PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 16.01.2000, horário: 17:00 horas – “A vida continua - I”:

Estávamos na casa de praia de Cilene Isabel Meirelles no Morro das Pedras, um daqueles lugares cheio de bucolismo, para um momento de reflexão e paz, um lugar para se passar o final de semana sem se importar com o mundo lá fora com a impressão que o tempo parava.

Convidei Clara para dar uma volta na praia e ela insistiu em levar as raquetes de frescobol, sua havaiana vermelhinha e lá fomos nós em direção a Praia do Campeche, beirando a água cristalina que teimava sempre em beijar a areia com suas ondas espumadas e seus movimentos bravios, era um caminhar que mais lembram “maria-mole”...

De vez em quando, Clara pedia para darmos uma paradinha, era O merecido descanso, o que fazia jus para os seus quase nove anos que estava chegando. Pensei no mês de abril e naqueles números todos: Dia vinte um: Tiradentes e as “Polícias”; vinte dois: Descobrimento do Brasil (!?!?); vinte três: Clara..., enfim..., um novo século, um novo milênio... o que estaria reservado a ela, mas só mesmo tirando a prova dos noves, ou talvez noves fora...

Fixei-me na Clara para aproveitarmos aquele nosso momento de tão rara proximidade e beleza, jogávamos conversa fora e volta e meia vinha aquela indagação:

  • Ô Filipe quanto falta para a gente chegar?
  • Uns mil metros. Tá vendo aquela ponta lá? (era a extremidade sul da ilha do Campeche)  estamos quase chegando na frente dela, é lá!

Depois de uma longa caminhada de quase uma hora estávamos na praia com águas bem mais calmas do que as do Morro das Pedras. Rapidamente, largamos as raquetes, bonés, sandálias, camisetas e mais dois reais no chão e às pressas nos atiramos na imensidão daquele mar, quase sempre de mãos dadas num sinal de plena proximidade familiar.

E, intercalamos os banhos com alguns joquinhos de frescobol, e quando pensava em retornar, Clara com aquele seu jeito:

  • Ô Filipe podemos ficar mais um pouquinho?

E não tinha como dizer um não. De longe avistei um pessoal jogando voleibol de praia e lá estava no meio “Marquinhos” (policial civil) dando aquele seu saque desengonçado, pronto, estava ali uma desculpa para tirar Clara d’água:

  • Clara, vamos dar uma chegadinha ali, tem um amigo jogando voleibol.

Saímos banho e formos em direção da pelada: 

  • Foi o meu melhor banho! (disse Clara)

Prestei atenção e me arrependi por que não disse também que tinha sido o meu melhor banho de mar naquele verão, mas o importante era o sentir. Ao lado do campo, logo que “Marquinhos” nos viu, aproveitando-se de um breve momento de intervalo, fazendo sinal fez uma pergunta:

  • Quem é essa menina?

Fiz um gesto ambíguo com a mão, querendo fazer referência e demonstrar que ela estava comigo.

  • O quê? Mais uma filha? (indagou Marquinhos com certa ironia)
  • Não, Marquinhos ela é filha de uma amiga.

E Clara, que de vez enquanto entretinha-se pegando a bola que ia fora, apenas sorriu. Como a partida continuava, convidei Clara para retornarmos, sem antes gastarmos aqueles dois reais com uma água mineral e um refrigerante em latinha.

Já anoitecia e nós, enfim, naquele início de ano novo estávamos talvez estivéssmos chegando a algum lugar em família e amigos, mais por conta de nossos vínculos ou até mesmo de "fadinhas", dos setes ou quem sabe para descobrir o desafio dos "noves", toda as incertezas do futuro, mas trazendo no coração a vontade de acertar, de não fracassar, a fé, a vontade de mudar para construir um mundo bem melhor. 

Data: 20.01.2000 – “A vida continua – II”:

Os jornais traziam notícias sobre o crime organizado e a queda do Ministro da Defesa e ex-Senador Élcio Alvares pelo Espirito Santo, as declarações de um intrépido Delegado Francisco Badenes que trazia o foco da mídia não só para si, mas para toda as polícias e ascendia velhos ânimos.

Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo, assim se reporta ao assunto...:

A crise sem defesa

“(...)

Sinal de crise não foi a inclusão do ministro da Defesa entre acusados de proteger criminosos, não foram suas farpas contra dois ministros nem, por causa delas, sua demissão. Sinal de crise foi a nomeação de Elcio Alvares para ministro da Defesa.

