PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 09.11.99 - “A Polícia Operacional”:

Esse dia certamente que não era para comemorações, não só pelas notícias que estavam nos jornais, especialmente, na “Folha” de São Paulo. Era um dia atípico de novembro, um frio não condizente com a época, tudo estava mais cinza, porém, lembrei que nove era um dos meus números preferidos:

“CPIs e delegacias”:

A CPI-delegacia

Clovis Rossi

São Paulo – São tantas as anomalias neste pobre país tropical que algumas delas escapam quase despercebidas. É o que está ocorrendo com as descobertas da CPI do Narcotráfico.

A CPI transformou-se em uma espécie de delegacia de polícia, o que, ao menos em tese, extrapola de longe suas funções. Nada contra a extrapolação. O problema é que a ação da CPI expõe a inação das polícias locais e da Polícia Federal.

Não é razoável imaginar que estas não pudessem levantar antes da CPI informações sobre uma rede criminosa que está em ação há muito tempo e, por extensão, deveria ter merecido a atenção dos organismos competentes. O fato de policiais fazerem parte do bando torna ainda mais grave a situação, na medida em que permite supor que os policiais não envolvidos ou eram coniventes ou temiam a ação de seus companheiros.

Em qualquer caso, está-se diante de uma situação de enorme gravidade que deveria ter chamado a atenção dos respectivos governadores e do aparelho federal de segurança, tão logo surgiram as primeiras evidências do esquema criminoso.

Só agora, no entanto, o Ministério da Justiça convoca um conjunto de atores para ensaiar uma espécie de “Operação  Mãos Limpas” à brasileira.

Atraso à parte, o importante é não deixar esvasiar-se o momento criado pelas investigações da CPI. É uma chance de ouro para expor o crime organizado, um cancro que contaminou o poder público, como está demonstrando a CPI, e é certamente responsável por uma ponderável fatia da violência que tanto assombra o país.

Atacá-lo a fundo é, talvez, a melhor maneira de devolver um mínimo de civilização à vida nas grandes metrópoles e até nas médias.

A CPI, por si só, não tem condições de desempenhar esse papel. Que as demais instâncias do poder público saibam, enfim, cumprir o seu.

(Folha de São Paulo, 9.11.99, pág. 1-2 Opinião)

“Policiais operacionais”:

O cinema e o crime

Carlos Heitor Cony

Rio de Janeiro – Estaria eu entre os últimos a condenar o cinema como um dos instigadores da violência. Mas não se pode negar a evidência: a chacina do Morumbi teve como palco um cinema, no qual se exibia um filme violento.

Leio uma das declarações do assassino, a que me pareceu mais óbvia para explicar o massacre: “Era como se tivesse uma câmera me filmando o tempo todo”.

Além do palco e da peça, o cinema lhe forneceu a motivação básica: ele estava representando para uma plateia invisível. Quando o filme acabasse e as luzes ascendessem, nada teria acontecido realmente.

De tanto ler romances de cavalaria, Dom Quixote ficou alucinado e saiu pelo mundo tentando fazer justiça. Até certo ponto, é um precedente. Mas não se pode culpar a literatura pela loucura, que no caso do Cavaleiro da Triste figura foi inocente.

Quando interrogam suas vítimas os nazistas botavam na vitrola o prelúdio do “Tannhäuser” para se inspirarem e abafarem  os gemidos dos torturados.

O cinema junta no mesmo saco a literatura, a música, a imagem, o movimento e a moda. Mistura que pode ser mortífera – como tem sido em casos parecidos com o do Morumbi.

Como naqueles copos antigos de uísque, em que havia marcações (“for ladies”, “for men”, “for pigs”), o cinema em si é um líquido que toma a forma do vaso que o contém. Neste particular, eu fico no nível que me cabe, o do meio.

