PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 07.07.99 – horário: 18:15 horas – “A sabedoria do ‘Guarda-Chuva Velho’”:

Retornando à Delegacia-Geral lembrei que era dia entrevistar o Juiz de Direito aposentado Álvaro Pille – ex-Secretário de Estado da Segurança Pública. Tive  que comprar fitas para minha câmera filmadora e gravador, e estava me preparando para o encontro no Hotel Castelmar, juntamente com “Jô Gudes” que iria me secretariar. Logo que cheguei na recepção da Delegacia-Geral me deparei com Walter:

  • E daí Walter, como estão às coisas por aí?

E ele só sorriu, sentando atrás do balcão assistindo televisão e resolvi complementar:

  • Parece que está tudo água velha por aí?

E fui subindo as escadas, enquanto isso percebi que Walter se levantou e veio ao meu encontro, podia ainda ouvir o seu riso e o barulho da cadeira:

- Doutor Felipe, ô doutor Felipe!

Me voltei no segundo degrau da escada:

  • Sim?
  • Com relação a esse negócio de unificação das duas polícias eu ouvi na televisão que eles estão querendo fazer isso, até o Heitor parece que apoia esse projeto, ele pensa alguma coisa, mas isso não pode, não é? Eles teriam que mudar a Constituição? A Polícia Militar não é subordinada ao Exército?
  • Sim, é mais ou menos assim!
  • Pois é, eles pensam que é assim unificar, vão precisar primeiro ter que mudar a Constituição, não é fácil não!
  • É verdade Walter, mas é só o que se está se falando no momento, que não é fácil não é!
  • É, é, agora pode uma coisa dessas?

E continuei a subir pensando no guarda-chuva velho, nas águas que passam por baixo das pontes, do vento... e agora até o Julio parece estar ressuscitando ante às investidas que estavam ocorrendo e toda aquele seu silêncio.

Horário: 21:00 horas:

No Hotel Castelmar eu mais Jô Guedes fomos fazer a entrevista com Álvaro Pille que largava o copo com seu “Bells”, acompanhado de água mineral, tudo registrado em vídeo. Durante a entrevistra Pille, amigo de meu pai quando era ainda Escrivão do Fórum de Concórdia no início da década de setenta, registrou algumas pérolas:

“(...)

- “Quando eu estive na Secretaria de Segurança tive o compromisso do governador de que só seriam nomeados os Delegados Regionais, após o “dossiê”, bom vocês chamam isso assim, mas seriam os telegramas de Diretórios do PMDB com as indicações, quando havia um problema numa indicação o Cacildo me chamava e como eu era pego de surpresa, pedia uns vinte minutos para preparar o “dossiê” e voltava logo em seguida com todas as informações e indicações...”;

(...)

- “Sim, os cargos comissionados são preenchidos assim, sempre foi assim na Segurança, tu sabes disso...”;

(...)

- “Quando eu fui convidado para o cargo de Secretário de Segurança fui  indicado por uns quarenta diretórios do PMDB, e o Calcildo disse que eu seria o representante das regiões do Vale e do Oeste. Chamei aqueles quatro Delegados eu tinha visto num cartaz dizeres sobre o ano internacional da mulher e pedi a eles a lista com as Delegadas em final de carreira. Daí surgiu o nome da Lúcia, não tive dúvida, peguei o carro e fui a noite na residência dela. Ela não me decepcionou, olha, ela cobrava, era uma apaixonada pela Polícia Civil e sempre diz que eu fui o seu padrinho, eu que introduzi ela na política...”;

(...)

- “Quando fui chamado pelo Cacildo em Florianópolis, estava em Piçarras, de calção e chinelo, respondi que não tinha problema, se o Governador estava me chamando eu iria, só que não sabia se ele poderia me receber naquelas condições. Disseram que não tinha problema e eu entrei me esquivando,  sabe como é, podia ter algum jornalista por lá e eu ser fotografado naquelas condições...”;

(...)

“Não!  Não. Eu não tinha projeto algum...”;

(...)”.

