PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 27.08.2003, horário: 16:00 horas:

Estava no quarto andar da Chefia de Polícia a fim de ver se encontrava o Delegado Valquir para conseguir a vacina contra o “w32blaster.worm” que infestou minha máquina. Valquir não estava, mas na sala ao lado avistei Tim Omar no computador. Quando me aproximei pude verificar que ele estava no site do “Besc” realizando débito de contas.  Fui direto ao café e as bolachas e me acomodei numa cadeira. Tim esclareceu que Valquir havia saído para ir ao médico.  Enquanto Tim processava seus débitos procurávamos manter uma conversação. O assunto acabou sendo sobre viagens e  Tim falou sobre sua vida e eu acabei fazendo alguma provocações e provações enquanto ele fez alguns desabafos:

- “Eu estou me segurando para não ir embora. Eu acho que ainda não é o momento. Alguma coisa me diz para esperar mais, mais...”.

Argumentei:

- “Eu às vezes tenho que fazer um exercício, uma ecologia da mente. Imagina você ter que trabalhar com tudo isso. Não é fácil, tenho que fazer um esforço muito grande para suportar tudo isso. Na PM quem comanda são os Coronéis, no Judiciário são os Desembargadores, no Ministério Público são os Procuradores e aqui na Polícia Civil? Tá tudo errado e o pior é que vai continuar tudo assim, esses nossos colegas são uns ‘c.’, uns entregadores, não querem mudar nada, parece que quanto mais politicagem melhor. Mas eu não consigo fugir dos meus princípios, tenho vergonha disso. Faço meu serviço porque sirvo a minha instituição. É só isso. Não trabalho para meus superiores...”.

Tim fez um sinal de que concordava e eu acabei fazendo uma indagação:

- “Afinal com que grupo tu te identificas aqui na Polícia? Qual é a tua facção aqui dentro? Quem são as pessoas com quem tu tens identidade?”

Tim chegou a se levantar da cadeira, depois vaticinou:

- “Puxa, que pergunta complexa, heim, Tim? Arrombastes!”

A pergunta não era tão difícil e resolvi dar a partida:

- “Porque tu sabes, né Tim, nós somos daquele tempo do PMDB histórico, lembra? Resistimos naquela época difícil do Heitor Sché, o primeiro governo do Amin. Mas quem eram as pessoas do PMDB naquele período? Aliás, nós tínhamos peemedebistas que resistiam, colocavam o pescoço para fora? Eram contados a dedo os peemedebistas, mas não colocavam o pescoço a prêmio, muito pelo contrário, eram uns enrustidos, acovardados... O PMDB não tinha ninguém dentre os policiais que fizesse frente. A quase totalidade era toda Heitor Sché ou ficava em cima do muro. Mas esse pessoal todo foi embora, hoje o Heitor Sché mudou muito, sem poder ele virou um ‘velhinho’ camarada, super gente boa... E aquele pessoal puxa-saco foi se aposentando. E o que sobrou?”

Tim meio que começou a driblar a situação para mudarmos a conversa, talvez porque sentiu que minhas críticas também estavam sendo dirigidas a ele, e acabamos falando sobre a ascensão da Delegada Lúcia Stefanofich. Aproveitei para fazer as seguintes revelações:

- “A Lúcia assumiu na década de setenta, e logo foi nomeada Delegada Regional de Rio do Sul, cargo do governo da antiga ‘Arena’, portanto, antagônica ao antigo ‘MDB’. Depois de anos no ostracismo, no final da década de oitenta, pelas mãos do Alvará Pille ela foi nomeada Chefe da Polícia Civil. Eu entrevistei o Pille, tenho umas três horas de gravação com ele. Ele contou que depois que saiu o Rivaldo Macari e o Aurélio Cardoso da Secretaria de Segurança e ele assumiu o cargo quis inovar. Pediu a relação dos Delegados finais de carreira. Daí ele viu o nome da Lúcia que estava na Sexta Delegacia da Capital e mandou chamar ela. Pois é, ela nunca foi PMDB e tampouco teve militância, fez alguma oposição aos governos anteriores, nunca teve contato algum com o ‘MDB” antes disso. Tu não lembras de nenhum movimento social, político, institucional ou classista que ela tivesse participado para reivindicar alguma coisa tendo que bater de frente com algum Secretário de Segurança ou governador. Como te disse, o Pille resolveu inovar e convidou a Lúcia para o cargo de Superintendente da Polícia Civil para que isso tivesse uma impacto na imprensa, afinal, ela seria a primeira Delegada mulher a assumiu no Brasil o comando da Polícia Civil num Estado. É claro que ela aceitou e virou ‘peemedebista’ de carteirinha da noite para o dia...”.

