PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 01.12.99:

No ar

Vestido de debate

Nelson de Sá

“(...)

Quem esteve no ‘debate’ de Paulo Lopes, sexta-feira última foi Magno Malta, presidente da CPI. Ouviu opiniões e sugestões, por exemplo de Afanasio Jazadji.

Mas nem tudo, felizmente, é participação especial em programa de TV, nessa CPI do Narcotráfico.

Ontem, os telejornais da Globo anunciavam  seguidamente  que, depois de semanas da primeira notícia num isolado Jornal da Globo, a comissão vai investigar dois desembargadores e um deputado estadual da Bahia.

Eles teriam pressionado, segundo a denúncia de outro desembargador, para que fosse libertado um suposto ladrão de cargas.

Assim falando, não parece muito, mas já é alguma investigação, no inexpugnável protetorado de ACM” (Folha de São Paulo, 1.12.99, pág. 1-6, brasil).

Horário: 09:00 Horas

No café (pão de queijo), acabei por me encontrar com os Delegados Braga e Vilmar... (passaram a frequentar o local também pela manhã). O assunto do dia era a questão dos bingos e a impressão era que Braga continuava inconformado com a omissão da Polícia Civil e da sua Gerência (Jogos e Diversões). Como aguerrido defensor da corporação, Braga externou sua preocupação com as perdas de espaços da Polícia Civil nos últimos tempos e  acabei também por prestar a minha colaboração: 1) A Codesc (Companhia do Governo para o Desenvolvimento do Estado) havia usurpado a função de fiscalização de jogos e diversões públicas da Policia Civil; 2) os termos circunstanciados poderiam ser feitos pela Polícia Militar; 3) os acidentes de trânsito poderiam ser atendidos pela Polícia Militar; 4) a Diretoria de Polícia Técnica e Científica estava sob a direção de um Perito Criminal, contrariando a legislação estatutária da Polícia Civil; 5) a Academia da Polícia Civil estava na mão de um Delegado aposentado, indicado pelo Deputado Heitor Sché; 6) Heitor Sché havia fulminado com o dispositivo constitucional que garantia o respeito ao princípio da hierarquia na direção da Polícia Civil (qualquer Delegado poderia ser nomeado, até um substituto, talvez até um policial de outra carreira..); 7) O Conselho Superior da Polícia Civil não seria mais consultado sobre os projetos de interesse da instituição; 8) o Titular da Pasta baixaria portarias em afronta a legislação em vigor sem consultar a direção da Polícia Civil; 9) a supervisão dos serviços de vigilância patrimonial previstos na Carta Estadual estavam sendo ignorados, inclusive, não se nomeou o titular da respectiva Gerência de Vigilância Patrimonial; 10) apesar de tudo isso, a Associação dos Delegados de Polícia parecia alheia a tudo, parecia cega, surda, e muda... E, me perguntei: “a quem interessava o enfraquecimento dos Delegados, o apequenamento da Polícia Civil?”.

E, por último, lembramos do jantar do nosso grupo (sobrevivia ainda...) da próxima terça-feira... (07.12.99), quando faríamos o nosso último encontro do ano (e do milênio) lá no Restaurante Candeias. Pensei comigo que “faria o possível para que todos estivessem presentes, inclusive, os Delegados  Garcez, Krieger e Valério Brito...

“CPI da Mídia?”

Otavio Frias Filho – da Folha de São Paulo – na sua coluna de quinta-feira reportou-se  sobre o livro de Mario Sergio Conti que ao longo de 719 páginas dissecava as relações perigosas entre o governo
Collor e a imprensa:

CPI da mídia

Otavio Frias Filho

“(...)

Três ou quatro jornalistas são acusados de delitos, que eles negam. Como instituição, porém, a mídia, aparece como cúmplice do empresariado e do próprio Collor na fabricação de sua presidência. Toda discussão sobre a conduta da imprensa, que supostamente fiscaliza as demais condutas públicas, é útil e importante.

Mas o livro não se esgota no plano episódico, nem no corporativo. Ele capta a transição de um modelo a outro, fixando o momento em que o novo e o antigo ainda se justapunham. Emergia um jornalismo profissional e crítico, que teve sua consagração com o impeachment, nosso Watergate com quase 20 anos de atraso. (...)”(Folha de São Paulo, 2.12.99, pág. 1-2 Opinião).

