PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

A Chefia de Polícia mudou de mãos. O Delegado Maurício Eskudlark finalmente realizou seu velho sonho de assumir o comando da instituição, substituindo o Delegado Ilson Silva. Na "Gerência de Orientação e Controle", como não houve resposta aos meus pleitos para assumir a direção do órgão, o novo Chefe de Polícia logo convidou o Delegado Nilton Andrade para assumir a direção do órgão, o que foi aceito prontamente. Diante desse fato, permaneci no órgão como "corregedor", cuja função também deixou de existir com a decretação do fim da "Corregedoria-Geral". 

Data: Data: 08.01.2007, horário: 12:15 horas da manhã – “A Delegacia-Regional de Blumenau, o desafio do Delegado Juraci Darolt e a retomado do velho projeto da “Procuradoria-Geral de Polícia?”

Havia chegado na Delegacia Regional de Blumenau acompanhado dos Investigadores Zico e Patrícia Angélica usando no deslocamento uma viatura Renault Cénic branco da Gerência de Orientação e Controle. O Delegado Regional Juraci Darolt já estava me aguardando para conversarmos, conforme havia agendado previamente. Entreguei uma cópia da proposta da emenda constitucional de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”, naquele momento já revisado, adaptado e aperfeiçoado, bem mais detalhado.

Reiterei para Darolt que se os Delegados não adotassem medidas urgentes correríamos o risco de vermos a instituição cada vez mais retrógrada, perdida no tempo e os policiais sem perspectivas para o futuro. Argumentei que o próximo projeto do Governador Luiz Henrique seria retirar da Polícia Civil o “Detran”, transformando o órgão talvez numa autarquia ou dentro de um esquema político, com a privatização de serviços, colocando pessoas estranhas a instituição nos cargos de direção do órgão e nas “Ciretrans” em todas as Delegacias Regionais do Estado.

Aproveitei para lembrar que um ex-Chefe de Polícia chegou a defender a retirada do Detran da Polícia Civil como ocorria no Estado do Rio Grande do Sul, fazendo cessar a execução das atribuições administrativas de trânsito da Polícia Civil, uma conquista da Constituição de 1989. Darolt pareceu impressionado e argumentou:

- “Mas meu Deus, e o dinheiro para o nosso Fundo? Se nós perdemos o Detran vamos fechar as Delegacias Regionais, vamos perder mais espaços”.

Interrompi:

- “Bom, Darolt, tu sabes que neste governo Luiz Henrique nós só perdemos, foi uma turma de Delegados que fez um plano de governo... Esse pessoal queria cargo, queria poder, visibilidade... e acabaram contribuindo para que perdêssemos muita coisa, conseguiram bater o recorde. A ‘Adpesc’ pode esquecer, eles só se escondem, é uma covardia a omissão deles, são uns fracos, habilidosos... É lá tem aquela turma da ‘velha guarda’, são uns acomodados, só querem saber de salários, de seus interesses, eles têm um discurso pronto para bater, mas só nos fracos, nos colegas que são resistentes, contestadores... Lá está o Maurício, os Artur... “.

Propus a Darolt que ele tomasse a iniciativa de marcar um encontro dos Delegados Regionais na cidade de Blumenau, a fim de criar o Colégio dos Delegados Regionais, constituir uma presidência do órgão, secretários... e definir prioridades, formar uma força de resistência...

Darolt só me ouvia e concordava com tudo, pelo menos “aparentemente” (como das outras vezes). Tudo que eu comentava tinha o seu apoio, porém, no plano das ações eu duvidava de tudo, porque os Delegados Regionais ocupavam cargos políticos e o objetivo deles era se manterem nos cargos a qualquer preço.  Mas eu precisava acreditar, precisava continuar minha obra de persuasão, “cativação”, mobilização e orientei meu dileto amigo:

- “Olha Darolt, eu acho que você tem que conversar com o Maurício Eskudlark, você tem que tentar mostrar a ele que o ‘Colégio dos Delegados Regionais’ é uma terceira via. A primeira é a cúpula da Polícia e o Conselho que são omissos, totalmente omissos, são governistas e apegados a seus interesses pessoais. Olha o ‘site’ da Polícia Civil que tristeza é aquilo, só assuntos de serviço... “. 

Darolt me interrompeu:

- “Sim, olha o ‘site’ da Polícia Militar como é organizado.”.

Continuei:

- “Pois é, a segunda via é a nossa ‘Adpesc’, mas olha o que esse pessoal tem aprontado? Eles parece que chegam a se esconder, mentem, fogem, é muita enganação... e no final do ano fazem aquela festa, uma assembleia-geral, com presentes, brindes. Então sobre essa terceira via que é a formação do Colégio dos Delegados Regionais quem sabe seja um alternativa para se emplacar um projeto institucional de impacto histórico? Tu podes ter certeza que os Delegados Regionais vão se fortalecer. Você, Darolt, pode presidir o órgão, organizar, criar o regimento interno, eu ajudo, te dou suporte... Eu tenho certeza que se tu fores eleito para um mandado que pode ser de dois anos não vias correr o risco de ser exonerado do cargo. Olha quanta coisa poderia ser mudada? O Colégio poderia cobrar uma postura da cúpula da Polícia Civil, da própria Adpesc, criariam uma nova relação de poder dentro da instituição, vão cobrar, fiscalizar, propor, exigir... Agora, se cada Delegado Regional também ficar isolado no seu ‘mundinho’, então nós estamos numa roubada...”.

