de Myrian que nunca esqueceu essa data (seu pai fazia aniversário  no mesmo dia...).

Sim, um simples abraço, uma palavra de carinho..., e me restou os parabéns do Delegado Sena, se bem que por um outro motivo bem diverso, mas que de certa forma fez alguma diferença.

Resolvi ir para casa frustrado porque ninguém no prédio havia lembrado do meu aniversário, nem Khrystian, Suzana, Tim Omar, Braga, Valquir, Valdir Batista, Dirceu Silveira, Mauro Dutra, Valério Brito, as Psicólogas... e fiquei pensando: “será que sou tão insignificante assim? O que é o poder, um cargo de diretor, como no caso do Delegado Colatto, certamente que todos entram em alvoroço, seria por uma fatia de bolo, carência, princípio da atração? Sim, era melhor ir para minha casa comemorar meu aniversário com as pessoas da família que me aguardavam ansiosamente, apesar daquele sentimento “coisado”, reflexo de quem realmente somos e como nos veem”.