Para onde foram os simpatizantes do partido de Collor no Estado (o PRN)? Onde estariam não só os “colloridos” (desde Amin, Sché, Ranzolin, Cavalazzi, Jair Silveira...) mas os jornalistas que escreveram colunas e colunas dando espaços consideráveis ao “caçador de marajás”?

Menos mal os resultados da CPI do narcotráfico. O advogado Saulo Ramos – Consultor-Geral da República e Ministro no Governo Sarney, além de elogiar os trabalhos dessa comissão, conclui que:

 

CPI resgata dívida do Congresso

Saulo Ramos

“(...)

A do narcotráfico resgata uma velha dívida, com sobre de méritos e capacidade.  E ainda demonstrou que o sistema policial do país está à beira da falência. Um dia, nesta página, escrevi: a sociedade  que não remunerar bem seus policiais corre o risco de vê-los  associados ao crime. Um PM que policia as ruas sujeito a levar tiros de metralhadoras importadas pelo contrabando, continua ganhando R$ 416! Se for para o lado dos bandos pode ganhar até R$ 5.000 somente para camboiar um caminhão roubado. Os honestos, que ainda os há, são verdadeiros heróis.

A CPI do Narcotráfico, em seu relatório, há de lembrar isso e o artigo 241 da Constituição, antes que prevaleça entre nós, o 121 do Código Penal. Há um velho ditado afirmando que a chuva cai por igual sobre honestos e desonestos, mas o desonesto rouba o guarda-chuva do honesto. A CPI do Narcotráfico há de impedir tais distorções, porque do jeito que está trabalhando só falta fazer chover no Nordeste (...)” (Folha de São Paulo, 2.12.99, pág. 1-3, Opinião).

No que deu aquelas CPIs criadas (e que também não foram...) nos últimos tempos na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina?

Horário: 15:30 horas - “Damásio: Um julgamento histórico!”

Damásio Mendes de Brito – Delegado de Polícia de Laguna me telefonou:

“(...)

  • Olha Felipe, tu não fostes na última Assembleia da Adpesc, foi uma pena, mas seria bom tu ires, mesmo tendo cargo comissionado, eu entendo que esse pessoal não queira se expor, mas as vezes é bom ir, eu sei que tu és “Assistente Jurídico” aí na Delegacia-Geral, mas...
  • Espera aí Damásio eu não ocupo cargo comissionado, nem estou designado, estou auxiliando apenas o Delegado-Geral pela minha condição de Delegado Especial.
  • Ah é? Mas tu não és o Assistente Jurídico?
  • Sim e não, eu estou aqui fazendo às vezes, fazendo esse serviços jurídicos, mas não ocupo cargo de confiança.
  • Eu pensei que sim.
  • Não!
  • Mas Felipe tu precisavas ver a última assembleia, o pessoal estava revoltado com o Heitor Sché.
  • Ah é? Mas pelo amor de Deus Damásio, que retrocesso, depois de tanta luta para se conquistar aquele avanço na Constituição, vai lá o Heitor e faz uma c. dessas, em vez de defender nossos interesses parece que está justamente lutando para derrubar o que pouco ainda temos, não é?
  • Tinha várias correntes ideológicas lá na Assembleia, mas, todos eram unânimes contra isso!
  • É verdade! Bom, mas eu não sei como é que o Heitor foi me fazer uma coisa dessas, fico pensando qual vai ser o seu julgamento histórico, tá certo que ele queira se reeleger, precisa da Polícia, dos Delegados... quer colocar o Delegado-Geral, pode ser até um Delegado Substituto, mas a custa de tanto, de nossos princípios institucionais, da violação da nossa hierarquia, não dá para entender, nem sei o que ele pensa disso tudo, ele é tão aficionado pelo poder que parece que fica cego?
  • Sim, como é que pode, então amanhã, Felipe, se corre o risco de ser comandado por um Delegado inexperiente, e tem mais aquele dispositivo que trata...
  • Ah, sei, é o artigo sétimo do Estatuto que trata sobre a hierarquia da função que deve prevalecer sobre a hierarquia do cargo.
  • É isso aí, tem que se mudar isso!
  • É verdade.

(...)”

