PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 28.07.2003, horário: 11:00 horas:

Cheguei na sala do Delegado Tim Omar e reparei que na sala ao lado estavam Valquir, Vilmar Domingues, “Güinevere” (Rosangela) e a policial Denise (esta eterna secretária de Valquir), todos numa conversa animada. Diante das circunstâncias procurei permanecer confinado na sala de encontros do “grupo” para aguardar a chegada dos colegas. Em seguida o pessoal foi se chegando. Inicialmente, eu e Valquir passamos a discutir um parecer acerca do pagamento de horas extras para servidor não policial que prestava serviços na Delegacia de Polícia de Tijucas. Depois perguntei para Tim se havia alguma novidade sobre o nosso “projeto” e ele argumentou que Dirceu Silveira estava em Minas Gerais e só retornaria na próxima quarta-feira.  Acabei propondo que se o “projeto” ficasse na gaveta então que colocássemos a “Associação dos Delegados de Polícia” (Adpesc) no circuito. Valquir e Tim concordaram, muito embora não sabia se apenas para não polemizar e esgotar o assunto por ali. fazer.

Valquir lembrou que o grupo não poderia contar mais com o Delegado Mauro Dutra. Argumentei:

- “Ele é um negociador. O Valquir e o Tim têm personalidade, tem opinião própria. Eu acho que também tenho luz própria. Então o Mauro Dutra sabe que vai ficar isolado...”.

Tim intercedeu para dizer:

- “É, mas o Valdir também tem personalidade e opinião própria”.

Concordei imediatamente e Valquir argumentou:

- “O problema do Mauro foi o Wilmar. Quando ele pediu para sair do nosso grupo o Mauro também se afastou em solidariedade...”.

Tim do outro lado argumentou:

- “Eu não tinha pensado sob esse enfoque, mas é como o Felipe disse: ele é um negociador”. 

Valquir lançou mais uma:

- “O negócio do Mauro é cargo. Ele quer é cargo...”.

Perguntei para Valquir se ele tinha visto o Delegado Noronha e ele respondeu que no dia anterior havia entregue uns documentos sobre aposentadoria para ele e que parecia que o governador Luiz Henrique da Silveira estava mais receptivo a ideia, especialmente, depois que foi dito que Santa Catarina era o único Estado em que os policiais civis estavam se aposentando fora da legislação federal que previa a inatividade aos trinta anos de serviço.

Depois relatei que no dia anterior havia encontrado Lipinski num posto na BR 101, próximo ao trevo de Itajaí com uma caminhonete Diesel Branca. Narrei que na hora que entrei para pagar meu combustível percebi que Lipinski estava de costas no balcão. Para evitar contatos recordei que retrocedi e fui para o banheiro só  para não encontrá-lo.  Em seguida disse que na época da Delegada Lúcia Stefanovich esteve chefiando a Pasta da Segurança Pública acabou perseguindo o Delegado Alcino que havia sido denunciado de ter se apropriado de cerca de trezentos reais... Argumentei que Alcino nem chegou a responder processo criminal, enquanto isso, Lúcia apadrinhou o Delegado “G.” que havia sido condenado criminalmente pela Justiça com perda da função pública, além de ter acertado que o mesmo cumprisse pena no 4ª Batalhão da Polícia Militar (Florianópolis) e trabalhasse numa função gratificada na Diretoria de Polícia Técnica. Ao término da reunião lembrei Valquir que o “Figueirense” havia perdido para o Guarani e Tim lembrou que o Brasil também perdeu para o México. Tudo em clima de festa, ou melhor, de velório... 

Data: 30.07.2003, horário: 10:00 horas:

Estava na sala do Delegado Tim para mais uma reunião do nosso grupo. Lá chegando, a exemplo de ontem, encontrei a sala vazia e Valquir do outro lado, sentado na sua mesa, quase que gritou me chamando:

- “Doutor Felipe, vem cá ver a coisinha aqui na minha mesa”. 

Valquir novamente trocou seu laptop do “Compac” para um “Toshiba”. Disse que fez isso por causa do teclado, pois estava acostumado com a máquina nipônica. Perguntei por Tim Omar e ele disse que o mesmo foi para Porto Alegre. Depois soube também que o Chefe de Polícia, mais o Secretário Blasi e os Ricardos (Feijó e Thomé) foram ao encontro dos Chefes de Polícia no Estado de Minas Gerais.

Valquir argumentou que também achava que o Delegado Nilton Andrade viajou com a comitiva porque no dia anterior não apareceu no futebol, depois, fez uma importante revelação:

- “Pois é Felipe e o processo do nosso amigo ali embaixo foi mesmo engavetado. Sentaram em cima. O Hilton me contou...”.

Lamentei o fato e lembrei que a gente não poderia ficar perdendo tempo com essas preocupações porque se não acabaríamos entrando em parafuso. Perguntei para Valquir se ele tinha conhecimento do “projeto” salarial (escalonamento vertical) que estava sendo encaminhado à Assembleia Legislativa pelo governo e que previa reajuste salarial para os policiais civis. Valquir ficou surpreso porque não estava sabendo de nada. Então, argumentei:

- “Pois é, o Dirceu ficou de conseguir uma cópia do ‘projeto’ para nós estudarmos. Só que agora parece que é tarde demais e nós vamos ter que conseguir uma cópia do material quando chegar na Assembleia Legislativa.  Valquir estava ligado no seu laptop e eu às vezes tinha que retomar o assunto, tudo sob o ouvido de “Güinivere” que agora parecia mais simpática, sem perder sua determinação e concentração.