Tim fez uma interrupção:

- “Mas a Lúcia participou de um movimento, lembra? Ela liderou um movimento na 6ª DP para as policiais lá, não foi?”

Interrompi para esclarecer:

- “Mas Tim isso foi bem depois. Isso foi no governo do Kleinubing. Eu estou falando de antes...”.

Tim se apercebeu do erro e comentou:

- “Tens razão, ela liderou bem depois, foi no governo Kleinubing. Foi depois. É mesmo... Antes ela nunca participou de nada!” 

Eu retomei a pergunta insistindo:

- “Pois é, como que é mesmo a tua pergunta? A que grupo ou pessoas eu estaria identificado, é isso” Tim meio que parecendo titubear foi dizendo: “...Não. Eu não tenho ninguém. Sou sozinho...”. Lancei o nome da Lúcia, do Lourival... e Tim reiterou o que já havia dito: “...Eu não tenho nada com a Lúcia... Não tenho nada com o Lorival... Ele é uma pessoa difícil. Eu não gosto de gente burra. O Lourival é burro... É difícil... eu já disse que ele passou anos limpando chão de navio e agora fica aí dando uma de burro. Eu não agüento...”. Fiz o seguinte comentário: “Mas só que uma pessoa assim com poder pode prejudicar muita gente, não achas?”  Tim foi mais além: “...Olha Felipe se eu tivesse poder tem muita gente que eu nem deixaria entrar aqui no prédio. Eu juro que eu não deixaria..., principalmente por questão de honestidade... Um é o Collato... o outro é o Maurício Eskudlark... O Colato, o irmão desse aqui, o Valdir é muito amigo do Hamed que é muito rico. Ele foi casado com uma menina lá de Xanxerê... Só para tu teres uma idéia de como o cara é rico no casamento dele lá na Jordânia ele fretou um avião só para os amigos dele daqui e o pessoal foi para lá e depois da cerimônia voltaram no mesmo avião... O cara é muito rico e é amigo deles. Ele é Cônsul da Jordânia aqui, parece que é isso... Mas tem outros, mas eu mais tarde te digo o nome de um Delegado que anda por aí..., prefiro não falar o nome dele agora... Eu me encomodei um monte por causa daquela minha caminhonete... O pessoal lá na Deic quis complicar e eu acabei exigindo laudo. Bom eu já te contei..., lembra?” Tim acabou confessando que não possui grupo algum. Lembrou de Bahia (falamos até sobre a mulher dele que desenvoleu um método inédito de ensino do inglês para crianças nas escolas municipais) que já está aposentado e quis saber por onde andará o velho amigo. Dei um chute e disse que Bahia estava em Portugal (antes já tinha chutado que Dirceu estava retornando esta semana para Brasília e Tim quase que se desesperou...). Tim disse que tomou conhecimento de um fato envolvendo Dirceu lá na Deic e que era de arrepiar os cabelos. Eu disse que tomei conhecimento de outro fato envolvendo o Chefe de Polícia quando era Delegado de Porto União... Nem eu e nem Tim revelamos do que se tratava e tudo ficou para daqui a alguns tempos... Tim fez questão de dizer que Dirceu é uma pessoa inteligente... Depois lembrou que o Delegado Neves não suporta o Dirceu e que entre eles existe uma disputa acirrada, sendo que Neves está a todo o momento tentanto puxar seu tapete. Tim disse que Lourival é outro que não suporta o Dirceu e que diz isso publicamente, só que o respeita em razão do cargo que está ocupando... Acabei lembrando mais uma vez como concorremos para a ascensão de Bado na ex-Superintendência da Polícia Civil e da queda de Jorge da Delegacia-Geral da Polícia Civil (lembrei do episódio envolvendo a carta demissionária assinada por todos os diretores e que foi articulada por Ademar Rezende, Oscar Peixoto, Valquir e Redondo... Tim lembrou que o Delegado Gentil também teve a sua participação no episódio). Mais a seguir Valquir apareceu no gabinete de Tim e começamos a falar sobre futebol e a história do Botafogo  (as rivalidades com o Vasco), Avaí, Figueirense...  Depois Valquir me conseguiu a “vacina” e eu desci em condições de eliminar aquele vírus no meu computador.