“Delegado Ademar Rezende”:

E me veio a lembrança os últimos contatos que tive com Ademar Rezende,  que se revelava um intransigente defensor de pressupostos institucionais, inclusive, corria a informação que foi criticado na última Assembleia da Adpesc justamente por Delegados novos que ocupavam cargos comissionados, pois não queriam se submeter aos rigores de uma hierarquia que privilegiasse a antiguidade, especialmente, para efeito de ascensão funcional e submissão ao regime de entrâncias. Em resumo, queriam a manutenção das ingerências políticas a seu favor. Ademar Rezende se mostrava contundente contra aqueles que eram condescendentes com a violação de princípios e era um crítico das investidas levianas de Heitor Sché..

Horário: 22:00 horas- “Era o Delegado Natal”:

O Delegado Natal telefonou para minha residência. Já havia passado algum tempo desde que tivemos o último contado, aliás, tinha sido na cidade de

Chapecó. Na verdade, Natal queria sentir como estava o clima para o encontro de Laguna no dia 17 a Adpesc iria realizar assembleia, tendo como assunto de pauta alterações: a) ao Estatuto da Polícia Civil (Lei 6.843/86); b) Lei Complementar 55/92,  e c) Lei Especial de Promoções (LC 98/93):

“(...)

  • Natal, sinceramente eu não entendo, qualquer alteração que se queira fazer nessas legislações é retroceder, todos sabem que atualmente a ordem é cortar benefícios, prerrogativas dos servidores públicos e nós não escaparemos a isso, eles tinham que primeiro é lutar pela Lei Orgânica, continua em aberto e nem falam dela.
  • Brincadeira!
  • Não sei, mas acho que tem tantas coisas que estão acontecendo, e ninguém se posiciona, a nossa Adpesc fica neste silêncio.
  • Sim, é verdade!
  • Veja bem Natal, quanto nós temos regredido nos últimos tempos,  outro dia estava conversando com um Delegado e ele falou uma coisa muito certa:  “Felipe nós só temos andado para trás nos últimos tempos, o que é isso? Estamos que nem galinhas...” e fiquei pensando seriamente nisso, acho que é bem por aí!
  • É mesmo!
  • Só para teres uma ideia, esse negócio de bingo, vídeo loterias, caça-níqueis é função constitucional da Polícia Civil, consta lá que é fiscalizar, e tá lá o Braga sem poder agir, sem poder fazer nada!
  • Como é que está o Braga? Onde é que ele está agora?
  • Ele está respondendo pela Jogos e Diversões.
  • Ah é?
  • Sim, no lugar o Osnelito, bom, continuando, passaram para a Codesc a função de fiscalizar esses negócios de jogos de azar, quando deveria ser  atribuição constitucional nossa, e ninguém diz nada! Só porque é interesse do governo que a Codesc faça essa fiscalização, imagina quantos interesses estão em jogo, lavagem de dinheiro, esquemas, é por aí, e fomos nós apresentar um “Plano” para unificar os comandos das duas Polícias, o que quê é isso?
  • É verdade...
  • Outro exemplo é a vigilância privada, também  é função constitucional da Polícia Civil exercer a supervisão desses serviços, só porque a Polícia Federal também desenvolve funções similares, mas noutro nível, conclui-se que a Polícia Civil não tem mais nada a fazer, onde é que nós estamos? Onde está o princípio da autonomia dos Estados? Tem os termos circunstanciados que a Polícia Militar está também confeccionando, outra afronta à nossa função de Polícia Judiciária, mas ninguém diz nada e o Ministério Público que deveria ser o fiscal da lei, guardião da democracia e das normas constitucionais...
  • Ah, sim...
  • A Diretoria de Polícia Técnica e Científica está sendo comandada por um Perito, nada contra eles, muito pelo contrário, mas o nosso Estatuto dispõe expressamente que o órgão deveria ser dirigido por um Delegado, então, onde estão nossas lideranças? Além do mais Natal, todo mundo sabe que a luta deles é pela independência daquele órgão, um patrimônio da Polícia Civil há décadas, de mais a mais, toda a Polícia Civil tem que ser . científica e não apenas monopólio de alguns. Chegaram ao ponto de fazer o Secretário de Segurança assinar uma Portaria para dizer que nos locais de delito o Delegado tem que se fazer presente para recepcionar os peritos, brincadeira, a que ponto chegamos? E ninguém diz nada, a cúpula da Polícia Civil não se manifesta, a Adpesc não se posiciona, o Julio foi para a Secretaria de Transportes, o Redondo, Lipinski e Rachadel permanecem em silêncio vendo tudo isso, não fazem nada, não dizem nada...
  • Eu não entendi, como é que é?
  • Sim, é isso aí Natal! O Código de Processo Penal dispõe que o Delegado vai ao local de infração criminal quando for possível, caso contrário manda um Agente.
  • Sim, fizeram o Secretário baixar uma Portaria ilegal que vai contra o que preceitua o próprio Código de Processo Penal, aí fica difícil?
  • Ninguém vai cumprir isso, claro que não!
  • Claro, mas veja a afronta. Outro exemplo é a Academia da Polícia Civil, colocaram um Delegado aposentado para dirigir aquele órgão, quando teria que ser um Delegado da ativa, então Natal são tantos exemplos e a Adpesc quer propor estudos para alterar a nossa legislação? É empurrar com a barriga, ao invés de peitar, apresentar manifestos, convocar assembleias, ir à imprensa denunciar...
  • Bom, já disseram que quando não se quer mudar nada se cria uma comissão.
  • O que vai acontecer é isso aí! Joga-se isso para o pessoal na Assembleia,  e está feito, passa o tempo e fica aquela impressão momentânea de que vão fazer alguma coisa, tudo cascada, um faz de conta, mas será que o nosso pessoal é tão retardado assim? E vem o Heitor Sché me apresentar ainda uma emenda suprimindo da Constituição que o Delegado-Geral tem que ser do último patamar, o que é isso? Que retrocesso? Eu quero ver como é que o Heitor vai fazer para justificar isso, certamente. No futuro vai haver um julgamento histórico sobre os retrocessos que causou à Polícia Civil, é impossível que o nosso pessoal seja tão subserviente,  retardado?
  • Sim, isso foi uma barbaridade, meu Deus Felipe, como é que ele pôde fazer uma coisa dessas?