Acabei lembrando que a policial Khristian Celly havia me dito ouytro dia que Guinevere havia colocado silicone nos seios, só que fiquei sem jeito de observar melhor seu corpo, poderia dar uma má impressão... Wilmar Domingues apareceu pelo local e Valquir lembrou que parecia que o “projeto” de aposentadoria também estava tramitando. Depois conversamos sobre a Delegacia do Idoso e Valquir disse que Tim havia recomendado que déssemos uma olhada. Recomendei que devêssemos sugerir que a matéria aguardasse a tramitação do nosso “projeto de criação da Procuradoria-Geral de Polícia”.  Argumentei, também, que de repente a estratégia de Dirceu Silveira seria esperar a aprovação do projeto de reajuste salarial para depois tratar do “projeto” institucional... 

Data: 31.07.2003, horário: 11:00 horas:

O Delegado Valquir me telefonou:

- “Felipe, o Peixoto me passou o projeto de lei orgânica das polícias. Ele pediu que nós déssemos uma olhada e fizéssemos um estudo para entregar para o Dirceu até terça-feira...”.

Eu já tinha olhado o material porque a Investigadora Khystian Celly havia baixado na Internet a pedido de Peixoto e eu aproveitei para pedir uma cópia. Interrompi Valquir para dizer:

- “Eu sei, eu sei. Isso é brincadeira. Eles querem transformar a Polícia Civil somente em Polícia Judiciária. A Polícia Militar mantém a polícia ambiental, o policiamento de trânsito. Eles não perdem nada e nós somos transformados em Polícia Judiciária. O que é isso?”

Valquir perguntou:

“Mas tu já tens conhecimento do projeto?”

Respondi que sim e fui logo afirmando:

- “Esse negócio da aposentadoria aí não vai vingar porque vem a reforma previdenciária”.

Valquir combinou comigo para que nos reuníssemos na segunda-feira de manhã. Depois da conversa com Valquir dei mais uma olhada no “Projeto de Lei n. 6.690, de 2002” e fiz uma série de anotações pois sabia que o “grupo” acabaria me incumbindo de redigir um documento para o Chefe de Polícia.

Data: 04.08.2003, horário: 10:00 horas:

Estava na  sala do do Delegado Tim Omar na companhia do pessoal do nosso grupo, à exceção do sempre ausente Delegado Mauro Dutra. Logo que cheguei Valquir foi dizendo:

- “Eu não vi nada de anormal. Não é tão ruim assim. Eu não entendi porque tu me dissesses aquilo?”

Depois de ouvir Valquir fazer aquele comentário presumi que ele estava falando assim em razão de constar do “projeto” a proposta de aposentadoria aos trinta anos que era o seu “sonho” mais atual, ficava imaginando ele numa rede na varanda de sua casa lá para os lados da Praia do Bom Abrigo...  No início a conversa girou em torno de “fractais”. Acabamos decidindo nem ler o “projeto”. Braga,  contendo um pouco a sua peculiar ironia naquelas circunstâncias (era como se fosse um gatilho, quando em grupo...) foi afirmando:

- “O doutor Felipe vai redigir um documento...”. 

Argumentei:

- “Esse negócio de aposentadoria aos trinta anos é tudo mentira. Não tem como vingar porque vem uma reforma constitucional por aí! Esse negócio de ‘polícia judiciária’ é para restringir as funções da Polícia Civil...”.

Braga me interrompeu:

- “Calma. Isso aí o Valquir já explicou para nós aqui de manhã. Tu não tinhas chegado ainda...”.

Como já tinha explicado para o Valquir o significado do termo “polícia judiciária”, procurei ficar quieto e encerrei meus comentários. Em cima da mesa vi um expediente de Braga dirigido ao Chefe de Polícia pedindo oito dias de férias para viajar para São Paulo (Holambra...). Em determinado momento da conversa Dirceu Silveira chegou na sala acompanhado de Peixoto lembrando que tinham uma reunião na Acadepol e que ele também estaria sendo  convidado para participar. Como  estava sentado próximo da porta e de costas os dois ficaram bem atrás de mim e não precisei encará-los. Tim, Braga e Valquir passaram a dar atenção e a comentar acerca do “projeto” dizendo que o prazo para entregar o documento era até terça-feira, porém não daria tempo. Dirceu argumentou que poderia ser até sexta-feira. Fiquei sabendo que estava ocorrendo na Academia de Polícia uma reunião dos Chefes de Polícia do Codesul e que Dirceu Silveira era o anfitrião, sendo  que um dos assuntos que seria tratado era sobre a nova lei de armas.  Dirceu fez um pedido:

- “Precisamos saber quem é que tem um bom relacionamento com a Ideli Salvatti. Alguém de vocês aqui se dá com ela? A mulher está com uma força. Ela é contra os Delegados. Nós precisamos conversar com ela. Temos que ver quem é que se dá bem com ela...?”

No sala um silêncio e eu não arrisquei dizer nada, absolutamente nada! Só lembrei daquele e-mail que Ideli me remeteu, o que não justificaria uma proximidade entre nós, uma abertura assim... Depois que Dirceu e Peixoto deixaram o local nós ficamos mais alguns minutos reunidos. Acabei sendo responsável por preparar um documento para ser entregue ao Chefe de Polícia colocando a posição do “grupo” com relação ao “projeto de lei orgânica”.