PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 25.10.2001, horário: 09:00 horas:

Por volta de quatorze horas cheguei na “Assistência Jurídica”  e encontrei o Delegado Braga com “Jô Guedes” junto ao computador da Inspetora Myriam tirando a impressão de documentos.  Braga se apressou para concluir o que estavam fazendo enquanto eu perguntava sobre o reajuste salarial de seis e meio por cento dos Delegados  e que não havia recebido praticamente nada. Segundo  Braga, o Presidente da Adpesc, Delegado Mário Martins, tinha prometido que naquele mês de outubro seria concedido a reposição salarial e fez o seguinte comentário

- “Tive lá falando com o Mário na Adpesc e ele quase caiu no pau com o Noronha, estavam numa briga daquelas lá. O Mauro também estava na Adpesc e viu tudo. O Noronha disse para o Mário que também era filiado ao PPB, mas não queria nem saber, ele acha que o Mário tem que ir até o amigo dele, o Celestino Secco, até o governador para  brigar pelo nosso reajuste. Segundo o Mário eles não querem dar reajuste para os Delegados porque os Procuradores da Assembleia Legislativa também não tiveram aumento algum de salário, e também porque os Procuradores do Estado e os Fiscais da Fazenda estão no mesmo barco. O  Ziguelli está sendo bastante pressionado pelos Procuradores. O Noronha chegou e disse para o Mário: ‘tu não és candidato? Vai lá e briga com esses caras!’” 

Depois dessas considerações Braga deu um “berro” agudo dentro da “Assistência Jurídica” (às vezes costumava fazer isso...), mas em seguida se conteve porque no “auditório” ao lado (a “sala de reuniões”)  estava reunida uma comissão que estava tratando do edital de concurso da Polícia Civil. Braga comentou que era o pessoal da Udesc e “Jô Guedes”  argumentou que não tinha problema,  todo mundo conhecia os “berros” do Delegado Braga no prédio, além dos seus “miados” e “latidos”. Braga arrematou que outro dia tinha dado um espirro lá embaixo (andar térreo) e que no último andar alguém chegou a ouvir e gritou: “saúde doutor Braga”. Braga, turbinado por suas endorfinas, continuou a fazer seus relatos:

- “O Lipinski está puto da cara com o Mário, tem xingado ele e que a proposta passou lá em Brasília pela comissão de justiça da Câmara e se for aprovada o inquérito policial poderá ser feito pelo Ministério Público e o TC também vai poder ser lavrado pela Polícia Militar. Olha, o Lipinski está puto da cara,  perguntou onde é que estão os presidentes das associações que vão tanto à Brasília, como é que eles não viram essa proposta que foi apresentada na calada da noite, onde é que estava o Mário que não sai de Brasília, sempre viajam tanto. Olha, eu sei que o Lipinski está puto da cara, vocês precisavam ver!”.

Acabei lembrando também da Lei Orgânica do Ministério Público, e me questionei onde estariam todos eles? Mas resolvi não levantar mais essa questão, até porque o vento varria tudo e logo cairia no esquecimento todos esses meus questionamentos.  Logo que Braga fez esses  comentários fiz as minhas considerações:

- “Tudo bem Braga, mas onde é que estavam os chefes de polícia também? A gente vê toda hora os presidentes dos Tribunais de Justiça  e Procuradores de Justiça se reunirem em todos os lugares, debatendo a situação deles, e os Chefes de Polícia que fazem esses encontros nacionais? Onde é que andam? O que estão fazendo? Sei que o Mário tem culpa nisso tudo, mas e os Chefes de Polícia?”. 

Lembrei do “Alberton” (MP), “Chico Vieira”, “Chicão Oliveira” (do Judiciário) e até Backes (PM).  Braga deu a impressão que concordava com meus comentários. Numa coisa eu tinha que concordar com o Lipinski: O que é que fazem esses “líderes classistas dos Delegados”  nessas viagens à Brasília, tantos encontros por lá para isso?  Braga saiu e passado alguns minutos me levantei, fui pegar um café e perguntei para “Jô Guedes” quem estava na reunião ao lado com o pessoal da Udesc tratando do concurso. Ela respondeu:

- “O Lipinski, o Rachadel e o Artur Sell. Tem mais gente, mas eu não iria ficar olhando para dentro assim, né!”

“Vagas nas polícias civil e militar serão ampliadas – O governador Esperidião Amin também autorizou ontem que as polícias Civil e Militar ampliassem o número de vagas oferecidas em concursos que estão próximos de ser abertos. As vagas da Polícia Civil, que eram 330, subiram para 360. Segundo a assessoria da Secretaria da Segurança Pública, foram acrescidas 30 vagas de investigador às existentes, ‘em função de necessidade de pessoal da Polícia Civil’ (...)”  (A Notícia, 25.10.01).

Segundo Braga, o Delegado Mário Martins já estava conformado com o não pagamento de reajuste de salários aos Delegados e parece que não iria cobrar nada do seu amigo Celestino Secco (sim, além de ser do PPB, partido do governador Amin), daí as discórdias com o vice-presidente da Adpesc (Delegado Maurício Noronha). Mas o que não dava para entender era que Lipinski simplesmente ignorava o assunto, era como se não lhe dissesse respeito ou como já havia dito em outro momento, os Delegados já ganhavam muito bem e os policiais civis podiam ficar esperando, esperando, pois um dia um aumento viria:  

“Comparativo – O  PT catarinense está divulgando no Estado os aumentos de salário concedidos aos servidores públicos pelo governo gaúcho de Olívio Dutra. Afirma os petistas que o aumento de 47% foi o maior do país, concedido a 90% da categoria. Ao mesmo tempo estocaram a administração Amin, que ofertou 18%, pagos escalonadamente, dos quais 6,3% já foram repassados” (DC, Paulo Alceu, 26.10.2001). 

Bom, no Ministério Público, a coisa é bem diferente, lá já receberam outros reajustes, e iriam receber esses minguados, já deveriam estar na expectativa de novidades depois da decisão do Supremo Tribunal Federal beneficiando o pessoal da magistratura que também tinha toda liderança calcada  no Presidente do Tribunal de Justiça. Segundo Braga, o Presidente da Adpesc (Delegado Mário Martins) teria dito que os Delegados não tinham direito ao magro reajuste salarial ofertado pelo governo porque os Procuradores do Poder Legislativo “com quem tinham isonomia”, também,  não haviam recebido nada, só que esqueceram de dizer que os Procuradores Legislativos haviam recebido recentemente uma “polpuda” vantagem pecuniária, que não estavam no teto salarial do Executivo e que os salários deles eram no mínimo o dobro do que percebiam os Delegados.  Como havia dito, ninguém queria falar sobre isso, nem o Delegado Wanderley Redondo que estava atuando junto a Presidência da Assembleia Legislativa (bastante quietinho... ) mas que deveria estar informando o Delegado-Geral Lipinski a respeito desses fatos, ou será que teria lavado as mãos?