(...)”.

“Façamos as mudanças antes que os outros a façam!”:

No Rio de Janeiro, pelo menos o Governador Anthony Garotinho (PDT) tenta fazer o que aqui não se teve a coragem de se fazer:

Segurança Pública – Votação foi ontem, na Assembleia Legislativa, com 40 votos a favor, 13 contra e 2 abstenções

Rio aprova projeto que une polícias

Fernando da Escóssia

O governador Anthony Garotinho (PDT) deu uma demonstração de força política ao obter ontem da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio) a aprovação do projeto que cria o Instituto de Segurança Pública, uma autarquia destinada a comandar a política de segurança e o processo de integração das polícias Civil e Militar.

O ‘RioSegurança’ (nome sintético do projeto) é um dos pilares da política de segurança pública do governador em sua busca de visibilidade nacional. Garotinho é hoje um potencial candidato à Presidência da República.

(...)

Além da ‘subordinação’ das polícias a uma autarquia, outros dois pontos do projeto são especialmente polêmicos:

  1. Uma seleção dos policiais, para absorver no ‘RioSegurança’ os bons policiais, aumentando seus salários, e isolar, nas velhas instituições, o que o governo chama de ‘banda podre’ da polícia;
  2. A cobrança de uma taxa de prestação de serviços extraordinários de segurança de pessoas ou instituições que realizarem eventos públicos.

Quatro associações de policiais civis e militares se preparam para entrar no Supremo Tribunal Federal com uma ação de inconstitucionalidade  contra o projeto.

‘Essa taxa é inconstitucional. Além do mais, o projeto cria uma terceira polícia e discrimina policiais’, afirmou o presidente do Clube dos Oficiais da PM, coronel Paulo da Rocha Monteiro, enquanto cerca de 30 policiais civis e militares faziam manifestações nas galerias da Alerj.

A Associação dos Cabos e Soldados da PM, porém, é favorável à criação do ‘RioSegurança’.

 O projeto ainda enfrenta algumas desconfianças dos próprios deputados aliados do governo. O deputado Hélio Luz (PT), ex-chefe da Polícia Civil, disse que o projeto é bom, mas duvida que o governo consiga implentá-lo” (Folha de São Paulo, 2.12.99, pág. 1-7, brasil).