PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 15.07.2003, horário: 10:00 horas:

Tinha acabado de chegar na sala do Delegado Tim Omar (quarto andar do prédio da Chefia de Polícia) e encontrei reunidos, além do anfitrião, os Delegados Valquir, Valdir e mais Wilmar Domingues. Logo que entrei Valquir foi dizendo:

- “O Doutor Felipe acabou de chegar. Ele sempre chega na hora de dar o ‘quórum’”. 

Todos riram. Wilmar Domingues começou a se coçar porque já era hora de bater em retirada, afinal de contas chegou o “tigre”... Valquir lançou uma indagação:

- “Puxa Wilmar é só o doutor Felipe chegar que tu já pensa em nos abandonar!”

Wilmar imeditamente contraditou dizendo:

- “Quando ele chega eu sei que a reunião vai começar”.

Na verdade não tinha assunto especial naquele dia para tratar, aliás, não me preparei como das outras vezes. Valdir estava quieto no canto e Valquir era quem estava, como sempre, muito articulado, mobilizado, turbinado e alegre, sempre disposto a uma boa  conversa.  Tim trajava um terno na cor amarelo-mostarda, trazendo nas mãos uma xícara de café e colherinha nas mãos, e pude notar que sua pistola  765, acondicionada num coldre junto a cinta da calça, dessa vez estava bem mais visível,  obrigando que volta e meia ele tivesse que ajeitar a calça e a camisa. Sim, era uma visão tragicômica de Tim Omar, professor de tiro e que nunca saia sem sua “companheira’. A seguir Tim apresentou um documento propondo o credenciamento do Delegado César Krieger para compor a equipe “aerotática” da Pasta da Segurança.  Ao ler o ofício dirigido ao Chefe de Polícia ele concluiu dizendo que era importante “ter um sangue azul” representando a Polícia Civil.

Quando terminei de ler o documento Tim começou a rir quase que progressiva e compulsivamente, enquanto isso Valquir lia o documento e se esforçava para entender o comportamento do coordenador do grupo, o “incrível Delegado Tim”. Diante daquele quadro fiz meu comentário:

- “Puxa Tim, mostrasse todo o teu veneno contra o Krieger, heim? Não foi porque ele não atendeu a tua ‘convocação’ para vir aqui prestar constas, não?”.

Do outro lado Tim argumentou:

- “Tu ficastes de me devolver aquele material. Puxa, tu não me devolvestes ainda, onde é que tá?”

Respondi que já tinha digitado. A curiosidade tomou conta de Tim e Valquir que queriam saber porque eu havia digitado o “curriculum vitae” de Krieger.

Acabei dizendo que foi para um “livro”. Eles riram e Tim rasgou na nossa presença o requerimento de Krieger. Depois disso, em silêncio lamentei a falta de sensibilidade com relação ao Delegado Krieger que, digamos, só era diferente, mas muito importante para a instituição, lamentei do que tempos atrás ocorreu numa das reuniões do Conselho Superior da Polícia Civil (Delegado Elói fez um comentário jocoso e fez todos os conselheiros caírem na gargalhada, digamos, quase todos...) tivesse sido tão criticado. Sim, não poderia desconhecer que Krieger beirava um pouco a excentrismo, , tinha certas manias de “sangue azul” no meio dos Delegados, mas o fato é que eu aprendi a gostar dele do jeito que era...  

Depois Tim deu conhecimento sobre o conteúdo de outro Ofício que seria encaminhado ao Chefe de Polícia pedindo que fosse feita reposição de pessoal do “grupo”, em especial, referia-se a Wilmar Domingues que havia “renunciado”. Sugeri que esse assunto esperasse mais trinta dias (enfim, Wilmar sempre estava com o grupo e poderia rever seu desligamento...).

Tim e Valdir acabaram concordando, enquanto isso nós iríamos conversar com alguns Delegados Especiais. Valdir sugeriu o nome do Delegado Nazareno Zachi, depois foi sugerido o nome de Acácio Sardá. Eu sugeri o nome de Lúcia Stefanovich. Valquir já de pé disse:

- “Não tem problema, eu até faço um sacrifício de ficar nas reuniões com ela, mas me nego a conversar com essa pessoa. Eu não falo com ela nunca mais!”.