Crise de responsabilidade, crise dos conceitos de deveres públicos e de governo, crise da classe política deteriorada e crise de alienação dos setores sociais influentes (...).

A estabilidade ministerial média é de oito semanas, quando a Presidência da República começa, com os jornalistas da casa, a escalpelar um ministro que cairá em poucos dias mais. Elcio Alvares é político da espécie que Brizola batizou de filhotes da ditadura. A derrota na eleição para o Senado, em 98, não o desqualificaria nem a outro, para o Ministério da Defesa. Mas, muito fosco como parlamentar, depois de sê-lo como governador do Espírito Santo, além de outras deficiências, Elcio Alvares ganhou a Defesa como se o ministério fosse um bem pessoal de que o presidente da República pode dispor para presentear. Daí que sua nomeação fosse explicada como consolo pela derrota para o concorrente então no PSDB (...).

Avanço de sinal

Pelo que está divulgado, Francisco Badenes é um delegado de excepcional eficiência e um homem de coragem, qualidades implícitas nas suas investigações sobre o narcotráfico e a alta criminalidade  no Espírito Santo. Mas nada poderia autorizar qualquer insinuação contra uma pessoa, apenas por aparecer em fotografia ao lado de um suspeito ou acusado. Tanto mais se o acusado de integrar o esquema do grande crime, José Carlos Gratz, é presidente da Assembleia Legislativa capixaba. Haveria infinitos motivos para um ministro do Supremo Tribunal Federal deixar-se fotografar ao lado de uma autoridade estadual. E outros tantos para ignorar que essa autoridade é acusada de crimes. Acasos desses podem acontecer a todos, e levá-los além do que são já deu em muitos desastres. Inclusive jornalísticos, dos quais não está distante o caso, no Rio, de uma foto de Brizola ao lado de traficante, que nem marginal era” (Folha de São Paulo, Janio de Freitas, 20.01.2000, pág. 2).

O Diário Catarinense com seu pessoal bem pago e preparado, de bem com a vida, deu o seu recado na página política e deixava algumas perguntas no ar: E quem começou tudo isso contra o Judiciário... (teria sido o Senador Antonio Carlos Magalhães...?)?; E a lei da Mordaça já aprovada em primeiro turno na Câmara junto com a reforma do Judiciário?

Crime organizado

Autoridades repudiam suspeita contra Velloso

Brasília

Os presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Reginaldo de Castro, e da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Antonio Carlos Viana, divulgaram notas repudiando “as insinuações” feitas anteontem contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Velloso, pelo delegado Francisco Badenes durante depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Badenes sugeriu a possibilidade  de existir uma ligação entre Velloso e integrantes de grupos de extermínio no Espírito Santo.

A assessoria de imprensa de Castro informou que ele telefonou para Velloso e lhe prestou solidariedade . Castro disse que o clima de ‘intimidação geral  que já atinge o presidente do STF é inaceitável’ e que ‘a agressão sofrida pelo ministro Velloso é odiosa’. Já Antonio Carlos Viana disse que por trás da ‘maledicência irresponsável’ do delegado para tentar ‘desmoralizar’ o presidente do STF, ‘está  o objetivo espúrio de intimidar um magistrado que tem cumprido sua missão institucional com a mais absoluta imparcialidade e correção’.

O presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou para Velloso, manifestando solidariedade. Também telefonaram para prestar solidariedade a Velloso o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o novo ministro da Defesa, Geraldo Magela Quintão. De acordo com o STF, os três  ressaltaram a integridade moral do presidente do Supremo” (Diário Catarinense, 20.01.2000, pág. 1)

“A vida continua – III”:

Coisa de garotinho...:

“A barbárie banalizada

Rio de Janeiro – A  barra pesada andava mais pesada do que nunca na favela Dona Marta em 1994 (...). Uma criança banalizar a violência urbana é um sintoma social incômodo.

Cabe ensiná-la a avaliar o perigo e a se proteger (...).

‘É diferente quando morre uma pessoa de bem, um trabalhador’, disse Garotinho, em seguida à matança de sexta-feira na favela Nova Holanda, numa invasão de traficantes.

Quatro dos mortos não tinham antecedentes criminais. Numa questão de vida e morte, Garotinho condena quem não pode se defender. E se fossem da bandidagem? O massacre seria legítimo? O que o governador vê como normal não o é. Guerra de traficantes não liquida o narcotráfico, como comprovou tragicamente o cabo PM abatido ontem na região da Nova Holanda, agora ocupada pela polícia. Em 1998, num livro sobre segurança pública, Garotinho pregava que ‘um governo deve atuar em favor da paz e da civilidade, e não da guerra e da barbárie’. O que mudou: o conceito de barbárie ou o governador?  (...)” (Folha de São Paulo, Mário Magalhães, 08.02.2000, pág. 2)”.