A qualquer instante, dos 60 canais que a TV nos oferece, uns 50 estão com uma arma apontando para alguém. Por conta disso, muitas vezes me surpreendo num canal onde um cara passa noite toda vendendo tapetes, embora eu não tenha nenhuma intenção de comprá-los.

Se o assassino do Morumbi assistisse sempre o mesmo programa, em vez de tantas pessoas, ele só teria  matado esse vendedor de tapetes.”

(Folha de São Paulo, 9.11.99, pág. 1-2, Opinião)

“Policiais acabam sendo representados no palco”:

José Simão

Eu odeio a Juliana, mas adoro macarrão!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! (...).

E a melhor frase do fim-de-sema foi de um PM: “A amásia adentrou o local”. Por isso que eu sempre digo que a única coisa que evolui no Brasil é linguagem policial. E quando eles dizem: “Estamos na captura de um elemento pardo de calção e sandália havaiana?” Ou seja, estão na captura do Brasil inteiro: pardo de calção e havaianas!

E eu estava vendo a CPI do Narcotráfico com o deputado Zé Gerardo depondo. E ele só respondia: “Esse eu não conheço”.  “Eu não conheço”,  “eu não conheço.” Até que uma telespectadora ligou: “Como ele conseguiu se reeleger se ele não conhece ninguém?”. Rarará! Sensacional essa maranhense!

E, agora que a CPI do Narcotráfico tá dando certo e brilhando, adivinha quem quer pegar uma carona no brilho? O ABAFADOR DE CPIs, O FHC! Justo ele que abafou todas as CPIs quer pegar carona na CPI das drogas? Em tudo que brilha ele quer se pendurar. Até que a CPI vai bater num assessor dele, e aí ele manda abafar!

E, sobre o atirador do shopping, um leitor me disse: “Continuamos com os crimes sociais e importamos os crimes psicológicos, o pior dos dois mundos”.

E o cinema trocou de filme. Tirou o “Clube da Luta” e botou uma comédia, “American Pie”. Torta americana!  Mas foi exatamente isso que aconteceu antes: uma torta americana! (...).

(Folha de São Paulo, 9.11.99, pág. 4-6, Ilustrada).

“Serial Killer”:

Arnaldo Jabor

O que queria nos dizer o criminoso do cinema?

Vamos ao cinema em busca de ilusão. De repente, sai da tela a realidade brasileira querendo ser “realidade americana”, como uma pavorosa “rosa púrpura de sangue”!

“Uma arma na mão e uma bala na cabeça”, foi o slogan dessa noite terrível. Mateus Meira, nosso primeiro “serial Killer” rico e branco, não queria ser criminoso brasileiro: queria ser criminoso importado. É como se o jovem assassino dissesse:  “Eu não sou vocês; eu sou eles!”

Esse rapaz é paranoico, pirado de pedra, sem dúvida; mas quem dá conteúdo à sua loucura? As imagens elegantes da morte do cinema americano, que transformou o crime em um bailado ritual, em uma dança erótica. Quem o arma? O comércio incontrolável de máquinas mortíferas, que nem Bill Clinton consegue coibir.

E contra o que ele reage, de que ele foge? Deste nosso mundo mixo, deste “cinema brasileiro”cheio de assaltantes sujos, matando por miséria. Ele quis matar nosso mundo de apenas “espectadores”. Ele quis mais; além de “olhar”, ele quis ser”.

Inverteu-se a cena; da tela onde passava o filme, vieram as balas, a luz veio contra a escuridão. É incrível que muita gente negue a influência do cinema nos assassinatos. Já estamos tão acostumados com o massacre colorido que nem percebemos o absurdo (...)”

(Folha de São Paulo, 9.11.99, pág. 4-8, Ilustrada)

“As cafonices”:

Imprensa, polícia e psiquiatria para ricos

Marilene Felinto

“Aqui não tinha gente rica, por isso, o governador Mário Covas nunca vai querer achar os responsáveis”, desabafou Flávia Diamantino, 19, mulher de Fábio Ferreira, assassinado numa chacina em Carapicuíba (Grande São Paulo), na noite de sábado.