Fiquei impressionado com as expressões no rosto de Valquir quando externou sua opinião... e aproveitei para argumentar no meu caso já tinha perdoado Lúcia, mas jamais esqueceria como ela e Lourival me criticavam... Tim argumentou:

- “Ela fez uma administração muito difícil. Deixou de fazer tanta coisa. Ele teve muito poder e não soube aproveitar. Foi um período muito difícil”.

Interrompi:

-“Perá aí, e o que dizer do Heitor Sché, olha quanto poder ele teve? Era Deputado Estadual, Secretário de Segurança, comandava tudo, primeiro homem junto com o Secretário da Fazenda, amigo do governador... A Lúcia não teve o poder que o Heitor teve naquela época, duvido...! Nós temos que lembrar que a Lúcia está na ativa, tá lá jogada na 5ª DP, nós temos que respeitar a história dela, por isso...!”

(...)”.

Quando Valquir já não estava mais conosco, argumentei:

- “Eu reconheço que ela fez muito, especialmente, com relação à construção de prédios, delegacias...”.

Tim contrapôs-se dizendo:

- “Eu não concordo. Construir prédios é fácil, é só ter dinheiro. Ela falhou em muitas coisas. Deixou de fazer muitas coisas...”. 

Lembramos que o Delegado Mauro Dutra estava falhando com o “grupo”, há tempos não participava das reuniões. Valdir pediu que fosse encaminhado o material relativo a proposta que fez tratando dos psicólogos para o Setor de Recursos Humanos. Depois, começamos a conversar sobre Dirceu Silveira e a dificuldade que ele estava tendo de formar alianças, firmar amizades...

Tim argumentou que Dirceu Silveira havia passado pela “Deic” e não trouxe ninguém de lá para trabalhar com ele. Lembrou que o pessoal comentou que por onde ele passava tudo que ele começava nunca terminava. Optei pelo silêncio porque não tinha interesse em criticar o Chefe de Polícia, mesmo porque tinha ainda um bom conceito a respeito dele, porém, argumentei:

- “O Jorge Xavier cometeu um erro terrível, ele juntou todas as facções na sua administração achando que com isso iria se o pacificador, eram Delegados de várias ‘alas’, no final o Valquir, o Ademar, o Oscar Peixoto e o Redondo articularam a queda dele. E por ironia do destino o Oscar acabou assumindo no seu lugar e depois veio o Ademar Rezende, olha só o que é o destino? Na época eu estive na sala do Jorge para assinar o documento que ele me passou, tratava da exoneração de todos os comissionados em caráter irrevogável e eu disse para o Jorge não fazer aquilo, mas ele já estava cego, fora de controle e me disse na frente do Valério que estava tudo arranjado, era só um faz de conta para dar uma satisfação para os Delegados que estavam revoltados, que estava tudo sob controle. O Dirceu pode estar cometendo o mesmo erro ao reunir pessoas de diversas bandeiras. No final ele não vai ter time algum porque não aproveitou para construir boas alianças, amizades...”.

Lamentamos o estilo Dirceu Silveira que ultimamente estava muito distante do grupo. Tim fez um desabafo reiterado parecendo meio desconfiado:

- “Antes ele vinha sempre aqui. Agora nem aparece mais”.

Recomendei que não encaminhássemos o ofício pedindo substituição do pessoal, pois em trinta dias muitas coisas poderiam acontecer. Tim se levantou da cadeira passou a me fitar curioso em razão daquela observação... e Valdir também, ambos esperando que em explicasse melhor o que tinha acabado de dizer. Propus que Tim procurasse Dirceu para conversar sobre o nosso “projeto” e fiz a seguinte sugestão:

- “Logo que tu conversares com ele a primeira coisa que tu vais perguntar é se leu mesmo o nosso ‘projeto’...”.

Ficou no ar um quê de curiosidade com aquela minha colocação anterior, o ambiente havia sido sacudido...  Nisso a secretária de Dirceu Silveira chegou até a sala trazendo um documento nas mãos e informando que  o Chefe de Polícia estava sozinho no seu gabinete e que era para nós aproveitamos. Tim quebrou o silêncio me perguntando:

- “Tu não queres ir lá no Dirceu comigo?”

Sem dar resposta fui argumentando:

- “Respira. Te acalma. Vai lá tranquilo. Não aja como quem vai para a guerra. Sorria. Converse sobre amenidades, e lá pelas tantas pergunte se ele já leu o ‘projeto’. Tu vais te sentir melhor conversando sozinho com ele, vai por mim!”