PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 09.05.2000, horário: 05:20 horas – “Maio se vai”:

Estavam em Florianópolis e resolvi ir ver a cidade do alto do Morro da Cruz, apesar do mirante estar em reforma. Quando   lá cheguei tive que desviar de entulhos pelo chão, o que me fez lembrar da Prefeita Angela Amin que havia mencionado que aquele ponto seria prioridade. Muito importante para quem amava a nossa Capital como nós manezinhos.

Do alto fiquei observando o crescimento da cidade, havia já alguns anos que não tinha estado mais naquele local. Lá embaixo o centro da cidade, o continente, os municípios que se agigantavam em áreas conurbadas.

Em segundos veio na lembrança quantas vezes estive nas emissoras de televisão ao lado e, também, para ver o por do sol e seu esplendoroso brilho refletido sob o mar calmo da baia norte. Céu azul, aquele frescor de outono já conhecido, a proximidade com o céu azul, o cair das tardes chegando. No carro ainda sibilava aquele vento fagueiro e os acordes da segunda música do CD de Pat Mattney (Imaginay Day) que escancarava pela porta aberta do carro estacionado nas proximidades.

O dia seguinte seria dez de maio, aniversário da Polícia Civil e não haveria festas, absolutamente nada a se comemorar ou festejar, apenas o de sempre. A solidão foi  interrompida por algumas pessoas que também chegavam  no mirante quando me dei conta que já passava trinta das dezessete  horas. Considerei que já estava tarde e era hora de ir ao encontro de minha vida lá nas “baixuras” que parecia insistir sempre em me esperar, que minha missão estava realmente chegando ao seu momento final, que de qualquer forma poderia se transformar naqueles momentos derradeiros como uma homenagem surrealista  a mencionada data, como se fosse por meio dos    relógios de Dali.

Antes de descer, dei um trocado para o “menino” de cor que se intitulava o “dono” do estacionamento. Depois disso, retomei minha trajetória - livre dos setes e dos noves, finalmente,  pronto para enfrentar o declive e voltar à realidade.

No trajeto, pensei ainda: “talvez no ano que vem retorne ao mesmo lugar (alto do Morro da Cruz), pois ainda acredito em milagres, no nosso ‘Plano’”.

Data: 29.05.2000 – “O que pensa o Corregedor-Geral João Manoel Lipinski”:

No dia 29.05.2000, ainda no período da manhã, o “Corregedor-Geral “ João Lipinski esteve na “Assistência Jurídica”, parecia diferente e que pretendia estreitar uma aproximação.  Conversamos sobre diversos assuntos, dentre os quais: 1) o desrespeito à hierarquia na Polícia Civil (Lipinski afirmou que só permitiu que Delegados Substitutos permanecessem na Corregedoria-Geral em razão dos processos já em andamento e porque se saíssem iriam inviabilizar os serviços). Argumentei que noutros órgãos do Estado, como Magistratura, Ministério Público e Polícia Militar isso não acontecia;  2) criticou os dossiês encaminhados ao Governador por Delegados acusando os próprios colegas. Aproveitei para argumentar que tais mazelas eram profundas, eis que se um colega falasse/escrevesse/encaminhasse documentos com denúncias acerca de algum colega, nesse caso também interessado em cargos na instituição, o estrago que isso causaria dificilmente cicatrizava, cujos reflexos seriam permanentes; 3) a necessidade de uma lei orgânica nacional da Polícia Civil;  4) também, a falta que fazia uma lei estadual que disciplinasse a Polícia Civil no Estado  (Lipinski revelou sua confiança de que seria por meio dela que se resolveria inúmeros problemas e eu repliquei, afirmando que antes dela era favorável que se estabelecesse uma nova ordem, onde deveria preponderar novos valores como a ética, a consciência de classe, a responsabilidade, consideração, respeito...); 5) o rombo causada com a emenda constitucional Sché que revogou o dispositivo que obrigava que o Delegado-Geral fosse escolhido dentre os Delegados Especiais, o que se constituiu retrocesso de mais de vinte anos; 6) a nomeação de Delegados-Gerais por critérios políticos, cujos escolhidos assumiam seus cargos sem projeto algum, o que não acontecia noutras instituições. 