Darolt me interrompeu:

- “Sim, então é verdade que nós vamos perder o Detran?  Vamos perder o trânsito?  Meu Deus, vamos ficar muito mal...”.

Fomos almoçar na “Villa Germânica”  e durante todo o almoço não perdi o entusiasmo, ou seja, pontifiquei todos aqueles assuntos que tratei anteriormente, procurei repetir tudo que havia dito, com mais propriedade...  Darolt chegou a me perguntar o que eu estava achando da gestão Maurício Eskulark no comando da Polícia Civil e eu argumentei:

- “É muito cedo para julgar. O Thomé quando assumiu a Chefia de Polícia criou as ‘Centrais’, só que fez isso com foguetório na mídia... Provavelmente o Maurício vai acabar com isso e eu espero que também não seja sob os holofotes da mídia, com o objetivo de se promover politicamente, tu não achas?”

Darolt concordou com minha observação e terminamos o almoço, quando pedi que ele realmente pensasse em tudo que conversamos e se mobilizasse porque o relógio estava contra nós e os Delegados Regionais unidos poderiam, por exemplo, boicotar o projeto do governador de retirar da Polícia Civil as atividades administrativas de trânsito.

Horário: 16:00 horas:

Cheguei na Delegacia Regional de Polícia de Rio do Sul e fui direto para o gabinete do Delegado Roberto Schulzle. Reiterei os mesmos termos da conversa que tive com Darolt, entreguei uma cópia da minha proposta de emenda constitucional de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” e recomendei que ele e Darolt se unissem para criar o Colégio dos Delegados Regionais. Roberto concordou com tudo (eu, sem perder o entusiasmo, duvidei que tivessem coragem de lutar por uma bandeira institucional...). Aliás, duvidei da falta de coragem, de astúcia, de sensibilidade, de motivação, de amor a causa e à dignidade institucional..., pois em primeiro lugar estava se manter no cargo a qualquer custo, depois, se estar no cargo e dar visibilidade... e , por último, gozar dos privilégios que o cargo oferecia, da satisfação dos “egos”. E, argumentei:

- “Roberto, eu disse para o Darolt lá em Blumenau que o poder que vocês exercem é uma ilusão, é efêmero... Daqui a dez anos vocês estarão aposentados e daí? Como deixaram a Polícia Civil?” 

Roberto, bastante econômico nas palavras, mas rico no olhar, se comprometeu em mobilizar os Delegados Regionais, chegando a chamar sua secretária e pediu a relação dos nomes e telefones de todos os DRPs. Enquanto ele passava essa ordem, pensei: “que absurdo, a maioria dos DRPs está de férias, estão correndo para se manter nos cargos, então, isso não vai dar em nada, seria abstração de minha parte? Uma intenção e quanto a isso o inferno não estaria lotado?” Pensei!

Data: 12.01.2007, horário: 17:00 horas:

Estava na DRP/Joinville, e resolvi dar mais uma chegada no gabinete do DRP Dirceu Silveira que estava acompanhado dos delegados (casal) Luiz Felipe e Priscila (Videira/Tangará) que estavam de férias e fazendo uma visita. Procurei entrar no gabinete de Dirceu Silveira a seu convite (gesticulou da porta) e como a conversa era informal, acabei sentando ao lado de Luiz Felipe e deixei a conversa fluir naturalmente. Para minha surpresa Luiz Felipe já tinha conhecimento da proposta de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”. Procurei argumentar que o futuro da Polícia Civil  estava na nossa desvinculação da Segurança Pública. Luiz Felipe e Priscila queriam conversar, estavam de férias e deram uma viajada na imaginação (a família de Priscila era de Joinville e o casal que se conheceu na Academia de Polícia e se casaram naquela cidade...). Observei que era bom que fôssemos sonhadores, mas era  preciso estar com os pés no chão. Dirceu, com seu olhar aguçado, sua experiência para mais de metro observava tudo, escutava e olhava para mim no sentido de captar todas as palavras, imagens, sem deixar de dar a boa acolhida ao casal de Delegados que realmente era uma energia boa de “casal novinho”, dando a impressão que estávamos frente ao nosso melhor em termos de futuro, sonhos, ideais e utopias. Nisso aproveitei para observar que os policiais de Joinville estavam elogiando muito os novos policiais civis que foram designados para atuar naquela comarca. Dirceu Silveira informou que tinha conhecimento desses elogios e que isso era uma grata satisfação, pois melhorava a imagem da instituição perante a sociedade, a qualidade dos nossos serviços e, também, o moral dos policiais antigos.