PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 25.08.2003, horário: 17:00 horas:

Desci às escadas da Chefia de Polícia para tomar um café no “Conjunto Comercial Ceisa Center”. Logo que cheguei na portaria encontrei o Delegado Tim Omar e tive que parar para bater um papo:

- “Eu ia subir para falar contigo. Estive de manhã lá em cima, mas não tinha ninguém”.  

Tim,  vestido com traje esportivo, respondeu:

- “Não. Eu só estou vindo à tarde. Como é que é, muitos projetos?”

Respondi:

- “Eu estou trabalhando agora num projeto que trata sobre alimentação dos policiais civis que vão atuar durante a ‘operação veraneio’”.

Tim pareceu curioso e o Comissário Tadeu que trabalhava na portaria também ficou atento. Em razão disso fiz outros esclarecimentos:

- “Os servidores civis recebem auxílio alimentação. Só que os policiais militares recebem o auxílio alimentação e mais as refeições, pode?”

Tim mostrando que dominava o assunto foi mais além:

- “E tem o ‘etapa’?”

Argumentei:

- “Eles recebem o auxílio alimentação, mais o ‘etapa’, além das refeições...,brincadeira!”

Tim e Tadeu ficaram incrédulos. Bom eu não tinha muita certeza..., mas aquilo era isonomia? Integração? Aproveitei para ir mais além:

- “Eu estava lendo hoje o Diário Catarinense e vi a matéria onde o Secretário diz que agora os policiais civis vão ser atendidos pelo Hospital da Polícia Militar. O Blasi falava em integração das duas polícias. Mas eu pergunto: ‘vocês conhecem algum serviço que a Polícia Civil presta para a Polícia Militar?’”

Tim e Tadeu pareciam não entender o que eu estava querendo dizer. Em razão disso e reiterei:

- “Tá, tá, vocês sabem me citar algum serviço que a Polícia Civil presta para a Polícia Militar? Em qualquer área? Pois é, eu não sei onde esse pessoal anda com a cabeça. Nós não podemos aceitar nada da Polícia Militar nas atuais circunstâncias, cada um no seu terreiro. Se eles quiserem nos dar um tapete vermelho de presente nós não podemos aceitar. Se eles quiserem nos dar uma bela viatura policial para ser colocada aqui na frente, nós não podemos aceitar!  Nós não podemos aceitar nada, absolutamente nada! O momento não é para isso, é uma questão de sobrevivência institucional, daqui a pouco vão dizer que a Polícia Civil funciona dentro da Polícia Militar e aí só falta irem até o governador, à Justiça, aos políticos, autoridades, imprensa para dizer: ‘Olha a Polícia Militar já faz tudo sozinha...’. É isso que nós queremos? Estamos cada vez mais sendo empurrados nessa direção, não podemos aceitar nada nessas condições, é preferível cada um continuar do jeito que tá. Já foi a central de rádio nossa para lá, já foi... e agora nossos policiais e familiares vão ser atendidos pelo Hospital da Polícia Militar, se tivesse havido a unificação dos comandos isso tudo seria normal. Será que esse pessoal aí em cima não está vendo isso? Para mim está tudo muito claro...”.

Depois que Tim ouviu atentamente meus comentários ele argumentou:

- “Tu tens razão. Tu tens razão. Tu sabes que a Polícia Civil sempre fez a recarga de cartuchos. Muito antes da PM, tu sabias disso? Agora eles estão fazendo a recarga e mandando para nós”.

Argumentei:

- “Pois é Tim. É isso mesmo. Nosso sistema de rádio já foi para a PM, a recarga dos nossos cartuchos está sendo feita por eles e agora os nossos policiais passam a ser atendidos no Hospital da PM... Daqui à pouco eles vão chegar para o governador e vão dizer: ‘Governador a Polícia Militar já faz tudo para a Polícia Civil que depende totalmente da PM...’. É só que falta! E vai o Secretário falar em ‘integração’, isso é integração? Alguém tem que ir lá e peitar o ‘Blasi’!, será que não tem ninguém?”

Enquanto eu batia em retirada Tim fez uma observação:

- “Essa turma que fica fazendo ‘projetinhos’. Onde é que anda o ‘Neves’?”

Já na porta de saída argumentei:

- “Onde é que está o Krieger. Sim, o meu amigo Krieger...?”

Tim concordou...

Horário: 18:15 horas:

Recebi um telefonema do Delegado Valério:

- “Alô, Felipe! Tudo bem? Felipe o doutor Dirceu estava lendo... Acho que é a ‘Folha de São Paulo’, ele viu ali uma matéria grande sobre bares em São Paulo. Eu tenho aqui o recorte da matéria. Ele pediu para mandar isso para ti para fazer um projeto de portaria. Ele quer disciplinar a matéria. Pediu que mandasse isso para ti. Ele quer isso pronto logo. Ele está indo amanhã para um encontro em Brasília. É sobre aquele nosso projeto. Não, não. É sobre o projeto de reforma da previdência. Parece que tem alguma coisa ali que nos interessa e ele está indo para lá para acompanhar...”.

Interrompi Valério:

- “Olha Valério eu acho que antes de mandar isso para mim é bom ouvir o Braga, isso é da área dele. Eu já conheço o Braga e ele pode ficar melindrado...”.

Valério insistiu:

- “Não, não! O Dirceu pediu que fosse feito isso rápido porque quando ele retornar ele já quer isso pronto. Mas eu falo com o Braga. Eu chamo ele e converso, digo para ele te procurar...”.

Insisti:

- “Olha Valério eu acho bom ouvir o Braga antes. Acho que é importante mandar para ele primeiro. Pelo que eu já conheço ele... Depois pode mandar isso para mim, aí não tem problema...”.

Valério parecia determinado a mandar aquele material diretamente para mim e reiterou:

- “Eu mando prá ti isso. Deixa que eu converso  com o Braga. Eu me dou bem com ele...”.

Como ficou naquilo, preferi me recolher e aguardar as “ordens superiores”. Suzana Half que estava ouvindo a conversa meio que “passada” com a situação, depois que desliguei o telefone argumentou:

- “Muito bem doutor Felipe. Eu acho que o senhor fez muito bem...”.

Não sei se fiz bem o mal, mas o fato é que era preciso se resgatar a hierarquia, o respeito às pessoas e Suzana novamente intercedeu:

- “Mas doutor Felipe o doutor Braga não é o Gerente de Jogos e Diversões? Como é que fazem uma coisa dessas sem consultá-lo?”

Afirmei para Suzana que eu tinha sido um pouco sutil no telefone com Valério, até para não ser direto, curto e grosso...

“Hospital da polícia - O secretário da Segurança Pública e Defesa do Cidadão, deputado estadual João Henrique Blasi, assinou protocolo de intenções disponibilizando a todos os servidores da Polícia Civil e seus dependentes os serviços prestados pelo Hospital da Polícia Militar Comandante Lara Ribas. Os policiais civis serão atendidos via convênio com a Unimed e Unisanta. O Hospital da Polícia Militar funciona na rua Major Costa, no centro de Florianópolis. O Hospital da Polícia Militar (HPM) conta com um corpo clínico de 56 profissionais e dispõe de 35 leitos para internação, sendo oito apartamentos e duas enfermarias, atendidos por 191 funcionários. O hospital tem, ainda, serviço de pronto atendimento, funcionando 24 horas, e dispõe de três ambulâncias, devidamente equipadas” . (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 26.8.2003).