PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 05.08.2003, horário: 09:30 horas:

Pedi para que a Escrevente Policial Suzana Half levasse o documento para que o “grupo” pudesse discutir sem a minha presença.

Horário: 11:00 horas:

Já estava na sala do Delegado Tim Omar para ver como é que estavam as coisas. Valquir, Tim e Braga conversavam sobre um assunto diverso e quase que ignoram a minha presença. Então tratei de ler a papelada que estava em cima da mesa, a começar pelas resenhas (resumo dos principais jornais). Encontrei um texto escrito pelo advogado César Luiz Pasold, cujo título era (in) segurança e que foi publicado no Diário Catarinense do dia 03.07.01. Li o texto e gostei, aproveitando para colocá-lo no bolso traseiro da minha calça para poder depois ler com mais calma. A seguir, depois de alguns minutos, Braga me olhou e disse:

- “Felipe, o pessoal já discutiu o documento que tu fizestes!”

Braga foi apontando algumas correções e sugestões. Fiquei contente com a atitude do pessoal e pequei uma das cópias que estava sobre a mesa e fui fazendo minhas anotações. Braga ainda acentuou:

- “Ta muito bom o texto. Parabéns”!

Tim do outro lado também me parabenizou e Valquir fez o mesmo. Valdir já havia saído. Verifiquei que eram poucas coisas a serem alteradas. Em determinado momento pequei aquele texto do meu bolso e li a máxima de Fernando Pessoa transcrita por Pasold:

“Na obra póstuma intitulada Livro do Desassossego, de autoria do genial Fernando Pessoa, encontra-se, entre tantas, esta pérola da sabedoria: ‘governa quem é alegre, porque para ser triste é preciso sentir’ (...)”.

Tim ficou com os olhos reluzentes, parecia emocionado, ostentou um sorriso de satisfação depois que li essa passagem... Do meu lado Valquir havia pego uma cópia do texto que havia sido distribuída aos presentes e antes que eu tivesse feito remissão ao documento começou a fazer um “aviãozinho” com a folha de papel. Tim flagrando esse fato não deixou barato e comentou como se fosse nosso pai, com tom de voz bastante séria, como se quisesse passar um corretivo:

- “Um pegou o texto e guardou no bolso. O outro fez um aviãozinho. Olha só a diferença. Um guardou e o outro...”. 

Fiquei meio sem jeito não por mim, mas por Valquir, ele tinha essas brincadeiras, mas era um excelente companheiro. Cheguei a enrubescer e argumentei:

- “Não! O  que o Valquir fez foi uma ‘arte’. Imagina a criatividade dele, olha toda a engenharia que ele teve que arrumar para esse feito...”.

Tim, denotando ainda estar impactado com o acontecimento continuou reprisando sua fala:

- “Imagina só. Um guardou o texto e o outro..., olha só, que tristeza isso...!”  O texto era muito interessante porque tratava sobre o “desarmamento” dos cidadãos de  bem com o fim do porte de arma.

Braga com certo ar de desdém soltou uma daquelas suas:

- “Esse Pasold não tem moral para dizer nada. Ele faliu o Besc. É cheio de rolo...”.

Fiquei meio sem o que dizer, porque o texto dele era impecável. Tim veio em meu socorro e disse:

- “Não. Não. Esse é outro. O César Pasold é um advogado sério. Ele é professor da faculdade em Itajaí. Tu está confundindo Braga. Esse que tu estais citando é um outro. Não é a mesma pessoa”.

Braga deu de ombros achando que era muita coincidência. Depois de alguns minutos Tim já refeito e com certa euforia interrompeu para dizer:

- “Lembrei. O que tu está falando é o ‘Passoni Júnior’. Ele foi do Besc. Esse é ‘Pasold’...”.

Pronto, estava esclarecido e eu argumentei:

- “Desculpa Braga pelo que vou dizer, mas como é fácil destruir uma pessoa. Imagina isso numa reunião onde tens que decidir sobre o futuro de uma pessoa. Chega alguém dizendo que o cara é isso, é aquilo...”.

Braga ficou em silêncio, mas teve que se render aos argumentos, sentido que tinha pisado na bola, concordando com Valquir, depois soltou um daqueles seus gritos beirando ao histerismo (o gatilho foi acionado...):

- “O Zachi. O Nazareno Zachi. Esse é assim...”.

A reunião praticamente acabou porque já era meio-dia. Naquela mesma tarde o material já estava revisado. Braga chegou na “Assistência Jurídica” por volta de dezesseis horas pedindo para assinar o documento e comentou:

- “Eu conversei com o Maurício Noronha e disse para ele que tu estavas fazendo o documento. Ele ficou muito contente quando soube que estava contigo. Ele te elogiou muito. Eu deixei. Isso é bom. Nós precisamos disso. Mas sério, Felipe, o Maurício te elogiou muito. Tu sabes que eu não tenho motivo para mentir. Sério...!”

Procurei não comentar muito sobre isso e disse para Braga que o documento já estava quase pronto. Braga retornou para sua sala e eu conclui o material sendo o primeiro a assiná-lo. Pedi para que Suzana Half fosse até à Gerência de Fiscalização de Armas e Munições para colher a assinatura de Braga e depois levar o material para o coordenador do nosso grupo (Delegado Tim Omar).