Depois que Lipinski saiu, pensei nos tais “dossiês” que ele havia mencionado e lamentei não ter relatado como exemplo o episódio que envolveu meu primo Nilton Knabben que se encontrava na direção de uma empresa federal ligada ao Ministério dos Transportes. No ano passado (1999) Niltinho me contou que esteve no Detran conversando com o Delegado Wanderley Redondo para tratar  de assuntos de seu órgão. Durante a conversa animada, em determinado momento meu parente sabendo que Redondo era Delegado de Polícia, disse que tinha um primo que também era da área. Redondo rapidamente quis saber quem era? Niltinho disse que era “Felipe Genovez” e Redondo ficou visivelmente afetado, mudando a expressão, cor  e o tom da conversa, dizendo: “O Felipe é foda, olha ele é foda, ele fez  uma lei só para ele ser promovido, ele já é Delegado Especial enquanto eu sou ainda Delegado de Quarta Entrância, sou mais antigo que ele, se duvidas eu posso te provar que ingressei antes que ele na carreira...”.

Depois desse lamento, achei que deveria ter dito para Lipinski que as minhas três primeiras promoções ocorreram segundo a legislação antiga e, para Especial, quando entrou em vigor a  LC 098/93 (sim, era verdade, eu fui o responsável pela redação dessa lei), porém, quando a lei foi publicada eu havia rejeitado a promoção quando quase todos desconheciam a sua vigência e como eu tinha informações privilegiadas poderia ter me inscrito no certamente que seria promovido, só que abdiquei de me inscrever no processo, mesmo sabendo que minha promoção era virtual...). Na verdade conhecia bem a legislação, de outra parte os interessados desconhecendo essa Lei não se habilitaram dentro do prazo legal - dez primeiros dias de janeiro/1994), vindo a sobrar diversas vagas por falta de inscritos. No meu caso, tive que esperar até 1998 para conseguir minha promoção, ou seja, somente depois de seis anos (a promoção foi retroativa ao ano de 1996). Evidentemente que o Delegado Redondo nunca se preocupou com as promoções passadas, quando não haviam critérios... e haviam as negociatas, privilégios para alguns  apadrinhados, talvez agora se preocupe porque há critérios e quem está no poder deve segui-los.

Data: 30.05.2000 – “Lipinski: a bola da vez”:

Fui ao encontro de Wilmar Domingues na sala onde costuma o encontrar. Ele estava conversando com o Delegado Braga, ambos lendo jornais. Relatei a visita de Lipinski e que havia conversado com Optemar que disse haver três nomes para substituir Moreto que iria deixar a Delegacia-Geral. Para satisfazer  a curiosidade de Braga disse que eram Maurício, Rachadel e, por último, ele próprio. Num primeiro momento Braga chegou a desconfiar e  achou que eu estava brincando. Tão logo acabei de reiterar essa informação entrou na sala o Agente Administrativo Walter (o homem do “Guarda-Chuva Velho”) com um convite em mãos para os presentes e ao mesmo tempo dizendo, meio que desanimado e um tanto contido:

- “... agora já tem Delegado-Geral”!

Eis o convite:

ESTADO DE SANTA CATARINA – SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA – GABINETE DO SECRETÁRIO – CONVITE - “O Secretário de Estado da Segurança Pública,  Antenor Chinato Ribeiro, sentir-se-á honrado com a presença de Vossa Excelência na solenidade de posse do Delegado-Geral da Polícia Civil, João Manoel Lipinski, e do Corregedor-Geral da Polícia Civil, José Moacir Rachadel, nomeados, respectivamente, pelos Atos nos 0574 e 0575, de 25.05.2000, de Sua Excelência o Senhor Governador do Estado, publicados no DOE n. 16.422, de 29.05.2000. Data: 31.05.2000 – Horário: 15 horas – Local: Academia de Polícia Civil – Acadepol – Rod. Tertuliano de Brito Xavier, 209 – Canasvieiras – Fpolis”. 

Após lido o documento, pude sentir que o ambiente se transformou, de um lado uma certa satisfação de ter sido Lipinski o escolhido(Braga lamentou que o novo Delegado-Geral não tivesse visitado o andar térreo quando esteve fazendo visitas). A sua a voz embargada contrastava com o olhar meio perdido de Wilmar,  com a minha surpresa e silêncio, enquanto que Braga ainda afirmava que o escolhido não era final de carreira, mas o que  adiantaria protestar?