Hoje não vai sair publicada no jornal uma carta de próprio punho de Flávia Diamantino contando seu drama: o marido morreu em seus braços, baleado em uma festa de casamento. Os bandidos entraram atirando a esmo com revólveres e pistola, deixaram três mortos e nove feridos.

Mas ontem saiu publicada no jornal uma carta de próprio punho de Carlos Eduardo Porto de Oliveira, vítima do atirador do cinema do Morumbi Shopping, em São Paulo. Ele levou dois tiros e perdeu a namorada, Fabiana Lobão Freitas, atingida mortalmente pelo estudante de medicina.

Produtor de cinema e filho de advogado, Porto de Oliveira tem direito a um espaço no jornal que não cabe ser dado a Flávia Diamantino. Por quê? Afinal, a dor de uma vítima não é menor do que a da outra. A morte e a perda têm nome e intensidade iguais.

Por que a imprensa transforma o crime do shopping em episódio mais chocante, mais tocante e mais importante do que a chacina de Carapicuíba? Resposta: porque a “sociedade” sente assim. Porque, para a imprensa, a “sociedade” inclui e se encerra nas classes altas que frequentam o Morumbi Shopping paulista, lêem jornal revistas e vão ao cinema assistir a “Clube da Luta”. Resposta 2: porque para a imprensa, a polícia, a Justiça e a psiquiatria, Flávia Diamantino e todas as outras vítimas de chacinas na periferia já devem estar acostumados  - e, se não estiverem, que se acostumem! – aos tiroteios, às rajadas de metralhadoras que chegam surpreendendo e assassinando. Afinal, que valor tem a gente cafona que comia o bolo cafona, enfeitado com flores cafonas num salão de festas cafona do violento e miserável município de Carapicuíba? (...)”

(Folha de São Paulo, 9.11.99, pág. 3-2, Cotidiano)

Horário: 20:00 horas - “Jorge Xavier: O anjinho”:

À noite um encontro mensal no Candeias de Barreiros que passou a se chamar de Restaurante “San Remo”. Estavam presentes Jorge Xavier, Vilmar Domingues, Cláudio Palma Moura, Cesinha, Leninha... Tentei fazer um contato com Garcez, mas nada, nem nada de Krieger, Braga... De mais a mais era sempre uma grande oportunidade para rever os amigos e colocar os assuntos em dia.  O restaurante estava praticamente vazio, era desolador... E, Jorge Xavier de terno, gravata..., mais parecia um maître sofisticado de restaurante internacional...

Logo fui inteirado da nova realidade nas relações entre famílias, acerca dos conflitos entre Geraldo e sua mulher (era uma pedra no sapato de todos e diziam ser osso duro de roer), donos da rede Candeias. E, na outra ponta,  o casal Jorge e Leninha que segundo soube não só trocaram o nome do estabelecimento, mas, assumiram também a direção daquela unidade. Todas essas inovações não tiveram a aprovação de Geraldo e de sua apimentada esposa. Enquanto isso, Giza (esposa de Cesinha), sempre ficava do lado da mãe que detinha seu controle e sua vontade e, daí, a coisa ficava feia. De qualquer maneira, antes que a casa entrasse em processo de falência, “São Jorge” resolveu assumir os negócios ao lado do filho que era o gerente do restaurante..., e por aí a coisa ficou engraçada. Realmente o casamento de Cesinha parecia estar de mal a pior, mas restava o centro das atenções que era a netinha ( o “anjinho”), que no final das contas mantinha o clã unido.

E acabei a noite pensando em flores, com uma dor de cabeça querendo ganhar espaço..., e lembrei que ainda era dia nove o que me fez lembrar então dos nossos anjinhos, inclusive da "Clarinha" partindo para os seus nove anos...