PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS ESTADUAIS

Data: 24.06.99, horário: 16:00 horas – “Delegado Braga: Um Registro Histórico”:  

É sexta-feira e o Delegado Braga passou a frequentar a “Assistência Jurídica” como visitante, parecia ainda vibrar com todos os acontecimentos que ocorreram quando da escolha do novo Delegado-Geral:

“(...)

- “Felipe hoje eu vou te dizer uma coisa, o Redondo veio na época até aqui na ‘Assistência Jurídica’, e eu estava sentado bem aí. Ele sentou bem aqui onde eu estou, quis me sondar, veio a mando do Amin  e queria saber que cargo eu iria querer na Secretaria de Segurança. Eu disse para ele que só me interessava dois cargos: Delegado-Geral ou Diretor do Detran, isso foi numa quarta-feira...”;

“Na sexta-feira seguinte, nunca me esqueço, era dezessete e cinquenta, faltavam dez minutos para às dezoito horas. Eu tinha sido chamado pelo Carvalho lá no Edifício Dona Angelina e fiquei só uns oito minutos com ele lá naquela sala no alto. Ele tinha um papel na mão com anotações, estava escrito os nome dos cargos e o primeiro de cima era o do Delegado-Geral, mas já estava riscado. Ele olhou para mim, fez primeiro aqueles elogios e em seguida disse que eu poderia escolher qualquer um dos cargos abaixo, e foi mostrando os cargos para mim. Eu disse para ele que não aceitaria nenhum deles, que só interessava o cargo de Delegado-Geral, então ele disse que infelizmente não poderia fazer nada porque as pressões políticas foram inimagináveis: ‘...você não queira nem imaginar’, foi o que ele me disse. Olha Felipe eu te juro, quero ver a minha filha cega se não estou te falando a verdade, aí então ele viu que não poderia contar comigo e disse que queria contar com minha assessoria no gabinete dele... E, novamente, te juro pela minha família, nunca falei isso para ninguém, só no âmbito familiar, agradeci o convite, me desculpei e disse a ele que não poderia contar comigo...”;

“O Carvalho disse que tinha recebido pressões inimagináveis para nomear um Delegado que não fosse Especial, mas que com relação a isso ele não admitiu, resistiu e nomeou um Delegado Especial, foi um mérito dele, as pressões políticas foram enormes, agora ele confidenciou..., eu te juro, isso até parece coisa de criança pequena, mas é verdade, ele disse que se dependesse dele o Moreto não seria escolhido, o candidato dele seria outro, também não sei quem seria, e se isso que ele me disse era verdade, bom eu já te falei que quem colocou o Moreto foi o Backes...”

“O Heitor tinha indicado o meu nome para Delegado-Geral, nunca mais eu falei com ele, outro dia ele me telefonou para me pedir um favor que eu não fiz...”;

“Eu já sabia que o nome a ser escolhido estava entre o do Moreto ou o do Mauro Dutra, o Wanderley já tinha dito isso para mim. Eu sabia que o Wanderley queria o Detran, acho que ele veio aqui me sondar a mando do Secretário... ”;

“O Mauro Dutra era um dos nomes fortes  e eu fiquei sabendo disso por meio do Wanderley, já sabia, agora tu vê ele quase que foi candidato a Deputado Federal lá pela região onde atuou, como é mesmo o nome daquela cidade lá?..., há sim, São Joaquim! Ele quase foi lançado candidato pelo PMDB lá, mas o sogro dele estava sempre no diretório, eu acho que tu te lembras dele,  sempre andava lá pelo edifício Dona Angelina, ele tem deficiência física e sempre que via a gente cumprimentava...”;

“Lá naquela dia o Secretário estava com pressa, a esposa dele estava no Shopping Beira Mar, já tinha telefonado, então ele me convidou para descermos juntos. Não fiquei mais do que oito minutos conversando com ele e antes de nós nos despedirmos eu dei um último conselho para ele: ‘Secretário o senhor vai precisar de um bom Corregedor-Geral’ e ele disse:  ‘mais o senhor é a pessoa certa para esse cargo’ e eu mais uma vez disse não!...”

“Felipe, eu não preciso disso, como você não pedi cargo para ninguém  e olha que tenho amigos, como o Paulo Bauer de quem sou amigo desde criança lá em Jaraguá do Sul, o Mantelli que foi meu subordinado, não gosto dessa palavra ‘subordinado’, mas foi isso, quando fui Delegado Regional lá em Rio do Sul o Udo Wagner, nós jogávamos basquete lá em Jaraguá..., por aí tu vê, se eu precisasse de alguma coisa teria a quem recorrer..., mas não posso ver pessoas estarem se rebaixando por aí pedindo cargo, como outro dia vi o Sell lá na Adpesc telefonando para o Paulo Koerich e cobrando a vaga dele: ‘Eu quero o meu cargo...!’, o que é isso? Como o Aroldo que trabalhou para o Heitor Sché, vi ele telefonando lá para o gabinete do Secretário querendo saber se o Heitor tinha realmente indicado o nome dele para algum cargo. Não,  eu não sirvo para isso, esse negócio de quem não é visto não é lembrado não serve para mim. Mas agora me lembro que o Carvalho também tinha pedido a minha opinião sobre dois nomes, isso foi no dia lá, ele pediu a minha opinião sobre o Hélio Costa e o João Carlos...”

“O ‘Pedrão’ indicou o nome do Moreto, ele tem acesso lá no Palácio com o Amin, eu já te falei, mas a irmã dele pegou assinatura de um monte de gente lá na região de Lages..., o próprio Carvalho disse que as pressões que ele recebeu foram violentas...”;

“Um dos fatores que disseram pesou contra mim na hora da escolha e favoreceu o Moretto foi que eles disseram que eu não tenho um bom relacionamento com a Polícia Militar, agora tu vê Felipe logo eu que sempre tive um bom relacionamento...”;

“Mas Felipe se eu fosse o Secretário tu serias o meu Delegado-Geral...!”

(...)”.