Onde estavam nossa Justiça, nossas Polícias?

Casa de marimbondos

Eliane Cantanhêde

Brasilia – Você se lembra dos bancos Marka e FontCindam, que geraram um escândalo, mobilizaram a Polícia Federal e produziram uma CPI?

Se R$ 1,57 bi causaram aquilo tudo, por que os estaduais desde 1996 não causam nada? Nem escândalo, nem inquérito, nem CPI.

É simples. Porque os bancos estaduais sempre foram um instrumento político dos governadores, encheram as burras das empresas privadas e todos fecharam m pacto de silêncio.

O banco emprestava aos amigos, financiava as eleições dos amigos e era obrigado a comprar os títulos emitidos pelo Estado sempre que a corda apertava. E nada disso era pago depois. Soma daqui, nunca diminui dali, o resultado é um rombo monumental. Que, invariavelmente, cai no colo do governo federal. Ou seja, no seu. Há bancos estaduais ‘saneados’ duas, três vezes. Quebra, saneia, quebra saneia, quebra... Recebe montanhas de dinheiro para pagar em suaves prestações mensais, em 30 anos. E acaba quebrando de novo.

Como o Senado é cheio de ex-governadores, simplesmente não há “mão-de-obra” para tocar uma CPI sobre bancos estaduais. E a CPI dos Bancos, que acabou mansamente, sem ruído, nem tocou no assunto.

A privatização é a melhor saída, inclusive para o Banespa. E o que se discute agora é abrir a venda ou não para compradores estrangeiros. Quem quer abrir é a área econômica, que seguia à risca o manuel liberal-globalizante. Quem não quer é a área política, com um bom argumento: o estrangeiro compra o banco pagando juros de 5,75% ao ano nos EUA e passa a cobrar juros de 19% aqui. O que acontece? Os juros que você paga aqui vão quitar rapidamente a dívida que ele tem lá. Um negócio da China!

Antes, pagávamos as orgias políticas dos bancos, ou as orgias bancárias dos políticos. Agora vamos dar o Banespa de presente para os gringos?” (Folha de São Paulo, 08.02.2000, pág. 2).

Além disso, a revista Veja (edição n. 1635, ano 33, n. 6, de 9 de fevereiro de 2000) trazia na capa a foto de Wagner Canhedo, dono de companhias aéreas e que era tratado como “O Rei do Rolo”, pois devia  mais de 2 bi ao governo e não paga...

E por aqui nas terras garibaldinas?

Tudo igual

As famigeradas Letras foram utilizadas, pelo PFL e PPB, como bandeira de campanha eleitoral visando atingir o governo do PMDB, e principalmente o ex-governador Paulo Afonso, atualmente abarrotado de ações judiciais. A finalidade foi atingida, colocando para fora do Palácio Santa Catarina aqueles que manipularam os papéis e os transformaram em símbolo de corrupção e malversação do dinheiro público. A coligação, encabeçada pelo governador Esperidião Amin e pelo senador Jorge Bornhausem, percorreu todos os municípios levando ao eleitor a garantia de que a operação das Letras era uma fraude e que o catarinense estava sendo ludibriado e roubado por uma administração inescrupulosa.

Agora os  opositores de ontem, estão tentando federalizar as Letras alegando que pela demora de uma decisão da Justiça acabarão sendo obrigados a pagar os lotes que começam a vencer. A fórmula apresentada propõe empurrar a dívida para a União, efetuando o pagamento nos próximos 10 anos. ‘Essa explicação  não passa de morola para encobrir mais uma maracutaia, visando atender bancos, principalmente o Bradesco, e fundos de pensão’, bradou a deputado petista Ideli Salvatti. Tem outro dado: com a federalização, os recursos que estão no fundo de liquidez do Besc poderão ser utilizados pelos administradores atuais, apesar de fazerem parte das famigeradas Letras, que segundo promessa do governador Amin seriam queimadas em praça pública. Em nome da conveniência estão perdoando as Letras (...)” (DC, Paulo Alceu, 8.02.2000, pág. 3).

A receita:

“Receita do Fracasso

‘Fazer uma lei e não a mandar executar é autorizar a coisa que se quer proibir’. A frase é do cardeal Richelieu (1585-1642), eminência parda da corte do rei francês Luiz 13 (...)” (Folha de São Paulo, 14.02.2000, opinião).