“Lanterna na Proa e a Ineficiência do Estado”:

Lendo a “Folha” de São Paulo, não pude deixar de conter o meu arregalo com tudo que acontecia pelo país afora:

Zorra total

Clovis Rossi

São Paulo – Já imaginou, caro leitor, o que aconteceria se a Embratel ainda fosse estatal e/ou se a Telefonica (com ou sem acento?) permanecesse como Telesp e, ainda por cima, estatal, nestes dias de melê telefônico?

  1. Roberto Campos escreveria novo e caudaloso livro, talvez “Lanterna na Proa”, para desancar a ineficiência do Estado.

(...)

Sem se apequenar

O presidente Fernando Henrique Cardoso está diante de uma oportunidade imperdível para exumar o conselho que recebeu de seu amigo Sérgio Motta, pouco antes de Morrer. “Não se apequene”, pediu o então ministro das Comunicações ao presidente.

FHC vai, sim, apequenar-se se não ver o fartíssimo elenco de concessões do governo federal para a instalação da fábrica da Ford.

(...)

Se o presidente se apequenar nesse episódio, terá arruinado, outra vez, a possibilidade de demonstrar que quem manda no governo é ele. E nesse caso não seria mero exercício de autoridade, mas de bom senso e de defesa do interesse público.”

Década perdida na UNE

A União Nacional dos Estudantes vai completar dez anos sob o comando do PC do B. A chapa que venceu a eleição indireta para o comando da UNE é vinculada àquele partido. Estão há oito anos no poder, ficarão mais dois, pelo menos.

(...)

ACM testa FHC

Fernando Rodrigues

Brasília – Esquentou, e muito, o clima entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Antonio Carlos Magalhães.

ACM e FHC trocaram telefonemas incendiários nos últimos dias.

(...)

Com  dois ministros nomeados, ACM está sem espaço para reagir. O PFL, é óbvio, não sai do governo.

Mas é difícil imaginar ACM perdendo sem gritar. Ele sugeriu isso a FHC nos telefonemas recentes.

ACM está testando FHC. A bola está com o presidente.

(Folha de São Paulo, 07.07.99, pág. 1-2, Opinião)

“As fusões e Pintando o sete”:

Fusões sem confusões

Carlos Heitor Cony

Rio de Janeiro – Ainda bem que as cervejas chegaram a um acordo e fundiram-se numa só garrafa e num só rótulo. Aproveitando o clima de boa vontade, bem que outros produtos poderiam se fundir para nos poupar tempo e dúvidas.

Por que não fundir a água mineral com gás e a água mineral sem gás? Já vi rolar briga num restaurante porque o garçom trocou as bolas e as águas. O freguês exigiu a demissão do garçom, palavrões vararam o ar, ficamos sabendo que o maître era bicha.

Outra fusão recomendável seria fundir dona Neuma e dona Zica numa só entidade. Para quem não mora no Rio pode parecer um capricho local, coisa de carioca sem nada o que fazer ou pensar.

Não é bem assim. As duas funcionam como oráculos da nossa mídia. Qualquer evento ordinário ou extraordinário exige esclarecimentos dos dois ícones da Mangueira. Sem as luzes que elas derramam sobre as questões e pessoas polêmicas, nossa confusão seria bem maior.

Não haveria dano nessa fusão. Tanto dona Neuma como dona Zica costumam emitir as mesmas opiniões, sofrem as mesmas angústias e comemoram as mesmas alegrias. De minha parte, embora achando, embora achando louvável a fusão das duas, temo que para mim seja inútil. Mesmo sem a fusão delas eu as confundo de tal modo que para mim daria na mesma.

A fusão facilitaria apenas o trabalho da mídia, pois nem sempre elas são encontradas no mesmo local e na mesma hora, os editores reclamam que os repórteres não se empenharam devidamente na pesquisa da opinião das duas.

Admito que a sugestão é bairrista e ouso levantar uma hipótese de âmbito nacional. A fusão do PSDB com o PFL seria redundante. Mas a de Caetano Veloso com Gilberto Gil expressaria a glória da Bahia – que segundo ACM vive fase de bem-aventurança.

(Folha de São Paulo, 07.07.99, pág. 1-2, Opinião)